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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas Festas.

Novo ou velho?


"Nenhum ano será realmente novo se continuarmos a cometer os mesmos erros dos anos velhos."

Grito a tua ausência...


Ausente
olho o universo
nada vejo.
Sinto um vazio
fecho os olhos,imagino
teu corpo esbelto
envolto numa áurea
luminosa.
Flutuas no espaço
que me limita
circunda
e controla.
Grito a tua ausência...
Não te vejo
não te sinto
espaço sideral
universo vazio
num vácuo total.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Vidas!


As mulheres tem sonhos diferentes dos homens,mas quando se juntam, formam uma vida...

O Esplendor da Heterossexualidade, pelo Desejo -




Somos um objecto, na paixão, totalmente submissos, sem poder prever os golpes que sofremos; aí reside a grandeza, a loucura, o assombro da paixão.
Para mim, o desejo só pode ter lugar entre o masculino e o feminino, entre sexos diferentes.
O outro desejo é um autodesejo, é, para mim, como que o prolongamento da prática masturbatória do homem ou da mulher. O esplendor da paixão, a sua imensidade, o seu sofrimento, o seu inferno, reside no facto de só poder verificar-se entre géneros irreconciliáveis, o masculino e o feminino. Tanto a paixão como o desejo.


Os casais homossexuais são muito mais estáveis do que os casais heterossexuais, porque na homosexualidade há uma prática simples e cómoda do desejo. A prática heterossexual é ainda selvagem, é ainda a floresta do desejo.
Na prática homossexual não creio que exista esse fenómeno de posse que existe na heterossexual. Na prática homossexual existe uma espécie de intermutabilidade do prazer, as pessoas nunca pertencem na homossexualidade como pertencem na heterossexualidade.
É um inferno não se poder escapar ao desejo de uma pessoa, é a isso que eu chamo, quando a mim, o esplendor da heterossexualidade.

Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '

Ó Noite...




Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher
vago e belo e voluptuoso,
num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos
[e quedos.
Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele,
deixai que os caminhos da noite,
cegos e rectos como o destino,
suspensos como uma nuvem,
sejam os caminhos dos poetas
que lhes decoraram o nome.
Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher!
Esconde a vida no seio de uma estrela
e fá-la pairar, assim mágica e irreal,
para que a olhemos como uma lua sonâmbula.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Universo.


Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a sua maneira de ser lhe permite. O universo pode ser muito mais vasto e muito mais diferente do que aquilo que é apenas o nosso mundo .

Agostinho da Silva.

A poesia é uma arma carregada de futuro.




Quando já nada se espera particularmente exaltante
mas palpitamos e seguimos aquém da consciência,
ferramenta existindo, cegamente afirmando,
como um pulso que golpeia as trevas,
quando miramos de frente
os vertiginosos olhos claros da morte,
dizemos as verdades;
as bárbaras, terríveis, amorosas crueldades
Dizemos os poemas
que enchem os pulmões dos que, asfixiados,
pedem ser, pedem ritmo,
pedem lei para aquilo que sentem em excesso,
com a velocidade do instinto,
com o raio do prodígio,
como mágica evidência, o real que se transforma
no idêntico a si mesmo.
Poesia para o pobre, poesia necessária
como o pão de cada dia,
como o ar que exigimos treze vezes por minuto,
para ser e enquanto somos dar o sim que glorifica.
Porque vivemos aos tropeços, porque apenas nos deixam
dizer que somos quem somos,
os cânticos não podem ser, sem pecado, um adorno.
Estamos chegando ao fundo.
Maldita a poesia concebida como um luxo
cultural para os neutros
que, lavando-se as mãos, se desentendem e evadem.
Maldigo a poesia de quem não toma partido até manchar-se.
Faço minhas as faltas. Sinto em mim os que sofrem
e canto respirando.
Canto, e canto e cantando para lá de minhas penas,
me amplio.
Quisera dar-lhes vida, provocar novos actos,
e calculo por isso com a técnica que posso.
Me sinto um engenheiro do verso e um operário
que forja com outros a Espanha em seus alicerces.
Assim é minha poesia: poesia-ferramenta
ao mesmo tempo pulsar do unânime e cego.
Assim é, arma carregada de futuro expansivo
com que aponto o teu peito.
Não é uma poesia gota a gota pensada.
Não é um belo produto. Não é um fruto perfeito.
É algo como o ar que todos respiramos
e é o canto que expande o que dentro levamos.
São palavras que repetimos sentindo
como nossas, e voam. São mais que o pensado.
São gritos no céu, e, na terra, são actos.


