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domingo, 8 de fevereiro de 2009

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Pablo Neruda.



Por Joaquin Sabina.

No fundo aberto.




Escrevo-te enquanto algo resvala, acaricia, foge
e eu procuro tocar-te com as sílabas do repouso
como se tocasse o vento ou só um pássaro ou uma folha.
Chegaste comigo ao fundo aberto sob um céu marinho,
sobre o qual se desenham as nuvens e as árvores.
Estamos na aurícula do coração do mundo.
O que perdemos ganhamo-lo na ondulação da terra.
Tudo o que queremos dizer sai dos lábios do ar
e é a felicidade da língua vegetal
ou a cabeça leve que se inclina para o oriente.
Ali tocamos um nó, uma sílaba verde, uma pedra de sangue
e um harmonioso astro se eleva como uma espádua fulgurante
enquanto um sopro fresco passa sobre as luzes e os lábios.

António Ramos Rosa.

É favor de não chorar a rir...




Numa povoação pequena, mesmo junto à fronteira entre Portugal e Espanha, a Igreja fica cheia para a missa das 10h: portugueses, espanhóis, o presidente da junta, etc..
O padre começa o sermão: "Irmãos estamos hoje aqui reunidos para falar dos Fariseus... Aquele povo desgraçado como esses espanhóis que estão aqui..."


Ohhhhhhh !!!! O maior tumúlto tomou conta da igreja.

Os espanhóis ofenderam o padre, houve porrada na porta da igreja.

O presidente da junta levou as mãos à cabeça, indignado.

Acabada a confusão, o presidente da junta foi falar com o padre na sacristía:

" - Sr. Padre, vá devagar, os espanhóis vêm para este lado, gastam nas lojas,
nos restaurantes, trazem divisas para a Portugal. Não faça mais
provocações."

Durante a semana a conversa entre todos era a mesma: o padre e o sermão do
Domingo. Aquele zum-zum-zum todo foi fazendo com que as pessoas ficassem
curiosas e a querer saber mais sobre o que tinha acontecido.

Finalmente, chega o domingo.

O presidente da junta chega à sacristía e fala com o padre:

"- Padre, o senhor lembra-se da nossa conversa, não? Por favor, não arranje nenhum problema hoje, ok?"

Vem a missa e o padre começa o sermão: "Irmãos... Estamos aqui reunidos, hoje, para falar
de uma pessoa da Bíblia: Maria Madalena.
Aquela mulher, prostituta que tentou Jesus, como essas espanholas que estão aqui..."

Caldeirada geral: pancadaria na igreja, partiram velas nos corredores, chapadas, socos e alguns internamentos no Centro de Saúde da povoação.

O presidente da junta foi novamente ter com o padre: "- Padre, o senhor não me disse que iria
com mais calma? ... se o senhor não amansar,
vou escrever uma carta ao Bispo e pedir a sua

retirada Imediata."

Naquela semana, o tumúlto era maior ainda. As conversas eram maiores ainda.

Ninguém iria perder a missa do próximo domingo nem que a vaca tossisse. Na manhã de Domingo, o presidente da junta entra na sacristia com a polícia e adverte o padre:

" -Sr. Padre, não provoque desta vez, senão acuso-o de provocação de tumúlto e vai dentro!!"

A igreja estava abarrotada. Quase não se conseguia respirar de tanta gente.

Começa o sermão : " Irmãos... Estamos aqui reunidos hoje, para falar do momento mais
importante da vida de Cristo: a Santa Ceia"

(O presidente da junta respirou aliviado...)

- Jesus, naquele momento, disse aos apóstolos :"Esta noite, um de vocês me trairá.'

Então João pergunta: 'Mestre, sou eu?' e Jesus responde: 'Não, João, não serás tu'.

Pedro pergunta: 'Mestre, sou eu?' e Cristo responde: 'Não, Pedro, não serás tu.'

Então Judas pergunta: 'Mestre, soy Yo?...'

A PORRADA FOI GERAL !!!!!

Recebi por email.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Sindroma gripal.


"Depois da tempestade vem a gripe..."

Desculpem mas hoje não há 'jinhos nem abraços para ninguém não os quero contaminar com este maldito virus.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Juventude.


"Quarenta anos é a velhice dos jovens; cinqüenta anos é a juventude dos velhos."

