Seguidores

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Abraçar o Mundo.


Abraço-me
mas ao abraçar-me
quero sentir paz
que o amor e a serenidade
no mundo
seja o pão nosso de cada dia
numa quietude intensa
num amor profundo...
Abraço-me
mas ao abraçar-me
quero sentir a alegria
brilhar no rosto de uma criança
a claridade que o sol espalha sobre a terra
brilhante
repleta de esperança...

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Atchimmmm




Bom fim de semana para todo o mundo.

.

Momentos...


Se nos lembrarmos melhor dos bons momentos, para que servem os maus?

A Morte o Amor a Vida




Julguei que podia quebrar a profundeza a
[imensidade
Com o meu desgosto nu sem contacto sem eco
Estendi-me na minha prisão de portas virgens
Como um morto razoável que soube morrer
Um morto cercado apenas pelo seu nada
Estendi-me sobre as vagas absurdas
Do veneno absorvido por amor da cinza
A solidão pareceu-me mais viva que o sangue

Queria desunir a vida
Queria partilhar a morte com a morte
Entregar meu coração ao vazio e o vazio à vida
Apagar tudo que nada houvesse nem o vidro
[nem o orvalho
Nada nem à frente nem atrás nada inteiro
Havia eliminado o gelo das mãos postas
Havia eliminado a invernal ossatura
Do voto de viver que se anula

Tu vieste o fogo então reanimou-se
A sombra cedeu o frio de baixo iluminou-se de
[estrelas
E a terra cobriu-se
Da tua carne clara e eu senti-me leve
Vieste a solidão fora vencida
Eu tinha um guia na terra
Sabia conduzir-me sabia-me desmedido
Avançava ganhava espaço e tempo
Caminhava para ti dirigia-me incessantemente
[para a luz
A vida tinha um corpo a esperança desfraldava
[as suas velas
O sono transbordava de sonhos e a noite
Prometia à aurora olhares confiantes
Os raios dos teus braços entreabriam o nevoeiro
A tua boca estava húmida dos primeiros orvalhos
O repouso deslumbrado substituía a fadiga
E eu adorava o amor como nos meus primeiros
[tempos

Os campos estão lavrados as fábricas irradiam
E o trigo faz o seu ninho numa vaga enorme
A seara e a vindima têm inúmeras testemunhas
Nada é simples nem singular
O mar espelha-se nos olhos do céu ou da noite

A floresta dá segurança às árvores
E as paredes das casas têm uma pele comum
E as estradas cruzam-se sempre
Os homens nasceram para se entenderem
Para se compreenderem para se amarem
Têm filhos que se tornarão pais dos homens
Têm filhos sem eira nem beira
Que hão-de reinventar o fogo
Que hão-de reinventar os homens
E a natureza e a sua pátria
A de todos os homens
A de todos os tempos.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

A Cidade do Sonho ...




Sofres e choras? Vem comigo! Vou mostrar-te
O caminho que leva à Cidade do Sonho...
De tão alta que está, vê-se de toda a parte,
Mas o íngreme trajecto é florido e risonho.

Vai por entre rosais, sinuoso e macio,
Como o caminho chão duma aldeia ao luar,
Todo branco a luzir numa noite de Estio,
Sob o intenso clamor dos ralos a cantar.

Se o teu ânimo sofre amarguras na vida,
Deves empreender essa jornada louca;
O Sonho é para nós a Terra Prometida:
Em beijos o maná chove na nossa boca...

Vistos dessa eminência, o mundo e as suas
[sombras,
Tingem-se no esplendor dum perpétuo arrebol;
O mais estéril chão tapeta-se de alfombras,
Não há nuvens no céu, nunca se põe o Sol.

Nela mora encantada a Ventura perfeita
Que no mundo jamais nos é dado sentir...
E a um beijo só colhido em seus lábios de Eleita,
A própria Dor começa a cantar e a sorrir!

Que importa o despertar? Esse instante divino
Como recordação indelével persiste;
E neste amargo exílio, através do destino,
Ventura sem pesar só na memória existe...

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

Dia Mundial da Poesia


Dia Mundial da Poesia e a Escritora Ana de Castro Osório são destaques do mês de Março na Biblioteca Municipal
Prosseguindo a sua estratégia de promoção do livro e da leitura a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill tem planeada, para o mês de Março, uma agenda com múltiplas actividades.

Assim, para além das novidades literárias e audiovisuais e das actividades regulares de desenvolvimento da literacia, neste mês de Março terão lugar as seguintes iniciativas: segundas-feiras, a partir das 14h00, Conhece a Biblioteca; quartas-feiras, a partir das 10h30 a Hora do Conto, com A saquinha da flor de Matilde Rosa Araújo; sextas-feiras, a partir das 15h00, DVDteca à Sexta, cujas sessões terão o seguinte calendário: dia 5 Espião Acidental, dia 12, Valiant: Os Bravos do Pelotão, dia 19, Ela, Eu e o Outro, 26; A Bíblia em Animação: Criação e Dilúvio, o Fim do Paraíso e a Arca de Noé.

