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quinta-feira, 25 de junho de 2009

A virgem

Autor:Luís Miguel Rocha

A virgem dá-nos conta do Portugal moribundo no tempo do Estado Novo, mais precisamente na década de trinta. Um país suspenso no tempo, deslumbrado com o estrangeiro, pobre em recursos e ideias. Centrado numa família privilegiada, outras famílias se lhe juntam. Assistimos aos seus ódios, amores, perdas e cumplicidades num enredo em que o trágico e o absurdo se cruzam. Numa intriga cheia de humor, através do olhar lúcido do narrador, são desmascaradas situações gritantes de injustiça e de exploração em que o abuso de poder de alguns grupos privilegiados se passeia livremente por um país sonâmbulo e decadente com a cumplicidade silenciosa da Igreja.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Timidez.




Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

Cecília Meireles, in 'Viagem'

A Promiscuidade Tira a Vontade!


O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado.
Desengane-se de vez a rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem «experiente». O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O pudor que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente ideia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se tigres quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é «sexy». Nos homens como nas mulheres. A promiscuidade tira a vontade.

Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ainda nenhuma conseguiu tocar. O que é erótico é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a «liberdade», a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser «livre», que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens querem das mulheres? Ser conquistador é ser conquistado. Ninguém gosta de um ser conquistado. O que é preciso conquistar é a castidade.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

Animaçao de Verão




Anfiteatro dos Rios / Jardim do Museu dos Rios


Verão é sinónimo de férias, de lazer e de descanso. No entanto, a cultura, o saber e o conhecimento não têm fronteiras de espaço e de tempo.

Neste sentido, e sabendo que, para além dos próprios habitantes do nosso concelho e daqueles que regularmente nos visitam de concelhos vizinhos, Constância é escolhida por muitas e muitas pessoas como destino de férias, seja em estadia mais longa, seja num simples e curto fim-de-semana, a Câmara Municipal programou uma série de espectáculos de ar livre, integrados na Animação de Verão, fazendo do nosso concelho, também nesta época do ano, um pólo de convergências entre a cultura e o lazer, o espectáculo e a animação.

Desde a música filarmónica ao fado, dos contos ao luar à música ligeira, passando pela música popular, dixie ou cubana, o Jardim do Museu dos Rios e das Artes Marítimas e o Anfiteatro dos Rios, na confluência do Tejo e do Zêzere, serão dois pontos de encontro obrigatórios.

PROGRAMAÇÃO

04 julho | 22h00
Encontro de Bandas de Música do Tejo música

11 julho | 10h00 às 02h00
Festa Jovem
organização | Junta de Freguesia de Constância

24 julho | 22h00
Orquestra Ligeira do Exército música

25 julho | 22h00
Cottas Club Jazz Band música dixie

01 agosto | 22h00
Ana Laíns fado

08 agosto | 22h00
Grupo de Cantares da Casa do Povo de Montalvo música popular

22 agosto | 21h30
Há Noite no Museu contos ao luar
local | Museu dos Rios e das Artes Marítimas

29 agosto | 22h00
Los Cubanitos música cubana

terça-feira, 23 de junho de 2009

Tentação .




Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"

Noite de São João


A folia vai começar
Com rosmaninho e balão
Toda a gente vai dançar
Nesta noite de São João .

Divirtam-se.

Auto-conhecimento.


Nunca percas o contacto com o chão, porque só assim terás uma ideia aproximada da tua estatura .

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Ontem à Tarde um Homem das Cidades .




Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Exposição


Arte na Rua Pintura e Escultura
"Luís de Camões- Para Além da Taprobana"
na Galeria de Constância
Até ao próximo dia 30 de Junho a Galeria de Constância tem patente ao público a exposição Luís de Camões - Para Além da Taprobana, uma mostra colectiva de pintura e escultura da autoria de Cristina Maldonado, Carlos Teixeira e José Coêlho.

