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terça-feira, 14 de abril de 2009

Fotos boa viagem 2009.(Constância.)



Gamado daqui:by oirazann.blogspot.com

Paixão!


Não há nada como as paixões e as grandes paixões para elevar a alma às coisas grandes .

A casa.



A casa estava arrumada. Do jeito que ele gostava. Havia passado a tarde dedicando-se a tirar o pó impregnado dos móveis, limpando os porta-retratos, esfregando o chão de suas imundícies até sentir que as mãos estavam trêmulas e não obedeciam mais. Tomou cuidado para que cada canto, cada entrada e cada saída ficasse impecável. A casa não era grande, mas depois de todo lixo expulso, parecia maior. E agora, quase imaculada não fosse a presença dela, a casa era só solidão. Porque até a sua presença estava cheia de solidão. E ela esperava, torcendo as mãos e observando as luzes da rua, a chegada dele. Sabia que seria intempestiva, por isso arrumava a casa, uma, duas, três vezes, para que ele pudesse despejar sua bagunça.
Era assim sempre.
A casa pronta, as três batidas, ela saltava do sofá e abria a porta. Tudo se modificava. A casa branca enchia-se novamente. As cores trazidas por ele riscavam o chão, a mesa, a janela, o quadro, o teto, a cama, o tapete, os lençóis. Quase cegando-a.
Já na porta, os pedaços de seu desarrumado começavam a ficar pelo chão. Ela apenas dava passagem para ele pudesse entrar e observava a poeira deitando novamente sobre os móveis.
Era como um vento.
As folhas de papel cuidadosamente empilhadas na escrivaninha saltavam e eram levadas para fora da janela. Um a um os porta-retratos estilhaçavam-se no chão. Não era mais só uma casa, era um emaranhado de palavras, sons, luzes e visões desconexas. E ele agigantava-se vertiginosamente aos olhos dela.
Ouvia o som dos vidros serem quebrados longinquamente, de lençóis sendo rasgados e sentia o cheiro da lama misturado ao cheiro das rosas esmigalhadas. Havia uma brusquidão nos gestos, que a cada movimento acertavam-lhe um soco no estômago, mesmo sem tocá-la.
Ele nunca a tocava.
Ao mesmo tempo, havia certa suavidade na voz, como que parecida com uma carícia sutil. Seus olhos sugavam-na, chamando a misturar-se a ele, a compartilhar da desordem das coisas. Aquela desordem que parecia imiscuir-se nele.
Por um segundo, apenas e somente por um segundo, que ficava suspenso no ar, ela deixava-se mergulhar, e neste segundo podia ver caleidoscópios rodopiando, portas que se abriam estrondosamente, vozes misturadas, e mãos de mil cores tocando-a.
Então ela se dava conta de que ele era feito disso, ele era isso. A desordem das coisas, as mil cores, as mil vozes, as mil portas. E o aceitava como quem aceita uma criança em seu ventre.
— Eu te aceito. Te aceito. — as únicas palavras no meio daquela noite, ditas sem deixar escorrer um único som.
Agora ele estava dentro dela, correndo por suas veias, atravessando suas conexões nervosas e remexendo suas entranhas, pulsante, pulsante.
Ela era a casa. A casa que ele desarrumava. Deixando em cada pedaço de espaço, o pó viscoso de sua imensidão. E dentro dela ele se arrumava e reconstruía cada parte sua.
Abandonava ali, a lama e a brusquidão, para se tornar suave, quase harmonioso outra vez.
Ela ouvia então um grito quase mudo que se esforçava para sair da garganta de alguma coisa. E como num parto, ela o expulsava de si, como num parto que faz nascer, brotar, jorrar.
Ele nascia novamente, limpo, puro de todas as durezas, pecados e da loucura suja – nem toda loucura é suja, assim como nem todo mal é ruim – para sair pela porta e deixá-la novamente sentada no sofá, as mãos se torcendo e os olhos espiando as luzes da rua.
Ele havia partido, estava sozinha. Ela e casa, que já não era mais ela. As cores apagadas e o silêncio. A casa que ela tinha que arrumar. Pois sabia que ele viria novamente no outro dia.


Anne Luisa Nardi.

Sedução




A poesia me pega com sua roda dentada,
me força a escutar imóvel
o seu discurso esdrúxulo.
Me abraça detrás do muro, levanta
a saia pra eu ver, amorosa e doida.
Acontece a má coisa, eu lhe digo,
também sou filho de Deus,
me deixa desesperar.
Ela responde passando
a língua quente em meu pescoço,
fala pau pra me acalmar,
fala pedra, geometria,
se descuida e fica meiga,
aproveito pra me safar.
Eu corro ela corre mais,
eu grito ela grita mais,
sete demônios mais forte.
Me pega a ponta do pé
e vem até na cabeça,
fazendo sulcos profundos.
É de ferro a roda dentada dela.

Adélia prado.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Por que as pessoas gritam?


Um dia, um pensador indiano fez a seguinte pergunta a seus discípulos:

- Por que as pessoas gritam quando estão aborrecidas?