Poesia de Gabriel Celaya.

Presentes...


Presentes
São moeda de troca
gestos que se confundem
favores
amores
traições...
Presentear é amar
é olhar-mos o mundo
sem contemplações.
Repartir
oferecer
dividir-mos o nosso ser
num abraço de ternura
sorrindo
dar sem pensar receber.
Amar não custa nada
o preço pouco importa
o que conta é a intenção
sentir-mos a felicidade
num aperto de mão.
Vamos dividir a amizade
o conhecimento
a verdade
a paz
o amor
A sinceridade.
Vamos dar as mãos
num cordão humano
vamos dizer basta
á miséria
á fome
á desumanidade...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Aeroporto de Lisboa,23 de Dezembro de 2009-06.45 H

Homem sem porto...


O Homem não tem porto, o tempo não tem margem, ele corre e nós passamos!

Flor da Paixão .




Sei agora
que a paixão
é azul e coroada
como o sangue e a cabeça
das rainhas. Que tem
nome de flor
e é ímpar. Porque,
se o não fosse,
não seria paixão.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

Escrever um Livro .




(...) a maravilha que deve ser escrever um livro: a invenção dentro da memória; a memória dentro da invenção; e toda essa cavalgada de uma grande fuga, todo esse prodígio de umas poligâmicas núpcias, secretas e arrebatadas, com a feminina multidão das palavras: as que se entregam, as que se esquivam; as que é preciso perseguir, seduzir, ludibriar; as que por fim se deixam capturar, palpar, despir, penetrar e sorver, assim proporcionado, antes de se evaporarem, as horas supremas de um amor feliz. Não há matéria mais carnalmente incorpórea; nem outra mais disposta a por amor ser fecundada.
Como se pode interpretar de outro modo esse velho lugar-comum de ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro? Só se em todos os casos se tratar de grandes e inevitáveis actos de amor: com a Mulher, com a Terra, com a Língua. Mas de plantar árvores e ter filhos haverá sempre muita gente que se encarregue. De destruir árvores também; de estragar filhos igualmente. Em compensação, um livro, um livro que viva, multiplicado, durante alguns anos ou alguns séculos, e que depois vá morrendo, sem ninguém dar por isso, mas nunca de uma só vez, até ser enterrado na maior discrição ou até se ver de súbito renascido, inesperadamente ressuscitado, um livro com semelhante destino - luminoso por mais obscuro, obscuro por mais luminoso -, isto é que foi sempre o que me empolgou.

David Mourão-Ferreira, in 'Um Amor Feliz'

domingo, 27 de dezembro de 2009

Without you.

A Felicidade é um Túnel.


A Felicidade é um Túnel

o domínio
o erotismo do domínio
do domínio irrisório
mas enorme

submeter
ver tremer
ver o tremor do outro

vencer
o gelo
o desdém
veloz

a felicidade é um túnel

Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"

Passei toda a noite, sem dormir...


Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

sábado, 26 de dezembro de 2009

Angie.

Ainda a propósito do Natal !


Essa história de que o dinheiro não dá felicidade é um boato espalhado pelos ricos ,para que os pobres não tenham muita inveja deles !

Aos Vindouros, se os Houver...




Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.

Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mau Feitio .