Baú dos Pensamentos.


Baú dos Pensamentos assinala Dia de S.Valentim
De 9 a 20 de Fevereiro a Biblioteca Municipal Alexandre O’ Neill dinamiza o Baú dos Pensamentos, uma iniciativa que visa comemorar o Dia dos Namorados.

Deste modo, a Biblioteca propõe aos leitores assinalarem o Dia de S. Valentim de uma forma criativa e original, incentivando-os a produzirem pensamentos e reflexões sobre esta data festiva.

Os trabalhos apresentados no Baú dos Pensamentos serão posteriormente expostos na Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill.

Para mais informações sobre a participação no Baú dos Pensamentos devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O’ Neill, através do telefone 249 739 367, ou via correio electrónico, para biblioteca@cm-constancia.pt

Por CMC

Intimidade .




Que ninguém hoje me diga nada.
Que ninguém venha abrir a minha mágoa,
esta dor sem nome
que eu desconheço donde vem
e o que me diz.
É mágoa.
Talvez seja um começo de amor.
Talvez, de novo, a dor e a euforia de ter vindo ao
[mundo.
Pode ser tudo isso, ou nada disso.
Mas não o afirmo.
As palavras viriam revelar-me tudo.
E eu prefiro esta angústia de não saber de quê.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Exposição de Ricardo Escada no Posto de Turismo de Constância.



It’s Interaction by R. Escada é o título da exposição que vai estar patente ao público no Posto de Turismo de Constância, de 7 a 28 de Fevereiro, um evento cuja inauguração terá lugar no próximo sábado, às 15.15 horas.

O autor, Ricardo Escada, é um jovem de Constância que conta no seu curriculum com muita formação e experiência ao nível das artes audiovisuais, onde se integram múltiplos trabalhos de fotografia, cinema e vídeo.

Ainda no campo das artes há também a destacar a presença de Ricardo Escada no mundo do cinema e da televisão, com participações no filme Le Barbier de Sibérie, de Nikita Mikhalkov e nalgumas séries televisivas.

It’s Interaction by R. Escada é o último trabalho de Ricardo Escada, no qual o autor apresenta um conjunto de imagens criadas através de um telefone de câmara com 2megapixel.

A exposição poderá ser visitada no horário de funcionamento do Posto de Turismo:
Dias úteis 9.30H-13.00H/14.00H-17.30H;
Sábados, domingos e feriados: 14.30H-18.00h.

Por CMC

Nua.






Nua
como Eva.
A cabeleira
beija-lhe o rosto oval e flutua;
o corpo
é água de torrente...

Eva adolescente,
com reflexos de lua
e tons de aurora...!

Roseira que enflora...!

Desflorada por tanta gente...



Teu corpo,
mal o toquei...

Só te abracei
de leve...

Foi todo neve
o sonho que alonguei...

Asas em voo,
quem, um dia, as teve?

Os sonhos que eu sonhei!


Jeito de ave
e criança,
suave
como a dança
do ramo de árvore
que o vento beija e balança!

Nave
de sonho
no temporal medonho
silvando agoiro!

Quem destrançou os teus cabelos de oiro?



Corpo fino,
delicado,
sereno, sem desejos...

Tão macio,
tão modelado...

Beijos... Beijos... Beijos...



No meu sono
ela flutua
a cada passo...

Nua,
riscando o espaço
numa névoa de outono...

Apenas nos cabelos
um azulado laço...

E assim enlaço
a imagem sua...

Saúl Dias, in "Sangue"

Pensamentos.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Escrever é esquecer.


A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida - umas porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.

Fernando Pessoa

Poeta Só .




Prende-me tua pele
ao perfume dos teus seios
e sinto que o mundo em mim se fechou.

Jardins de vida me trazes,
odor de brilho aberto,
em voo de gaivota
rente ao mar.

Esse fulvo encontro
me encanta à noite
se à janela
procuro o entrelaçado
da tua memória.

Ouço a noite
no céu estelar
cantar a nossa solidão:
o meu coração perdido
em teu olhar,
e o odor da tua pele
por mim espera
para que em ti se levante.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

Prende-me tua pele
ao perfume dos teus seios
e sinto que o mundo em mim se fechou.

