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quarta-feira, 28 de abril de 2010

Lei do amor...


Só existe uma lei no amor; tornar feliz a quem se ama.

Stendhal

Kitaro

Os Dois Horizontes




Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.

Machado de Assis, in 'Crisálidas'

terça-feira, 27 de abril de 2010

Brincadeiras...

A Primitiva Infâmia




Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques. Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogéneas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas.

Raul Brandão, in "Húmus"

Penso,logo quero...


Penso
combino idéias
reflito
formo opinião
medito...
Planejo
imagino
coagito
cismo
logo existo...
Penso demoradamente
com insistência
examino
aprecio
em consciência...
Penso
logo considero
tenho em conta
dou atenção
examino
provo
logo quero...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Roxo de Lilás.




Lilás
cor da alquimia
energia cósmica
inspiração espiritual
magia...

Lilás
arbusto de delicado perfume
teus odores
libertam paixão
amores
ciúme.

mundo lilás
força e vida
roxo de paixão
vida colorida...

Lilás
influente nas emoções
intituitivo
roxo de tristeza
prosperidade
nobreza...

domingo, 25 de abril de 2010

Paz e serenidade em todos os corações!



Quem estiver de acordo com a idéia ,leve e passse adiante.

"Esquecidos da história..."


Um bem haja para a guarnição do NRP Gago Coutinho (25 de Abril de 1974)


Integrada numa força NATO, a fragata rumava à saída da barra quando foi mandada retroceder, abandonando a formatura e colocando-se em frente ao Terreiro do Paço. Esta ordem veio do Estado-Maior da Armada;
O Imediato na asa da ponte de EB informa o Com.te do navio que a posição da Marinha para com o movimento é de neutralidade activa;
O Almirante Jaime Lopes dá ordem ao Com.te do navio para abrir fogo sobre os tanques do Exército posicionados no Terreiro do Paço;
O Com.te do navio não cumpre a ordem, alegando que estava muita gente no Terreiro do Paço e, também, que vários cacilheiros se encontravam nas proximidades;
O Com.te do navio recebe ordens para fazer fogo de salva;
O Com. .te do navio dá ordem ao Chefe do Serviço de Artilharia para fazer fogo de salva;
O C.S Artilharia recusa-se, chamando a atenção do Com.te do navio para o Imediato que tinha algo a dizer;
O Imediato reafirma a intenção dos oficiais se recusarem a abrir fogo mesmo de salva;
O Com.te do navio em crescente histeria, exonera do seu cargo o Imediato. Os oficiais a seguir convidados a assumirem o cargo recusaram;
Os oficiais mantêm-se disciplinadamente, a cumprir ordens do Com.te, excepto a de abrir fogo;
Pelas 13H20 o Com.te reúne-se com os oficiais na câmara. Em cima da mesa coloca uma pasta de arquivo verde, onde se pôde ver inscrita a palavra “Revolução”.
Após ter inquirido, um a um, todos os oficiais, começando pelo mais moderno, sobre se mantinham a sua posição de recusa de abrir fogo, o Com.te do navio considerou todos os oficiais insubordinados;
No final da reunião, que terminou antes da rendição do Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, no Quartel do Carmo, o Com.te do navio realçou explicitamente a necessidade de cada um de nós não se esquecer da posição que tinha assumido, pois ele não se esqueceria.”
Quanto a mim, a coragem e determinação destes Homens que mesmo sabendo que correriam riscos, se recusaram a cumprir uma ordem que teria consequências imprevisíveis para o resultado do 25 de Abril, merece ser lembrada.

Fonte: Anais do Clube Militar Naval .

Anonimato


Como é bom viver no anonimato,sem gente conhecida,viver fora da verdade,mentirmos a nós próprios,enfim viver mascarado.

Conquista.




Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

sábado, 24 de abril de 2010

Liberdade .




— Liberdade, que estais no céu...
Rezava o padre-nosso que sabia,
A pedir-te, humildemente,
O pio de cada dia.
Mas a tua bondade omnipotente
Nem me ouvia.

— Liberdade, que estais na terra...
E a minha voz crescia
De emoção.
Mas um silêncio triste sepultava
A fé que ressumava
Da oração.

Até que um dia, corajosamente,
Olhei noutro sentido, e pude, deslumbrado,
Saborear, enfim,
O pão da minha fome.
— Liberdade, que estais em mim,
Santificado seja o vosso nome.

Miguel Torga, in 'Diário XII'

Moderação de comentários.


Este blog faz dois anos dia 1 De Maio.Os comentários sempre foram livres mas,por motivos alheios á minha vontade, a partir do momento serão pré visionanos.

