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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ai, Jesus!





Ai, Jesus! Não vês que gemo,
Que desmaio de paixão
Pelos teus olhos azuis?
Que empalideço, que tremo,
Que me expira o coração?
Ai, Jesus!

Que por um olhar, donzela,
Eu poderia morrer
Dos teus olhos pela luz?
Que morte! Que morte bela!
Antes seria viver!
Ai, Jesus!

Que por um beijo perdido
Eu de gozo morreria
Em teus níveos seios nus?
Que no oceano dum gemido
Minh'alma se afogaria?
Ai, Jesus!


Manuel Antônio Álvares de Azevedo

Rota dos navegantes.



Rão kyao.

Sensações.


As sensações são os detalhes que constroem a história da nossa vida .

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Constância comemora Dia Internacional do Idoso



Quinta-feira, 1 de Outubro - 14h30
O Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill vai comemorar o Dia Internacional do Idoso na próxima quinta-feira, 1 de Outubro, com a dinamização da actividade Recordar é Viver!

Recordar é Viver é uma iniciativa que consiste na dinamização de um jogo do loto, ilustrado com motivos alegres, que irão estimular as capacidades cognitivas dos idosos e em simultâneo promover a interacção com os outros, reforçando o convívio e os laços sociais, especialmente entre gerações.

No final da actividade haverá um lanche convívio e a entrega de uma lembrança a todos os participantes.

Aberta à comunidade em geral, a actividade está agendada para o dia 1 de Outubro a partir das 14:30h, na sala polivalente da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.

Por CMC

Os Malefícios da Rivalidade na Escola .




Poucas serão as escolas em que o mestre não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar.
A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.
Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar, nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta.
Urge quanto antes alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas sulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles também o sentido social, o hábito da cooperação, a tolerância e o amor que gera a convivência em vez de um isolamento de caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

Boa-Noite


, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.

Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos.

Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!

Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."

É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua —
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...

É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas de arcanjo dos amores.

A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.

Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!

Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...

Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa-noite! —, formosa Consuelo!...





Autor: Antônio Frederico de Castro Alves

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Exposição "Hans Christian Andersen"



Cine-Teatro Municipal
1 a 31 de Outubro
Constância recebe de 1 a 31 de Outubro a Exposição "Hans Christian Andersen", na qual o seu autor e designer, o dinamarquês Niels Fischer, revela a sua enorme paixão andersenista, ao mesmo tempo que se propõe (inter)ligar a obra literária do escritor em todos os seus domínios e complementariedade: as artes plásticas, o teatro, o movimento, a culinária, a música...

Radicado em Portugal há vários anos, Niels Fischer encetou a missão constante de divulgar a vida e obra de Hans Christian Andersen e, através de quadros, peças de cerâmica, esculturas, peças de joalharia, bem como muitos outros trabalhos de artistas portugueses, levar a todos os cantos do País a riqueza deste inesquecível autor.

Hans Christian Andersen, nascido a 2 de Abril de 1805, foi um escritor dinamarquês cuja obra literária, traduzida para centena e meia de línguas, levou a que metade da população da terra a considerasse parte da sua cultura. Foi ainda poeta, romancista, dramaturgo, jornalista, tradutor e narrador.

É autor de uma centena e meia de contos para crianças e adultos, escritos para serem lidos em voz alta e, também, ilustrados, cantados, dançados, musicados, recriados...
Quem não se lembra de "O Patinho Feio", "O Firme Soldado de Chumbo", "A Polegadazinha", entre tantos outros?