- Gritamos porque perdemos a calma, disse um deles.

- Mas, por que gritar quando a outra pessoa está ao seu lado? Questionou novamente o pensador.

- Bem, gritamos porque desejamos que a outra pessoa nos oiça, respondeu o outro discípulo.

E o mestre volta a perguntar:

- Então não é possível falar-lhe em voz baixa?"

Várias outras respostas surgiram, mas nenhuma convenceu o pensador.

Então ele esclareceu:

- Vocês sabem por que se grita com uma pessoa quando se está aborrecido?
Quando duas pessoas estão aborrecidas, seus corações se afastam muito.
Para cobrir essa distância precisam gritar para poderem escutar-se mutuamente. Quanto mais aborrecidas estiverem, mais forte terão que gritar para se ouvirem um ao outro, através da grande distância.
Por outro lado, o que sucede quando duas pessoas estão enamoradas?
Elas não gritam. Falam suavemente. E por quê?
Porque seus corações estão muito perto. A distância entre elas é pequena.
Às vezes estão tão próximos que seus corações, nem falam, apenas sussurram.
E quando o amor é mais intenso, não necessitam sequer sussurrar, apenas se olham, e chega.
Seus corações se entendem.
É isso que acontece quando duas pessoas que se amam estão próximas.

Por fim, o pensador conclui, dizendo:

-Quando vocês discutirem, não deixem que seus corações se afastem, não digam palavras que os distanciem mais, pois chegará um dia em que a distância será tanta, que não mais encontrarão o caminho de volta.

Não quero sorrir com os olhos cheios de lágrimas!



Na refrega da vida

minha alma chora em silêncio

e em silêncio minhas lágrimas de sangue

sulcam meus sonhos difusos e

desaguam na represa da dor silênciada
nesta luta desigual

minha alma sofre em silêncio

a incerteza de uma claridade esvanecida

que ora brilha, ora cintila

no espelho da água calma desse rio

que corta as entranhas da minha alma
nesta batalha campal

numa luta irracional

minha alma geme em silêncio

a dor existencial no desígnio da vida
e assim

no oceano da incerteza

minha alma agoniza em silêncio
repousa no crepúsculo do entardecer

na ilusão de uma aurora distante

driblando o fantasma

de uma desgraça prenunciada


Dr. Vulcão

Boa Viagem.(Constância)



A Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, que se realiza segunda- feira (feriado municipal), envolve mais de meia centena de embarcações provenientes da grande maioria dos municípios ribeirinhos do Tejo, de Abrantes até à foz, que participam, ao fim da manhã, num cortejo fluvial no Tejo, de Tancos até Constância.


à tarde, as embarcações, que são engalanadas e trazem a bordo tripulação trajada à época em que os rios eram determinantes para a economia da região, recebem no Tejo e no Zêzere a bênção, prosseguindo a procissão em terra pelas ruas da vila.


Segundo a autarquia, a festa pretende "chamar a atenção para o património ambiental e cultural" que representam os rios que confluem em Constância, "recriando, num grande espectáculo para os olhos, a vivência de outras épocas que deram origem ao culto de Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira dos marítimos".

domingo, 12 de abril de 2009

Lágrimas.


"Um dia a lágrima disse ao sorriso: invejo-te porque vives sempre feliz. O sorriso respondeu: enganas-te, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor."

Ruas Floridas.












Vestir Constância com flores de papel por ocasião da Páscoa é uma tarefa partilhada por moradores, escolas, crianças e animadoras do Projecto Actividades de Tempos Livres - ATL, Santa Casa da Misericórdia e várias instituições do Concelho. Por isso as ruas são, há mais de vinte anos, um motivo de grande interesse nas Festas do Concelho.

Ruas e becos da vila são adornados com motivos típicos e grandiosos arranjos florais, tornando Constância num local de eleição nacional por ocasião da Páscoa.

Os adornos de papel confeccionados manualmente contêm mais de 3000 rolos de papel crepe, mais de 350 resmas de papel de seda, mais de 1000 rolos de papel crepon, 150 kilos de cordel, 200 kilos de arame entre outros e novos materiais como redes, manga plástica, esponjas, fitas de seda, musgumi, etc, que anualmente são introduzidos na elaboração das mais belas e variadas flores.

As ruas floridas são sem dúvida, uma das principais atracções destas Festas que trazem a Constância muitos milhares de visitantes de todo o país e do estrangueiro.
Por CMC

Páscoa.



Felíz Páscoa para todo o mundo.

sábado, 11 de abril de 2009

A Prática Fomenta a Vontade.



Se desejamos tornar-nos fortes, temos, primeiro, de comprender o que é a vontade. A vontade não é nenhuma entidade mística, que presida aos outros elementos do carácter, qual mestre de banda - sim, a soma, a substância de todos os nossos impulsos e disposições. Essa energia formadora do carácter não tem senhor a quem obedeça além de si própria; e é graças a ela que algum poderoso impulso pode vir a dominar e unificar o complexo. Isto forma a «força de vontade» - um supremo desejo que se ergue acima dos mais para arrastá-los num mesmo sentido ou para uma dada meta. Se não descobrimos essa meta não alcançaremos a unidade - e seremos simples pedra de que outro homem se utiliza nas suas construções.

