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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boas Festas.

Novo ou velho?


"Nenhum ano será realmente novo se continuarmos a cometer os mesmos erros dos anos velhos."

Grito a tua ausência...


Ausente
olho o universo
nada vejo.
Sinto um vazio
fecho os olhos,imagino
teu corpo esbelto
envolto numa áurea
luminosa.
Flutuas no espaço
que me limita
circunda
e controla.
Grito a tua ausência...
Não te vejo
não te sinto
espaço sideral
universo vazio
num vácuo total.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Vidas!


As mulheres tem sonhos diferentes dos homens,mas quando se juntam, formam uma vida...

O Esplendor da Heterossexualidade, pelo Desejo -




Somos um objecto, na paixão, totalmente submissos, sem poder prever os golpes que sofremos; aí reside a grandeza, a loucura, o assombro da paixão.
Para mim, o desejo só pode ter lugar entre o masculino e o feminino, entre sexos diferentes.
O outro desejo é um autodesejo, é, para mim, como que o prolongamento da prática masturbatória do homem ou da mulher. O esplendor da paixão, a sua imensidade, o seu sofrimento, o seu inferno, reside no facto de só poder verificar-se entre géneros irreconciliáveis, o masculino e o feminino. Tanto a paixão como o desejo.


Os casais homossexuais são muito mais estáveis do que os casais heterossexuais, porque na homosexualidade há uma prática simples e cómoda do desejo. A prática heterossexual é ainda selvagem, é ainda a floresta do desejo.
Na prática homossexual não creio que exista esse fenómeno de posse que existe na heterossexual. Na prática homossexual existe uma espécie de intermutabilidade do prazer, as pessoas nunca pertencem na homossexualidade como pertencem na heterossexualidade.
É um inferno não se poder escapar ao desejo de uma pessoa, é a isso que eu chamo, quando a mim, o esplendor da heterossexualidade.

Marguerite Duras, in 'Mundo Exterior '

Ó Noite...




Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher
vago e belo e voluptuoso,
num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos
[e quedos.
Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele,
deixai que os caminhos da noite,
cegos e rectos como o destino,
suspensos como uma nuvem,
sejam os caminhos dos poetas
que lhes decoraram o nome.
Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher!
Esconde a vida no seio de uma estrela
e fá-la pairar, assim mágica e irreal,
para que a olhemos como uma lua sonâmbula.

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Universo.


Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a sua maneira de ser lhe permite. O universo pode ser muito mais vasto e muito mais diferente do que aquilo que é apenas o nosso mundo .

Agostinho da Silva.

A poesia é uma arma carregada de futuro.




Quando já nada se espera particularmente exaltante
mas palpitamos e seguimos aquém da consciência,
ferramenta existindo, cegamente afirmando,
como um pulso que golpeia as trevas,
quando miramos de frente
os vertiginosos olhos claros da morte,
dizemos as verdades;
as bárbaras, terríveis, amorosas crueldades
Dizemos os poemas
que enchem os pulmões dos que, asfixiados,
pedem ser, pedem ritmo,
pedem lei para aquilo que sentem em excesso,
com a velocidade do instinto,
com o raio do prodígio,
como mágica evidência, o real que se transforma
no idêntico a si mesmo.
Poesia para o pobre, poesia necessária
como o pão de cada dia,
como o ar que exigimos treze vezes por minuto,
para ser e enquanto somos dar o sim que glorifica.
Porque vivemos aos tropeços, porque apenas nos deixam
dizer que somos quem somos,
os cânticos não podem ser, sem pecado, um adorno.
Estamos chegando ao fundo.
Maldita a poesia concebida como um luxo
cultural para os neutros
que, lavando-se as mãos, se desentendem e evadem.
Maldigo a poesia de quem não toma partido até manchar-se.
Faço minhas as faltas. Sinto em mim os que sofrem
e canto respirando.
Canto, e canto e cantando para lá de minhas penas,
me amplio.
Quisera dar-lhes vida, provocar novos actos,
e calculo por isso com a técnica que posso.
Me sinto um engenheiro do verso e um operário
que forja com outros a Espanha em seus alicerces.
Assim é minha poesia: poesia-ferramenta
ao mesmo tempo pulsar do unânime e cego.
Assim é, arma carregada de futuro expansivo
com que aponto o teu peito.
Não é uma poesia gota a gota pensada.
Não é um belo produto. Não é um fruto perfeito.
É algo como o ar que todos respiramos
e é o canto que expande o que dentro levamos.
São palavras que repetimos sentindo
como nossas, e voam. São mais que o pensado.
São gritos no céu, e, na terra, são actos.