Horário
2.ª a 6.ª feira das 14h00 às 18h30
sábados e domingos das 15h00 às 18h00


PROGRAMA

Inauguração 1 OUT, 18h30,
e Conversas com Hans Christian Andersen - com Niels Fischer

Concurso Artístico Hans Christian Andersen
para todas as pessoas de todas as idades - 1 OUT a 30 NOV

Espectáculo de Teatro - 2 OUT, 21h30

Conversas com Hans Christian Andersen - 15, 22 e 30 OUT - com Niels Fischer

As Escolas descobrem Hans Christian Andersen - 19 a 23 OUT - Visita à Exposição, Fantoches e Pinturas faciais

Atelier de Expressão Plástica e Oficina de Escrita Criativa - 7, 9, 14, 16, 21, 23, 28 e 30 OUT

Hora do Conto - 7, 14, 21 e 28 OUT

Oficina de Fantoches e Escrita Criativa para Adultos - 10 e 24 OUT

Comer com Hans Christian Andersen e Oficina de Quirigami - 3 e 17 OUT

Encerramento 31 OUT, 21h00
Música, Dança e Exposição dos trabalhos das Crianças, Jovens e Adultos
Por CMC

O modo...


Cada qual sabe amar a seu modo; o modo, pouco importa; o essencial é que saiba amar.

Bilhete.



Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana

Bach.

domingo, 27 de setembro de 2009

idades.


Chegamos sempre como novos a todas as idades da vida e muitas vezes com falta de experiência, apesar do número de anos .

A Mulher Mais Bonita do Mundo...




estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.

entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.

entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.

há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.

estás tão bonita hoje.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.

os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.

de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.

José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"

Vida Incipiente .




O facto real da vida é que estamos de novo todos juntos sem se saber como nem porquê, é o imponderável que liga os seres e os deixa andar á deriva como pedaço de cortiça em praia batida pelo norte - o resto, se se quiser analisar, é uma babugem de relações sem eira nem beira ao deslizar da corrente que tanto vem dos outros lados do Atlântico como da disposição em cada um de nós. Os dias foram andando dentro de cada um de nós e na marcha de pormenores domésticos gastámos horas preciosas de nós mesmos. Acerca de comédias fizemos considerações pessoais e quando se tratava de analisar uma tragédia usufruíamos um gozo espiritual de dever cumprido sexualmente.
Passaram-se anos, também não sei quantos. Houve uns que casaram, outros que ficaram para ornamento ímpar de jantares familiares e ainda outros que se ambulanteiam pelas esquinas do vício à procura de óleo para uma máquina donde se desprendeu já a mola real do entendimento.

Afinal também não importa que o ritmo das coisas tenha sido o mesmo, se todas as coisas existem para um ritmo que lhes é íntimo à sua própria expressão de coisas. Houve sábados e domingos sextas e quintas segundas e terças e sempre uma quarta-feira a comandar no equilíbrio do princípio e do fim. Com os dedos mataram-se formigas que estavam fáceis ao alcance de um piparote e através das mãos fizemos a construção de novos dias. Cada um de nós teve uma história mais ou menos grande e mais ou menos importante para contar no seu íntimo. Às vezes eu lá encontrava um de nós para logo ter a impressão que se apoderava de todos uma moléstia sentimental de visão acabrunhada e de história em história ou de pieguice para pieguice caminhávamos inúteis no amorfo de abatjours contemplativos.

Ruben A., in 'Caranguejo'

sábado, 26 de setembro de 2009

Caminhos.


Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!

Nietzsche

O Sexo




Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito,
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além

da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo

solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,

quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"

Palavras.


Há duas ocasiões em que não sabemos o que dizer: no início e no fim de um amor ...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Fim de semana.


"O fim de semana não existe, sem que os dias úteis tenham existido."

Let it be



The Beatles

Eu Nunca Guardei Rebanhos.




Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.

Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.

Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.

Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.

Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.

E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.

Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que
se diz
E quer fingir que compreende.

Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema I"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A Luta pela Recordação




Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...


Pablo Neruda

Pequenas coisas.


As pequenas coisas parecem insignificantes, mas dão-nos a paz .

Como eu não possuo .




Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

* * * * *

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emmaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e côr!...

Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fôsse aquêles seios transtornados,
Se fôsse aquêle sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destrôço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.

Mário de Sá-Carneiro,

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Dia Mundial do Coração .