Sob a égide de Camões, a exposição inaugurada durante as Pomonas Camonianas, mostra-nos três diferentes visões sobre a grande obra universal do poeta português, onde os autores lhe prestam homenagem apresentando esta mostra de instalação de escultura e de pintura.

Para efectuar visitas à exposição durante a semana, devem os interessados contactar o Posto de Turismo de Constância, aos sábados e domingos a exposição estará aberta entre as 15.00H e as 18.30H.
Por CMC

SOS



Izinha (Magicoolhar)não consigo entrar no seu blog,desconheço o motivo,agradeço que me envie um convite afim de poder espreitar o seu cantinho.
Atenciosamente;Manuel.

domingo, 21 de junho de 2009

Triste cancion.

Amor de Verão.


Aquele amor tão bonito
que na praia ficou escrito
com os meus dedos dos pés,
era um amor sem futuro
tão frágil e inseguro,
foi nas primeiras marés.

Veio uma onda apagou-o,
veio outra onda e levou-o
bem para dentro do mar,
aquele amor de Verão
foi uma ténue paixão
que a água soube levar.

Em noites de lua cheia,
grandes castelos de areia
em conjunto construímos,
porém, com o fim do Verão
devaneceu-se a ilusão,
rumos opostos seguimos.

Um p'ro Norte, outro p'ro Sul,
esquecemos o mar, azul,
dissemos adeus às Férias,
voltamos a trabalhar
e quem sabe se a arranjar
outras paixões, bem, mais sérias.

Fernanda
Publicada por FERNANDA & POEMAS em 10:27:00

Verão.


Quando as pessoas são felizes, não reparam se é Inverno ou Verão ...

sábado, 20 de junho de 2009

"Abril em Portugal 1974"

Na ocupação selvagem da Herdade da Torre Bela (Manique), um "camarada" tenta apropriar-se de uma enxada de um camponês. É para a "comprativa"






Idéias!


As boas ideias não têm idade, apenas têm futuro .

O Homem que Lê.




Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.

E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Luz.


Nada é mais precioso do que a luz; mas o excesso ofusca !

Poema para fim de semana...


“Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes, mas não esqueço de que a minha vida é a maior empresa do mundo. E que posso evitar que ela vá à falência. Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história. É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no recôndito da alma. É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um “não”. É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta. Pedras no caminho? Guardo todas, um dia vou construir um castelo... ”

Fernando Pessoa

Mundo...


Afinal,o mundo é um belo lugar,e se fossemos outra criatura que não o homem,poderíamos viver perpétuamente felizes aqui.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Noite de Sonhos Voada.




Noite de sonhos voada
cingida por músculos de aço,
profunda distância rouca
da palavra estrangulada
pela boca armodaçada
noutra boca,
ondas do ondear revolto
das ondas do corpo dela
tão dominado e tão solto
tão vencedor, tão vencido
e tão rebelde ao breve espaço
consentido
nesta angústia renovada
de encerrar
fechar
esmagar
o reluzir de uma estrela
num abraço
e a ternura deslumbrada
a doce, funda alegria
noite de sonhos voada
que pelos seus olhos sorria
ao romper de madrugada:
— Ó meu amor, já é dia!...

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

A Felicidade e as Idades da Vida



O que torna infeliz a primeira metade da vida, que apresenta tantas vantagens em relação à segunda, é a busca da felicidade, com base no firme pressuposto de que esta deva ser encontrável na vida: o resultado são esperanças e insatisfações continuamente frustradas. Visualizamos imagens enganosas de uma felicidade sonhada e indeterminada, entre figuras escolhidas por capricho, e procuramos em vão o seu arquétipo.
Na segunda metade da vida, a preocupação com a infelicidade toma o lugar da aspiração sempre insatisfeita à felicidade; no entanto, encontrar um remédio para tal problema é objectivamente possível. De facto, a essa altura já estamos finalmente curados do pressuposto há pouco mencionado e buscamos apenas tranquilidade e a maior ausência de dor possível, o que pode ocasionar um estado consideravelmente mais satisfatório do que o primeiro, visto que ele deseja algo atingível, e que prevalece sobre as privações que caracterizam a segunda metade da vida.