A mostra bio-bibliográfica deste mês pretende dar a conhecer a vida e obra da escritora Ana de Castro Osório, feminista e activista republicana, é considerada a fundadora da literatura infantil no nosso país. Ana de Castro Osório escreveu alguns livros que foram utilizados como manuais escolares, havendo outros títulos dignos de realce tais como: A Minha Pátria, As Mulheres Portuguesas (em que alia o feminismo a uma postura patriótica) e A Mulher no Casamento e no Divórcio (uma tomada de posição sobre a problemática do divórcio, que seria objecto de legislação por parte de Afonso Costa. Ana de Castro Osório criou também a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas.

Para comemorar o Dia Mundial da Poesia, a Biblioteca vai oferecer aos seus utilizadores, poemas de grandes nomes da nossa literatura, de que são exemplo Camões, Pessoa, Espanca, O’Neill ou Sophia. Integrado na mesma comemoração convidará também os seus leitores a compor, a desenhar e a pintar poesia, criando Uma árvore feita de Poesia.

Para informações ou esclarecimentos adicionais sobre as múltiplas iniciativas deverão os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.Leia mais. Viva mais.
Por cmc

Literatura.



O outro lado da sereia
Mia Couto.

Sinopse

Viagens diversas cruzam-se neste romance: a de D. Gonçalo da Silveira, a de Mwadia Malunga e a de um casal de afro-americanos. O missionário português persegue o inatingível sonho de um continente convertido, a jovem Mwadia cumpre o impossível regresso à infância e os afro-americanos seguem a miragem do reencontro com um lugar encantado. Outras personagens atravessam séculos e distâncias: o escravo Nimi, à procura das areias brancas da sua roubada origem. A própria estátua de Nossa Senhora, viajando de Goa para África, transita da religião dos céus para o sagrado das águas. E toda uma aldeia chamada Vila Longe atravessa os territórios do sonho, para além das fronteiras da geografia e da vida.

As diferentes viagens entrecruzam-se numa narrativa mágica, por via de uma mesma escrita densa e leve, misterios e poética de um dos mais consagrados escritores da língua portuguesa.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Dança da solidão.

Viver


São poucos os que vivem o presente; a maioria aguarda para viver mais tarde ...

Constato...


Constantemente
com factos e não argumentos
constato
que neste mundo oval
se escreve por linhas tortas
que não gira, mas patina
no eixo dos sentimentos...
Desgraças alheias e não só
neste planeta parcial
em que uns mais que outros
padecem todos do mesmo mal.
O amor já não é lema
o egoísmo é uma constante
valores são utopia
num mundo virado ao contrário
envolto em fantasia...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Originalidade.


Cada um de nós deve inventar o seu caminho ...

Como Te Tens Lembrado Hoje de Mim?




Nós, pobres mulheres, apesar do nosso imenso e frágil orgulho, não somos, afinal, mais do que argila que as mãos deles moldam a seu belo capricho. Feliz da argila que, no seu caminho, encontra, como eu, o estatuário que a vai moldando a acariciá-la! Gosto tanto de ti que me não revolto, eu, a eterna revoltada, aquela que teve sempre por coração um oceano imenso a que ninguém jamais descobrira o fundo. Como te tens lembrado hoje de mim? Com saudades? Com desejos de me beijar? Com tristeza? Como? Gostava tanto, tanto de saber a cor dos teus pensamentos quando são meus! Queria que eles fossem roxos, como os lilases, ou cor-de-rosa como os beijos que eu te dou. Tenho saudades, saudades, saudades. Reparei agora para uma coisa: é curioso como eu não sou capaz de vestir um vestido alegre quando tu não vens. Já segunda-feira vesti o vestido preto e hoje sem pensar fui vesti-lo outra vez. E é verdade que eu ando de luto, de luto por uns beijos que trago e que se não dão e que morrem de frio longe da tua boca; queres luto mais triste? Meu amigo, tu és muito mau que me não quiseste hoje ao pé de ti.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"

Literatura.

Pensatempos.

Mia Couto.


Com estes Pensatempos se publica, pela primeira vez, em Portugal, um livro de Mia Couto que não se localiza no território da ficção literária. Esta colecção de textos reúne, sim, artigos de opinião e intervenções que o escritor Mia Couto realizou nos últimos anos, dentro e fora de Moçambique. São textos dispersos e diversos, abrangendo uma área vasta de preocupações. Em todos eles, porém, está presente não apenas o escritor mas o cidadão envolvido com os problemas do seu tempo. Nestes Pensatempos transparece a preocupação de provocar debate, sugerindo alternativas inovadoras, questionando modelos de pensamento e interrogando os lugares-comuns que aprisionam o nosso olhar perante os desafios da actualidade. O prazer já encontrado na escrita de quem se diz estar reinventando a língua portuguesa ressurge agora no gosto de pensar o nosso mundo e o nosso tempo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Tempo.