Dia Mundial do Coração em Constância - 27 de Setembro


Trabalhe com o coração.
No próximo domingo, 27 de Setembro, Constância vai promover várias caminhadas comemorativas do Dia Mundial do Coração, as quais decorrerão entre as 10 e 12 horas, e terão início na Casa do Povo de Montalvo, no Museu dos Rios e das Artes Marítimas em Constância e no Parque Ambiental de Santa Margarida.

A caminhada em Constância é uma iniciativa conjunta comemorativa das Jornadas Europeias do Património e do Dia Mundial do Coração, que pretendem reforçar a importância da realização de actividades físicas e desportivas para uma vida mais activa e saudável podendo ao mesmo tempo conhecer o património natural e histórico da vila de Constância, através de um passeio pelas ruas e rio Tejo.

O Dia Mundial do Coração que este ano tem como tema Trabalhe com o Coração é uma iniciativa promovida pela World Heart Federation, sob coordenação em Portugal da Fundação Portuguesa de Cardiologia e tem como principal objectivo reforçar a importância da realização de actividades físicas e desportivas e de um estilo de vida activo para um melhor coração e uma vida mais saudável.

No Dia Mundial do Coração, a Fundação Portuguesa de Cardiologia, em parceria com o Instituto do Desporto de Portugal, e com a colaboração da Direcção Geral da Saúde, do Instituto Português da Juventude, da Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, da Federação de Ginástica de Portugal, do Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores e da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, pretende mobilizar a população portuguesa para a participação em actividades físicas e desportivas, promovidas pelas Câmaras Municipais e por outras entidades locais.

Neste evento a nota dominante será a realização de actividades desportivas abertas à participação de todos os cidadãos, dirigidas a ambos os sexos e a todas as idades desejando-se que as acções decorram o mais próximo possível das pessoas.

Para mais informações, esclarecimentos e inscrições devem os interessados em participar contactar a Piscina Municipal através do número telefone 249 730 627 ou o Pavilhão Desportivo Municipal pelo 249 730 059.
Por CMC

Literatura.


O romance essencial para compreender
as raízes profundas do declínio da monarquia portuguesa.


"Carlos I é a tragédia de toda uma família, uma tragédia que vem do fim do século XVIII e se prolonga até aos nossos arrabaldes. A história do nosso último rei a sério – já que Manuel II não passou duma criança que fez de conta que reinou durante dois anos – foi afinal um caso que demorou bem mais de cem anos a germinar e a desenvolver. Que desmedido ventre o trouxe ao mundo! Em vez de nove meses, noventa anos de gestação. É caso muito sério. E é por ser tão horrível e tão imensa, que uma tal tragédia nos parece tão estupenda.
Sem conhecermos os avós, nunca perceberemos o neto. Carlos em si é um enigma, uma bola opaca e pesada de carne ou de sebo, avessa ao mais penetrante olhar, mas visto à luz dos hábitos e das histórias dos seus antepassados faz-se claro, fácil, transparente. Este ser que viveu quarenta e quatro anos pode ter sido reservado como um tímido, fechado como um oráculo e desconhecido como um estrangeiro mas o seu passado faz dele um ser tão previsível e tão
esperado como um hábito repetido; na sua figura e na sua história vieram afinal cruzar-se com a máxima força e crueza todas as virtudes e todas as taras que encontramos dispersas e desencontradas nos seus antepassados mais próximos."

Onde houver...


Onde houver uma árvore para plantar, planta-a tu. Onde houver um erro para emendar, emenda-o tu. Onde houver um esforço de que todos fogem, fá-lo tu. Sê tu aquele que afasta as pedras do caminho.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Se te Abaixasses, Montanha




Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a mão
daquele que não me fala
e a quem meus suspiros vão.

Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a face
daquele que se soubesse
deste amor talvez chorasse.

Se te abaixasses, montanha,
poderia descansar.
Mas não te abaixes, que eu quero
lembrar, sofrer, esperar.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)

Inconstância.


