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domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ana Laíns.



Nasceu em Tomar em 1979 e é aos 6 anos que pela primeira de muitas vezes pisa o palco. Porém, é um pouco mais tarde que se consciencializa da importância que tem a música na sua vida. Vive toda a infância e adolescência em Montalvo ,aldeia do concelho de Constância, mas aos 18 anos toma a decisão de rumar a Lisboa para tentar a sua sorte, e as primeiras conquistas não tardam em acontecer. No entanto, é em 1999 que confirma e revigora o sonho de construir uma carreira, quando se vê galardoada com o primeiro prémio da Grande Noite do Fado de Lisboa.

Velhinha.



Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
"Já ela é velha! Como o tempo passa"!..."

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...

E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...


Florbela Espanca

A multa municipal para o lirismo sentimental.



No folhetim do Diário Popular de 24 de Junho lêem-se notáveis considerações de ordem moral. São em verso. O poeta dirige-se, na sua declamação solitária, a uma mulher.

Numa prosa anterior (prelúdio) escreve que a missão da arte é ensinar a amar (!) — e que na arte não entra realidade, justiça ou moral pública porque (acrescenta) a arte nada tem com os direitos civis. Colocado assim à larga, na anarquia da voluptuosidade e do lirismo, aí está o que o poeta expõe e ensina num jornal popular, com uma tiragem de 20.000 exemplares, que anda por cima das mesas e nos cestos de costura!

Começa por dizer:

— Que é bom amar no campo, à tarde e a sós!

Depois continua:

— Que prefere o campo, porque nas salas do mundo não lhe é dado beijar a mão dela às largas! Que o campo é livre e as sombras dão refúgio!....

Por fim acrescenta:

— Que queria que os raios cintilantes os cingissem a ele só com ela, erguidos em êxtase, longe de quanto é vil...

(Quanto é vil, na gíria da poesia lírica, é o mundo real, a família, o trabalho, as ocupações domésticas, etc.).

Dispensamo-nos de citar mais estrofes lascivas.

Aquelas bastam para legitimar as seguintes observações:

Nenhum jornal publicaria semelhantes teorias em prosa;

Nenhum homem que as escrevesse ousaria lê-las a sua filha, sem gaguejar, e sem comer palavras;

Nenhuma senhora que por acaso as tivesse lido ousaria citá-las.

Como se consente então a sua publicação em verso? A higiene não é só a regularização salutar das condições da vida física; nela devem também entrar os factos da moralidade. Se é proibido que um monturo imundo ou um cão morto corrompam o ar respirável das ruas — porque há-de ser permitido que um poeta, com as suas endechas podres, perturbe o pudor e a tranqüilidade virgem?

Há uma postura da Câmara que impõe uma multa a quem pronuncia palavras desonestas: porque não há-de ser igualmente proibido publicar idéias desonestas?

Um ébrio, um pobre homem a quem se não deu educação, a quem se não pode dar leitura, a quem quase se não dá trabalho, diz uma praga numa rua, ouvida apenas de três ou quatro pessoas, e vai para a cadeia ou paga uma multa de 3$000 réis. Um poeta lírico, esclarecido, aprovado nos seus exames, empregado nas secretarias, publica num jornal de cinqüenta mil leitores em letra impressa, permanente e indelével, uma série de desonestidades, e é apreciado, cumprimentado no Martinho, indigitado para uma candidatura!

Pedimos pois:

Ou que seja permitido livremente dizer na rua e no jornal pragas e desonestidades;

Ou que a multa da Câmara Municipal seja aplicada a todos — e que tanto o ébrio que não sabe o que diz à esquina de uma rua, como o poeta lírico que escreve, com reflexão e rascunho duma semana, ao canto dum jornal, paguem os 3$000 réis à Câmara, um pela sua praga, outro pela sua endecha.

Julho 1871


"E assim desses tempos ardentes me ficara a idéia duma campanha muito alegre, muito elevada, em que a ironia se punha rapidamente ao serviço da justiça. Todo êste livro é um riso que peleja."

Eça de Queiroz

Sem espinhas!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Paco Ibañez.



Um grande homem.
Uma grande voz.
Um grande poeta.

Para a minha querida amiga Brujita.

Literatura.

O jogo do anjo de:Carlos Ruiz Zafón.


Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais.

Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.