Não importa ao tempo o dia que passa, mas o dia que vem ...

Uma Mulher sem Areia Nenhuma .




Tenho o santo horror da frieza calculada, da boa educação, do prudente juízo duma mulher. Aos homens pertence tudo isso, e a mulher deve ser muito feminina, muito espontânea, muito cheia de pequeninos nadas que encantem e que embalem. Meu amigo, se esperas ter uma mulher sem areia nenhuma, morres de aborrecimento e de frio ao pé dela e não será com certeza ao pé de mim... Comigo hás-de ter sempre que pensar e que fazer. Hás-de rir das minhas tolices, hás-de ralhar quando elas passarem a disparates (hão-de ser pequeninos...) e hás-de gostar mais de mim assim, do que se eu fosse a própria deusa Minerva com todo o juízo que todos os deuses lhe deram.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"

Magia do amor!


Encanto
sedução irresistível
feitiço de encantar
magia
de um amor indivisível
integral
orgia...
Extasi
embevecido e fascinado
extasiado por um amor ardente
que sufoca
inquieta
numa ansiedade demente
que arde
que queima
intenso,vivo
violento
amor incandescente...

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Timidez...


A timidez é um grande pecado contra o amor ...

Porque Andas tão Alegre?




Porque andas tu tão alegre quando eu me sinto triste, desesperadamente triste? Custa tanto ser desprezada quando se tem a consciência imaculada, como um arminho que coisa alguma fosse capaz de manchar! Custa tanto! Passo as noites e os dias na mesma ânsia febril, na mesma indecisão de farrapo ao vento, no mesmo não saber o que quero, o que hei-de pensar, o que hei-de, o que devo fazer. Tenho um culto pela minha dignidade de mulher, tenho o orgulho, o santo orgulho de ser sempre a mesma criatura que a vida, tão cheia de lama, não conseguiu salpicar. E assim, tudo em mim são sombras, indecisões, murmúrios, coisas que não entendo bem, que não distingo bem. Amigo, compreende-me e sente que eu não estou, que eu não posso estar alegre. Olha a minh'alma como se ela fosse uma pobre andorinha ferida que batesse as asas desesperadamente. Tenho medo, medo do futuro, medo do mundo, medo da vida que foi sempre má para mim. Tenho visto sempre a felicidade correr-me por entre os dedos como água límpida que coisa alguma sustém; tenho visto passar tudo, morrer tudo em volta de mim, como fantasmas que passassem ao longe, numa estrada cheia de sombras. E era tão bom ser feliz! Se eu pudesse algum dia ser um bocadinho feliz! Encostar a minha cabeça ao teu ombro, sorrir-te com os meus olhos que têm sido sempre tão tristes! Contar-te tudo, dizer-te tudo, mostrar-te o meu coração aberto de par em par como uma janela enorme que o luar iluminasse, que o luar vestisse de branco! Sentir-te os passos e correr para ti, com as loucas saudades dumas horas que tivessem sido anos! Tudo isto, tudo isto eu queria enfim, toda esta ternura eu queria enfim que me envolvesse como um perfume violento que me embriagasse. Tu andas contente e andas contente porquê?! Tu não vês, não sentes que não é possível a felicidade assim completa, absoluta como nós a queremos? A vida não é a imaginação, não é a fantasia, não é o sonho, a vida tem coisas a que nós temos de olhar e que são tão feias e tão más! Faz-me mal, às vezes, a tua alegria, como se ela fosse um sacrilégio. Ampara-me, ensina-me a crer, a ter confiança, diz a verdade mas a verdade que seja boa que me não faça chorar como esta verdade que eu trago dentro de mim como uma chaga a doer sempre. Entremos na vida e não sonhemos. Vamos os dois encarar de frente sem medo e sem cobardias a vida tal qual ela é para nós. Não façamos, pelo amor de Deus, castelos no ar que eles caem sempre e eu sou, infelizmente, da natureza das heras que se agarram com ânsia a todas as ruínas por tristes e escuras que sejam. Não me digas nada que não tenhas a certeza, a absoluta certeza de poder realizar, na minha, na nossa vida.

Florbela Espanca, in "Correspondência (1920)"

Amanhece incoerentemente...


Amanhece
raia o dia
alvorecem novas idéias
em caminhos branqueados
lúcidos e perspicazes
num branco alvorecer.
Aclara
torna-se branco,pouco a pouco
progressivamente
novas idéias
vidas novas para viver
entre o palco e a plateia
espaço entre a vida e o parecer
num envelhecer incoerente!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Remorsos:


o depósito no fundo do copo da vida ...