A inconstância, pela agitação que produz, é o complemento da felicidade .

O Tempo e o Tédio




Com respeito à natureza do tédio encontram-se frequentemente conceitos erróneos. Crê-se em geral que a novidade e o carácter interessante do seu conteúdo "fazem passar" o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos "aborrecidos"; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só; e numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos. O hábito é uma sonolência, ou, pelo menos, um enfraquecimento do senso do tempo, e o facto dos anos de infância serem vividos vagarosamente, ao passo que a vida posterior se desenrola e foge cada vez mais depressa, esse facto também se baseia no hábito. Sabemos perfeitamente que a intercalação de mudanças de hábitos, ou de hábitos novos, constitui o único meio de manter a nossa vida, de refrescar a nossa sensação de tempo, de obter um rejuvenescimento, um reforço, um atraso da nossa experiência do tempo, e com isso, a revolução da nossa sensação da vida em geral. Tal é a finalidade da mudança de lugar e de clima, da viagem de recreio: nisso reside o que há de salutar na variação e no episódio. Os primeiros dias num ambiente novo têm um curso juvenil, quer dizer, vigoroso e amplo - seis ou oito dias. Depois, na medida em que a pessoa se "aclimata", começa a senti-los abreviarem-se: quem se apega à vida, ou melhor, quem gostaria de apegar-se à vida nota, com horror, como os dias começam a tornar-se leves e furtivos; e a última semana - de quatro, por exemplo - é de uma rapidez e fugacidade inquietante. Verdade é que a vitalização do nosso senso de tempo faz-se sentir para além do interlúdio, e desempenha o seu papel ainda quando a pessoa já voltou à rotina; os primeiros dias que passamos em casa, depois desta variação, afiguram-se-nos também novos, amplos e juvenis, mas sómente uns poucos: porque a gente acostuma-se mais rápidamente à rotina do que à sua suspensão, e quando o nosso senso do tempo está fatigado pela idade, ou nunca o possuímos desenvolvido em alto grau - o que é sinal de pouca força vital - volta a adormecer muito depressa, e ao cabo de vinte e quatro horas já é como se a pessoa jamais tivesse partido e a viagem não passasse de um sonho de uma noite.

Thomas Mann, in "A Montanha Mágica"

domingo, 20 de setembro de 2009

Phantom on a mouth organ.

Pergunta .




Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

Fernando Namora.

Horas.


As horas batem indiferentemente para todos e soam diferentemente para cada um .

sábado, 19 de setembro de 2009

Mentira.



João Pedro Pais.

Livro meu.


Agora, livro meu, vai, vai para onde o acaso te leve ...

O Livro da Vida .




Absorto, o Sábio antigo, estranho a tudo, lia...
— Lia o «Livro da Vida» — herança inesperada,
Que ao nascer encontrou, quando os olhos abria
Ao primeiro clarão da primeira alvorada.

Perto dele caminha, em ruidoso tumulto,
Todo o humano tropel num clamor ululando,
Sem que de sobre o Livro erga o seu magro vulto,
Lentamente, e uma a uma, as suas folhas voltando.

Passa o Estio, a cantar; acumulam-se Invernos;
E ele sempre, — inclinada a dorida cabeça,—
A ler e a meditar postulados eternos,
Sem um fanal que o seu espírito esclareça!

Cada página abrange um estádio da Vida,
Cujo eterno segredo e alcance transcendente
Ele tenta arrancar da folha percorrida,
Como de mina obscura a pedra refulgente.

Mas o tempo caminha; os anos vão correndo;
Passam as gerações; tudo é pó, tudo é vão...
E ele sem descansar, sempre o seu Livro lendo!
E sempre a mesma névoa, a mesma escuridão.

Nesse eterno cismar, nada vê, nada escuta:
Nem o tempo a dobrar os seus anos mais belos,
Nem o humano sofrer, que outras almas enluta,
Nem a neve do Inverno a pratear-lhe os cabelos!

