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terça-feira, 16 de março de 2010

Solidão...


No fundo, é isso, a solidão: envolvermo-nos no casulo da nossa alma, fazermo-nos crisálida e aguardarmos a metamorfose, porque ela acaba sempre por chegar
(August Strindberg .)

Amor e Amizade




Não podemos comparar à amizade a afeição que sentimos para com as mulheres, conquanto ela provenha da nossa escolha, nem tão-pouco podemos pô-la na mesma categoria. O seu fogo, confesso-o,

Pois não nos é desconhecida a deusa que um doce amargor junta aos cuidados de amor - Catulo, 'Epigrammata'

é mais activo, abrasador e acerbo, mas é um fogo intempestivo e volúvel, ondulante e diverso, febril, com altos e baixos e que só se prende a nós por um fio. Na amizade há um calor geral e total, de resto, temperado e igual, um calor constante e tranquilo, todo doçura e suavidade e sem nada de áspero ou de pungente. E o que mais é, no amor não há senão um desejo louco furioso do que nos foge:

Tal como à lebre segue o caçador, / Por montes e vales, ao frio e ao calor / E mal a vê presa mais não lhe liga, / Só o passo estuga desde que a persiga - Ariosto, 'Orlando Furioso'

Logo que entra nos domínios da amizade, onde as vontades vão ao encontro uma da outra, o amor esvai-se e enlanguesce. A fruição perde-o, uma vez que o seu objectivo é corporal e está sujeito à saciedade. A amizade, ao invés, é fruída à medida que é desejada, e só desponta, se desenvolve e cresce na fruição, já que é espiritual, e a alma se aperfeiçoa pela prática. Durante essa perfeita amizade, tais afeições passageiras também encontraram lugar para mim, para já não falar de La Boétie, que por de mais o revela nestes seus versos. Assim, os dois tipos de afeição coexistiram em mim, cientes um do outro, mas sem nunca se poderem equiparar: o primeiro, mantendo a sua rota em voo altaneiro e majéstico, e vendo com desdém o outro a fazer piruetas a um nível muito inferior ao seu.

Michel de Montaigne, in 'Ensaios'

segunda-feira, 15 de março de 2010

Ponto de encontro.


Ponto de encontro
Onde me encontro com a vida
do sonho
do sentimento
onde sinto
penso
e lamento...
Lamento que pertence á vida
á dor
ao sentir
ao amor...
Amor que se cruza nas entre-linhas
do sofrer
do amar
e do querer...

Nudez


O pudor inventou a roupa para que se tenha mais prazer com a nudez...

Felicidade Neurótica .


- Não te assustes, continuo a ser a mesma velha Madeline. Ouve o que encontrei hoje na biblioteca, quando estava a ler os jornais. Escuta. - Tirou um pedaço de papel da algibeira dos jeans. - Copiei de um jornal. Palavra por palavra. Journal of Medical Ethics. «Propõe-se que a felicidade» - levantou os olhos do papel e esclareceu: - o itálico na felicidade é deles - «Propõe-se que a felicidade seja classificada como perturbação psiquiátrica e incluída em futuras edições dos manuais de diagnóstico especializados sob a nova designação de importante perturbação afectiva, do tipo agradável. Numa resenha da literatura relevante está demonstrado que a felicidade é estatisticamente anormal, consiste num discreto aglomerado de sintomas. Está associada a uma ordem de anomalias cognitivas e provavelmente reflecte o funcionamento anormal do sistema nervoso central. Persiste uma possível objecção a esta proposta: a de que a felicidade não é avaliada negativamente. No entanto, esta objecção é rejeitada como sendo cientificamente irrelevante».

Philip Roth, in 'Teatro de Sabbath'

domingo, 14 de março de 2010

Porto de abrigo


Porto de abrigo
refúgio das minhas recordações
onde embarco e desembarco
minhas ilusões...
Ancoradouro dos meus sentidos
onde fundeio meus sonhos
miragens
paixões
num desfilar de lembranças
e afeições...

Máximo de Felicidade no Máximo de Lucidez .




O que é a sabedoria? É a felicidade na verdade, ou «a alegria que nasce da verdade». Esta é a expressão que Santo Agostinho utiliza para definir a beatitude, a vida verdadeiramente feliz, em oposição ás nossas pequenas felicidades, sempre mais ou menos factícias ou ilusórias. Sou sensível ao facto de que é a mesma palavra beatitude que Espinoza retomará, bem mais tarde, para designar a felicidade do sábio, a felicidade que não é a recompensa da virtude mas a própria virtude... a beatitude é a felicidade do sábio, em oposição às felicidades que nós, que não somos sábios, conhecemos comumente, ou, digamos, às nossas aparências de felicidade, que às vezes são alimentadas por drogas ou álcoois, muitas vezes por ilusões, diversão ou má-fé. Pequenas mentiras, pequenos derivativos, remedinhos, estimulantezinhos... não sejamos severos demais. Nem sempre podemos dispensá-los. Mas a sabedoria é outra coisa. A sabedoria seria a felicidade na verdade.
A sabedoria? É uma felicidade verdadeira ou uma verdade feliz. Não façamos disso um absoluto, porém. Podemos ser mais ou menos sábios, do mesmo modo que podemos ser mais ou menos loucos. Digamos que a sabedoria aponta para uma direcção: a do máximo de felicidade no máximo de lucidez.

