Seguidores

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

O corpo.




Ante as portas desgarradas, paradoxal
é a morte: impossível, feito realidade,
acaso predito. Corpo, deus imortal,
para sempre cego e mudo, abandona-te ao livre

ar. Que te transformes e assemelhes à noite.
Tempestade final das sombras, foste, corpo,
respiração com voz, área que habitaste,
vária e discordante, a cada movimento.

E agora que a luz desfalece e não a tocas,
nem por ela és tocado, a palavra deixou
de ser a tua pátria e não mais esfolias

o espaço. Agora, que já nada mudará,
nenhuma eternidade te rescende. A morte
petrifica o frágil espaço que foi teu.

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"

domingo, 23 de novembro de 2008

Estou na lua.



Os lunáticos.

Lua adversa.




Tenho fases, como a lua,
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!

Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...).
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles, in 'Vaga Música'

As nossas luas...


Cada um de nós é uma lua e tem um lado escuro que nunca mostra a ninguém ...

sábado, 22 de novembro de 2008

Nothing else maatters-Mettalica



Por aqui (Antwerpen) a neve já apareceu, um pouco envergonhada mas deu jà sinal de vida.

Um bom fim de semana para todo o mundo.

Não só Vinho!




Não só vinho, mas nele o olvido, deito
Na taça: serei ledo, porque a dita
É ignara. Quem, lembrando
Ou prevendo, sorrira?
Dos brutos, não a vida, senão a alma,
Consigamos, pensando; recolhidos
No impalpável destino
Que não 'spera nem lembra.
Com mão mortal elevo à mortal boca
Em frágil taça o passageiro vinho,
Baços os olhos feitos
Para deixar de ver.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Um bom par de anos depois.



Heroes del silencio

Heroes del silencio.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mecenato.


Fundação EDP assinou Protocolo de Apoio Mecenático com o Centro Ciência Viva de Constância - Parque de Astronomia
A Fundação EDP assinou recentemente um Protocolo de Apoio Mecenático com o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCV), tendo como principal objectivo a promoção da ciência e da cultura, um acordo que permitirá adquirir e colocar em funcionamento o maior telescópio público do país.

Considerando que a Fundação EDP, criada pela EDP – Energias de Portugal, S.A. tem por fins gerais a promoção, o desenvolvimento e o apoio a iniciativas de natureza social, cultural, científica, tecnológica, educativa e ambiental, e que tanto esta instituição como o CCV visam contribuir para superar as insuficiências que existem em Portugal no que respeita ao conhecimento científico e aos meios técnicos para formar os jovens na área da Astronomia, decidiram ambas as entidades estabelecer um protocolo de parceria.

Assim, com a assinatura do Protocolo de Apoio Mecenático a Fundação EDP vai apoiar financeiramente o CCV com uma verba de 56 mil euros (dividida pelos anos 2008 e 2009) com vista à aquisição de um moderno telescópio. Com este equipamento o CCV fica apetrechado para dinamizar múltiplas iniciativas disponibilizando ao público, em particular a jovens estudantes, o acesso a recursos tecnológicos que, para além de simples curiosidades, permitem estabelecer uma relação muito próxima com os métodos modernos de aplicações tecnológicas, nomeadamente na área da Astronomia.

Para além da aquisição do equipamento acima mencionado, a Fundação EDP ajudará a promover as actividades dinamizadas pelo CCV e cederá as instalações do Museu da Electricidade para que ocasionalmente o Centro Ciência Viva lá realize conferências e exposições.

No que concerne ao papel do CCV, esta entidade colaborará na dinamização e organização de eventos de carácter científico e pedagógico no Museu da Electricidade, com o intuito de aumentar a divulgação do tema da sustentabilidade e da biodiversidade.
Por CMC

Lutar com Palavras é a Luta Mais Vã.



Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça.

Carlos Drummind de Andrade, in 'Poesia Completa'

A queda de um anjo.


Relendo Camilo Castelo Branco.

A Queda dum Anjo é o título de um romance satírico de Camilo Castelo Branco, escrito em 1866.