Só depois de voltada a folha derradeira,
Já próximo do fim, sobre o livro, alquebrado,
É que o Sábio entreviu, como numa clareira,
A luz que iluminou todo o caminho andado..

Juventude, manhãs de Abril, bocas floridas,
Amor, vozes do Lar, estos do Sentimento,
— Tudo viu num relance em imagens perdidas,
Muito longe, e a carpir, como em nocturno vento.

Mas então, lamentando o seu estéril zelo,
Quando viu, a essa luz que um instante brilhou,
Como o Livro era bom, como era bom relê-lo,
Sobre ele, para sempre, os seus olhos cerrou...

António Feijó,

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Imaginação.


Por vezes o entendimento descontrai-se para que a esperança se divirta com o que a imaginação sonha .

Ralações ou relações.


Tenho relações ou tenho ralações? Sim, não é para brincar com a palavra, é para examinar a qualidade das nossas relações. Se são humanas e construtivas, podem trazer sofrimento e cuidado, mas fazem crescer. Mas se as nossas relações são egoístas e enganadoras, então não só trazem ralações, como são elas próprias ralações, destruições mútuas e transmissíveis. Nós somos o que forem as nossas relações.

Vasco Pinto de Magalhães

O Meu Sonho Habitual .




Tenho às vezes um sonho estranho e penetrante
Com uma desconhecida, que amo e que me ama
E que, de cada vez, nunca é bem a mesma
Nem é bem qualquer outra, e me ama e compreende.

Porque me entende, e o meu coração, transparente
Só pra ela, ah!, deixa de ser um problema
Só pra ela, e os suores da minha testa pálida,
Só ela, quando chora, sabe refrescá-los.

Será morena, loira ou ruiva? — Ainda ignoro.
O seu nome? Recordo que é suave e sonoro
Como esses dos amantes que a vida exilou.

O olhar é semelhante ao olhar das estátuas
E quanto à voz, distante e calma e grave, guarda
Inflexões de outras vozes que o tempo calou.

Paul Verlaine.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Ausência.


Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

À Noite, no Museu


À Noite, no Museu 2 -
Dá início à nova época de cinema em Constância

Sábado – 19 de Setembro – 21.30H

Depois do habitual período de encerramento nos meses de Julho e Agosto, a Câmara Municipal de Constância prepara já a nova época de cinema, que terá o seu arranque no próximo sábado, dia 19 de Setembro.

Assim, nesse dia, pelas 21h30, será exibido o filme À Noite, no Museu 2, uma divertida comédia para toda a família; dia 20, pelas 15h00 e na habitual sessão infantil,será a vez de A Idade do Gelo 3: Despertar dos Dinossauros, um delicioso filme deanimação para miúdos e graúdos; e no dia 26, pelas 21h30, Harry Potter e o Príncipe Misterioso, mais uma aventura do mais jovem talentoso feiticeiro de todos os tempos.

Desde o início das sessões regulares de cinema, em 1 de Abril de 1995, o Cine-Teatro Municipal recebeu 640 exibições de cinema, registando uma afluência de mais de34.000 espectadores, distribuídos por sessões semanais, ciclos temáticos, sessões para as escolas, terceira idade, feira do livro, etc. O Cine-Teatro Municipal de Constância tem uma capacidade para 134 espectadores, estando equipado com modernas condições de conforto e segurança. Os bilhetes podem ser reservados nos dias úteis, das 10h00-12h30 e 14h00-17h00 na Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill ou pelo telefone 249739367, ou adquiridos na própria bilheteira do Cine-Teatro, aberta uma hora antes do início das sessões.

A programação pode ser consultada em www.cm-constancia.pt.
Por CMC

O tempo




A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Tempo de mudança.