André Compte-Sponville, in 'A Felicidade, Desesperadamente'

Literatura


A morte de um jornalista leva Allon à Rússia, onde descobre que, em termos de arte de ofício de espionagem, até mesmo ele tem alguma coisa a aprender. Agora está a jogar segundo as regras de Moscovo. E na cidade existe uma nova geração de estalinistas que conspiram para reinvindicar um império perdido e desafiar o Domínio global de um velho inimigo: os Estados Unidos da América. Um desses homens é Ivan Kharkov, um antigo coronel do KGB que construiu um império de investimento global sobre os escombros da União Soviética. No entanto, escondido no interior desse império está um negócio lucrativo e mortífero. Kharkov é um negociante de armas - e está prestes a entregar as armas mais sofisticadas da Russia à al-Qaeda. A não ser que Allon consiga descobrir a hora e o local da entrega, o mundo irá assistir aos ataques terroristas mais mortais desde o 09 de Setembro - e o tempo está a passar muito depressa.
Cheio de prosa rica e de reviravoltas na trama de cortar a respiração, o livro é simultaneamente um entretimento superior, uma cáustica história exemplar sobre as novas ameaças que estão a aparecer no Leste - e o melhor romance de Silva até ao momento.

sábado, 13 de março de 2010

Regresso


Há sempre um regresso
no partir e no chegar
nos sonhos
na realidade
saudades do que fica
ansiedade no que se vai encontrar...
Voltar é retornar
restituir,é devolver
é regressar
ao ponto de partida
é girar e voltear...
É rever amizades
afeições recíprocas
visitar quem apreciamos
gostamos
e amamos...

segunda-feira, 8 de março de 2010

Para todas as mulheres.


tua cabeleira
é já grisalha ou mesmo branca?
Para mim é toda loira
e circundada de estrelas.
Sobre ela
o tempo não poisou
o inverno dos anos
que se escoam maldosos
insinuando rugas, fios brancos...

Ao teu corpo colou-se
o vestido de seda,
como segunda pele;
entre os seios pequenos
viceja perene
um raminho de cravos...

Pétalas esguias
emolduram-te os dedos...
E revoadas de aves
traçam ao teu redor
volutas de primavera.

Nunca envelhecerás na minha lembrança!...

Saúl Dias, in "Sangue"

sexta-feira, 5 de março de 2010

quinta-feira, 4 de março de 2010

Provérbio:




Em amor, não há último adeus, senão aquele que se não diz ...

Projecto Limpar Portugal



Limpar Constância - 20 de Março O Projecto Limpar Portugal é um movimento cívico que pretende, através da participação voluntária de pessoas particulares e de entidades privadas e públicas, limpar a floresta portuguesa no dia 20 de Março de 2010.

A ideia é formar equipas que vão actuar em cada concelho. Para fazer parte deste projecto, faça a sua inscrição em http://limparportugal.ning.com/

Para melhor coordenação da acção no concelho de Constância vai decorrer uma reunião, no próximo dia 15 de Março, pelas 19h00 no Parque Ambiental de Santa Margarida, com todos os voluntários que pretendam actuar no concelho de Constância.
Por CMC

Espaço...


Não queiras saber tudo. Deixa um espaço livre para te saberes a ti ...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Quantas Loucuras há num Homem!




Há tantos amores na vida de um homem! Aos quatro anos, ama-se os cavalos, o sol, as flores, as armas que brilham, os uniformes de soldado; aos dez, ama-se a menina que brinca connosco.; aos treze, ama-se uma mulher de colo túrgido, porque me lembro de que o que os adolescentes amam loucamente é um colo de mulher, branco e mate, e como diz Marot:

Tetin refaict plus blanc qu'un oeuf
Tetin de satin blanc tout neuf.

Quase me senti mal quando vi pela primeira vez os seis desnudados de uma mulher. Por fim, aos catorze ou quinze anos, ama-se uma jovem que vem a nossa casa, e que é um pouco mais que uma irmã, menos que uma amante; depois, aos dezasseis anos, ama-se uma outra mulher, até aos vinte e cinco; depois, talvez se ame a mulher com quem casamos. Cinco anos mais tarde, ama-se a dançarina que faz saltar o seu vestido sobre as suas coxas carnudas; por fim, aos trinta e seis, ama-se a deputação, a especulação, as honrarias; aos cinquenta, ama-se o jantar do ministro ou do presidente da câmara; aos sessenta, ama-se a prostituta que nos chama através dos vidros e a quem se lança um olhar de impotência, uma saudade do passado. Não será assim?