Poesia de Gabriel Celaya.

Presentes...


Presentes
São moeda de troca
gestos que se confundem
favores
amores
traições...
Presentear é amar
é olhar-mos o mundo
sem contemplações.
Repartir
oferecer
dividir-mos o nosso ser
num abraço de ternura
sorrindo
dar sem pensar receber.
Amar não custa nada
o preço pouco importa
o que conta é a intenção
sentir-mos a felicidade
num aperto de mão.
Vamos dividir a amizade
o conhecimento
a verdade
a paz
o amor
A sinceridade.
Vamos dar as mãos
num cordão humano
vamos dizer basta
á miséria
á fome
á desumanidade...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Aeroporto de Lisboa,23 de Dezembro de 2009-06.45 H

Homem sem porto...


O Homem não tem porto, o tempo não tem margem, ele corre e nós passamos!

Flor da Paixão .




Sei agora
que a paixão
é azul e coroada
como o sangue e a cabeça
das rainhas. Que tem
nome de flor
e é ímpar. Porque,
se o não fosse,
não seria paixão.

Albano Martins, in "Castália e Outros Poemas"

Escrever um Livro .




(...) a maravilha que deve ser escrever um livro: a invenção dentro da memória; a memória dentro da invenção; e toda essa cavalgada de uma grande fuga, todo esse prodígio de umas poligâmicas núpcias, secretas e arrebatadas, com a feminina multidão das palavras: as que se entregam, as que se esquivam; as que é preciso perseguir, seduzir, ludibriar; as que por fim se deixam capturar, palpar, despir, penetrar e sorver, assim proporcionado, antes de se evaporarem, as horas supremas de um amor feliz. Não há matéria mais carnalmente incorpórea; nem outra mais disposta a por amor ser fecundada.
Como se pode interpretar de outro modo esse velho lugar-comum de ter um filho, plantar uma árvore, escrever um livro? Só se em todos os casos se tratar de grandes e inevitáveis actos de amor: com a Mulher, com a Terra, com a Língua. Mas de plantar árvores e ter filhos haverá sempre muita gente que se encarregue. De destruir árvores também; de estragar filhos igualmente. Em compensação, um livro, um livro que viva, multiplicado, durante alguns anos ou alguns séculos, e que depois vá morrendo, sem ninguém dar por isso, mas nunca de uma só vez, até ser enterrado na maior discrição ou até se ver de súbito renascido, inesperadamente ressuscitado, um livro com semelhante destino - luminoso por mais obscuro, obscuro por mais luminoso -, isto é que foi sempre o que me empolgou.

David Mourão-Ferreira, in 'Um Amor Feliz'

domingo, 27 de dezembro de 2009

Without you.

A Felicidade é um Túnel.


A Felicidade é um Túnel

o domínio
o erotismo do domínio
do domínio irrisório
mas enorme

submeter
ver tremer
ver o tremor do outro

vencer
o gelo
o desdém
veloz

a felicidade é um túnel

Ana Hatherly, in "Um Calculador de Improbabilidades"

Passei toda a noite, sem dormir...


Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distração animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero.
Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro

sábado, 26 de dezembro de 2009

Angie.

Ainda a propósito do Natal !


Essa história de que o dinheiro não dá felicidade é um boato espalhado pelos ricos ,para que os pobres não tenham muita inveja deles !

Aos Vindouros, se os Houver...




Vós, que trabalhais só duas horas
a ver trabalhar a cibernética,
que não deixais o átomo a desoras
na gandaia, pois tendes uma ética;

que do amor sabeis o ponto e a vírgula
e vos engalfinhais livres de medo,
sem peçários, calendários, Pílula,
jaculatórias fora, tarde ou cedo;

computai, computai a nossa falha
sem perfurar demais vossa memória,
que nós fomos pràqui uma gentalha
a fazer passamanes com a história;

que nós fomos (fatal necessidade!)
quadrúmanos da vossa humanidade.

Alexandre O'Neill, in 'Poemas com Endereço

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Mau Feitio .




Amo demasiado o universo para viver com um único ser. Como entender-me com um ser humano sem o ofender em nome de todos? Demónio, não consigo entender-me com Deus; anjo, com o demónio. Como entender-me contigo, se comigo próprio me não entendo? Onde me refugiar, se céu e inferno me são tão inacessíveis quanto a Terra?

Max Jacob, in 'O Copo dos Dados'