Só nos esquecemos do tempo quando o utilizamos ...
Tenho tanto que fazer que não sei para onde me virar.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Conversação


O tipo de bem-estar proporcionado por uma conversação animada não consiste propriamente no assunto da conversação; nem as idéias nem os conhecimentos que ali podem ser desenvolvidos são o seu principal interesse. Importa uma certa maneira de agir uns sobre os outros, de ter um prazer recíproco e rápido, de falar tão logo se pense, de comprazer-se imediatamente consigo mesmo, de ser aplaudido sem esforço, de manifestar o seu espírito em todas as nuances pela entoação, pelo gesto, pelo olhar, enfim, de produzir à vontade como que uma espécie de electricidade que solta faíscas, aliviando uns do próprio excesso da sua vivacidade e despertando outros de uma apatia dolorosa. (...) Bacon disse que "a conversação não era um caminho que conduzia à casa, mas uma vereda por onde se passeava prazerosamente ao acaso".

De Stael

Conserto a Palavra .




Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em exame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a

Daniel Faria.

Literatura.


Vasco Lourenço do Interior da Revolução é um trabalho elaborado a partir de uma longa entrevista realizada, entre 1992 e 1995 para o Projecto de História Oral do Centro de Documentação 25 de Abril da Universidade de Coimbra, o qual visa a recolha, preservação e divulgação de testemunhos directos da Revolução de 1974 e seu processo subsequente.

Contando já com centenas de horas de gravação e dezenas de entrevistados, o Espolio Oral do Centro de Documentação 25 de Abril constitui-se como fonte única de informação inédita sobre o processo político-militar de 1974 a 1976, contribuindo para a construção de uma memória diversificada e até conflitual, mas justamente por isso mais próxima do real vivido.

A oportunidade e o interesse desta obra decorrem não só do incontestável protagonismo de Vasco Lourenço nesse período da nossa história recente, mas também do impressionante conjunto de dados, acontecimentos e personagens com que enriqueceu o acervo de História Oral do Centro de Documentação 25 de Abril, e entendeu colocar ao dispor quer dos estudiosos, quer de um público mais alargado e diversificado. Na natureza de que um só diálogo e cruzamento de percursos e vivências também diferentes se vai fazendo história.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Afeições.


O que as grandes e puras afeições têm de bom é que depois da felicidade de as ter sentido, resta ainda a felicidade de recordá-las .

Sonetos do Regresso .





Volto contigo à terra da ilusão,
mas o lar de meus pais levou-o o vento
e se levou a pedra dos umbrais
o resto é esquecimento:
procurar o amor neste deserto
onde tudo me ensina a viver só
e a água do teu nome se desfaz
em sílabas de pó
é procurar a morte apenas,
o perfume daquelas
longínquas açucenas
abertas sobre o mundo como estrelas:
despenhar no meu sono de criança
inutilmente a chuva da lembrança.


Acordar, acender
o rápido lampejo
na água escusa onde rola submersa
como o lodo no Tejo
a vida informe, peso dúbio
desse cardume denso ou leve
que nasce em mim para morrer
no mar da noite breve;
dormir o pobre sono
dos barbitúricos piedosos
e acordar, acender
os tojos caudalosos
nesta areia lunar
ou, charcos, nunca mais voltar.

Carlos de Oliveira.

Sociedade.


Constância, é o 6º melhor concelho para viver em Portugal
Foi recentemente publicado um estudo do Observatório para o Desenvolvimento Económico e Social da Universidade da Beira Interior (UBI), que concluiu que Constância é o 6º melhor concelho para se viver em Portugal.

Este estudo teve como principal objectivo aferir o nível de desenvolvimento económico e social ou de bem-estar ou qualidade de vida de cada um dos 278 concelhos do continente.

As variáveis consideradas para a avaliação de cada concelho foram as seguintes: equipamentos de comunicação, culturais, de saúde, educativos e infra-estruturas básicas referentes às suas condições materiais. No que concerne às condições sociais foram avaliadas a cultura e lazer, população, segurança e ambiente. Por último, as condições económicas visaram medir o seu dinamismo económico, mercado de habitação, de trabalho e rendimento/consumo.