Arthur Schopenhauer, in "A Arte de Ser Feliz"

Literatura


Roseanne McNulty tem perto de cem anos e é a doente mais antiga do hospital de saúde mental de Roscommon. O doutor Grene, o psiquiatra encarregado da avaliação dos pacientes, sente-se intrigado pela história daquela mulher, que passou os últimos sessenta anos da sua vida em instituições psiquiátricas. Enquanto o médico investiga, Roseanne faz uma retrospectiva das suas tragédias e paixões, que vai registando no seu diário secreto, desde a turbulenta infância até ao casamento que lhe prometia a felicidade. Quando o doutor Grene desvenda por fim as circunstâncias da sua chegada ao hospital, é conduzido até um segredo chocante. Um livro primorosamente escrito, que narra uma história trágica, fruto da ignorância e mesquinhez, mas ainda assim fortemente marcada pelo amor, pela paixão e pela esperança.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Festa da vida.



José Calvário, 57 anos,dedicou toda a sua vida à música. Nasceu no Porto, em criança começou por estudar piano e, em 1957, deu o seu primeiro recital, no Conservatório de Música do Porto. Em 1961, com apenas dez anos, dirigiu o seu primeiro concerto à frente de uma orquestra filarmónica. Na Suíça, para onde foi estudar, tocou com uma banda jazz e um grupo pop.

Regressou a Portugal em 1971 e mudou-se para Lisboa. Participa nesse ano no Festival da Canção com uma música de sua autoria Flor Sem Tempo e interpretada por Paulo de Carvalho, obtendo o 2.ºLugar. No ano seguinte obtém mesmo o 1.º lugar com o tema Festa da Vida na voz de Carlos Mendes. No Eurofestival alcança a melhor classificação portuguesa de sempre com o 7.º lugar entre 18 países. Criou, em parceria, com José Niza, o tema e Depois do Adeus, cantado por Paulo de Carvalho que se tornou ainda mais famosa quando foi usada como senha dos militares no 25 de Abril. Desde então trabalha sobretudo como arranjador e produtor de álbuns.

Morreu hoje,que a terra lhe seja leve.

José Saramago.


Nobel da Literatura de 1998, visitou Constância

Hoje, dia 17 de Junho, Constância teve a honra de receber o Nobel da Literatura, de 1998, José Saramago.

A visita enquadra-se na iniciativa A Viagem do Elefante – Rota Portuguesa dinamizada pela Fundação Saramago, na qual uma comitiva partiu de Belém, (Lisboa), hoje às 10.30H passando por Constância, Castelo Novo e Fundão. Nos próximos dias estarão em Sortelha, Sabugal, Cidadelhe e Figueira de Castelo Rodrigo.

Em Constância a visita iniciou-se com uma sessão de boas-vindas no Salão Nobre dos Paços do Concelho. Após as intervenções da Vice-Presidente da Câmara e do Nobel da Literatura, José Saramago recebeu a Medalha do Concelho e assinou o Livro de Honra do Município.

No período da tarde, e conforme solicitação do próprio escritor, a comitiva visitou o Jardim-Horto de Camões e a Casa-Memória de Camões.
Por CMC

Amar Teus Olhos.




Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.

Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.

Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.

Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

Português moderno.





Desde que os americanos se lembraram de começar a chamar aos pretos 'afro-americanos', com vista a acabar com as raças por via gramatical, isto tem sido um fartote pegado!

As criadas dos anos 70 passaram a 'empregadas domésticas' e preparam-se agora para receber a menção de 'auxiliares de apoio doméstico' .

De igual modo, extinguiram-se nas escolas os 'contínuos' que passaram todos a 'auxiliares da acção educativa'.