Amo demasiado o universo para viver com um único ser. Como entender-me com um ser humano sem o ofender em nome de todos? Demónio, não consigo entender-me com Deus; anjo, com o demónio. Como entender-me contigo, se comigo próprio me não entendo? Onde me refugiar, se céu e inferno me são tão inacessíveis quanto a Terra?

Max Jacob, in 'O Copo dos Dados'

Hoje è dia de ser bom.



É o dia de passar a mão pelo rosto das crianças.
De falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.
É o dia de pensar nos outros.Coitadinhos,nos que padecem
de lhes dar-mos coragem para poderem continuar a aceitar a sua misèria.
De perdoar os nossos inimigos,mesmo os que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência,tão efèmera e tão sèria.

António Gedeão.

Incontentado .




Quando em teus braços, meu amor, te beijo,
se me torno, de súbito, tristonho,
é porque às vezes, com temor, prevejo
que esta alegria pode ser um sonho.

Olho os meus olhos nos teus olhos... Ponho,
trêmulo, as mãos nas tuas mãos... E vejo
que és tu mesma, que és tu! E ainda suponho
Ser enganado pelo meu desejo.

Quanto mais, desvairado de ansiedade,
do teu corpo, meu corpo se avizinha,
mais de ti, junto a ti, sinto saudade...

- E o meu suplício atroz não se adivinha,
quando, beijando-te, o pavor me invade
de que em meus braços tu não sejas minha!

Martins Fontes

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Então é Natal!






“Então é Natal...
E o que você fez?
O ano termina

E nasce outra vez!
Então é Natal!
A festa cristã
Do velho e do novo,

Do amor como um todo!
E então é Natal
Pro enfermo e pro são
Pro rico e pro pobre

Num só coração!
Então, bom Natal
Pro branco e pro negro,
Amarelo e vermelho,

Pra paz, afinal!...
Então, bom Natal!
E um Ano Novo também!
Que seja feliz quem

Souber o que é o Bem...”

(John Lennon e Yoko Ono -

A árvore de Natal na casa de Cristo.






Havia num porão uma criança, um garotinho de seis anos de idade, ou menos ainda. Esse garotinho despertou certa manhã no porão úmido e frio. Tiritava, envolto nos seus pobres andrajos. Seu hálito formava, ao se exalar, uma espécie de vapor branco, e ele, sentado num canto em cima de um baú, por desfastio, ocupava-se em soprar esse vapor da boca, pelo prazer de vê-lo se esvolar. Mas bem que gostaria de comer alguma coisa. Diversas vezes, durante a manhã, tinha se aproximado do catre, onde num colchão de palha, chato como um pastelão, com um saco sob a cabeça à guisa de almofada, jazia a mãe enferma. Como se encontrava ela nesse lugar? Provavelmente tinha vindo de outra cidade e subitamente caíra doente. A patroa que alugava o porão tinha sido presa na antevéspera pela polícia; os locatários tinham se dispersado para se aproveitarem também da festa, e o único tapeceiro que tinha ficado cozinhava a bebedeira há dois dias: esse nem mesmo tinha esperado pela festa. No outro canto do quarto gemia uma velha octogenária, reumática, que outrora tinha sido babá e que morria agora sozinha, soltando suspiros, queixas e imprecações contra o garoto, de maneira que ele tinha medo de se aproximar da velha. No corredor ele tinha encontrado alguma coisa para beber, mas nem a menor migalha para comer, e mais de dez vezes tinha ido para junto da mãe para despertá-la. Por fim, a obscuridade lhe causou uma espécie de angústia: há muito tempo tinha caído a noite e ninguém acendia o fogo. Tendo apalpado o rosto de sua mãe, admirou-se muito: ela não se mexia mais e estava tão fria como as paredes. "Faz muito frio aqui", refletia ele, com a mão pousada inconscientemente no ombro da morta; depois, ao cabo de um instante, soprou os dedos para esquentá-los, pegou o seu gorrinho abandonado no leito e, sem fazer ruído, saiu do cômodo, tateando. Por sua vontade, teria saído mais cedo, se não tivesse medo de encontrar, no alto da escada, um canzarrão que latira o dia todo, nas soleiras das casas vizinhas. Mas o cão não se encontrava alí, e o menino já ganhava a rua.