Ao analisar este estudo, facilmente compreendemos que os investimentos realizados nas áreas atrás consideradas são, sem dúvida, a pedra basilar que o executivo municipal tem vindo a utilizar na orientação das suas estratégias, de forma a rumar ao futuro proporcionando uma melhor qualidade de vida à nossa população.

Recentemente Constância recebeu o 1º prémio como o melhor município para estudar, provando que vamos no caminho certo, conseguindo estar entre os seis melhores concelhos para se viver em Portugal (Lisboa, Albufeira, Oeiras, São João da Madeira e Porto).

Estes resultados não são mais do que o reflexo de um conjunto de decisões, que em parceria e estreita colaboração com toda a comunidade, nos leva a encontrar soluções para dar resposta às necessidades que a população sente, convictos porém de que, com o mesmo planeamento e rigor, conseguiremos realizar aquilo que ainda está por fazer, de modo a que possamos afirmar que “o nosso concelho é o melhor para se viver”.
Por CMC

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Mudanças.


As mudanças nunca ocorrem sem inconvenientes, até mesmo do pior para o melhor .

Procuro-te .




Procuro a ternura súbita,
os olhos ou o sol por nascer
do tamanho do mundo,
o sangue que nenhuma espada viu,
o ar onde a respiração é doce,
um pássaro no bosque
com a forma de um grito de alegria.

Oh, a carícia da terra,
a juventude suspensa,
a fugidia voz da água entre o azul
do prado e de um corpo estendido.

Procuro-te: fruto ou nuvem ou música.
Chamo por ti, e o teu nome ilumina
as coisas mais simples:
o pão e a água,
a cama e a mesa,
os pequenos e dóceis animais,
onde também quero que chegue
o meu canto e a manhã de maio.

Um pássaro e um navio são a mesma coisa
quando te procuro de rosto cravado na luz.
Eu sei que há diferenças,
mas não quando se ama,
não quando apertamos contra o peito
uma flor ávida de orvalho.

Ter só dedos e dentes é muito triste:
dedos para amortalhar crianças,
dentes para roer a solidão,
enquanto o verão pinta de azul o céu
e o mar é devassado pelas estrelas.

Porém eu procuro-te.
Antes que a morte se aproxime, procuro-te.
Nas ruas, nos barcos, na cama,
com amor, com ódio, ao sol, à chuva,
de noite, de dia, triste, alegre — procuro-te.

Eugénio de Andrade,

Companhia...


Diz-se da melhor companhia: a sua conversa é instrutiva, o seu silêncio, formativo

domingo, 6 de setembro de 2009

Albinoni.



Boa semana.

O Amor e o Tempo .




Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!

António Feijó

O Amor Sugado .




O amor, enquanto afeição humana, é o amor que deseja o bem, possui uma disposição amigável, promove a felicidade dos demais e alegra-se com ela. Mas é patente que aqueles que possuem uma inclinação meramente sexual não amam a pessoa por nenhum dos motivos ligados à verdadeira afeição e não se preocupam com a sua felicidade, mas podem até mesmo levá-la à maior infelicidade simplesmente visando satisfazer a sua própria inclinação e apetite. O amor sexual faz da pessoa amada um objecto do apetite; tão logo foi possuída e o apetite saciado, ela é descartada «tal como um limão sugado».

Emmanuel Kant, in 'Lições de Ética'

sábado, 5 de setembro de 2009

Intimidade .




Que ninguém hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao
[mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não o afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

Casa.


Casa: um edifício oco, construído para ser habitado pelo homem, pela ratazana, pelo rato, pelo escaravelho, pela barata, pela mosca, pelo mosquito, pela pulga, pelo bacilo e pelo micróbio .


Chiça,mudar de casa é uma chatice...

Transformar.


Sei que o poema é qualquer coisa que nos transforma. O poeta sonha sempre transformar o homem, mudar a vida .

Eugénio de Andrade.