Os vendedores de medicamentos, com alguma prosápia, tratam-se por 'delegados de informação médica'.

E pelo mesmo processo transmudaram-se os caixeiros-viajantes em 'técnicos de vendas'.

O aborto eufemizou-se em 'interrupção voluntária da gravidez';

Os gangs étnicos são 'grupos de jovens'

Os operários fizeram-se de repente 'colaboradores';

As fábricas, essas, vistas de dentro são 'unidades produtivas' e vistas da estranja são 'centros de decisão nacionais'.

O analfabetismo desapareceu da crosta portuguesa, cedendo o passo à 'iliteracia' galopante.

Desapareceram dos comboios as 1.ª e 2.ª classes, para não ferir a susceptibilidade social das massas hierarquizadas, mas por imperscrutáveis necessidades de tesouraria continuam a cobrar-se preços distintos nas classes 'Conforto' e 'Turística'.

A Ágata, rainha do pimba, cantava chorosa: «Sou mãe solteira...» ; agora, se quiser acompanhar os novos tempos, deve alterar a letra da pungente melodia: «Tenho uma família monoparental...» - eis o novo verso da cançoneta, se quiser fazer jus à modernidade impante.

Aquietadas pela televisão, já se não vêem por aí aos pinotes crianças irrequietas e «terroristas»; diz-se modernamente que têm um 'comportamento disfuncional hiperactivo'

Do mesmo modo, e para felicidade dos 'encarregados de educação', os brilhantes programas escolares extinguiram os alunos cábulas; tais estudantes serão, quando muito, 'crianças de desenvolvimento instável'.


Ainda há cegos, infelizmente. Mas como a palavra fosse considerada desagradável e até aviltante, quem não vê é considerado 'invisual'. (O termo é gramaticalmente impróprio, como impróprio seria chamar inauditivos aos surdos - mas o 'politicamente correcto' marimba-se para as regras gramaticais...)

As putas passaram a ser 'senhoras de alterne'.

Para compor o ramalhete e se darem ares, as gentes cultas da praça desbocam-se em 'implementações', 'posturas pró-activas', 'políticas fracturantes' e outros barbarismos da linguagem.

E assim linguajamos o Português, vagueando perdidos entre a «correcção política» e o novo-riquismo linguístico.

Estamos lixados com este 'novo português'; não admira que o pessoal tenha cada vez mais esgotamentos e stress. Já não se diz o que se pensa, tem de se pensar o que se diz de forma 'politicamente correcta'.

(Recebi por email.)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Os Livros Estão Sempre Sós .




Os livros estão sempre sós. Como nós. Sofrem o terrível impacto do presente. Como nós. Têm o dom de consolar, divertir, ferir, queimar. Como nós. Calam a sua fúria com a sua farsa. Como nós. Têm fachadas lisas ou não. Como nós. Formosas, delirantes, horrorosas. Como nós. Estão ali sendo entretanto. Como nós. No limiar do esquecimento. Como nós. Cheios de submissão ao serviço do impossível. Como nós.

Ana Hatherly, in 'Tisanas'

Simpatia.




Olhas-me tu
Constantemente:
D'ahi concluo
Que essa alma sente!...
Que ama, não zomba,
Como é vulgar;
Que é uma pomba
Que busca o par!...

Pois ouve; eu gemo
De te não vêr!
E em vendo, tremo
Mas de prazer!...
Foge-me a vista...
Falta-me o ar...
Vê quanto dista
D'aqui a amar!

João de Deus, in 'Ramo de Flores'

Almas.


O amor é a paixão das grandes almas e faz-lhes merecer a glória quando não dá volta ao juízo ...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

É Preciso Aprender a Amar.



