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sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Fado português.



Dulce Pontes.

Existência


Existir não é pensar: é ser lembrado .

Amor perdido.


A chuva cai

Permanece a saudade!

Tão distante, mas tão perto

Em teu peito vivo!

Em teus pensamentos estou

Vês minha imagem

Sorris...

Lembras-te das palavras trocadas

Dos carinhos não afagados

Dos beijos nunca trocados

Como um pássaro que voa

Um dia voltará

E bem junto de ti irá pousar



(Zita Ferreira)

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

O pensamento é livre .

Volúpia .




A volúpia carnal é uma experiência dos sentidos, análoga ao simples olhar ou à simples sensação com que um belo fruto enche a língua. É uma grande experiência sem fim que nos é dada; um conhecimento do mundo, a plenitude e o esplendor de todo o saber. O mal não é que nós a aceitemos; o mal consiste em quase todos abusarem dessa experiência, malbaratando-a, fazendo dela um mero estímulo para os momentos cansados da sua existência.

(Rainer Maria Rilke)

Beijo Eterno.



Diz tua boca: "Vem!"
"Inda mais!" diz a minha, a soluçar...Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
"Morde também!"
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morro por teu amor!

Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!<
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!

Olavo Bilac.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Liberdade


O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

Passaporte da Leitura



Na Biblioteca Municipal Alexandre O'Neill
A Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill está a desenvolver, desde o início do mês de Janeiro e até ao final de Junho, a actividade Passaporte da Leitura, a qual tem como principal objectivo promover o livro e estimular a leitura no concelho de Constância.

Ler é essencial. Ler é estimulante. Tal como as pessoas, os livros podem ser intrigantes, melancólicos, assustadores, e por vezes, complicados. Os livros partilham sentimentos e pensamentos, feitios e interesses. Os livros colocam-nos em outros tempos, outros lugares, outras culturas. Os livros ajudam-nos a sonhar e levam-nos a viajar...

Viajar nos livros sem sair do lugar, conduziu a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill à iniciativa Passaporte da Leitura, a qual consiste no preenchimento de um passaporte, através da leitura de um conjunto de obras definidas pela Biblioteca, as quais na sua maioria integram o Plano Nacional de Leitura. Após cada requisição, os leitores terão que responder a algumas perguntas sobre a obra lida. Aos vencedores de cada faixa etária serão atribuídos prémios simbólicos.

Para informações, inscrições ou esclarecimentos adicionais devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.

Leia mais. Viva mais.
Por CMC

Constância.


Obras de valorização urbana entre Vale de Mestre e a Aldeia

já decorrem no concelho de Constância

As obras de valorização urbana no eixo de ligação de Vale de Mestre à Aldeia, na Freguesia de Santa Margarida da Coutada, Concelho de Constância, já estão a decorrer.

Os trabalhos que se desenvolvem entre as localidades de Aldeia de Santa Margarida e Vale de Mestre englobam uma intervenção a vários níveis, nomeadamente: construção de passeios e estacionamentos, pavimentação, plantação de árvores, reformulação da rede de águas pluviais e da iluminação pública, substituição das infra-estruturas eléctricas e de telecomunicações, as quais passarão a subterrâneas.

Com a execução das obras que agora decorrem a autarquia pretende promover a coesão local e valorizar o principal eixo urbano da freguesia de Santa Margarida da Coutada, possibilitando uma melhor ligação e articulação entre diversos equipamentos existentes no local, nomeadamente: o Parque Ambiental, a Junta de Freguesia, a Extensão de Saúde, a Secção de Santa Margarida dos Bombeiros Voluntários, a actual Escola e o futuro Centro Escolar, o comércio local, as novas urbanizações e a Igreja Paroquial.

A intervenção que está a ser executada tem um custo de aproximadamente 360 mil euros, a qual contará com uma comparticipação financeira de 61,30%, através do QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional, sendo a restante verba suportada pelo orçamento municipal.
Por CMC

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Dor.

Alma!


A alma, ao contrário do que tu supões, a alma é exterior: envolve e impregna o corpo como um fluido envolve a matéria. Em certos homens a alma chega a ser visível, a atmosfera que os rodeia toma cor. Há seres cuja alma é uma contínua exalação: arrastam-na como um cometa ao oiro esparralhado da cauda - imensa, dorida, frenética. Há-os cuja alma é de uma sensibilidade extrema: sentem em si todo o universo. Daí também simpatias e antipatias súbitas quando duas almas se tocam, mesmo antes da matéria comunicar. O amor não é senão a impregnação desses fluidos, formando uma só alma, como o ódio é a repulsão dessa névoa sensível. Assim é que o homem faz parte da estrela e a estrela de Deus .