Senhor! que grande cidade! Nunca tinha visto nada parecido, De lá, de onde vinha, era tão negra a noite! Uma única lanterna para iluminar toda a rua. As casinhas de madeira são baixas e fechadas por trás dos postigos; desde o cair da noite, não se encontra mais ninguém fora, toda gente permanece bem enfunada em casa, e só os cães,às centenas e aos milhares,uivam, latem, durante a noite. Mas, em compensação, lá era tão quente; davam-lhe de comer... ao passo que ali... Meu Deus! se ele ao menos tivesse alguma coisa para comer! E que desordem, que grande algazarra ali, que claridade, quanta gente, cavalos, carruagens... e o frio, ah! este frio! O nevoeiro gela em filamentos nas ventas dos cavalos que galopam; através da neve friável o ferro dos cascos tine contra a calçada;toda gente se apressa e se acotovela, e, meu Deus! como gostaria de comer qualquer coisa, e como de repente seus dedinhos lhe doem! Um agente de policia passa ao lado da criança e se volta, para fingir que não vê.
Eis uma rua ainda: como é larga! Esmaga-lo-ão ali, seguramente; como todo mundo grita, vai, vem e corre, e como está claro, como é claro! Que é aquilo ali? Ah! uma grande vidraça, e atrás dessa vidraça um quarto, com uma árvore que sobe até o teto; é um pinheiro, uma árvore de Natal onde há muitas luzes, muitos objetos pequenos, frutas douradas, e em torno bonecas e cavalinhos. No quarto há crianças que correm; estão bem vestidas e muito limpas, riem e brincam, comem e bebem alguma coisa. Eis ali uma menina que se pôs a dançar com um rapazinho. Que bonita menina! Ouve-se música através da vidraça. A criança olha, surpresa; logo sorri, enquanto os dedos dos seus pobres pezinhos doem e os das mãos se tornaram tão roxos, que não podem se dobrar nem mesmo se mover. De repente o menino se lembrou de que seus dedos doem muito; põe-se a chorar, corre para mais longe, e eis que, através de uma vidraça, avista ainda um quarto, e neste outra árvore, mas sobre as mesas há bolos de todas as qualidades, bolos de amêndoa, vermelhos, amarelos, e eis sentadas quatro formosas damas que distribuem bolos a todos os que se apresentem. A cada instante, a porta se abre para um senhor que entra. Na ponta dos pés, o menino se aproximou, abriu a porta e bruscamente entrou. Hu! com que gritos e gestos o repeliram! Uma senhora se aproximou logo, meteu-lhe furtivamente uma moeda na mão, abrindo-lhe ela mesma a porta da rua. Como ele teve medo! Mas a moeda rolou pelos degraus com um tilintar sonoro: ele não tinha podido fechar os dedinhos para segurá-la. O menino apertou o passo para ir mais longe - nem ele mesmo sabe aonde. Tem vontade de chorar; mas dessa vez tem medo e corre. Corre soprando os dedos. Uma angústia o domina, por se sentir tão só e abandonado, quando, de repente: Senhor! Que poderá ser ainda? Uma multidão que se detém, que olha com curiosidade. Em uma janela, através da vidraça, há três grandes bonecos vestidos com roupas vermelhas e verdes e que parecem vivos! Um velho sentado parece tocar violino, dois outros estão em pé junto de e tocam violinos menores, e todos maneiam em cadência as delicadas cabeças, olham uns para os outros, enquanto seus lábios se mexem; falam, devem falar - de verdade - e, se não se ouve nada, é por causa da vidraça. O menino julgou, a princípio, que eram pessoas vivas, e, quando finalmente compreendeu que eram bonecos, pôs-se de súbito a rir. Nunca tinha visto bonecos assim, nem mesmo suspeitava que existissem! Certamente, desejaria