Porque eu passei por todos esses amores; não todos, porém, porque não vivi todos os meus anos, e cada ano, na vida de muitos homens, é marcado por uma paixão nova, paixão das mulheres, do jogo, dos cavalos, das botas finas, das bengalas, das lunetas, das carruagens, da posição. Quantas loucuras há num homem! Oh! não há a menor dúvida de que os matizes de um trajo de arlequim não são mais variados do que as loucuras do espírito humano, e ambos chegam ao mesmo resultado: ficarem coçados e fazerem rir durante algum tempo, o público em troca do seu dinheiro, o filósofo em troca da sua ciência.

Gustave Flaubert, in 'Memórias de um Louco'

O amor


O amor não é o lamento moribundo de um violino longínquo - é o rangido triunfante das molas da cama ...

O Indiferente ...






Posso amar tanto louras como morenas,
A que cede à abundância e a que trai por pobreza,
A que busca a solidão e a que se mascara e brinca,
Aquela que o campo cultivou e a da cidade,
A que acredita, e a que hesita,
A que ainda lacrimeja com olhos esponjosos,
E a rolha seca que nunca chora.
Eu posso amar essa e esta, e tu, e tu,
Posso amar qualquer uma, desde que não seja leal.

Nenhum outro vício vos satisfará?
Não vos será útil fazer como as vossas mães?
Ou, gastos todos os velhos vícios, inventaram novos?
Ou atormenta-vos o medo de que os homens sejam fiéis?
Oh, não o somos, não o sejais vós também,
Deixai-me conhecer, eu e vós, mais de vinte.
Roubem-me, mas não me prendam, deixai-me ir.
Devo eu, que vim a estas dores através de vós
Tornar-me vosso fiel súbdito, porque sois leais?

Vénus ouviu-me suspirar esta canção,
E pela maior doçura do amor, a variedade, jurou
Que a não ouvira até então, e não mais seria assim.
E foi-se, investigou, e depressa regressando
Disse: «Enfim, existem umas duas ou três
Pobres heréticas do amor
Que pretendem instaurar a perigosa constância.
Mas eu disse-lhes: Dado que pretendeis ser leais,
Sereis leais para com aqueles que vos sejam falsos.»

John Donne.

terça-feira, 2 de março de 2010

A Proibição.




Tem cuidado ao amar-me.
Pelo menos, lembra-te que to proibi.
Não que restaure o meu pródigo desperdício
De alento e sangue, com teus suspiros e lágrimas,
Tornando-me para ti o que foste para mim,
Mas tão grande prazer desgasta a nossa vida duma vez.
Para evitar que teu amor por minha morte seja frustrado,
Se me amas, tem cuidado ao amar-me.

Tem cuidado ao odiar-me,
E com os excessos do triunfo na vitória,
Ou tornar-me-ei o meu próprio executor,
E do ódio com igual ódio me vingarei.
Mas tu perderás a pose do conquistador,
Se eu, a tua conquista, perecer pelo teu ódio:
Então, para evitar que, reduzido a nada, eu te diminua,
Se tu me odeias, tem cuidado ao odiar-me.

Contudo, ama-me e odeia-me também.
Assim os extremos não farão o trabalho um do outro:
Ama-me, para que possa morrer do modo mais doce;
Odeia-me, pois teu amor é excessivo para mim;
Ou deixa que ambos, eles e não eu, se corrompam
Para que, vivo, eu seja teu palco e não teu triunfo.
Então, para que o teu amor, ódio, e a mim, não destruas,
Oh, deixa-me viver, mas ama-me e odeia-me também.

John Donne

Digam-me.,


O amor está compreendido na amizade ou a amizade está compreendida no amor ?

O Amor não Existe sem Ciúme




Se o ciúme nasce do intenso amor, quem não sente ciúmes pela amada não é amante, ou ama de coração ligeiro, de modo que se sabe de amantes os quais, temendo que o seu amor se atenue, o alimentam procurando a todo o custo razões de ciúme.
Portanto o ciumento (que porém quer ou queria a amada casta e fiel) não quer nem pode pensá-la senão como digna de ciúme, e portanto culpada de traição, atiçando assim no sofrimento presente o prazer do amor ausente. Até porque pensar em nós que possuímos a amada longe - bem sabendo que não é verdade - não nos pode tornar tão rico o pensamento dela, do seu calor, dos seus rubores, do seu perfume, como o pensar que desses mesmos dons esteja afinal a gozar um Outro: enquanto da nossa ausência estamos seguros, da presença daquele inimigo estamos, se não certos, pelo menos não necessariamente inseguros. O contacto amoroso, que o ciumento imagina, é o único modo em que pode representar-se com verosimilhança um conúbio de outrem que, se não indubitável, é pelo menos possível, enquanto o seu próprio é impossível.
Assim o ciumento não é capaz, nem tem vontade, de imaginar o oposto do que teme, aliás só pode obter o prazer ampliando a sua própria dor, e sofrer pelo ampliado prazer de que se sabe excluído. Os prazeres do amor são males que se fazem desejar, onde coincidem a doçura e o martírio, e o amor é involuntária insânia, paraíso infernal e inferno celeste - em resumo, concórdia de ambicionados contrários, riso doloroso e friável diamante.

Umberto Eco, in 'A Ilha do Dia Antes'