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sábado, 10 de outubro de 2009
Dois Amantes, o Mundo .

dois amantes, o mundo
cada um no seu reino, beijam-se nas praias
quando as ondas batem as areias
o mar é o meu navio,
hoje naufrago feliz
8sabes quem sou, as dunas
que se levantam com o vento são
os sonhos do amor que dormita
em sossego nas praias
a terra és tu o mar sou eu
Jorge Reis-Sá, in "A Palavra no Cimo das Águas"
(A uma pessoa especial)
Solidão...
sexta-feira, 9 de outubro de 2009
Anos 70/80/90
As recordações não povoam a nossa solidão, como se costuma dizer; antes pelo contrário, tornam-na mais profunda ...
Beijo .

Beijo na face
Pede-se e dá-se:
Dá?
Que custa um beijo?
Não tenha pejo:
Vá!
Um beijo é culpa,
Que se desculpa:
Dá?
A borboleta
Beija a violeta:
Vá!
Um beijo é graça,
Que a mais não passa:
Dá?
Teme que a tente?
É inocente...
Vá!
Guardo segredo,
Não tenha medo...
Vê?
Dê-me um beijinho,
Dê de mansinho,
Dê!
*
Como ele é doce!
Como ele trouxe,
Flor,
Paz a meu seio!
Saciar-me veio,
Amor!
Saciar-me? louco...
Um é tão pouco,
Flor!
Deixa, concede
Que eu mate a sede,
Amor!
Talvez te leve
O vento em breve,
Flor!
A vida foge,
A vida é hoje,
Amor!
Guardo segredo,
Não tenhas medo
Pois!
Um mais na face,
E a mais não passe!
Dois...
*
Oh! dois? piedade!
Coisas tão boas...
Vês?
Quantas pessoas
Tem a Trindade?
Três!
Três é a conta
Certinho, e justa...
Vês?
E que te custa?
Não sejas tonta!
Três!
Três, sim: não cuides
Que te desgraças:
Vês?
Três são as Graças,
Três as Virtudes;
Três.
As folhas santas
Que o lírio fecham,
Vês?
E não o deixam
Manchar, são... quantas?
Três!
João de Deus, in 'Campo de Flores'
Literatura.

Sinopse:
Kitty e Louise Heaney despedem-se dos respectivos namorados, Julian e Michael, que vão combater na Segunda Guerra Mundial.
As irmãs Heaney sentam-se à mesa da cozinha, todas as noites, para escrever cartas: Louise, ao noivo; Kitty, ao homem de quem anseia ardentemente receber um pedido de casamento; e a terceira, Tish Heaney, a um grupo de homens, sempre diferente, que ela vai conhecendo nos bailes da United Service Organization.
Nas cartas que as irmãs enviam e recebem, há imagens fugazes e íntimas da vida, tanto na frente de batalha, como em casa.
Para Kitty, uma jovem confiante e voluntariosa, a partida do namorado e as lições que aprende sobre amor, resistência e guerra trarão uma surpresa e revelarão um segredo, levando-a a uma acção radical em nome das pessoas que ama, que transformará para sempre a família Heaney.
As consequências perenes das escolhas que as irmãs fazem são o centro deste magnífico romance sobre o poder do amor e a força duradoura da família
quinta-feira, 8 de outubro de 2009
A vida é o dia de hoje

A vida é o dia de hoje,
A vida é ai que mal soa,
A vida é sombra que foge,
A vida é nuvem que voa;
A vida é sonho tão leve
Que se desfaz como a neve
E como o fumo se esvai:
A vida dura um momento,
Mais leve que o pensamento,
A vida leva-a o vento,
A vida é folha que cai!
A vida é flor na corrente,
A vida é sopro suave,
A vida é estrela cadente,
Voa mais leve que a ave:
Nuvem que o vento nos ares,
Onda que o vento nos mares,
Uma após outra lançou,
A vida - pena caída
Da asa da ave ferida
De vale em vale impelida
A vida o vento levou!
João de Deus
Amor Platônico.
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Timidez .

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .
— mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..
— palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei.
Cecília Meireles, in 'Viagem'
Fontes...que segredos guardais?