(Raul Brandão )

Delírio.



Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!
Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.
Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
Mais abaixo, meu bem! ? num frenesi.
No seu ventre pousei a minha boca,
Mais abaixo, meu bem! ? disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…


Olavo Bilac.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Jardins proibidos.



Paulo Gonzo.

Beijo.


Beijar é como beber água salgada; quanto mais se bebe mais a sede aumenta .

Satânia




Sobe... cinge-lhe a perna longamente;
Sobe...- e que volta sensual descreve
Para abranger todo o quadril!- prossegue,
Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,
Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,
Corre-lhe a espádua, espia-lhe o recôncavo
Da axila, acende-lhe o coral da boca,
E antes de se ir perder na escura noite,
Na densa noite dos cabelos negros,
Pára confusa, a palpitar, diante
Da luz mais bela dos seus grandes olhos.

E aos mornos beijos, às carícias ternas,
Da luz, cerrando levemente os cílios,
Satânia os lábios úmidos encurva,
E da boca na púrpura sangrenta
Abre um curto sorriso de volúpia...

Olavo Bilac.

domingo, 11 de janeiro de 2009

Lugares e Estados de Alma.



A influência exercida sobre a nossa alma, pelos diferentes lugares, é uma coisa digna de observação. Se a melancolia nos conquista infalivelmente quando estamos à beira das águas, uma outra lei da nossa natureza impressionante faz com que, nas montanhas, os nossos sentimentos se purifiquem: ali a paixão ganha em profundidade o que parece perder em vivacidade.

Honoré de Balzac, in 'A Mulher de Trinta Anos'

Viajar.


"Uma longa viagem começa com um único passo".

Sofro de não te Ver .




Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma...

Sofro
de te perder,
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos...

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?

Saúl Dias, in "Sangue (Inéditos)"

sábado, 10 de janeiro de 2009

Hotel Califórnia.




Eagles.

Segredos.


Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido .

Sugar e ser sugado pelo amor


Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

Carlos Dummond de Andrade

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

2009 - Ano Internacional da Astronomia





Quase todos os dias do calendário são dias de qualquer coisa, geralmente coisas que são consideradas boas: do não fumador, da árvore, da água, do Sol, do campo, do clima, do comércio justo, do sobreiro e da cortiça, do guarda florestal, etc. A maior parte deles é apadrinhada pela UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) e muitos são considerados como iniciativas daquele organismo que estabelece os dias internacionais e os dias mundiais. Em todos os casos, o objectivo é a promoção de iniciativas que motivem os cidadãos a reflectir sobre o tema proposto, esperando-se que, com o decorrer dos anos, se melhorem as consciências e os contributos para a melhoria da qualidade de vida dos povos em geral.



Em 2009 completam-se 400 anos sobre as primeiras observações do céu – através de telescópios – realizadas pelo sábio italiano Galileu Galilei. Por isso, e para comemorar o facto, de que resultaram efeitos extraordinários na evolução do conhecimento do Universo e das ciências em geral, o governo italiano solicitou à UNESCO – em 2004 – que proclamasse o ano de 2009 como Ano Internacional da Astronomia. Em Dezembro de 2007 aquela agência das Nações Unidas adoptou a resolução proposta, considerando que “…as observações astronómicas têm implicações profundas no desenvolvimento da ciência, filosofia, religião, cultura e concepção geral do Universo” e ainda que “a UNESCO pode desempenhar um papel crucial na formação da opinião pública, no sentido de incrementar o seu conhecimento da importância da Astronomia para o desenvolvimento social…”.



Em Portugal, ainda em 2007, a Sociedade Portuguesa de Astronomia iniciou a organização das actividades para o 2009 – Ano Internacional da Astronomia, criando uma comissão que concebeu um programa e estabeleceu contactos com entidades, autarquias, editoras, companhias de teatro, orquestras e outras instituições para sugerir o seu envolvimento em iniciativas relacionadas com o tema e com os objectivos.



Na verdade, as actividades já se iniciaram, particularmente em escolas e instituições que apoiam o ensino. Os Museus de Ciência das Universidades de Coimbra e de Lisboa e o Centro Ciência Viva de Constância estão envolvidos na concretização de um projecto designado Descobre o teu Céu e que, para além de incentivar à observação do céu e à pesquisa e criação de histórias associadas às constelações, promove também o intercâmbio com vários países de língua portuguesa. Para além disso, o Centro Ciência Viva de Constância inaugurará, em Março, o maior telescópio público a funcionar em Portugal, o que facilitará as condições de acolhimento, em Julho, das Olimpíadas de Astronomia, evento que juntará participantes de todo o país em provas teóricas e práticas de Astronomia.



