Relendo José Saramago.
(O ano da morte de Ricardo Reis.)
Ricardo Reis ocupava-se do ofício da medicina e do prazer da poesia. Avesso a totalitarismos, deixara Portugal fugindo da ditadura salazarista, refugiando-se no Brasil, onde algum tempo depois, instalou-se a ditadura Vargas. Isto, somado à morte de seu amigo Fernando Pessoa, fez com que retornasse a Portugal. Instalou-se num hotel e conheceu aquela que viria a ser sua musa, sua amada, Lídia. Entre lembranças e indagações, conversava com Fernando Pessoa, que volta e meia, visitava-o, mesmo morto. Ricardo Reis desfrutou do amor com uma mulher mais jovem, linda, revigorante. Ela engravidou. Ele mudou-se para uma casa; não visitava seu país, mas voltara a viver nele, um lugar que ainda tinha as marcas dos horrores despóticos. Isto era percebido nas caminhadas que realizava. Entretanto, a angústia de existir atormentava-o à exaustão. Ricardo Reis era discípulo da poesia latina, bebia na fonte de Horácio, o poeta-filósofo, e escrevia odes singulares; tinha em Fernando Pessoa um amigo e um mestre; nascera dele, fora sua criação, sua parte, seu lirismo. Sentia falta de Fernando Pessoa, porque, apesar de receber suas visitas, eram irregulares. Na última visita feita pelo mestre, conversaram como de outras vezes. Depois, Fernando Pessoa foi. Ricardo Reis foi com ele.
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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012
sábado, 11 de fevereiro de 2012
sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012
Amanhecer.
Quero um amanhecer em liberdade
que me liberte para amar
como o rio que corre dentro de mim
sem mágoas
no encontro com outras águas...
Um amanhecer sem cansaço
aninhar-me nos teus braços
embalado nas ondas do teu amor
descansar no teu regaço...
Quero um amanhecer para a vida
um arco íris diferente
o pólen das flores
o nosso amor
sempre presente...
Quero em cada amanhecer
renascer para a vida
onde possa ver
sentir e crer
que faz sentido
a vida ser vivida...
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
Chorar de amor.
domingo, 5 de fevereiro de 2012
Literatura.
Uma criança desaparece. Estava à guarda do pai. O choque da notícia atira a mãe para um abismo de amnésia. Sem memória, é incapaz de chorar um filho que não sabe que tem. Como podemos continuar a viver se caminhamos vazios. E há um homem que arranja uma amante enquanto visita a mulher no hospital. Ladrões que roubam cinzas de uma morta. Há as maldades desumanas do amor, um sopro pérfido que o diabo sussurra aos ouvidos. Em fundo, a irracional violência do divórcio. A bestialidade das palavras que atiramos uns aos outros como pedras. Uma mulher que espera ainda e sempre, à janela. Porque o coração é um bicho e não ouve. E uma pergunta a que não se ousa responder: Para onde vão os amores que foram um dia?
sábado, 4 de fevereiro de 2012
Distância.
sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012
terça-feira, 31 de janeiro de 2012
"Uma vida,duas vidas,um sorriso."