Jardins de vida me trazes,
odor de brilho aberto,
em voo de gaivota
rente ao mar.

Esse fulvo encontro
me encanta à noite
se à janela
procuro o entrelaçado
da tua memória.

Ouço a noite
no céu estelar
cantar a nossa solidão:
o meu coração perdido
em teu olhar,
e o odor da tua pele
por mim espera
para que em ti se levante.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

Literatura.


As vidas de el-rei D. Sebastião e Miguel Leitão de Andrada entrelaçam-se desde o nascimento até ao desastre de Alcácer-Quibir.
O rei-menino, corajoso mas ingénuo, e o leal fidalgote de Pedrógão Grande, reconhecido na região como vidente e protegido de Nossa Senhora da Luz, vêem-se implicados numa secreta e perigosa intriga de espionagem, com contornos sexuais.
O rei mais desejado de toda a nossa história é, apesar de todas as esperanças da nação, um órfão falto de afectos, criado e educado por velhos, como a avó sedenta de poder e o tio cardeal, ambicioso e fraco. Caprichoso e insolente, D. Sebastião cresce atormentado pelos seus traumas e complexos de adolescente, sublimados nos sonhos de glória de mancebo visionário, senhor de um poder absoluto que o arrasta ao desastre, profetizado pelas dolorosas visőes de Miguel Leitão de Andrada.

Este romance fascinante foi construído a partir de uma rigorosa investigação de fontes históricas documentais - portuguesas, espanholas, italianas, francesas e holandesas - e condimentado pela exuberante imaginação de Deana Barroqueiro.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Leis.


Só existe uma lei no amor; tornar feliz a quem se ama.

Mania de explicação.





Era uma menina que gostava de inventar uma explicação para cada coisa.

Explicação é uma frase que se acha mais importante do que a palavra.
As pessoas até se irritavam, irritação é um alarme de carro que dispara bem no meio de seu peito, com aquela menina explicando o tempo todo o que a população inteira já sabia. Quando ela se dava conta, todo mundo tinha ido embora. Então ela ficava lá, explicando, sozinha.
Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança pra acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente. Preocupação é uma cola que não deixa o que não aconteceu ainda sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente. Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando faltam cinco minutos sempre para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada especialmente.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é fevereiro.
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em maio, por exemplo.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da placa "perigo" o desejo vai e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não. Amor é um exagero... Também não. É um desadoro... Uma batelada? Um enxame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego? Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor ela não sabia explicar, a menina.

Adriana Falcão

O Testamento dos Namorados .




Escolhamos as coisas mais inúteis
o verde água o rumor das frutas
e partamos como quem sai
ao domingo naturalmente.

Deixemos entretanto o sinal
de ter existido carnalmente:
da tua força um castiçal
da minha fragilidade um pente.

Esse hieróglifo essa lousa
deixemos para que uma criança
a encontre como quem ousa
um novo passo de dança.

Natália Correia, in "O Vinho e a Lira

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Tango.



Nascido nos bairros mais pobres da Argentina, o Tango é hoje uma das danças mais populares, desejadas e aplaudidas em pistas de todo o mundo. O seu ritmo energético, movimentos rápidos e concisos, posturas sensuais e perfeitas, são simplesmente magnetizantes.

Assim é o tango:
Intenso. Dramático. Sensual.

Olhos nos teus olhos.

recados orkut





"Já não se encontrarão os meus olhos nos teus olhos. Já não se adoçará junto a ti a minha dor, mas por onde for levarei o teu olhar e para onde fores levarás a minha dor." (Guimarães Rosa)

Ternura .




Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"

sábado, 31 de janeiro de 2009

Vai á luta...

Rosto .




Como se um mar de folhas
descobrisse o teu corpo
ouço-te a vida devolvida
à minha vida

Deitas-te assim na dobra estreita
da minha vida não fictícia

Tu és o rosto inexorável
diante de que
o
meu rosto vive
o olhar, a boca, os lábios ácidos
em que os meus, áridos, se extinguem

Gastão Cruz, in "Campânula"

Pensamento.


Não te deixes dominar pela tristeza e nem te aflijas com os teus pensamentos. Ilude as tuas inquietações, consola o teu coração, afasta para longe a tristeza: porque a tristeza não tem utilidade alguma.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Íliada de Homero.

