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domingo, 11 de janeiro de 2009

Sofro de não te Ver .




Sofro
de não te ver,
de perder
os teus gestos
leves, lestos,
a tua fala
que o sorriso embala,
a tua alma
límpida, tão calma...

Sofro
de te perder,
durante dias que parecem meses,
durante meses que parecem anos...

Quem vem regar o meu jardim de enganos,
tratar das árvores de tenrinhos ramos?

Saúl Dias, in "Sangue (Inéditos)"

sábado, 10 de janeiro de 2009

Hotel Califórnia.




Eagles.

Segredos.


Um beijo é um segredo que se diz na boca e não no ouvido .

Sugar e ser sugado pelo amor


Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.


A língua lambe

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta; a língua lavra
certo oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.


A castidade com que abria as coxas

A castidade com que abria as coxas
e reluzia a sua flora brava.
Na mansuetude das ovelhas mochas,
e tão estreita, como se alargava.

Ah, coito, coito, morte de tão vida,
sepultura na grama, sem dizeres.
Em minha ardente substância esvaída,
eu não era ninguém e era mil seres

em mim ressuscitados. Era Adão,
primeiro gesto nu ante a primeira
negritude de corpo feminino.

Roupa e tempo jaziam pelo chão.
E nem restava mais o mundo, à beira
dessa moita orvalhada, nem destino.


Mimosa boca errante

Mimosa boca errante
à superfície até achar o ponto
em que te apraz colher o fruto em fogo
que não será comido mas fruído
até se lhe esgotar o sumo cálido
e ele deixar-te, ou o deixares, flácido,
mas rorejando a baba de delícias
que fruto e boca se permitem, dádiva.

Boca mimosa e sábia,
impaciente de sugar e clausurar
inteiro, em ti, o talo rígido
mas varado de gozo ao confinar-se
no limitado espaço que ofereces
a seu volume e jato apaixonados
como podes tornar-te, assim aberta,
recurvo céu infindo e sepultura?

Mimosa boca e santa,
que devagar vais desfolhando a líquida
espuma do prazer em rito mudo,
lenta-lambente-lambilusamente
ligada à forma ereta qual se fossem
a boca o próprio fruto, e o fruto a boca,
oh chega, chega, chega de beber-me,
de matar-me, e, na morte, de viver-me.

Já sei a eternidade: é puro orgasmo.


Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficaste de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

Carlos Dummond de Andrade

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

2009 - Ano Internacional da Astronomia





Quase todos os dias do calendário são dias de qualquer coisa, geralmente coisas que são consideradas boas: do não fumador, da árvore, da água, do Sol, do campo, do clima, do comércio justo, do sobreiro e da cortiça, do guarda florestal, etc. A maior parte deles é apadrinhada pela UNESCO (Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas) e muitos são considerados como iniciativas daquele organismo que estabelece os dias internacionais e os dias mundiais. Em todos os casos, o objectivo é a promoção de iniciativas que motivem os cidadãos a reflectir sobre o tema proposto, esperando-se que, com o decorrer dos anos, se melhorem as consciências e os contributos para a melhoria da qualidade de vida dos povos em geral.



Em 2009 completam-se 400 anos sobre as primeiras observações do céu – através de telescópios – realizadas pelo sábio italiano Galileu Galilei. Por isso, e para comemorar o facto, de que resultaram efeitos extraordinários na evolução do conhecimento do Universo e das ciências em geral, o governo italiano solicitou à UNESCO – em 2004 – que proclamasse o ano de 2009 como Ano Internacional da Astronomia. Em Dezembro de 2007 aquela agência das Nações Unidas adoptou a resolução proposta, considerando que “…as observações astronómicas têm implicações profundas no desenvolvimento da ciência, filosofia, religião, cultura e concepção geral do Universo” e ainda que “a UNESCO pode desempenhar um papel crucial na formação da opinião pública, no sentido de incrementar o seu conhecimento da importância da Astronomia para o desenvolvimento social…”.



