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quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
terça-feira, 6 de janeiro de 2009
Bem!
Reis Magos.
Pequenino está deitado
Em palhinhas, Deus infante
Ai! Não há no céu estrelado
Astro de oiro mais brilhante
Correi pastorinhos
Depressa a Belém
Co’a alma em carinhos
Por Deus nosso bem
Oh! Levai-lhe cordeirinhos
Todos brancos de candura,
De lã branca, com arminhos,
De olhos meigos de ternura.
Mais que a estrela do Oriente,
Mais que o oiro dos Reis Magos,
Jesus preza o inocente
E dos pobres quer afagos.
segunda-feira, 5 de janeiro de 2009
A memória é um silêncio que espera.
A Memória é um Silêncio que Espera
O património do silêncio. Os livros acumulam-se pela casa. Cobrem as paredes, enchem as prateleiras dos armários. Aguardam-nos calados com suas páginas apertadas onde o pó e a humidade se infiltram. Disciplinados, exibem apenas o seu dorso curvo coberto de pele, ou então magro, estreito, de papel. A memória é um silêncio que espera, uma provação da paciência.
(Ana Hatherly)
Velhices.
Bordão em punho, roupa remendada,
Olhar cansado, sempre rente ao chão,
És um farrapo e já nos deste o pão,
Hoje porém, ninguém já lembra nada…
Coluna vertebral encorcovada,
Caminha, sem qualquer aspiração!
Pesam-lhe os anos, mais a ingratidão…
Velhice… vives tão abandonada!...
Conserva, embora roto, o seu chapéu…
Não pode comprar outro que é tão caro!
A reforma?!... não dá para comer!...
Será que pode acreditar no céu?...
Na terra, estando tão ao desamparo,
O remédio melhor será… morrer.
(Francisco Medeiros Quarta)
Literatura.
domingo, 4 de janeiro de 2009
Coroemo-nos Pois uns para os Outros
Tuas, não minhas, teço estas grinaldas,
Que em minha fronte renovadas ponho.
Para mim tece as tuas,
Que as minhas eu não vejo.
Se não pesar na vida melhor gozo
Que o vermo-nos, vejamo-nos, e, vendo,
Surdos conciliemos
O insubsistente surdo.
Coroemo-nos pois uns para os outros,
E brindemos uníssonos à sorte
Que houver, até que chegue
A hora do barqueiro.
Ricardo Reis, in "Odes"
Heterónimo de Fernando Pessoa
sábado, 3 de janeiro de 2009
Mário Sá Carneiro.
Como Eu não Possuo
Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.
Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...
Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
* * * * *
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emmaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e côr!...
Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fôsse aquêles seios transtornados,
Se fôsse aquêle sexo aglutinante...
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destrôço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.
in 'Dispersão'
Pensamento á solta.
sexta-feira, 2 de janeiro de 2009
Imaginação.
A sopa dos pobres.
À mesa
O que resta
São côdeas
Do resto
-
Côdeas
De fome
Sem um
Protesto
-
Alguns
Engolem
O pão
E a fome
-
Outros
Ignoram
A ira
Que sobe
-
Por aí
Calada
A dor
E a raiva
-
Nos olhos
Calada
Essa dor
Esmaga
-
Talvez
Notícia
A morte
No esgoto
-
Se for
Macabra
A foto
Do morto
-
Apenas
Um número
Há-de
Restar
-
Passou
Por aqui
Vagou
O lugar
-
(Poema de António Manuel Ribeiro)
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
O ano passado.
O ano passado não passou,
continua incessantemente.
Em vão marco novos encontros.
Todos são encontros passados.
As ruas, sempre do ano passado,
e as pessoas, também as mesmas,
com iguais gestos e falas.
O céu tem exatamente
sabidos tons de amanhecer,
de sol pleno, de descambar
como no repetidíssimo ano passado.
Embora sepultos, os mortos do ano passado
sepultam-se todos os dias.
Escuto os medos, conto as libélulas,
mastigo o pão do ano passado.
E será sempre assim daqui por diante.
Não consigo evacuar
o ano passado.
Carlos Drummond de Andrade .
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