Usos Deste Mundo

Nas praças uns perguntam novidades;
Outros dão volta às ruas, ao namoro;
Este usuras cobrar, esse as demandas
Lembrar corre ao Juiz que se diverte.
Ir de Jano aprender a ser bifronte,
De Mercúrio, no trato, a ser bilingue,
Franco no prometer, no dar escasso.
C'os olhos fitos no ávido interesse
Ser consigo leal, com todos falso
É ser homem capaz, home' entendido.
Assim, que vemos nós por este esconso
Mundo? Vemos logrões, vemos logrados;
Ninguém vês ir com cândido desejo
Aos Sénecas, aos Sócrates de agora
Perguntar as lições tão necessárias
De ser honrado, ser com todos justo.
Tão sobejos se crêem de honra e virtude,
Que cuida cada um poder de sobra
Mostrar na Ocasião virtude a rodo,
E chega a Ocasião, falha a virtude.

Filinto Elísio, in "Miscelânia"

Certezas.


O homem que só tinha certezas quase nunca usava ponto de interrogação, e em seu vocabulário não constavam as expressões: talvez, quiçá, quem sabe, porventura.

Parece que foi de nascença. Ele já teria vindo ao mundo assim, com todas as certezas junto, pulou a fase dos por quês e nunca soube o que era curiosidade na vida. Na escola, era uma sensação. Mas não ligava muito pra isso não. E cresceu achando muito natural viver derramando afirmações pela boca. Tinha resposta pra tudo, o homem que só tinha certezas, mas o maior orgulho do homem eram as certezas mais duvidosas que ele tinha. A certeza de que o mais fraco ia vencer, de que as coisas iam melhorar, de que o desenganado ainda teria muitos anos pela frente.

A notícia espalhou-se rapidamente. Como ele vivia no meio de pessoas, e pessoas vivem cheias de dúvidas, logo começaram a pedir sua opinião para os mais diversos assuntos, os triviais e os de grande importância, e ele, certo de que podia viver muito bem de suas certezas, virou um consultor. Pendurou em sua porta uma placa onde estava escrito "Consultor de tudo" e o negócio foi crescendo aos pouquinhos. Devido ao boca-a-boca favorável de clientes e a um único anúncio no rádio, passou a atender, sem nenhum exagero, milhares de pessoas por dia, até que limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, um minuto e meio por pessoa, o que era mais do que suficiente para uma resposta certa desde que a pergunta não fosse muito longa.

Chegava gente do país inteiro e depois de outros continentes, pessoas comuns, pessoas ilustres, todas elas indecisas, mas cada pessoa só tinha direito a uma pergunta por consulta, o que as deixava mais indecisas ainda. Certa vez uma moça chegou na dúvida se devia perguntar primeiro sobre o amor ou o trabalho, no que o homem respondeu, sobre o amor, é claro, senão você não vai conseguir trabalhar direito, e deu por encerrada a consulta. O homem que só tinha certezas aconselhou um garoto tímido a tomar quatro cervejas, encorajou um político receoso a aprovar um projeto esquisitíssimo que se destinava a melhorar a vida dos homens, avisou a uma senhora preocupada com os anos que no caso dela nada melhor do que beijos na boca, desentorpeceu um rapaz doente de amor por uma mulher que gostava de outro, convenceu o ministro da fazenda de que ou o dinheiro era pouco, ou eram muitos os homens, ou ele estava louco, ou alguém tinha se enganado nas contas.

Não demorou muito para se tornar capa de todas as revistas e personagem assíduo dos programas de TV. Para cada pergunta havia uma só resposta certa e era essa que ele dava, invariavelmente, exterminando aos pouquinhos todas as dúvidas que existiam, até que só restou uma dúvida no mundo: será que ele não vai errar nunca? Mas ele nunca errava, e já nem havia mais o que errar, uma vez que não havia mais dúvidas.

Num mundo que só tinha certezas, o homem que só tinha certezas virou apenas mais um homem no mundo. Melhor assim, ele pensava, ou melhor, tinha certeza.