Que se passa para nós no domínio musical? Devemos em primeiro lugar aprender a ouvir um motivo, uma ária, de uma maneira geral, a percebê-lo, a distingui-lo, a limitá-lo e isolá-lo na sua vida própria; devemos em seguida fazer um esforço de boa vontade — para o suportar, mau-grado a sua novidade — para admitir o seu aspecto, a sua expressão fisionómica — e de caridade — para tolerar a sua estranheza; chega enfim o momento em que já estamos afeitos, em que o esperamos, em que pressentimos que nos faltaria se não viesse; a partir de então continua sem cessar a exercer sobre nós a sua pressão e o seu encanto e, entretanto, tornamo-nos os seus humildes adoradores, os seus fiéis encantados que não pedem mais nada ao mundo, senão ele, ainda ele, sempre ele.
Não sucede assim só com a música: foi da mesma maneira que aprendemos a amar tudo o que amamos. A nossa boa vontade, a nossa paciência, a nossa equanimidade, a nossa suavidade com as coisas que nos são novas acabam sempre por ser pagas, porque as coisas, pouco a pouco, se despojam para nós do seu véu e apresentam-se a nossos olhos como indizíveis belezas: é o agradecimento da nossa hospitalidade. Quem se ama a si próprio aprende a fazê-lo seguindo um caminho idêntico: existe apenas esse. O amor também deve ser aprendido.

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"

Eu Sou do Tamanho do que Vejo .




Da minha aldeia veio quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.

Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema VII"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Sombras.


Nós que vivemos aqui, não somos mais do que fantasmas ou ligeiras sombras !

domingo, 14 de junho de 2009

Flowers,Flowers,Flowers.

Retrato de Mulher Triste




Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

Murmurios!

sábado, 13 de junho de 2009

Agora nunca é tarde.



Pedro Barroso.

Esta é a Forma Fêmea .




Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a acção correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jactos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geléia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.

Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.

Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.

A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e activa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

Gargalhadas.


Uma boa gargalhada é o melhor pesticida que existe .

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Literatura.


Sinopse:
Em Junho de 1941 a Dinamarca encontra-se sob a ocupação de Hitler, enquanto a Grã-Bretanha é a única potência europeia em condições de fazer frente ao avanço dos nazis. Mas os aviões que partem em missões de bombardeamento são sistematicamente abatidos pelos esquadrões germânicos, como se de algum modo estes conhecessem os planos de ataque da RAF. Uma agente do MI6 é destacada para investigar o que está a beneficiar os alemães, numa missão secreta à Dinamarca... Ao mesmo tempo, na pequena ilha de Sande, o jovem Harald, encontra numa base secreta dos alemães algo cuja descoberta pode ser vital para mudar o curso dos acontecimentos... Um thriller empolgante e complexo, baseado num caso verídico, pela mão do grande mestre da arte de contar que é o mundialmente famoso Ken Follett.

Entusiasmo.


Os anos enrugam a pele, mas renunciar ao entusiasmo faz enrugar a alma !

Infância.


A infância é como a água que desce da bica, e nunca mais sobe .

Hora Mística .




Noite caindo ... Céu de fogo e flores.
Voz de Crepúsculo exalando cores,
O céu vai cheio de Deus e de harmonia.
Silêncio ... Eis-me rezando aos fins do dia.

Névoa de luz criando imagens na água,
Nome das águas esculpindo os céus,
Tarde aos relevos húmidos de frágua,
Boca da noite, eis-me rezando a Deus.

Eis-me entoando, a voz de cinza e ouro,
— Oh, cores na água vindo às mãos em branco! —
Minha ópera de Sol ao último arranco.

E, oh! hora mística em que o olhar abraso,
— Sol expirando aos Pórticos do Ocaso! —
Dobra em meu peito um oceano em coro.

Afonso Duarte, in "Tragédia do Sol-Posto

Santos populares.


Santo Antônio de Lisboa
Era um grande pregador
Mas é por ser Santo Antônio
Que as moças lhe têm amor.