Em Portugal, ainda em 2007, a Sociedade Portuguesa de Astronomia iniciou a organização das actividades para o 2009 – Ano Internacional da Astronomia, criando uma comissão que concebeu um programa e estabeleceu contactos com entidades, autarquias, editoras, companhias de teatro, orquestras e outras instituições para sugerir o seu envolvimento em iniciativas relacionadas com o tema e com os objectivos.



Na verdade, as actividades já se iniciaram, particularmente em escolas e instituições que apoiam o ensino. Os Museus de Ciência das Universidades de Coimbra e de Lisboa e o Centro Ciência Viva de Constância estão envolvidos na concretização de um projecto designado Descobre o teu Céu e que, para além de incentivar à observação do céu e à pesquisa e criação de histórias associadas às constelações, promove também o intercâmbio com vários países de língua portuguesa. Para além disso, o Centro Ciência Viva de Constância inaugurará, em Março, o maior telescópio público a funcionar em Portugal, o que facilitará as condições de acolhimento, em Julho, das Olimpíadas de Astronomia, evento que juntará participantes de todo o país em provas teóricas e práticas de Astronomia.



Naturalmente, da movimentação cultural que o Ano Internacional da Astronomia provocará em todo o mundo são esperados inúmeros actos e reflexões sobre a presença e importância da Astronomia nas culturas dos povos, ao longo dos séculos, em diversas regiões da Terra.



Mercê de apoio mecenático da Fundação EDP, o Centro Ciência Viva de Constância vai ser equipado com o maior telescópio público a funcionar em Portugal. A inauguração vai ocorrer a 20 de Março – data do 5º aniversário do CCV e em pleno 2009 – Ano Internacional da Astronomia –, embora a entrada em funcionamento experimental esteja prevista já para o mês de Janeiro.

Este potente telescópio servirá – para além de suporte às normais actividades do CCV – para a concretização de encontros de astrónomos amadores e profissionais do país e de outras nacionalidades, dos quais se destacam as Olimpíadas de Astronomia.



Dadas as suas dimensões, características e modos de controlo, o telescópio agora em fase de aquisição estabelece um meio-termo entre os melhores equipamentos utilizados por amadores e os grandes e sofisticados telescópios que equipam os maiores observatórios mundiais. De facto, as duas características ópticas mais importantes de um telescópio são o diâmetro do espelho e a sua distância focal, dado que a primeira determina a quantidade de luz que, vinda de um objecto, o telescópio pode captar, enquanto a segunda está directamente relacionada com o número de vezes que se pode aumentar a imagem, o que equivale a vermos o objecto celeste como se estivéssemos mais perto dele, cem, duzentas ou quinhentas vezes. No caso presente, o diâmetro do espelho ultrapassa meio metro e a sua curvatura é – de todos os tipos actualmente utilizados – a que produz imagens mais nítidas, as quais se formam a cerca de três metros e meio do espelho principal. Como tal distância focal implicaria uma estrutura física de grandes dimensões, a qual só poderia ser abrigada por um cúpula de diâmetro elevado, escolheu-se um tipo de telescópio em que um sistema óptico complexo comprime a distância focal de 3,5 metros para apenas 1,2 metros.



Outro aspecto determinante da qualidade de um telescópio é a estrutura (também designada montagem) onde assenta todo o sistema óptico, nomeadamente no que respeita à sua estabilidade e à suavidade dos seus movimentos. Por isso se optou por uma das melhores montagens, baseadas em sistemas de rolamentos, rodas dentadas e parafusos sem-fim movimentados por motores passo-a-passo alimentados por osciladores de frequência controlável. Assim, o telescópio pode ser apontado para qualquer região do céu e, compensando o movimento de rotação da Terra, seguir suavemente o objecto celeste em observação, permitindo a sua visibilidade ou a captura de imagens durante o tempo necessário.



O sistema electrónico de controlo do telescópio pode ser operado directamente pelo observador ou através de um computador, podendo as imagens dos objectos celestes ser observadas na ocular, num ecrã ou mesmo ser projectadas.