chorar, mas era tão cômico, tão engraçado ver esses bonecos! De repente pareceu-lhe que alguém o puxava por trás. Um moleque grande, malvado, que estava ao lado dele, deu-lhe de repente um tapa na cabeça, derrubou o seu gorrinho e passou-lhe uma rasteira. O menino rolou pelo chão, algumas pessoas se puseram a gritar: aterrorizado, ele se levantou para fugir depressa e correu com quantas pernas tinha, sem saber para onde. Atravessou o portão de uma cocheira, penetrou num pátio e sentou-se atrás de um monte de lenha. "Aqui, pelo menos", refletiu ele, "não me acharão: está muito escuro."
Sentou-se e encolheu-se, sem poder retomar fôlego, de tanto medo, e bruscamente, pois foi muito rápido, sentiu um grande bem-estar, as mãos e os pés tinham deixado de doer, e sentia calor, muito calor, como ao pé de uma estufa. Subitamente se mexeu: um pouco mais e ia dormir! Como seria bom dormir nesse lugar! "mais um instante e irei ver outra vez os bonecos", pensou o menino, que sorriu à sua lembrança: "Podia jurar que eram vivos!"... E de repente pareceu-lhe que sua mãe lhe cantava uma canção. "Mamãe, vou dormir; ah! como é bom dormir aqui!"
- Venha comigo, vamos ver a árvore de Natal, meu menino - murmurou repentinamente uma voz cheia de doçura.
Ele ainda pensava que era a mãe, mas não, não era ela. Quem então acabava de chamá-lo? Não vê quem, mas alguém está inclinado sobre ele e o abraça no escuro, estende-lhe os braços e... logo... Que claridade! A maravilhosa árvore de Natal! E agora não é um pinheiro, nunca tinha visto árvores semelhantes! Onde se encontra então nesse momento? Tudo brilha, tudo resplandece, e em torno, por toda parte, bonecos - mas não, são meninos e meninas, só que muito luminosos! Todos o cercam, como nas brincadeiras de roda, abraçam-no em seu vôo, tomam-no, levam-no com eles, e ele mesmo voa e vê: distingue sua mãe e lhe sorrir com ar feliz.
- Mamãe! mamãe! Como é bom aqui, mamãe! - exclama a criança. De novo abraça seus companheiros, e gostaria de lhes contar bem depressa a história dos bonecos da vidraça... - Quem são vocês então, meninos? E vocês, meninas, quem são? - pergunta ele, sorrindo-lhes e mandando-lhes beijos.
- Isto... é a árvore de Natal de Cristo - respondem-lhe. - Todos os anos, neste dia, há, na casa de Cristo, uma árvore de Natal, para os meninos que não tiveram sua árvore na terra...
E soube assim que todos aqueles meninos e meninas tinham sido outrora crianças como ele, mas alguns tinham morrido, gelados nos cestos, onde tinham sido abandonados nos degraus das escadas dos palácios de Petersburgo; outros tinham morrido junto às amas, em algum dispensário finlandês; uns sobre o seio exaurido de suas mães, no tempo em que grassava, cruel, a fome de Samara; outros, ainda, sufocados pelo ar mefítico de um vagão de terceira classe. Mas todos estão ali nesse momento, todos são agora como anjos, todos juntos a Cristo, e Ele, no meio das crianças, estende as mãos para abençoá-las e às pobres mães... E as mães dessas crianças estão ali, todas, num lugar separado, e choram; cada uma reconhece seu filhinho ou filhinha que acorrem voando para elas, abraçam-nas, e com suas mãozinhas enxugam-lhes as lágrimas, recomendando-lhes que não chorem mais, que eles estão muito bem ali...
E nesse lugar, pela manhã, os porteiros descobriram o cadaverzinho de uma criança gelada junto de um monte de lenha. Procurou-se a mãe... Estava morta um pouco adiante; os dois se encontraram no céu, junto ao bom Deus.