2008-Vila Poema



Mercado da cultura.

Retrato de Amigo .




Por ti falo. E ninguém sabe. Mas eu digo
meu irmão minha amêndoa meu amigo
meu tropel de ternura minha casa
meu jardim de carência minha asa.

Por ti morro e ninguém pensa. Mas eu sigo
um caminho de nardos empestados
uma intensa e terrífica ternura
rodeado de cardos por muitíssimos lados.

Meu perfume de tudo minha essência
meu lume minha lava meu labéu
como é possível não chegar ao cume
de tão lavado céu?

Ary dos Santos, in 'Fotosgrafias'

Amizade .




Uma criança muito suja atira pedras a um cão. O cão
não foge. Esquiva-se e vem até junto da criança
para lhe lamber o rosto.

Há, depois, um abraço apertado, de compreensão e
de amizade. E lado a lado, com a mãozinha muito
suja no pescoço felpudo, lá vão, pela rua estreita,
em direcção ao sol.

António Salvado, in "Cicatriz"

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Festas do Concelho já mexem em Constância



A Câmara Municipal, a Paróquia, os moradores, as escolas, o comércio e as diferentes instituições do concelho de Constância estão já a preparar a Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem/ Festas do Concelho’ 2009, um acontecimento que decorrerá nos próximos dias 11, 12 e 13 de Abril.

O XXII Grande Prémio da Páscoa em Atletismo, a XXIV Descida dos 3 Castelos, entre outras actividades desportivas, a Mostra de Artesanato, exposições, música, ruas floridas, tasquinhas, gastronomia, doçaria e muita animação são as diversas vertentes que constituem a iniciativa.

Ponto alto do evento serão as cerimónias religiosas que têm lugar no dia do Concelho, Segunda-feira de Páscoa, das quais se destacam a Missa Solene, a Procissão em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem e as Bênçãos dos Barcos nos rios Tejo e Zêzere e das viaturas na Praça Alexandre Herculano.

À semelhança dos anos anteriores, a iniciativa integrará também um programa de actividades descentralizadas, a realizar nas freguesias de Montalvo e Santa Margarida da Coutada.

Por CMC

Até amanhã.


Até Amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou
para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade, in "Até Amanhã"

Sorrisos.


É necessário muito pouco para provocar um sorriso e basta um sorriso para tudo se tornar possível ...

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A função do amor;




É fabricar desconhecimento.

(o conhecido não tem desejo;mas todo o amor é desejar)
embora se viva às avessas,o idêntico sufoque o uno
a verdade se confunda com o facto,os peixes se gabem de pescar

e os homens sejam apanhados pelos vermes(o amor pode não se
importar
se o tempo troteia,a luz declina,os limites vergam
nem se maravilhar se um pensamento pesa como uma estrela
—o medo tem morte menor;e viverá menos quando a morte acabar)

que afortunados são os amantes(cujos seres se submetem
ao que esteja para ser descoberto)
cujo ignorante cada respirar se atreve a esconder
mais do que a mais fabulosa sabedoria teme ver

(que riem e choram)que sonham,criam e matam
enquanto o todo se move;e cada parte permanece quieta:


pode não ser sempre assim;e eu digo
que se os teus lábios,que amei,tocarem
os de outro,e os teus ternos fortes dedos aprisionarem
o seu coração,como o meu não há muito tempo;
se no rosto de outro o teu doce cabelo repousar
naquele silêncio que conheço,ou naquelas
grandiosas contorcidas palavras que,dizendo demasiado,
permanecem desamparadamente diante do espírito ausente;

se assim for,eu digo se assim for—
tu do meu coração,manda-me um recado;
para que possa ir até ele,e tomar as suas mãos,
dizendo,Aceita toda a felicidade de mim.
E então voltarei o rosto,e ouvirei um pássaro
cantar terrivelmente longe nas terras perdidas.

E. E. Cummings, in "livrodepoemas"

Janela sobre o mar.


O amor é grande e cabe nesta janela sobre o mar. O mar é grande e cabe na cama e no colchão de amar. O amor é grande e cabe no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade

"Ausência."


A ausência só mata o amor quando ele já está doente na data da partida .

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Quotidiano .




"As pequenas coisas parecem insignificantes, mas dão-nos a paz."