Naturalmente, à satisfação de possuir um moderno equipamento, o Centro Ciência Viva de Constância junta a responsabilidade assumida no protocolo estabelecido com a Fundação EDP de “contribuir para a cultura e conhecimento científico dos cidadãos, em particular dos jovens estudantes”, desenvolvendo acções nas instalações próprias e em outros lugares em que tal se revele importante e realizável, nomeadamente no Museu de Electricidade, em Lisboa. Para além da concessão do equipamento, a Fundação EDP garante o acompanhamento das actividades do CCV e a sua divulgação pelos mecanismos próprios.

Por CMC

Ai se sesse.

Escrever.


Uma boa frase é como uma boa anedota: dá brilho a quem a inventa e sobra ainda para quem a repete .

(Vergílio Ferreira.)

Strip-tease Secular !




Eu sou do tempo em que a mulher
nem mostrava o tornozelo;
que apelo!

Depois, já rapazinho
vi as primeiras pernas de mulher
por sob a curta saia;
que gandaia!

A moda avança,
a saia sobe mais,
mostrando já joelhos
lupercais!

As fazendas com os anos,
se fazem mais leves,
e surgem figurinhas, pelas ruas,
mostrando as lindas formas quase nuas.

E a mania do sport
trouxe o short.

O short amigo,
que trouxe consigo,
o maiô de duas peças.

E logo, de audácia em audácia,
a natureza, ganhando terreno,
sugeriu o biquini,
o maiô, de pequeno, ficando mais pequeno
não se sabendo mais,
até onde um corpo branco,
pode ficar moreno.

Deus, a graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Calar!


Por vezes a palavra representa um modo mais acertado de se calar, do que o silêncio...

Há momentos que...




Há momentos em que do fogo sobe para a noite
há momentos que resulta tão difícil chegarmos a um
sentimento.
Descubro uma figura que já não
sei seguir. Há momentos
eu vejo o que se senta à minha frente o amável corte
de cabelo o severo intento tomado como correcto
rosto onde a plenitude era possível. Rosto onde o
passado é a tarde de verão a pequena cidade onde o
sol pode dizer-se cai no campo rosto de passados ou
uma tarde de verão para ter tempo.

João Miguel Fernandes Jorge, in "Direito de Mentir"

Obstáculos.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Sinto




Sinto
que em minhas veias arde
sangue,
chama vermelha que vai cozendo
minhas paixões no coração.

Mulheres, por favor,
derramai água:
quando tudo se queima,
só as fagulhas voam
ao vento.

Federico García Lorca, in 'Poemas Esparsos'

Preguiça.


O preguiçoso é com um relógio sem corda.

Respeito...

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Primeiro beijo.



Rui Veloso.

Bem!


Dever-se-ia pensar mais em fazer o bem do que em estar bem: e assim também se acabaria por estar melhor.

Reis Magos.





Pequenino está deitado
Em palhinhas, Deus infante
Ai! Não há no céu estrelado
Astro de oiro mais brilhante
Correi pastorinhos
Depressa a Belém
Co’a alma em carinhos
Por Deus nosso bem
Oh! Levai-lhe cordeirinhos
Todos brancos de candura,
De lã branca, com arminhos,
De olhos meigos de ternura.
Mais que a estrela do Oriente,
Mais que o oiro dos Reis Magos,
Jesus preza o inocente
E dos pobres quer afagos.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

A memória é um silêncio que espera.


A Memória é um Silêncio que Espera
O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.

(Ana Hatherly)

Velhices.



Bordão em punho, roupa remendada,
Olhar cansado, sempre rente ao chão,
És um farrapo e já nos deste o pão,
Hoje porém, ninguém já lembra nada…

Coluna vertebral encorcovada,
Caminha, sem qualquer aspiração!
Pesam-lhe os anos, mais a ingratidão…
Velhice… vives tão abandonada!...

Conserva, embora roto, o seu chapéu…
Não pode comprar outro que é tão caro!
A reforma?!... não dá para comer!...

Será que pode acreditar no céu?...
Na terra, estando tão ao desamparo,
O remédio melhor será… morrer.


(Francisco Medeiros Quarta)

Literatura.



Pilares da terra volume-II

O segundo volume tem como fio condutor a história da construção de uma catedral gótica em Kingsbridge, Inglaterra, no século XII. As personagens enredam-se em uma trama repleta de ambição, busca pelo poder e guerras, em uma detalhada reconstituição de época.