DOSTOIÉVSKI.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Feliz Só Será.




Feliz só será
A alma que amar.

'Star alegre
E triste,
Perder-se a pensar,
Desejar
E recear
Suspensa em penar,
Saltar de prazer,
De aflição morrer —
Feliz só será
A alma que amar.

Johann Wolfgang von Goethe,

Sensibilidade.


As melhores e mais bonitas coisas neste mundo não podem ser vistas nem ouvidas, mas precisam de ser sentidas com o coração...

Helen Keller .

Apoios.


Município de Constância entrega apoios financeiros a jovens estudantes do ensino superior
Segunda-feira, 28 de Dezembro – 10.00H
No próximo dia 28 de Dezembro, a Câmara Municipal de Constância vai proceder à entrega de apoios financeiros a 10 jovens estudantes do ensino superior, uma cerimónia que terá lugar às 10.00H, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

Registe-se que este ano, no âmbito do programa de Concessão de Apoios a Estratos Sociais Desfavorecidos, a autarquia efectuou um reforço orçamental a fim de contemplar todos os jovens candidatos a este apoio, pois todos reuniam as condições legais exigidas no regulamento do programa.

Tendo como principais objectivos não só incentivar os jovens do concelho à frequência do ensino superior como também contribuir para a sua auto-formação e melhoria da sua qualidade educacional, a Câmara Municipal de Constância promove anualmente o programa de Concessão de Apoios a Estratos Sociais Desfavorecidos.
Por CMC

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Para o meu amor...

Vida.


Vivemos uma vida, sonhamos com outra, mas a verdadeira é a que sonhamos ...

Que Há para Lá do Sonhar?




Céu baixo, grosso, cinzento
e uma luz vaga pelo ar
chama-me ao gosto de estar
reduzido ao fermento
do que em mim a levedar
é este estranho tormento
de me estar tudo a contento,
em todo o meu pensamento
ser pensar a dormitar.

Mas que há para lá do sonhar?

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Alma fria.


Neve fria
que me congeles a alma
tem dó dos que dormem ao relento
dos sem abrigo
dos que adormecem debaixo da ponte.
Nesta data especial
dá-lhes tréguas
trás-lhes amor
carinho
um novo lar
uma prenda no sapatinho
é Natal...

O doce misterio da vida...

Por aqui chegou o Inverno.


Quando as pessoas são felizes, não reparam se é Inverno ou Verão ...

domingo, 20 de dezembro de 2009

Sonhos Rotos.

Paixão...



Para ler melhor clic na imagem.

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia .




Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.

Chorámos, rimos, cantámos.

Falou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, bailando e rindo,
Pôs-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...

Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, mesteriosa;
Voz do amor e da verdade!
- Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Trémula voz de quem parte...

E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!

António Botto, in 'Canções'

sábado, 19 de dezembro de 2009

Les Miserables (A little Fall of Rain.)

A Poesia.