Nele o autor descreve a corrupção de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado de Agra de Freires, um fidalgo minhoto camiliano e o anjo do título, quando se desloca da província para Lisboa.

Uma das mais célebres obras literárias escrita por Camilo Castelo Branco. Descreve de maneira caricatural a vida social e política portuguesa e traz, ainda, um aspecto risível ao tratar, também, do desvirtuamento do Portugal antigo. É uma parábola humorística na qual o protagonista, Calisto, um fidalgo austero e conservador, encarna de maneira satírica o povo português. Ao ser eleito deputado, Calisto vai para Lisboa, onde se deixa corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital. Torna-se amante de uma prima distante, Ifigénia, uma relação reprovada pela sociedade puritana portuguesa. Outra atitude que provoca os princípios portugueses é a transição do personagem da posição política miguelista para a do partido liberal no governo. Ironicamente, a esposa de Calisto, Teodora, uma aldeã prosaica, imita-o na devassidão e é igualmente corrompida. Ao ser ignorada por Calisto, sucumbe ao prazer da modernidade juntamente com um primo interesseiro com quem tem um caso.

A sátira reside na descrição de personagens corruptos de maneira cômica. À princípio, percebe-se a defesa de uma tese, porém, o autor afrouxa essa idéia à medida em que a história vai se configurando. É uma obra que destoa do aspecto ultra-romântico de Camilo Castelo Branco, mas não deixa de pertencer a essa escola literária.

Eça de Queiroz.


Ó tio João,ouça cá!Sempre é certo você dizer por aí,pelos sítios,que el-rei D.Sebastião voltara?
O pitoresco velho apoiou as duas mãos sobre o cajado,o queixo de espalhada barba sobre as mãos,e murmurava,sem nos olhar,como seguindo a percussão dos seus pensamentos:
-Talvez voltasse,talvez não voltasse...Não se sabe quem vai,nem quem vem.A gente vê os corpos,mas não vê as almas que estão dentro.Há corpos de agora com almas de outrora.Corpo é vestido,alma é pessoa...


In a cidade e as serras.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Nada fica.

Winston Churchill.


Gosto de porcos. Os cães olham-nos de baixo, os gatos de cima. Os porcos olham-nos de igual para igual .

Uma Filosofia Toda




As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vicios.

Cada Cabeça, Cada Sentença



A ideia de ninguém ter razão (haja ou não haja pão) é portuguesíssima. Sobre qualquer assunto, Portugal garante-nos sempre pelo menos dez milhões de razões, cada uma com a sua diferençazinha, cada uma com a sua insolenciazeca do "eu cá é que sei". Não há neste abençoado território um único sujeito, seja eu ou ele cego, surdo e mudo, que não reclame a sua inobjectivável subjectividade. Lá diz o raio do povo, por tratar-se da única coisa em que o povo todo está de acordo, «Cada cabeça, cada sentença». Basta fazer-se uma reunião ou um júri, um governo ou uma comissão, para assistir-se ao milagre da multiplicação das opiniões.

Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'

Violência doméstica.

O Mirante - diário online - Sociedade - Violência doméstica já matou 43 mulheres este ano

Brincar e Pesar o Sol.




na Semana da Cultura Científica em Constância
De 25 a 30 de Novembro De 25 a 30 de Novembro decorre em Constância a Semana da Cultura Científica, uma organização da Câmara Municipal através do Centro Ciência Viva – Parque de Astronomia (CCV) a qual decorrerá no Alto de Santa Bárbara, nas instalações do Centro Ciência Viva de Constância.

Deste modo, durante os dias do evento decorrerão múltiplas actividades denominadas Brincando com o Sol: exploração de módulos de energia solar (fotovoltaica); pesar o Sol; observações do Sol no Laboratório de Heliofísica.

As actividades estão à disposição do público em geral, bastando para isso realizar uma deslocação ao CCV.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia, através do telefone 249 739 066 ou via correio electrónico para info@constancia.cienciaviva.pt

Por CMC

terça-feira, 18 de novembro de 2008