Will Durant,in"Filosofia de vida."

Poesia.


Poesia não é para compreender, mas para incorporar.
Entender é parede; procure ser árvore.

Páscoa.




Velhice
é um modo de sentir frio que me assalta
e uma certa acidez.
O modo de um cachorro enrodilhar-se
quando a casa se apaga e as pessoas se deitam.
Divido o dia em três partes:
a primeira pra olhar retratos,
a segunda pra olhar espelhos,
a última e maior delas, pra chorar.
Eu, que fui loura e lírica,
não estou pictural.
Peço a Deus,
em socorro da minha fraqueza,
abrevie esses dias e me conceda um rosto
de velha mãe cansada, de avó boa,
não me importo. Aspiro mesmo
com impaciência e dor.
Porque sempre há quem diga
no meio da minha alegria:
"põe o agasalho"
"tens coragem?"
"por que não vais de óculos?"
Mesmo rosa sequíssima e seu perfume de pó,
quero o que desse modo é doce,
o que de mim diga: assim é.
Pra eu parar de temer e posar pra um retrato,
ganhar uma poesia em pergaminho.

Adélia Prado.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Se Tudo quanto Existe...




Se tudo quanto existe
é lenta evolução,
longa transformação
sem Deus e sem mistério;
se tudo no Universo tem sentido
sem o sopro divino;
se o segredo da vida, a criação,
se explica pela ciência,
e a corrente vital
é também consequência;
se a humana consciência
é simples equação...
— que significa a vocação do eterno,
que quer dizer a aspiração do Céu
e o terror do inferno?

E se acaso é o instinto a lei da vida,
se a verdade
é só necessidade
inexorável, lenta, laboriosa,

que sábia explicação
tem esta frágil, esta inútil rosa?

Fernanda de Castro, in "Asa do Espaço"

Assédio!

A Alma Transforma-se em Sensações .




Eis um efeito que me será contestado, e que só apresento aos homens que, digamos, são bastante infelizes para terem amado com paixão durante longos anos, dum amor contrariado por obstáculos invencíveis:
A vista de tudo o que é extremamente belo, tanto na natureza como nas artes, traz-nos a recordação do que amamos, com a rapidez de um relâmpago. É que, pelo processo do ramo de árvore guarnecido de diamantes da mina de Salzburgo, tudo o que no mundo é belo e sublime faz parte da beleza do que amamos, e esta visão imprevista da felicidade enche-nos os olhos de lágrimas num instante. É assim que o amor do belo e o amor se dão vida um ao outro.
Uma das infelicidades da vida é que a ventura de ver a quem amamos e de lhe falar não deixa recordações distintas. Aparentemente, a alma está demasiado perturbada pelas suas emoções para poder prestar atenção ao que as causa ou as acompanha. Transforma-se na própria sensação. É talvez porque estes prazeres não se podem renovar sempre que queremos, por simples força de vontade, que se renovam com tanta força, desde que um objecto qualquer nos venha tirar da meditação consagrada à mulher que amamos, e lembrar-no-la mais vivamente por meio de uma nova sugestão (o perfume dela, por exemplo).

Stendhal, in "Do Amor"

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Porque




Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.


“No Tempo Dividido e Mar Novo”
Sophia de Mello Breyner Andresen

Páscoa


Coelhinho da páscoa
que trazes pra mim?
Um ovo, dois ovos, três ovos assim.
Um ovo, dois ovos, três ovos assim.

Coelhinho da páscoa
que cor eles tem?
Azul, amarelo, vermelho também.
Azul, amarelo, vermelho também.

Coelhinho da páscoa
que trazes pra mim?
Um ovo, dois ovos, três ovos assim.
Um ovo, dois ovos, três ovos assim.

Coelhinho da páscoa
que cor eles tem?
Azul, amarelo, vermelho também.
Azul, amarelo, vermelho também.

Ninguém é de ninguém.

Literatura

O crime do padre Amaro.

O romance desenrola-se na província de Leiria. Este começa com a apresentação do ambiente - Leiria e a sua vida devota – e das personagens principais – Amaro e Amélia.

Depois, em analepse, volta à infância dos protagonistas para explicar a sua formação moral e educação, já que serão estes factores que irão condicionar e explicar as suas atitudes posteriores.

Amaro fica órfão muito cedo e é entregue ao cuidado de uma protectora que era uma marquesa rica. À morte desta é herdeiro de um legado, mas só na condição de se fazer padre. E lá acaba por fazer, a muito custo, o seminário.

A protecção que pede à família do conde de Ribamar, faculta-lhe um lugar como pároco em Leiria.

É aí que Amaro conhece Amélia e rapidamente se apaixonam. Esta fica grávida, situação que, naturalmente, acarretaria graves consequências para a vida sacerdotal de Amaro. Assim, num acto impensado, este mata o próprio filho, já que Amélia morre após o parto.



Relendo Eça de Queiroz.