Espero que me compreendam e desculpem.

Sou velho de mais para censurar, mas suficientemente jovem para agir .

O Assombro da Incoerência do Nosso Ser .



Sou um mero espectador da vida, que não tenta explicá-la. Não afirmo nem nego. Há muito que fujo de julgar os homens, e, a cada hora que passa, a vida me parece ou muito complicada e misteriosa ou muito simples e profunda. Não aprendo até morrer - desaprendo até morrer. Não sei nada, não sei nada, e saio deste mundo com a convicção de que não é a razão nem a verdade que nos guiam: só a paixão e a quimera nos levam a resoluções definitivas.

O papel dos doidos é de primeira importância neste triste planeta, embora depois os outros tentem corrigi-lo e canalizá-lo... Também entendo que é tão difícil asseverar a exactidão dum facto como julgar um homem com justiça.
Todos os dias mudamos de opinião. Todos os dias somos empurrados para léguas de distância por uma coisa frenética, que nos leva não sei para onde. Sucede sempre que, passados meses sobre o que escrevo - eu próprio duvido e hesito. Sinto que não me pertenço...
É por isso que não condeno nem explico nada, e fujo até de descer dentro de mim próprio, para não reconhecer com espanto que sou absurdo - para não ter de discriminar até que ponto creio ou não creio, e de verificar o que me pertence e o que pertence aos mortos. De resto isto de ter opiniões não é fácil. Sempre que me dei a esse luxo, fui forçado a reconhecer que eram falsas ou erróneas.

Raul Brandão, in " Se Tivesse de Recomeçar a Vida "

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Retrato de Mulher Triste




Vestiu-se para um baile que não há.
Sentou-se com suas últimas jóias.
E olha para o lado, imóvel.

Está vendo os salões que se acabaram,
embala-se em valsas que não dançou,
levemente sorri para um homem.
O homem que não existiu.

Se alguém lhe disser que sonha,
levantará com desdém o arco das sobrancelhas,
Pois jamais se viveu com tanta plenitude.

Mas para falar de sua vida
tem de abaixar as quase infantis pestanas,
e esperar que se apaguem duas infinitas lágrimas.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1942-1959)'

As Pessoas são Como os Envelopes




As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? Será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro. As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista...

(Padre) Vasco Pinto de Magalhães, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

A propósito do dia mundial dos livros...


Os livros têm os mesmos inimigos que o homem: o fogo, a humidade, os bichos, o tempo; e o seu próprio conteúdo .

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Palavras


As palavras não significam nada se não forem recebidas como um eco da vontade de quem as ouve.

(Augustina Bessa luís.)

Chamar a Si Todo o Céu com um Sorriso




que o meu coração esteja sempre aberto às pequenas
aves que são os segredos da vida
o que quer que cantem é melhor do que conhecer
e se os homens não as ouvem estão velhos

que o meu pensamento caminhe pelo faminto
e destemido e sedento e servil
e mesmo que seja domingo que eu me engane
pois sempre que os homens têm razão não são jovens

e que eu não faça nada de útil
e te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um sorriso

E. E. Cummings, in "livrodepoemas"

Todo o Mal Provém não da Privação mas do Supérfluo




Ser feliz é, afinal, não esperar muito da felicidade, ser feliz é ser simples, desambicioso, é saber dosear as aspirações até àquela medida que põe o que se deseja ao nosso alcance. Pegando de novo em Tolstoi, que vem sendo em mim um padrão tutelar, lembremos de novo um dos seus heróis, o príncipe Pedro Bezoukhov (do romance 'Guerra e Paz'). As circunstâncias fizeram-no conviver no cativeiro com um símbolo da sabedoria popular, um tal Karataiev. Pois esse companheirismo desinteressado e genuíno, esse encontro com a vida crua mas desmistificadora, não só modificaram o príncipe Pedro como lhe revelaram o que ele precisava de saber para atingir o que nós, pobres humanos, debalde perseguimos: a coerência, a pacificação interior, que são correctivos da desventura.

Tolstoi salienta-nos que Pedro, após essa vivência, apreendera, não pela razão mas por todo o seu ser, que o homem nasceu para a felicidade e que todo o mal provém não da privação mas do supérfluo, e que, enfim, não há grandeza onde não haja verdade e desapego pelo efémero. Isto, aliás, nos é repetido por outra figura de Tolstoi, a princesa Maria, ao acautelar-nos com esta síntese desoladora: «Todos lutam, sofrem e se angustiam, todos corrompem a alma para atingir bens fugazes».

Fernando Namora, in 'Sentados na Relva'