Foi durante a guerra civil na Espanha. Antoine de Saint-Exupéry, o autor de O pequeno príncipe, foi lutar ao lado dos espanhóis que preservavam a democracia. Certa feita, caiu nas mãos dos adversários. Foi preso e condenado à morte. Na noite que precedia a sua execução, conta ele que foi despido de todos os seus haveres e jogado em uma cela miserável. O guarda era muito jovem. Mas era um jovem que, por certo, já assassinara a muitos. Parecia não ter sentimentos. O semblante era frio. Vigilante, ali estava e tinha ordens para atirar para matar, em caso de fuga. Exupéry tentou uma conversa com o guarda, altas horas da madrugada. Afinal, eram suas últimas horas na face da Terra. De início, foi inútil. Contudo, quando o guarda se voltou para ele, ele sorriu. Era um sorriso que misturava pavor e ansiedade. Mas um sorriso. Sorriu e perguntou de forma tímida: - Você é pai? A resposta foi dada com um movimento de cabeça, afirmativo. Eu também, falou o prisioneiro. Só que há uma enorme diferença entre nós dois. Amanhã, a esta hora eu terei sido assassinado. Você voltará para casa e irá abraçar seu filho. Meus filhos não têm culpa da minha imprevidência. E, no entanto, não mais os abraçarei no corpo físico. Quando o dia amanhecer, eu morrerei. Na hora em que você for abraçar o seu filho, fale-lhe de amor. Diga a ele: ?Amo você. Você é a razão da minha vida.? Você é guarda. Você está ganhando dinheiro para manter a sua família, não é? O guarda continuava parado, imóvel. Parecia um cadáver que respirava. O prisioneiro concluiu: Então, leve a mensagem que eu não poderei dar ao meu filho. As lágrimas jorraram dos olhos. Ele notou que o guarda também chorava. Parecia ter despertado do seu torpor. Não disse uma única palavra. Tomou da chave mestra e abriu o cadeado externo. Com uma outra chave abriu a lingueta. Fez correr o metal enferrujado, abriu a porta da cela, deu-lhe um sinal. O condenado à morte saiu apressado, depois correu, saindo da fortaleza. O jovem soldado lhe apontou a direção das montanhas para que ele fugisse, deu-lhe as costas e voltou para dentro. O carcereiro deu-lhe a vida e, com certeza, foi condenado por ter permitido que um prisioneiro fugisse. Antoine de Saint-Exupéry retornou à França e escreveu uma página inesquecível: Uma vida, duas vidas, um sorriso. * * * Tantas vezes podemos sorrir e apresentamos a face fechada, indiferente. Entretanto, as vozes da imortalidade cantam. Deus canta em todo o universo a glória do amor. Sejamos nós aqueles que cantemos a doce melodia do amor, em todo lugar, nos corações. Hoje mais do que ontem, agora mais do que na véspera quebremos todos os impedimentos para amar.
domingo, 29 de janeiro de 2012
Para lá do horizonte
Há no céu
estrelas que brilham de alegria
luas grávidas de mulher
planetas de magia
um Sol que vagueia por onde quer...
Estrelas que iluminam
luas de encantar
pessoas cadentes que se ofuscam
Que desistem de amar...
Para lá do horizonte
há luas novas
raios de sol brilhantes
sonhos de gente
ilusão
lindas histórias de amor
há quem morra de paixão...
E...
no meu horizonte
noite de breu
não há luas
Nem estrelas
não há céu...
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Dá-me a tua mão!
quarta-feira, 25 de janeiro de 2012
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
O Amor e o Vinho...
Pense-se, por exemplo, na relação que existe entre o bebedor e o vinho. Não é verdade que o vinho oferece sempre ao bebedor a mesma satisfação tóxica, que a poesia tem comparado com frequência à satisfação erótica — comparação, de resto, aceitável do ponto de vista científico? Já alguma vez se ouviu dizer que o bebedor fosse obrigado a mudar sem descanso de bebida porque se cansaria rapidamente de uma bebida que permanecesse a mesma? Pelo contrário, a habituação estreita cada vez mais o laço entre o homem e a espécie de vinho que ele bebe. Existirá no bebedor uma necessidade de partir para um país onde o vinho seja mais caro ou o seu consumo proibido, a fim de estimular por meio de semelhantes obstáculos a sua satisfação decrescente? De modo nenhum. Basta escutarmos o que dizem os nossos grandes alcoólicos, como Bócklin, da sua relação com o vinho: evocam a harmonia mais pura e como que um modelo de casamento feliz. Porque é que a relação do amante com o seu objecto sexual será tão diferente?
Sigmund Freud, in 'Contribuições à Psicologia da Vida Amorosa (1912)'
sexta-feira, 20 de janeiro de 2012
mar do meu desejo...
Literatura.
Sinopse
Berlim. Década de 1920. Um cidadão, após cumprir pena durante quatro anos por assassinato, vê-se livre para começar uma nova vida. No entanto, a única convicção que Franz Biberkopf - personagem central desta obra - tem é a de se tornar e se manter decente. No início, guiado por esse forte sentimento, ele consegue andar no caminho do bem - até que algo acontece, ele não sabe dizer o quê, e sua vida acaba seguindo um rumo diferente, mais adverso.Mas "ora, Franz Biberkopf está bem de saúde, se fossem todos tão resistentes quanto ele. Nem valeria a pena narrar uma história tão longa sobre um homem, se ele nem ao menos consegue se firmar nas pernas".Berlin Alexanderplatz foi um marco da literatura expressionista alemã, em que a expressão do sentimento tem mais valor do que a razão. E o sentimento da época era o de uma nação derrotada e humilhada, o que contribuiu para que Alfred Döblin desse voz a esse desafortunado personagem.
quarta-feira, 18 de janeiro de 2012
Já passou.
segunda-feira, 16 de janeiro de 2012
Purgatório moderno.
sábado, 14 de janeiro de 2012
Novo amanhecer...