Naturalmente, da movimentação cultural que o Ano Internacional da Astronomia provocará em todo o mundo são esperados inúmeros actos e reflexões sobre a presença e importância da Astronomia nas culturas dos povos, ao longo dos séculos, em diversas regiões da Terra.



Mercê de apoio mecenático da Fundação EDP, o Centro Ciência Viva de Constância vai ser equipado com o maior telescópio público a funcionar em Portugal. A inauguração vai ocorrer a 20 de Março – data do 5º aniversário do CCV e em pleno 2009 – Ano Internacional da Astronomia –, embora a entrada em funcionamento experimental esteja prevista já para o mês de Janeiro.

Este potente telescópio servirá – para além de suporte às normais actividades do CCV – para a concretização de encontros de astrónomos amadores e profissionais do país e de outras nacionalidades, dos quais se destacam as Olimpíadas de Astronomia.



Dadas as suas dimensões, características e modos de controlo, o telescópio agora em fase de aquisição estabelece um meio-termo entre os melhores equipamentos utilizados por amadores e os grandes e sofisticados telescópios que equipam os maiores observatórios mundiais. De facto, as duas características ópticas mais importantes de um telescópio são o diâmetro do espelho e a sua distância focal, dado que a primeira determina a quantidade de luz que, vinda de um objecto, o telescópio pode captar, enquanto a segunda está directamente relacionada com o número de vezes que se pode aumentar a imagem, o que equivale a vermos o objecto celeste como se estivéssemos mais perto dele, cem, duzentas ou quinhentas vezes. No caso presente, o diâmetro do espelho ultrapassa meio metro e a sua curvatura é – de todos os tipos actualmente utilizados – a que produz imagens mais nítidas, as quais se formam a cerca de três metros e meio do espelho principal. Como tal distância focal implicaria uma estrutura física de grandes dimensões, a qual só poderia ser abrigada por um cúpula de diâmetro elevado, escolheu-se um tipo de telescópio em que um sistema óptico complexo comprime a distância focal de 3,5 metros para apenas 1,2 metros.



Outro aspecto determinante da qualidade de um telescópio é a estrutura (também designada montagem) onde assenta todo o sistema óptico, nomeadamente no que respeita à sua estabilidade e à suavidade dos seus movimentos. Por isso se optou por uma das melhores montagens, baseadas em sistemas de rolamentos, rodas dentadas e parafusos sem-fim movimentados por motores passo-a-passo alimentados por osciladores de frequência controlável. Assim, o telescópio pode ser apontado para qualquer região do céu e, compensando o movimento de rotação da Terra, seguir suavemente o objecto celeste em observação, permitindo a sua visibilidade ou a captura de imagens durante o tempo necessário.



O sistema electrónico de controlo do telescópio pode ser operado directamente pelo observador ou através de um computador, podendo as imagens dos objectos celestes ser observadas na ocular, num ecrã ou mesmo ser projectadas.



Naturalmente, à satisfação de possuir um moderno equipamento, o Centro Ciência Viva de Constância junta a responsabilidade assumida no protocolo estabelecido com a Fundação EDP de “contribuir para a cultura e conhecimento científico dos cidadãos, em particular dos jovens estudantes”, desenvolvendo acções nas instalações próprias e em outros lugares em que tal se revele importante e realizável, nomeadamente no Museu de Electricidade, em Lisboa. Para além da concessão do equipamento, a Fundação EDP garante o acompanhamento das actividades do CCV e a sua divulgação pelos mecanismos próprios.

Por CMC

Ai se sesse.

Escrever.


Uma boa frase é como uma boa anedota: dá brilho a quem a inventa e sobra ainda para quem a repete .

(Vergílio Ferreira.)

Strip-tease Secular !




Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Calar!


Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar, do que o silêncio...

Há momentos que...




Há momentos em que do fogo sobe para a noite
há momentos que resulta tão difícil chegarmos a um
sentimento.
Descubro uma figura que já não
sei seguir. Há momentos
eu vejo o que se senta à minha frente o amável corte
de cabelo o severo intento tomado como correcto
rosto onde a plenitude era possível. Rosto onde o
passado é a tarde de verão a pequena cidade onde o
sol pode dizer-se cai no campo rosto de passados ou
uma tarde de verão para ter tempo.