A profundidade dos textos doutrinários de santo Antônio fez com que em 1946 o papa Pio XII o declarasse doutor da igreja. No entanto, o monge franciscano conhecido como santo Antônio de Pádua ou de Lisboa tem sido, ao longo dos séculos, objeto de grande devoção popular.
Sua veneração é muito difundida nos países latinos, principalmente em Portugal e no Brasil. Padroeiro dos pobres e casamenteiro, é invocado também para o encontro de objetos perdidos. Sobre seu túmulo, em Pádua, foi construída a basílica a ele dedicada.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Memórias.


O mundo avança. É verdade, disse eu, avança, mas dando voltas em torno do sol. (...) Os adolescentes da minha geração, alvoraçados pela vida, esqueceram em corpo e alma as ilusões do futuro, até que a realidade lhes ensinou que o futuro não era como o sonhavam, e descobriram a nostalgia. Ali estavam as minhas crónicas dominicais, como uma relíquia arqueológica entre os escombros do passado, e aperceberam-se que não eram só para velhos mas também para jovens que não tivessem medo de envelhecer.

Gabriel García Marquez, in 'Memória das Minhas Putas Tristes'

Um Amor




Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

Nuno Júdice, in "A Partilha dos Mitos"

Pânico !


Há épocas em que a sociedade, tomada de pânico, se desvia do caminho e procura a salvação na ignorância ...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Amor é fogo...




Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís de Camões

10 de Junho.




No dia 10 de Junho celebramos o Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Quando nasceu este feriado?
O 10 de Junho nasceu com a República quando Lisboa escolheu para feriado municipal o 10 de Junho, em honra de Camões.
Camões representava o génio da pátria, representava Portugal na sua dimensão mais esplendorosa e mais genial e era este o significado que os republicanos atribuíam ao 10 de Junho.

O 10 de Junho, dia de Camões, começou a ser festejado a nível nacional com o Estado Novo, um regime instituído em Portugal em 1933, sob a direcção de António de Oliveira Salazar.

O Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas é pois um tributo à data do falecimento de Luís Vaz de Camões em 1580, é utilizada para relembrar os feitos passados do povo lusitano E também os milhões de Portugueses que vivem fora do seu país natal.

Procurar!


O maior pensar da criatura humana é comer; desde que o homem nasce, até que morre ,anda a procurar o pão para a boca ...

terça-feira, 9 de junho de 2009

Os Anos são Degraus .




Os anos são degraus, a Vida a escada.
Longa ou curta, só Deus pode medi-la.
E a Porta, a grande Porta desejada,
só Deus pode fechá-la,
pode abri-la.

São vários os degraus; alguns sombrios,
outros ao sol, na plena luz dos astros,
com asas de anjos, harpas celestiais.
Alguns, quilhas e mastros
nas mãos dos vendavais.

Mas tudo são degraus; tudo é fugir
à humana condição.
Degrau após degrau,
tudo é lenta ascensão.

Senhor, como é possível a descrença,
imaginar, sequer, que ao fim da Estrada,
se encontre após esta ansiedade imensa
uma porta fechada
e mais nada?

Fernanda de Castro, in "Asa do Espaço"

A Evidência



Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.


— Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer?

— Ele não quer nada — disse o ratinho.

— Nada? — tornou o garçon — Não tem apetite?

— Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?

MORAL: É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA.

(Millôr Fernandes)

Juízo !


Queixam-se muitos de pouco dinheiro, outros de pouca sorte, alguns de pouca memória, nenhum de pouco juízo ...

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Jovens.


A juventude mostra o homem tal como a manhã mostra o dia .

O Caminho da Felicidade.



Um sábio perguntava a um louco qual era o caminho da felicidade. O louco respondeu-lhe imediatamente, como alguém a quem se pergunta o caminho da cidade vizinha: «Admira-te a ti mesmo e vive na rua». «Alto lá», exclamou o sábio, «pedes demais, basta já que nos admiremos!» E o louco respondeu logo: «Mas como admirar sem cessar se não nos desprezarmos constantemente?»

Friedrich Nietzsche, in "A Gaia Ciência"