Um dia aconteceu um imprevisto, e o homem que só tinha certezas, quem diria, acordou apaixonado. Para se assegurar de que aquela era a mulher certa para ele, formulou cento e vinte perguntas, que ela respondeu sem vacilar, mandou fazer mapas do céu, exames de sangue, contagem de triglicerídeos, planilhas complicadíssimas e finalmente apresentou a moça à sua mãe e ao seu cachorro. Os dois se amaram noites adentro, foram a Barcelona, tiraram fotos juntos, compraram álbuns, porta-retratos, garfos, facas, um escorredor de pratos, tiveram filhos e tal, e, desde então, por alguma razão desconhecida, o homem que só tinha certezas foi perdendo todas elas, uma por uma. No início ainda tentou disfarçar, por via das dúvidas, quem sabe era um mal passageiro? Mas as dúvidas multiplicavam-se como praga (dúvidas se multiplicam?), espalharam-se pelo mundo, e agora, meu Deus? Deus existe? Existe sim. Ou será que não? Ele não estava bem certo.


Adriana Falcão.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Calma.


A calma impede que se cometam graves erros ...

Dizer adeus...


Soprei,apagou-se a chama.
Disse-te adeus em seguida.
Quem diz adeus a quem ama.
Diz adeus á própria vida.

Pensamentos que reúnem um tema.



Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.
Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.
Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.
Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,
Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.
Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei
Até que minha vida passe.


Adalgisa Nery

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Preocupações.

Poema de Carnaval .



Por trás do sorriso que há na avenida existe
Lágrimas de um trabalhador
Que sofre para sustentar os filhos e insiste
Em ir à avenida ocultar sua dor.





Ria enquanto dura esta noite, homem!
Serás depois da meia-noite (de novo) um lobisomem
Melancólico e condenado à vida real,
Ria, portanto, enquanto dura o carnaval.





Fascina-me o brilho das tuas vestimentas,
Também o tecido, o modelo, a cor...
Vestindo-a esqueces o que te atormenta,
Mas não esqueça a tua camisa de vereador.





Existe por trás do sorriso talvez
Um vagabundo, um marginal ou um burguês,
Que foge da realidade indo à avenida,
Querendo esquecer os sofrimentos da vida.





Aproveite, homem, que o caminho é curto.
Seja você pai de família, burguês ou marginal,
Em breve acabará teu surto.
Ria, que acabará o carnaval.






Lalo Oliveira.

Margaridas 2009


500 escuteiros passam o Carnaval em Constância integrados nas Margaridas 2009

Organizado pelo Agrupamento 707 (sedeado em Constância), do Corpo Nacional de Escutas, o Acampamento Margaridas 2009 vai decorrer em Constância nos próximos dias 21, 22 e 23 de Fevereiro.

Tendo como tema Escutismo Global – «Sonho de um Homem» – Cinco Continentes as Margaridas 2009 contam com a participação de cerca de 500 Escuteiros vindos um pouco de todo o país.

Contribuir para a formação integral dos jovens através de ideias novas para uma nova geração, proporcionar uma actividade onde a técnica e o escutismo no seu espírito de regresso às origens está sempre actual, e iniciar um novo século de movimento Escuta sempre fiel aos princípios do seu fundador, são os principais objectivos das Margaridas 2009, um evento que cumpre este ano a sua 19ª edição.

Recorde-se que o Acampamento Margaridas decorre no concelho de Constância de forma ininterrupta desde 1990. Até ao ano de 2004 esta iniciativa escutista decorreu no Campo Militar de Santa Margarida, este ano, e pelo quinto ano consecutivo, as Margaridas 2009 vão ter lugar no parque junto ao Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia contando para o efeito com o apoio da Câmara Municipal de Constância.
Por CMC

Carnaval em Montalvo .



22 e 24 de Fevereiro Organizado pela JICA – Juventude Inovadora Com Atitude, de Montalvo, o Corso Carnavalesco vai voltar às ruas de Montalvo, freguesia do concelho de Constância, nos próximos dias 22 e 24 de Fevereiro.

Com início marcado junto ao Sobreiro de Montalvo, após as 15 horas de domingo e terça-feira de Carnaval, o Corso trará à rua muita cor, alegria e animação.

Por isso, aqui fica o convite, venha até Montalvo e divirta-se neste Carnaval 2009!


Para obter mais informações clique em Blogue da JICA.
Por CMC

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Educação.


A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida .

Ausência.



A tua ausência
Não é apenas o teu corpo ausente
É minha alma sem mim;
Nada fazendo significado,
Navio perdido a bravo mar,
Sensação de tempestade,
Terremoto,
Fim de vida, enfim,
Se não encontro tua vida
Dentro de mim.

(Vicente Martins)

Policia de costumes 1953.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Esquecer!


Se não soubermos esquecer, nunca estaremos livres de tristeza .

O Sexo .




Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito,
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além

da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo

solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,

quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"