João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir"

Obstáculos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sinto




Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'

Preguiça.


O preguiçoso é com um relógio sem corda.

Respeito...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Primeiro beijo.



Rui Veloso.

Bem!


Dever-se-ia pensar mais em fazer o bem do que em estar bem: e assim também se acabaria por estar melhor.

Reis Magos.





Pequenino está deitado
Em palhinhas, Deus infante
Ai! Não há no céu estrelado
Astro de oiro mais brilhante
Correi pastorinhos
Depressa a Belém
Co’a alma em carinhos
Por Deus nosso bem
Oh! Levai-lhe cordeirinhos
Todos brancos de candura,
De lã branca, com arminhos,
De olhos meigos de ternura.
Mais que a estrela do Oriente,
Mais que o oiro dos Reis Magos,
Jesus preza o inocente
E dos pobres quer afagos.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A memória é um silêncio que espera.


A Memória é um Silêncio que Espera
O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.

(Ana Hatherly)

Velhices.



Bordão em punho, roupa remendada,
Olhar cansado, sempre rente ao chão,
És um farrapo e já nos deste o pão,
Hoje porém, ninguém já lembra nada…

Coluna vertebral encorcovada,
Caminha, sem qualquer aspiração!
Pesam-lhe os anos, mais a ingratidão…
Velhice… vives tão abandonada!...

Conserva, embora roto, o seu chapéu…
Não pode comprar outro que é tão caro!
A reforma?!... não dá para comer!...

Será que pode acreditar no céu?...
Na terra, estando tão ao desamparo,
O remédio melhor será… morrer.


(Francisco Medeiros Quarta)

Literatura.



Pilares da terra volume-II

O segundo volume tem como fio condutor a história da construção de uma catedral gótica em Kingsbridge, Inglaterra, no século XII. As personagens enredam-se em uma trama repleta de ambição, busca pelo poder e guerras, em uma detalhada reconstituição de época.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Coroemo-nos Pois uns para os Outros




Tuas, não minhas, teço estas grinaldas,
Que em minha fronte renovadas ponho.
Para mim tece as tuas,
Que as minhas eu não vejo.
Se não pesar na vida melhor gozo
Que o vermo-nos, vejamo-nos, e, vendo,
Surdos conciliemos
O insubsistente surdo.
Coroemo-nos pois uns para os outros,
E brindemos uníssonos à sorte
Que houver, até que chegue
A hora do barqueiro.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Esperança.

Amizade!


A amizade sem confiança é uma flor sem perfume.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Mário Sá Carneiro.


Como Eu não Possuo

Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

* * * * *

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emmaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e côr!...

Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fôsse aquêles seios transtornados,
Se fôsse aquêle sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destrôço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.


in 'Dispersão'

Pensamento á solta.


Vai sendo o que sejas até seres o que és, que é Deus sendo; e, cuidado, não te percas enquanto vais sendo .


Agostinho da Silva.

Natal dos simples.



Zeca Afonso.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Cantiga de amor.



Rádio Macau.

Imaginação.


Por vezes o entendimento descontrai-se, para que a esperança se divirta, com o que a imaginação sonha .

A sopa dos pobres.



À mesa
O que resta
São côdeas
Do resto
-
Côdeas
De fome
Sem um
Protesto
-
Alguns
Engolem
O pão
E a fome

-
Outros
Ignoram
A ira
Que sobe
-
Por aí
Calada
A dor
E a raiva
-
Nos olhos
Calada
Essa dor
Esmaga
-
Talvez
Notícia
A morte
No esgoto
-
Se for
Macabra
A foto
Do morto
-
Apenas
Um número
Há-de
Restar
-
Passou
Por aqui
Vagou
O lugar
-
(Poema de António Manuel Ribeiro)

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Desejo.

Novinho em folha.




Este é um ano novinho em folha,por favor não comecem já a estragá-lo!

Pink Floyd.



Comfortable Numb.

O ano passado.



O ano passado não passou,
continua incessantemente.
Em vão marco novos encontros.
Todos são encontros passados.

As ruas, sempre do ano passado,
e as pessoas, também as mesmas,
com iguais gestos e falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de amanhecer,
de sol pleno, de descambar
como no repetidíssimo ano passado.

Embora sepultos, os mortos do ano passado
sepultam-se todos os dias.
Escuto os medos, conto as libélulas,
mastigo o pão do ano passado.

E será sempre assim daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado.



Carlos Drummond de Andrade .