Quero um novo amanhecer
com um raiar brilhante
ver uma flor a nascer
sentir o calor do sol
no vidro da minha janela
aguardar o entardecer
partir no meu barco á vela...
Quero agarrar o Pôr do sol
para que o ocaso não aconteça
sem um ai
sem um lamento
navegar mar afora
para que o sonho permaneça
de popa ao vento...
Quero desfraldar as velas
esquecer o sabor amargo
das lágrimas do passado
sentir na minha face a brisa marinha
refrescar o amor
lavar a alma
neste imenso mar salgado...
sexta-feira, 13 de janeiro de 2012
Literatura
A Rainha vermelha.
Sinopse
Herdeira da rosa vermelha de Lancaster, Margarida vê as suas ambições frustradas quando descobre que a mãe a quer enviar para um casamento sem amor no País de Gales. Casada com um homem que tem o dobro da sua idade, depressa enviúva, sendo mãe aos catorze anos. Margarida está determinada em fazer com que o seu filho suba ao trono da Inglaterra, sem olhar aos problemas que isso lhe possa trazer, a si, à Inglaterra e ao jovem rapaz. Ignorando herdeiros rivais e o poder desmedido da dinastia de York, dá ao filho o nome Henrique, como o rei, envia-o para o exílio, e propõe o seu casamento com a filha da sua inimiga, Isabel de York.
Acompanhando as alterações das correntes políticas, Margarida traça o seu próprio caminho com outro casamento sem amor, com alianças traiçoeiras e planos secretos. Viúva pela segunda vez, Margarida casa com o impiedoso e desleal Lorde Stanley. Acreditando que ele a vai apoiar, torna-se o cérebro de uma das maiores revoltas da época, sabendo sempre que o filho, já crescido, recrutou um exército e espera agora pela oportunidade de conquistar o prémio maior.
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
Sem rumo.
Sinto uma mágoa
como espinhos que se cravam
na minha pele
na minha face rola uma lágrima
que se funde no sabor
amargo-salgado
da dor...
Porque é que ao amar
se tem que chorar
sentir o gosto a fel
porque é que no amor
também se sente dor...
Sem remos
sem leme
sem rumo
arrasto-me em direcção ao vazio
sinto a tua desilusão
amor amargo-salgado
neste frágil navio
procuro a solidão.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
O Amor é Mais Forte
Os amantes de hoje preferem a droga mais leve, o tabaco mais light ou o café descafeinado. Já ninguém quer ficar pedrado de amor ou sofrer de uma overdose de paixão. As emoções fortes são fracas e as próprias fraquezas revelam-se mais fortes. Os amantes, esses, são igualmente namorados da monotonia e amigos íntimos da disciplina. O que está fora de controlo causa-lhes confusão, e afecta-lhes uma certa zona do cérebro, mas quase nunca lhes toca o coração. O amor devia ser sonhado e devia fazê-los voar; em vez disso é planeado, e quanto muito, fá-los pensar.
Sobre o amor não se tem controlo. É um sentimento que nos domina, que nos sufoca e que nos mata. Depois dá-nos um pouco vida. No amor queremos viver, mas pouco nos importa morrer e estamos sempre dispostos a ir mais além. Deixamo-nos cair em tentação, e não nos livramos do mal, embora procuremos o bem. No amor também se tem fé, mas não se conhecem orações: amamos porque cremos, porque desejamos e porque sabemos que o amor existe. Amamos sem saber se somos amados, e por isso podemos acabar desolados, isolados e deprimidos. Que se lixe! O amor não é justo, não é perfeito; no amor não se declaram sentenças nem se proferem comunicados. O amor prefere ser imprevisível, cheio de riscos e de fogo cruzado. No amor os braços não se cruzam, as palavras não se gastam e os gestos servem para o demonstrar. Amar também é lutar, e enfrentar monstros fabulosos com cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de dragão. É uma ilusão, um sonho, um absurdo e uma fantasia. O amor não se entende, não se interpreta, não se discerne nem se traduz. Quem ama acredita, mas não sabe bem porquê, não sabe bem o quê, nem percebe bem como.
Rogério Fernandes, in 'Alterne Activo'
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