A poesia não se inventou para cantar o amor — que de resto não existia ainda quando os primeiros homens cantaram. Ela nasceu com a necessidade de celebrar magnificamente os deuses, e de conservar na memória, pela sedução do ritmo, as leis da tribo. A adoração ou captação da divindade e a estabilidade social, eram então os dois altos e únicos cuidados humanos: — e a poesia tendeu sempre, e tenderá constantemente a resumir, nos conceitos mais puros, mais belos e mais concisos, as ideias que estão interessando e conduzindo os homens. Se a grande preocupação do nosso tempo fosse o amor — ainda admitiríamos que se arquivasse, por meio das artes da imprensa, cada suspiro de cada Francesca. Mas o amor é um sentimento extremamente raro entre as raças velhas e enfraquecidas. Os Romeus, as Julietas (para citar só este casal clássico) já não se repetem nem são quase possíveis nas nossas democracias, saturadas de cultura, torturadas pela ansia do bem-estar, cépticas, portanto egoístas, e movidas pelo vapor e pela electricidade. Mesmo nos crimes de amor, em que parece reviver, com a sua força primitiva e dominante, a paixão das raças novas, se descobrem logo factores lamentavelmente alheios ao amor, sendo os dois principais aqueles que mais caracterizam o nosso tempo: o interesse e a vaidade. Nestas condições, o amor que voltou a ser, como na Grécia, um Cupido pequenino e brincalhão, que esvoaça, surripiando aqui e além um prazer fugitivo — é removido para entre os cuidados subalternos do homem, muito para baixo do dinheiro, muito para baixo da política... É uma ocupação, sem malícia o digo, que se deixa para quando acabar o dia verdadeiro e útil, e com ele os negócios, as ideias, os interesses que prendem. «Já não há hoje nada de produtivo a fazer? Já não há nada de sério em que pensar?... Bem! Então, um pouco de perfume nas mãos, e abra-se a porta ao amor que espera!» A isto está reduzida a Vénus fatal e vencedora!
Ora quando uma arte teima em exprimir unicamente um sentimento que se tornou secundário nas preocupações do homem — ela própria se torna secundária, pouco atendida e perde a pouco e pouco a simpatia das inteligências. Por isso hoje, tão tenazmente, os editores se recusam a editar, e os leitores se recusam a ler, versos em que só se cante de amor e de rosas. E o artista que não quer ser uma voz clamando no deserto e um papel apodrecendo no armazém, começa a evitar o amor como tema essencial da sua obra.

Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

Mensagem de Natal




"A Melhor mensagem de Natal é aquela que sai em silêncio dos nossos corações e aquece com ternura os corações daqueles que nos acompanham na nossa caminhada pela vida."

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Les Miserables.



Bom fim de semana para todo o mundo.

Dança.


A dança substitui as palavras, quando temos necessidade de estar calados.Nada é mais revelador que o próprio gesto...

Aparição .




Um dia, meu amor (e talvez cedo,
Que já sinto estalar-me o coração!)
Recordarás com dor e compaixão
As ternas juras que te fiz a medo...

Então, da casta alcova no segredo,
Da lamparina ao trémulo clarão,
Ante ti surgirei, espectro vão,
Larva fugida ao sepulcral degredo...

E tu, meu anjo, ao ver-me, entre gemidos
E aflitos ais, estenderás os braços
Tentando segurar-te aos meus vestidos...

— «Ouve! espera!» — Mas eu, sem te escutar,
Fugirei, como um sonho, aos teus abraços
E como fumo sumir-me-ei no ar!

Antero de Quental, in "Sonetos"

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Imaginação.

A Nossa Vitória de cada Dia




Olhe para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas as coisas. Não temos aceite o que não se entende porque não queremos passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada. Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o começo de uma vida larga e nós a tememos.

Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gaffe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingénuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia.

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres'

A neve cai...


Raios de Sol brilhantes
aquecem a alma
iluminam a mente
no passado
presente
o futuro, a quem pertence ?
A neve cai
esqueço os raios solares de outrora
o presente é hoje
o passado é história...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Paciência, um Sofrimento Voluntário




Tu és, ó Paciência, um sofrimento
Voluntário, fiel, bem ordenado,
Da conhecida sem razão tirado,
De um constante varão nobre ornamento.

Tu, recolhendo n'alma o pensamento,
Suportas com valor o Tempo irado.
Tu sustentas, com ânimo esforçado,
Todo o peso do mal, no bem atento.

Magnânima tu és, tu és Constância,
Cedro que não derruba a tempestade,
Rocha, onde a fúria quebra o mar com ânsia.

