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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

2009 - Ano Internacional da Astronomia





Quase todos os dias do calendário são dias de qualquer coisa, geralmente coisas que são consideradas boas: do não fumador, da árvore, da água, do Sol, do campo, do clima, do comércio justo, do sobreiro e da cortiça, do guarda florestal, etc. A maior parte deles é apadrinhada pela UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) e muitos são considerados como iniciativas daquele organismo que estabelece os dias internacionais e os dias mundiais. Em todos os casos, o objectivo é a promoção de iniciativas que motivem os cidadãos a reflectir sobre o tema proposto, esperando-se que, com o decorrer dos anos, se melhorem as consciências e os contributos para a melhoria da qualidade de vida dos povos em geral.



Em 2009 completam-se 400 anos sobre as primeiras observações do céu – através de telescópios – realizadas pelo sábio italiano Galileu Galilei. Por isso, e para comemorar o facto, de que resultaram efeitos extraordinários na evolução do conhecimento do Universo e das ciências em geral, o governo italiano solicitou à UNESCO – em 2004 – que proclamasse o ano de 2009 como Ano Internacional da Astronomia. Em Dezembro de 2007 aquela agência das Nações Unidas adoptou a resolução proposta, considerando que “…as observações astronómicas têm implicações profundas no desenvolvimento da ciência, filosofia, religião, cultura e concepção geral do Universo” e ainda que “a UNESCO pode desempenhar um papel crucial na formação da opinião pública, no sentido de incrementar o seu conhecimento da importância da Astronomia para o desenvolvimento social…”.



Em Portugal, ainda em 2007, a Sociedade Portuguesa de Astronomia iniciou a organização das actividades para o 2009 – Ano Internacional da Astronomia, criando uma comissão que concebeu um programa e estabeleceu contactos com entidades, autarquias, editoras, companhias de teatro, orquestras e outras instituições para sugerir o seu envolvimento em iniciativas relacionadas com o tema e com os objectivos.



Na verdade, as actividades já se iniciaram, particularmente em escolas e instituições que apoiam o ensino. Os Museus de Ciência das Universidades de Coimbra e de Lisboa e o Centro Ciência Viva de Constância estão envolvidos na concretização de um projecto designado Descobre o teu Céu e que, para além de incentivar à observação do céu e à pesquisa e criação de histórias associadas às constelações, promove também o intercâmbio com vários países de língua portuguesa. Para além disso, o Centro Ciência Viva de Constância inaugurará, em Março, o maior telescópio público a funcionar em Portugal, o que facilitará as condições de acolhimento, em Julho, das Olimpíadas de Astronomia, evento que juntará participantes de todo o país em provas teóricas e práticas de Astronomia.



Naturalmente, da movimentação cultural que o Ano Internacional da Astronomia provocará em todo o mundo são esperados inúmeros actos e reflexões sobre a presença e importância da Astronomia nas culturas dos povos, ao longo dos séculos, em diversas regiões da Terra.



Mercê de apoio mecenático da Fundação EDP, o Centro Ciência Viva de Constância vai ser equipado com o maior telescópio público a funcionar em Portugal. A inauguração vai ocorrer a 20 de Março – data do 5º aniversário do CCV e em pleno 2009 – Ano Internacional da Astronomia –, embora a entrada em funcionamento experimental esteja prevista já para o mês de Janeiro.

Este potente telescópio servirá – para além de suporte às normais actividades do CCV – para a concretização de encontros de astrónomos amadores e profissionais do país e de outras nacionalidades, dos quais se destacam as Olimpíadas de Astronomia.



Dadas as suas dimensões, características e modos de controlo, o telescópio agora em fase de aquisição estabelece um meio-termo entre os melhores equipamentos utilizados por amadores e os grandes e sofisticados telescópios que equipam os maiores observatórios mundiais. De facto, as duas características ópticas mais importantes de um telescópio são o diâmetro do espelho e a sua distância focal, dado que a primeira determina a quantidade de luz que, vinda de um objecto, o telescópio pode captar, enquanto a segunda está directamente relacionada com o número de vezes que se pode aumentar a imagem, o que equivale a vermos o objecto celeste como se estivéssemos mais perto dele, cem, duzentas ou quinhentas vezes. No caso presente, o diâmetro do espelho ultrapassa meio metro e a sua curvatura é – de todos os tipos actualmente utilizados – a que produz imagens mais nítidas, as quais se formam a cerca de três metros e meio do espelho principal. Como tal distância focal implicaria uma estrutura física de grandes dimensões, a qual só poderia ser abrigada por um cúpula de diâmetro elevado, escolheu-se um tipo de telescópio em que um sistema óptico complexo comprime a distância focal de 3,5 metros para apenas 1,2 metros.



