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sábado, 22 de novembro de 2008

Nothing else maatters-Mettalica



Por aqui (Antwerpen) a neve já apareceu, um pouco envergonhada mas deu jà sinal de vida.

Um bom fim de semana para todo o mundo.

Não só Vinho!




Não só vinho, mas nele o olvido, deito
Na taça: serei ledo, porque a dita
É ignara. Quem, lembrando
Ou prevendo, sorrira?
Dos brutos, não a vida, senão a alma,
Consigamos, pensando; recolhidos
No impalpável destino
Que não 'spera nem lembra.
Com mão mortal elevo à mortal boca
Em frágil taça o passageiro vinho,
Baços os olhos feitos
Para deixar de ver.

Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Um bom par de anos depois.



Heroes del silencio

Heroes del silencio.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Mecenato.


Fundação EDP assinou Protocolo de Apoio Mecenático com o Centro Ciência Viva de Constância - Parque de Astronomia
A Fundação EDP assinou recentemente um Protocolo de Apoio Mecenático com o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCV), tendo como principal objectivo a promoção da ciência e da cultura, um acordo que permitirá adquirir e colocar em funcionamento o maior telescópio público do país.

Considerando que a Fundação EDP, criada pela EDP – Energias de Portugal, S.A. tem por fins gerais a promoção, o desenvolvimento e o apoio a iniciativas de natureza social, cultural, científica, tecnológica, educativa e ambiental, e que tanto esta instituição como o CCV visam contribuir para superar as insuficiências que existem em Portugal no que respeita ao conhecimento científico e aos meios técnicos para formar os jovens na área da Astronomia, decidiram ambas as entidades estabelecer um protocolo de parceria.

Assim, com a assinatura do Protocolo de Apoio Mecenático a Fundação EDP vai apoiar financeiramente o CCV com uma verba de 56 mil euros (dividida pelos anos 2008 e 2009) com vista à aquisição de um moderno telescópio. Com este equipamento o CCV fica apetrechado para dinamizar múltiplas iniciativas disponibilizando ao público, em particular a jovens estudantes, o acesso a recursos tecnológicos que, para além de simples curiosidades, permitem estabelecer uma relação muito próxima com os métodos modernos de aplicações tecnológicas, nomeadamente na área da Astronomia.

Para além da aquisição do equipamento acima mencionado, a Fundação EDP ajudará a promover as actividades dinamizadas pelo CCV e cederá as instalações do Museu da Electricidade para que ocasionalmente o Centro Ciência Viva lá realize conferências e exposições.

No que concerne ao papel do CCV, esta entidade colaborará na dinamização e organização de eventos de carácter científico e pedagógico no Museu da Electricidade, com o intuito de aumentar a divulgação do tema da sustentabilidade e da biodiversidade.
Por CMC

Lutar com Palavras é a Luta Mais Vã.



Lutar com palavras é a luta mais vã. Entanto lutamos mal rompe a manhã. São muitas, eu pouco. Algumas, tão fortes como o javali. Não me julgo louco. Se o fosse, teria poder de encantá-las. Mas lúcido e frio, apareço e tento apanhar algumas para meu sustento num dia de vida. Deixam-se enlaçar, tontas à carícia e súbito fogem e não há ameaça e nem há sevícia que as traga de novo ao centro da praça.

Carlos Drummind de Andrade, in 'Poesia Completa'

A queda de um anjo.


Relendo Camilo Castelo Branco.

A Queda dum Anjo é o título de um romance satírico de Camilo Castelo Branco, escrito em 1866.

Nele o autor descreve a corrupção de Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado de Agra de Freires, um fidalgo minhoto camiliano e o anjo do título, quando se desloca da província para Lisboa.

Uma das mais célebres obras literárias escrita por Camilo Castelo Branco. Descreve de maneira caricatural a vida social e política portuguesa e traz, ainda, um aspecto risível ao tratar, também, do desvirtuamento do Portugal antigo. É uma parábola humorística na qual o protagonista, Calisto, um fidalgo austero e conservador, encarna de maneira satírica o povo português. Ao ser eleito deputado, Calisto vai para Lisboa, onde se deixa corromper pelo luxo e pelo prazer que imperam na capital. Torna-se amante de uma prima distante, Ifigénia, uma relação reprovada pela sociedade puritana portuguesa. Outra atitude que provoca os princípios portugueses é a transição do personagem da posição política miguelista para a do partido liberal no governo. Ironicamente, a esposa de Calisto, Teodora, uma aldeã prosaica, imita-o na devassidão e é igualmente corrompida. Ao ser ignorada por Calisto, sucumbe ao prazer da modernidade juntamente com um primo interesseiro com quem tem um caso.

A sátira reside na descrição de personagens corruptos de maneira cômica. À princípio, percebe-se a defesa de uma tese, porém, o autor afrouxa essa idéia à medida em que a história vai se configurando. É uma obra que destoa do aspecto ultra-romântico de Camilo Castelo Branco, mas não deixa de pertencer a essa escola literária.

Eça de Queiroz.


Ó tio João,ouça cá!Sempre é certo você dizer por aí,pelos sítios,que el-rei D.Sebastião voltara?
O pitoresco velho apoiou as duas mãos sobre o cajado,o queixo de espalhada barba sobre as mãos,e murmurava,sem nos olhar,como seguindo a percussão dos seus pensamentos:
-Talvez voltasse,talvez não voltasse...Não se sabe quem vai,nem quem vem.A gente vê os corpos,mas não vê as almas que estão dentro.Há corpos de agora com almas de outrora.Corpo é vestido,alma é pessoa...


In a cidade e as serras.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Nada fica.

Winston Churchill.


