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sábado, 18 de outubro de 2008

Parque infantil de Montalvo

O Mirante - diário online - Sociedade - Obras no parque infantil de Montalvo

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Deixas em mim tanto de ti...

Do outro lado da vida




os ponteiros dos relógios em qualquer

direção, e as estações do ano trocadas:



não há roce nem orgasmo nem suores

mas o corpo está ávido, aflito



haja espera e esperança (e desconsolo)

no reverso incongruente da vida:



nesse viver em morte contígua

e exígua, irredutível, solerte



sentado na poltrona, aderno,

e o tempo, lá fora, estanca:



eu aqui dentro, a vida fora

de mim, exangue e ausente



— buscando lugares inexistentes

numa enteléquia de despistamentos



ou numa estratégia de inconformidade.


Poema de Antonio Miranda

Amor é...

Pense por si próprio.


Pense por si Próprio

Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.

Agostinho da Silva.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sonhos.


Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.
Fernando Pessoa.

Besame mucho.

Creche de Constância será a primeira no concelho

O Mirante - diário online - Sociedade - Creche de Constância será a primeira no concelho

Literatura.


Sinopse


Três crianças órfãs atravessam o mundo para encontrar a felicidade.

1974

Em Adis Abeba, Solomon, um menino etíope de doze anos que perdeu a mãe, assiste à partida do pai para a guerra contra a Somália, de onde nunca regressará. Um programa de ajuda promovido pelo governo cubano mudará o rumo da sua vida.
Entretanto, numa pequena aldeia da Índia, Muna, uma órfã de onze anos é vendida pelos tios a um negociador de escravos. Muna vive o inferno, trabalhando 16 horas por dia, rodeada de moscas e pulgas. Mas a sua vida muda quando a levam para servir na casa de uma família abastada, em Bombaim.
Sita já tem seis anos e não guarda recordações da vida anterior à admissão no orfanato. O seu maior sonho é ter pais, como as outras meninas. Para realizar o seu desejo, terá de cruzar o globo.

2004

Trinta anos depois, o acaso reunirá estas três pessoas tão diferentes e as suas vidas convergirão em Barcelona, graças a um destino tão aleatório quanto inevitável.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Pontes.



Muitas vezes nos sentimos sós ,porque construimos mais muros do que pontes.

Sodade.




A saudade é a luz viva que ilumina a estrada do passado.

Dizer não.


Dizer Não
Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.

Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.

Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.

Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.

Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.

Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.

Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.

Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.

Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.

Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.

E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Sonha Alonso Quijano.




Desperta aquele homem de um indistinto
Sonho de alfanjes e de campo chão,
Toca de leve a barba com a mão
Duvidando se está ferido ou extinto.
Não irão persegui-lo os feiticeiros
Que juraram seu mal por sob a lua?
Nada. O frio apenas. Apenas sua
Amargura nos anos derradeiros.
Foi o fidalgo um sonho de Cervantes
E Dom Quixote um sonho do fidalgo.
O duplo sonho os confunde e algo
Está ocorrendo que ocorreu muito antes.
Quijano dorme e sonha. Uma batalha:
Os mares de Lepanto e a metralha.

(Miguel de Cervantes.)

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Drummond.



QUIXOTE E SANCHO, DE PORTINARI

(trechos)

A minha casa pobre é rica de quimera
e se vou sem destino a trovejar espantos,
meu nome há de romper as mais nevoentas eras
tal qual Pentapolim, o rei dos Garamantas.

Rola em minha cabeça o tropel de batalhas
jamais vistas no chão ou no mar ou no inferno.
Se da escura cozinha escapa o cheiro de alho,
o que nele recolho é o olor da glória eterna.

Donzelas a salvar, há milhares na Terra
e eu parto em meu rocim, corisco, espada, grito,
o torto endireitando, herói de seda e ferro,

e não durmo, abrasado, e janto apenas nuvens,
na férvida obsessão de que enfim a bendita
Idade de Ouro e Sol baixe lá das alturas.


— Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
— E de que me serve?

— Nossos nomes ressoarão nos sinos
de bronze da História.
— E de que me serve?

— Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo,
será tão grande.
— E de que me serve?

— As mais inacessíveis princesas se curvarão
à nossa passagem.
— E de que me serve?

— Pelo teu valor e pelo teu fervor
terás uma ilha de ouro e esmeralda.
— Isto me serve.


Que é loucura: ser cavaleiro andante
ou segui-lo como escudeiro?
De nós dois, quem o louco verdadeiro?
O que, acordado, sonha doidamente?
O que, mesmo vendado,
vê o real e segue o sonho
de um doido pelas bruxas embruxado?
Eis-me, talvez, o único maluco,
e me sabendo tal, sem grão de siso,
sou — que doideira — um louco de juízo.


Dorme, Alonso Quejana.
Pelejaste mais do que a peleja
(e perdeste).
Amaste mais do que amor se deixa amar.
O ímpeto
o relento
a desmesura
fábulas que davam rumo ao sem-rumo
de tua vida levada a tapa
e a coice d'armas,
de que valeu o tudo desse nada?
Vilões discutem e brigam de braço
enquanto dormes.
Neutras estátuas de alimárias velam
a areia escura de teu sono
despido de todo encantamento.
Dorme, Alonso, andante
petrificado
cavaleiro-desengano.

Além-Tejo.

Gosto de teus lábios úmidos


ávido de murmúrios
para dentro do peito
feito
o que a mim recusas
em teu querer diurno

Gosto
de teu rosto parado
logo súbito achado
ao velejar dos olhos
escolhos
repletos de adeuses
em viagem de busca

Gosto
do ilimitado espaço
de teu andar suave
de ave
distância de barco
no azul da enseada

Gosto
de teus lábios úmidos
entretanto desertos
abertos
a meu êxtase lúcido
ávido de murmúrios.

(Florisval Mattos.)

Viajantes.

Sempre que parti fiquei na gare
Olhando, triste, para mim...

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Bestiário 5



Sendo tudo como é: uma farsa

sendo a mais pura imaginação

havendo ou não havendo comparsa

baste o poema da consumação

que o verso sublinhe o desejo

que o poema sublime o refúgio

que movimenta ou dá ensejo

ao puro ser e seu subterfúgio.

Ter medo de nossa fantasia

medo de que não seja verdade

o amor que se está praticando

medo de ser apenas poesia

de encobrir apenas a maldade

de estar só e apenas sonhando.





Poema de Antonio Miranda

Ilus. de Carmen Fulle

hihihihi.

Saudades...


se um dia uma brisa leve e suave tocar no teu rosto, não tenhas medo, é apenas a minha saudade que te beija em silêncio...