Outro aspecto determinante da qualidade de um telescópio é a estrutura (também designada montagem) onde assenta todo o sistema óptico, nomeadamente no que respeita à sua estabilidade e à suavidade dos seus movimentos. Por isso se optou por uma das melhores montagens, baseadas em sistemas de rolamentos, rodas dentadas e parafusos sem-fim movimentados por motores passo-a-passo alimentados por osciladores de frequência controlável. Assim, o telescópio pode ser apontado para qualquer região do céu e, compensando o movimento de rotação da Terra, seguir suavemente o objecto celeste em observação, permitindo a sua visibilidade ou a captura de imagens durante o tempo necessário.



O sistema electrónico de controlo do telescópio pode ser operado directamente pelo observador ou através de um computador, podendo as imagens dos objectos celestes ser observadas na ocular, num ecrã ou mesmo ser projectadas.



Naturalmente, à satisfação de possuir um moderno equipamento, o Centro Ciência Viva de Constância junta a responsabilidade assumida no protocolo estabelecido com a Fundação EDP de “contribuir para a cultura e conhecimento científico dos cidadãos, em particular dos jovens estudantes”, desenvolvendo acções nas instalações próprias e em outros lugares em que tal se revele importante e realizável, nomeadamente no Museu de Electricidade, em Lisboa. Para além da concessão do equipamento, a Fundação EDP garante o acompanhamento das actividades do CCV e a sua divulgação pelos mecanismos próprios.

Por CMC

Ai se sesse.

Escrever.


Uma boa frase é como uma boa anedota: dá brilho a quem a inventa e sobra ainda para quem a repete .

(Vergílio Ferreira.)

Strip-tease Secular !




Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Calar!


Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar, do que o silêncio...

Há momentos que...




Há momentos em que do fogo sobe para a noite
há momentos que resulta tão difícil chegarmos a um
sentimento.
Descubro uma figura que já não
sei seguir. Há momentos
eu vejo o que se senta à minha frente o amável corte
de cabelo o severo intento tomado como correcto
rosto onde a plenitude era possível. Rosto onde o
passado é a tarde de verão a pequena cidade onde o
sol pode dizer-se cai no campo rosto de passados ou
uma tarde de verão para ter tempo.

João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir"

Obstáculos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sinto




Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'

Preguiça.


O preguiçoso é com um relógio sem corda.

Respeito...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Primeiro beijo.



Rui Veloso.

Bem!


Dever-se-ia pensar mais em fazer o bem do que em estar bem: e assim também se acabaria por estar melhor.

Reis Magos.





Pequenino está deitado
Em palhinhas, Deus infante
Ai! Não há no céu estrelado
Astro de oiro mais brilhante
Correi pastorinhos
Depressa a Belém
Co’a alma em carinhos
Por Deus nosso bem
Oh! Levai-lhe cordeirinhos
Todos brancos de candura,
De lã branca, com arminhos,
De olhos meigos de ternura.
Mais que a estrela do Oriente,
Mais que o oiro dos Reis Magos,
Jesus preza o inocente
E dos pobres quer afagos.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A memória é um silêncio que espera.


A Memória é um Silêncio que Espera
O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.

(Ana Hatherly)

Velhices.



Bordão em punho, roupa remendada,
Olhar cansado, sempre rente ao chão,
És um farrapo e já nos deste o pão,
Hoje porém, ninguém já lembra nada…

Coluna vertebral encorcovada,
Caminha, sem qualquer aspiração!
Pesam-lhe os anos, mais a ingratidão…
Velhice… vives tão abandonada!...

Conserva, embora roto, o seu chapéu…
Não pode comprar outro que é tão caro!
A reforma?!... não dá para comer!...

Será que pode acreditar no céu?...
Na terra, estando tão ao desamparo,
O remédio melhor será… morrer.


(Francisco Medeiros Quarta)

Literatura.



Pilares da terra volume-II

O segundo volume tem como fio condutor a história da construção de uma catedral gótica em Kingsbridge, Inglaterra, no século XII. As personagens enredam-se em uma trama repleta de ambição, busca pelo poder e guerras, em uma detalhada reconstituição de época.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Coroemo-nos Pois uns para os Outros




Tuas, não minhas, teço estas grinaldas,
Que em minha fronte renovadas ponho.
Para mim tece as tuas,
Que as minhas eu não vejo.
Se não pesar na vida melhor gozo
Que o vermo-nos, vejamo-nos, e, vendo,
Surdos conciliemos
O insubsistente surdo.
Coroemo-nos pois uns para os outros,
E brindemos uníssonos à sorte
Que houver, até que chegue
A hora do barqueiro.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Esperança.

Amizade!


A amizade sem confiança é uma flor sem perfume.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Mário Sá Carneiro.


Como Eu não Possuo

Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.

Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!

Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.

Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...

Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...

* * * * *

Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emmaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e côr!...

Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...

Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fôsse aquêles seios transtornados,
Se fôsse aquêle sexo aglutinante...

De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destrôço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.


in 'Dispersão'