Gosto de porcos. Os cães olham-nos de baixo, os gatos de cima. Os porcos olham-nos de igual para igual .

Uma Filosofia Toda




As bolas de sabão que esta criança
Se entretém a largar de uma palhinha
São translucidamente uma filosofia toda.
Claras, inúteis e passageiras como a Natureza,
Amigas dos olhos como as cousas,
São aquilo que são
Com uma precisão redondinha e aérea,
E ninguém, nem mesmo a criança que as deixa,
Pretende que elas são mais do que parecem ser.
Algumas mal se vêem no ar lúcido.
São como a brisa que passa e mal toca nas flores
E que só sabemos que passa
Porque qualquer cousa se aligeira em nós
E aceita tudo mais nitidamente.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Vicios.

Cada Cabeça, Cada Sentença



A ideia de ninguém ter razão (haja ou não haja pão) é portuguesíssima. Sobre qualquer assunto, Portugal garante-nos sempre pelo menos dez milhões de razões, cada uma com a sua diferençazinha, cada uma com a sua insolenciazeca do "eu cá é que sei". Não há neste abençoado território um único sujeito, seja eu ou ele cego, surdo e mudo, que não reclame a sua inobjectivável subjectividade. Lá diz o raio do povo, por tratar-se da única coisa em que o povo todo está de acordo, «Cada cabeça, cada sentença». Basta fazer-se uma reunião ou um júri, um governo ou uma comissão, para assistir-se ao milagre da multiplicação das opiniões.

Miguel Esteves Cardoso, in 'A Causa das Coisas'

Violência doméstica.

O Mirante - diário online - Sociedade - Violência doméstica já matou 43 mulheres este ano

Brincar e Pesar o Sol.




na Semana da Cultura Científica em Constância
De 25 a 30 de Novembro De 25 a 30 de Novembro decorre em Constância a Semana da Cultura Científica, uma organização da Câmara Municipal através do Centro Ciência Viva – Parque de Astronomia (CCV) a qual decorrerá no Alto de Santa Bárbara, nas instalações do Centro Ciência Viva de Constância.

Deste modo, durante os dias do evento decorrerão múltiplas actividades denominadas Brincando com o Sol: exploração de módulos de energia solar (fotovoltaica); pesar o Sol; observações do Sol no Laboratório de Heliofísica.

As actividades estão à disposição do público em geral, bastando para isso realizar uma deslocação ao CCV.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar o Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia, através do telefone 249 739 066 ou via correio electrónico para info@constancia.cienciaviva.pt

Por CMC

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Trocar as voltas á autoridade...

Esta é a Forma Fêmea




Esta é a forma fêmea:
dos pés à cabeça dela exala um halo divino,
ela atrai com ardente
e irrecusável poder de atração,
eu me sinto sugado pelo seu respirar
como se eu não fosse mais
que um indefeso vapor
e, a não ser ela e eu, tudo se põe de lado
— artes, letras, tempos, religiões,
o que na terra é sólido e visível,
e o que do céu se esperava
e do inferno se temia,
tudo termina:
estranhos filamentos e renovos
incontroláveis vêm à tona dela,
e a acção correspondente
é igualmente incontrolável;
cabelos, peitos, quadris,
curvas de pernas, displicentes mãos caindo
todas difusas, e as minhas também difusas,
maré de influxo e influxo de maré,
carne de amor a inturgescer de dor
deliciosamente,
inesgotáveis jactos límpidos de amor
quentes e enormes, trémula geléia
de amor, alucinado
sopro e sumo em delírio;
noite de amor de noivo
certa e maciamente laborando
no amanhecer prostrado,
a ondular para o presto e proveitoso dia,
perdida na separação do dia
de carne doce e envolvente.

Eis o núcleo — depois vem a criança
nascida de mulher,
vem o homem nascido de mulher;
eis o banho de origem,
a emergência do pequeno e do grande,
e de novo a saída.

Não se envergonhem, mulheres:
é de vocês o privilégio de conterem
os outros e darem saída aos outros
— vocês são os portões do corpo
e são os portões da alma.

A fêmea contém todas
as qualidades e a graça de as temperar,
está no lugar dela e movimenta-se
em perfeito equilíbrio,
ela é todas as coisas devidamente veladas,
é ao mesmo tempo passiva e activa,
e está no mundo para dar ao mundo
tanto filhos como filhas,
tanto filhas como filhos.
Assim como na Natureza eu vejo
minha alma refletida,
assim como através de um nevoeiro,
eu vejo Uma de indizível plenitude
e beleza e saúde,
com a cabeça inclinada e os braços
cruzados sobre o peito
— a Fêmea eu vejo.

Walt Whitman, in "Leaves of Grass"

Isto é que vai uma molenga!


O Mirante - diário online - Cavaleiro Andante - Estudantes manifestam-se sem saber ao que vão!

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Se um Dia a Juventude Voltasse .




se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos'

Gabriel García Márquez.


Descobri que minha obsessão por cada coisa em seu lugar, cada assunto em seu tempo, cada palavra em seu estilo, não era o prêmio merecido de uma mente em ordem, mas, pelo contrário, todo um sistema de simulação inventado por mim para ocultar a desordem de minha natureza. Descobri que não sou disciplinado por virtude, e sim como reação contra a minha negligência; que pareço generoso para encobrir minha mesquinhez, que me faço passar por prudente quando na verdade sou desconfiado e sempre penso o pior, que sou conciliador para não sucumbir às minhas cóleras reprimidas, que só sou pontual para que ninguém saiba como pouco me importa o tempo alheio. Descobri, enfim, que o amor não é um estado da alma e sim um signo do Zodíaco.

(Memórias de Minhas Putas Tristes.