Grito




De ti que inventaste
a paz
a ternura
e a paixão
o beijo
o beijo fundo intenso e louco
e deixaste lá para trás
a côncava do medo
à hora entre cão e lobo
à hora entre lobo e cão.

De ti que em cada ano
cada dia cada mês
não paraste de acender
uma e outra vez
a flor eléctrica
do mais desvairado
coração.

De ti que fugiste à estepe
e obrigaste
à ordem dos caminhos
o pastor
a cabra e o boi
e do fundo do tempo
me chamaste teu irmão.

De ti que ergueste a casa
sobre estacas
e pariste
deuses e linguagens
guerras
e paisagens sem alento.

De ti que domaste
o cavalo e os neutrões
e conquistaste
o lírico tropel
das águas e do vento.

De ti que traçaste
a régua e esquadro
uma abóboda inquieta
semeada de nuvens e tritões
santidades e tormentos.

De ti que levaste
a volupta da ambição
a trepar erecta
contra as leis do firmamento.

De ti que deixaste um dia
que o teu corpo se cansassse
desta terra de amargura e alegria
e se espalhasse aos quatro cantos
diluido lentamente
no mais plácido
silente
e negro breu.

De ti
meu irmão
ainda ouço
o grito que deixaste
encerrado
em cada pétala do céu
cada pedra
cada flor.
O grito de revolta
que largaste à solta
e que ficou para sempre
em cada grão de areia
a ressoar
como um pálido rumor.
O grito que não cansa
de implorar
por amor
e mais amor
e mais amor.

José Fanha, in "Breve tratado das coisas da arte e do amor"

Da mulher.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Beijo Subaquático + Longo .



No dia 13 de Fevereiro pelas 21h30 na Piscina Municipal.
“Sabia que um beijo activa até 30 músculos faciais, faz acelerar o batimento cardíaco e se durar três minutos queima até 15 calorias?”

Na véspera de um dia especial, venha à Piscina Municipal e traga o seu companheiro (a). Habilitem-se a ganhar um Dia dos Namorados inesquecível com o seu (sua) mais que tudo, com prémios muito atractivos e estimulantes para comemorar esta data especial. Tragam touca, chinelos, fato-de-banho e fôlego para garantir o primeiro lugar nesta iniciativa.

1.º Prémio – Passeio de Barco no Tejo; Jantar Romântico para duas pessoas; 2 Bilhetes de Cinema; Estadia de uma noite para duas pessoas na região.

2.º Prémio – Passeio de Barco no Tejo; Jantar Romântico para duas pessoas; 2 Bilhetes de Cinema.

3.º Prémio – Jantar Romântico para duas pessoas; 2 Bilhetes de Cinema.

Para mais informações sobre a participação nesta actividade devem os interessados contactar a Piscina Municipal através do telefone 249 739 627.
Por CMC

Homem das cidades.




Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Lealdade.


A Lealdade é um Amor que Esquece o Mundo
Só se é realmente leal quando se está sujeito a alguém ou a algo. Aí, onde mesmo um sonho pode ser senhor. Na sujeição de quem serve uma causa, na sujeição de quem se submete a um chefe, na sujeição à pessoa amada, na sujeição do sentimento e na sujeição do dever, no sacrifício da liberdade, da razão e do interesse. No desperdício e no desprezo do que está à vista e do que está à mão, é nesta desagradável situação que se acha ou não acha a lealdade. É por ser selvagem e servil, mas só a um senhor, que a lealdade tem valor. É muito difícil ser-se leal, mas só porque é muito difícil seguirmos o coração. A lealdade é um amor que esquece o mundo.

Ao escolher um amigo, e ao ser-se amigo dele, rejeitam-se as outras pessoas. Quando estamos apaixonados, é através dessa pessoa que amamos a humanidade. O amor ocupa-nos muito. E para os outros, não fica quase nada.
Não se consegue ser leal ao ponto de calar o coração. Mas sofremos com as nossas deslealdades. Sabemos perfeitamente o que estamos a fazer, quem sacrificámos, e porquê. É por causa da consciência da nossa imperfeição que o ideal da verdadeira lealdade não pode ser abandonado ou alterado. O facto de ser incumprível não obriga a que se arranje uma versão softcore, mais cómoda e realista. É preciso aguentar. A lealdade é uma coisa tão cega e simples de determinar quanto é difícil de determinar quanto é difícil de seguir.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

Desejos.