Tu triunfas da mesma Adversidade.
Subjugando as paixões co'a Tolerância,
Tu vences os ardis da vil Maldade.

Francisco Joaquim Bingre, in 'Sonetos'

A Boa Disposição




A boa disposição é o grande lubrificante da roda da vida. Torna o trabalho mais leve, reduz as dificuldades e mitiga os infortúnios. A boa disposição dá um poder criador que os pessimistas não conseguem ter. Uma disposição alegre, esparançosa e optimista torna a vida mais suave, alivia a sua inevitável monotonia e amortece os solavancos da estrada da vida.

Alfred Montapert, in 'A Suprema Filosofia do Homem'

Desenquadrado.


Pelas ruas da amargura
desenquadrado
segue o destino
no empedrado da vida
pisa os paralelos da calçada
gasta
deformada
por amores desencontrados...

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sugestões de presente para o Natal:


Para seu inimigo, perdão. Para um oponente, tolerância. Para um amigo, seu coração. Para um cliente, serviço. Para tudo, caridade. Para toda criança, um exemplo bom. Para você, respeito."

É o Fim que Confere o Significado às Palavras .




Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.

Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'

Apenas imagino...


Ao acordar
tua pele de veludo
roça ma minha
olho a janela
vidros baços
o frio lá fora
aconchego-me no teu corpo
quente
suave
ardente.
Desejo-te
quando há desejo,não há posse
apenas imagino
ansejo-te
a meu belo prazer.
Debaixo dos lençóis de linho
macios
cheirando a rosas
teu corpo esguio
esfuma-se
para lá da janela
e me deixa sozinho
no vazio do meu quarto.
Imaginando-te
sigo-te com o meu olhar
não paras
talvez procures outro caminho...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Ninguém Gosta de Ser Considerado Vaidoso




No seu coração, os homens desejam ser estimados, mas eles cuida­dosamente ocultam esse desejo porque querem passar por virtuo­sos e porque o desejo de receber da virtude qualquer vantagem além dela mesma não seria ser virtuoso, mas amar a estima e o elogio — ou seja, ser vaidoso. Os homens são muito vaidosos, mas não há nada que eles mais detestem do que serem considerados vaidosos.

Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"

Teatro.


O teatro é um meio muito eficaz de educar o público; mas quem faz teatro educativo encontra-se sempre sem público para poder educar .

Beijo.


Quero-te beijar
dar-te um beijo sensual
provar tua doce boca
teu paladar.
Mordiscar teus lábios
numa intensa sedução
em momentos de intimidade
expressar meus afectos
toda a minha paixão.
Sentir teu respirar ofegante
a tua boca sensual
ouvir os batimentos do teu coração
dizer-te baixinho
que beijos são segredos
que passam de boca para boca
cheios de desejo...

domingo, 13 de dezembro de 2009

Natal e não Dezembro.


Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.

Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.

David Mourão-Ferreira

A Influência do Vestuário




Nada influencia mais profundamente o sentir do homem, do que a fatiota que o cobre. O mais ríspido profeta, se enverga uma casaca e ata ao pescoço um laço branco, tende logo a sentir os encantos dos decotes e da valsa; e o mais extraviado mundano, dentro de uma robe de chambre, sente apetites de serão doméstico e de carinhos ao fogão.
Maior ainda se afirma a influência do vestuário sobre o pensar. Não é possível conceber um sistema filosófico com os pés entalados em escarpins de baile, e um jaquetão de veludo preto forrado a cetim azul leva inevitavelmente a ideias conservadoras.

Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

Espírito de Natal.


Oxalá pudéssemos meter o espírito de natal em caixas e abrir uma caixa em cada mês do ano.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Mulher Nua


Tela (Les demoiselles D'Avignon, Pablo Picasso.)




Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?

(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)

Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

Juan Ramón Jiménez, in "La Mujer Desnuda"

Ave Maria.

Enfeites de Natal.


Talvez o melhor enfeite de natal seja apenas um sorriso.