Uma exposição do CRIA em Constância.
De 10 a 25 de Outubro a sala de exposições do Posto de Turismo de Constância vai ter patente ao público a exposição Fontes… que segredos guardais?, da autoria do CRIA – Centro de Recuperação e Integração de Abrantes, uma mostra que será inaugurada às 14.30H, na próxima segunda-feira, dia 12 de Outubro.
O CRIA é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, há 32 anos ao serviço das crianças, jovens e adultos com deficiência. Tem por missão proporcionar aos seus utentes com Necessidades Educativas Especiais condições de educação, reabilitação, formação e integração na família e na sociedade. E foi a pensar nisso que o grupo de expressão plástica do CAO – Centro de Actividades Ocupacionais, do Centro de Recuperação e Integração de Abrantes criou a exposição Fontes…que segredos guardais?.
Durante um ano, estes utentes criaram as Fontes através de esboços desenhados à vista, à ampliação de uma imagem, nas suas diferentes formas.
No caso de Constância, estes artistas deslocaram-se à vila e, ao jeito de cada, deram largas à sua criatividade, e na tela retrataram a imagem da Fonte. Cada obra representa a imagem de si própria, em comum têm apenas as cores, o amor e a dedicação que nelas depositaram.
As obras que integram esta exposição são da autoria de Cristina Ambrósio, Marta Pinto, Nuno Heitor, Ricardo Pedro, Zé Tó e Vera. Trata-se de uma exposição muito especial, porque são telas que retratam algum do património dos concelhos de Constância e Sardoal, verdadeiros “tesouros de pedra e cal”.
A exposição Fontes… que segredos guardais? poderá ser visitada nos dias úteis das 9.30H às 13.00h e das 14.30h às 17.30h e nos sábados e domingos das 14.30h às 18.00h.
Por CMC
Sorriso.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Ternura .

Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"
A beleza de todas as coisas

A beleza de todas as coisas
Reparava mais uma vez na grande beleza de todas as coisas; porém assaltava-o claramente, nesse desejo em ebulição, o doloroso pressentimento de um cativeiro; inquietante sensação de que todo quanto julgamos atingir nos atinge a nós; a tenebrosa suspeita de que as afirmações falsas, feitas no ar, sem qualquer espécie de importância pessoal, acordarão sempre neste mundo um eco mais poderoso do que as mais verdadeiras e as mais singulares. Esta beleza (dizia então consigo), perfeita! Mas tratar-se-á realmente da minha beleza? E a verdade que me ensinam será a minha verdade? Os objectos, as vozes, a realidade, todas essas coisas sedutoras que nos atoem e nos guiam, que perseguimos e sobre as quais nos precipitamos... será isso no entanto a realidade autêntica, ou apenas se tratará de um sopro imponderável pairando acima da realidade proposta? O que mais excita a desconfiança) são as divisões e as formas convencionais da vida: a história, sempre a mesma, as coisas, já prefiguradas pelas gerações precedentes, a linguagem convencional, não apenas os nossos lábios, mas também as nossas sensações e sentimentos. Ulrich detivera-se diante de uma igreja. Meu Deus! se acaso uma gigantesca matrona ali estivesse sentada à sombra, com uma enorme barriga cheia de refegos, encostada às paredes das casas e muito lá em cima, o pôr do Sol lhe iluminasse o rosto cheio de rugas, de borbulhas e de verrugas... não teria ele exclamado na mesma? Meu Deus! que belo! Ninguém se quer furtar ao facto de que viemos ao mundo com o dever de admirar isto; mas, como acabámos de dizer, não seria impossível igualmente acharmos belas, numa respeitável matrona, as formas amplas, suavemente descaídas, e a filigrana das soas rugas; só que é muito mais simples dizer-se que ela é velha. Esta transição do momento em que achamos as coisas do mundo envelhecidas para aquele em que as consideramos belas é mais ou menos semelhante à que nos conduz desde as concepções dos jovens até à moral mais elevada do adulto, a qual continua a ser um ridículo bê-á-bá até ao dia em que, bruscamente, a fazemos nossa.
Robert Musil, in O Homem sem Qualidades
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Ontem à Tarde um Homem das Cidades.

Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
5 de Outubro.
domingo, 4 de outubro de 2009
O Teu Olhar nos Meus Olhos .

Sempre onde tu estás
Naquilo que faço
Viras-te agarras os braços
Toco-te onde te viras
O teu olhar nos meus olhos
Viro-me para tocar nos teus braços
Agarras o meu tocar em ti
Toco-te para te ter de ti
A única forma do teu olhar
Viro o teu rosto para mim
Sempre onde tu estás
Toco-te para te amar olho para os teus olhos.
Harold Pinter, in "Várias Vozes"
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