"O desejo é fogo que trazemos ao nascer."

domingo, 25 de janeiro de 2009

Interrogação.


A chave de todas as ciências é inegavelmente o ponto de interrogação .

Y sin embargo te quiero

Carta ao Mar .




Deixa escrever-te, verde mar antigo,
Largo Oceano, velho deus limoso,
Coração sempre lyrico, choroso,
E terno visionario, meu amigo!

Das bandas do poente lamentoso
Quando o vermelho sol vae ter comtigo,
- Nada é mais grande, nobre e doloroso,
Do que tu, - vasto e humido jazigo!

Nada é mais triste, tragico e profundo!
Ninguem te vence ou te venceu no mundo!...
Mas tambem, quem te poude consollar?!

Tu és Força, Arte, Amor, por excellencia! -
E, comtudo, ouve-o aqui, em confidencia;
- A Musica é mais triste inda que o Mar!

António Gomes Leal, in 'Claridades do Sul'

sábado, 24 de janeiro de 2009

Você aprende.

Sonhos.


A melhor maneira de realizar-mos os nossos sonhos é acordar .

Atravessa Esta Paisagem o Meu Sonho.




Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...

O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...

Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...

Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
E vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse
desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele
porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...

Fernando Pessoa, in 'Cancioneiro'

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Onde Será a Terra Prometida?




Triste época a nossa! Para que oceano correrá esta torrente de iniquidades? Para onde vamos nós, numa noite tão profunda? Os que querem tactear este mundo doente retiram-se depressa, aterrorizados com a corrupção que se agita nas suas entranhas.
Quando Roma se sentiu agonizar, tinha pelo menos uma esperança, entrevia por detrás da mortalha a Cruz radiosa, brilhando sobre a eternidade. Essa religião durou dois mil anos, mas agora começa a esgotar-se, já não basta, troçam dela; e as suas igrejas caem em ruínas, os seus cemitérios transbordam de mortos.
E nós, que religião teremos nós? Sermos tão velhos como somos, e caminharmos ainda no deserto, como os Hebreus que fugiam do Egipto.
Onde será a Terra prometida?
Tentámos tudo e renegámos tudo, sem esperança; e depois uma estranha ambição invadiu-nos a alma e a humanidade, há uma inquietação imensa que nos rói, há um vazio na nossa multidão; sentimos à nossa volta um frio de sepulcro.

A humanidade começou a mexer em máquinas, e ao ver o ouro que nelas brilhava, exclamou: «É Deus!» E come esse Deus. Há - e é porque tudo acabou, adeus! adeus! - vinho antes da morte! Cada um se precipita para onde o seu instinto o impele, o mundo formiga como os insectos sobre um cadáver, os poetas passam sem terem tempo para esculpir os seus pensamentos, mal os lançam nas folhas, as folhas voam; tudo brilha e ecoa nesta mascarada, sob as suas realezas de um dia e os seus ceptros de cartão; o ouro rola, o vinho jorra, a devastidão fria ergue o vestido e bamboleia-se... horror! horror!
E depois, há sobre tudo isso um véu de que cada um tira a sua parte, para se esconder o mais possível.
Escárnio! horror! horror!

Gustave Flaubert, in 'Memória de um Louco'

Povo que lavas no rio.

Amália Rodrigues




(Povo,Pedro Homem de Mello, in "Miserere" )

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Meu cravo branco na orelha!
Minha camélia vermelha!
Meu verde manjericão!
Ó natureza vadia!
Vejo uma fotografia...
Mas a tua vida, não!

Fui ter à mesa redonda,
Bebendo em malga que esconda
O beijo, de mão em mão...
Água pura, fruto agreste,
Fora o vinho que me deste,
Mas a tua vida, não!

Procissões de praia e monte,
Areais, píncaros, passos
Atrás dos quais os meus vão!
Que é dos cântaros da fonte?
Guardo o jeito desses braços...
Mas a tua vida, não!

Aromas de urze e de lama!
Dormi com eles na cama...
Tive a mesma condição.
Bruxas e lobas, estrelas!
Tive o dom de conhecê-las...
Mas a tua vida, não!

Subi às frias montanhas,
Pelas veredas estranhas
Onde os meus olhos estão.
Rasguei certo corpo ao meio...
Vi certa curva em teu seio...
Mas a tua vida, não!

Só tu! Só tu és verdade!
Quando o remorso me invade
E me leva à confissão...
Povo! Povo! eu te pertenço.
Deste-me alturas de incenso,
Mas a tua vida, não!

Povo que lavas no rio,
Que vais às feiras e à tenda,
Que talhas com teu machado,
As tábuas do meu caixão,
Pode haver quem te defenda,
Quem turve o teu ar sadio,
Quem compre o teu chão sagrado,
Mas a tua vida, não!

Literatura.


Com 23 anos a infanta Catarina de Bragança, filha de D. Luísa de Gusmão e de D. João IV, deixou para trás tudo o que lhe era querido e próximo para navegar rumo a uma vida nova. No coração um misto de tristeza e alegria. Saudade da sua Lisboa, de Vila Viçosa, do cheiro a laranjas, dos seus irmãos que já haviam partido deste mundo e dos que ficavam em Portugal a lutar pelo poder. Mas os seus olhos escuros deixavam perceber o entusiasmo pelo casamento com o homem dos seus sonhos, Charles de Inglaterra, um príncipe encantado que Catarina amava perdidamente ainda antes de conhecê-lo. Por ele sofreu num país do qual desconhecia a língua, os costumes e onde a sua religião era condenada. Assistiu às infidelidades do marido, ao nascimento dos seus filhos bastardos enquanto o seu ventre permanecia liso e seco, incapaz de gerar o tão desejado herdeiro. Catarina não foi capaz de cumprir o único objectivo que como mulher e rainha lhe era exigido. «Se ao menos não o amasse tanto!», pensava nas noites mais longas e tristes... Ao longo destas páginas apaixonamo-nos, sofremos, rimos e choramos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Distância.


A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: Apaga o pequeno, inflama o grande .

A História da Humanidade em Três Palavras




Felipe lembrou-se da história do Rei do Oriente que, desejando conhecer a história da humanidade, recebeu de um sábio quinhentos volumes; ocupado com negócios de Estado, pediu-lhe que a condensasse. Ao cabo de vinte anos, o sábio voltou e a sua história ocupava agora apenas cinquenta volumes; mas o rei, já velho demais para ler tantos livros volumosos, pediu-lhe que a fosse abreviar mais uma vez. Passaram-se de novo vinte anos, e o sábio, velho e encanecido, trouxe um único volume com os conhecimentos que o rei procurara; este, porém, estava deitado no seu leito de morte, nem tinha mais tempo de ler sequer aquilo. Aí o sábio deu-lhe a história da humanidade numa única linha:
'Nasceram, sofreram, morreram'.

(Somerset Maughamà

Gozo os campos sem reparar para eles.



Perguntas-me por que os gozo.
Porque os gozo, respondo.
Gozar uma flor é estar ao pé dela inconscientemente
E ter uma noção do seu perfume nas nossas idéias mais apagadas.
Quando reparo, não gozo: vejo.
Fecho os olhos, e o meu corpo, que está entre a erva,
Pertence inteiramente ao exterior de quem fecha os olhos
À dureza fresca da terra cheirosa e irregular;
E alguma cousa dos ruídos indistintos das cousas a existir,
E só uma sombra encarnada de luz me carrega levemente nas órbitas,
E só um resto de vida ouve.

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Em Louvor das Crianças.



Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simultaneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos privilegiados — a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formosura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.
A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais — a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint-Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis — elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta, não diminui nem se extingue.
O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus.

Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

Será verdade ?


As mulheres estimam-nos a nós homens, conforme a nossa utilidade,sem terem em conta o nosso valor...

Os Amigos .




Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria —
por mais amarga.

Eugénio de Andrade.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Identidade .




Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

Mia Couto.

Tempo.


Depressa: O tempo foge e arrasta-nos consigo: O momento de que falo, já está longe de mim .

Factos importantes do dia 20-01-2009.

Barak Obama é eleito Presidente dos Estados Unidos da América.

Manuel A.J.Marques nasceu em 2O-O1-1955.









Façam o favor de se servirem.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Poema da Auto-estrada .




Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.

Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.

Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.

Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.

Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.

António Gedeão, in 'Máquina de Fogo'