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sexta-feira, 11 de junho de 2010

Devo à Paisagem as Poucas Alegrias que Tive no Mundo.




Devo à paisagem as poucas alegrias que tive no mundo. Os homens só me deram tristezas. Ou eu nunca os entendi, ou eles nunca me entenderam. Até os mais próximos, os mais amigos, me cravaram na hora própria um espinho envenenado no coração. A terra, com os seus vestidos e as suas pregas, essa foi sempre generosa. É claro que nunca um panorama me interessou como gargarejo. É mesmo um favor que peço ao destino: que me poupe à degradação das habituais paneladas de prosa, a descrever de cor caminhos e florestas. As dobras, e as cores do chão onde firmo os pés, foram sempre no meu espírito coisas sagradas e íntimas como o amor. Falar duma encosta coberta de neve sem ter a alma branca também, retratar uma folha sem tremer como ela, olhar um abismo sem fundura nos olhos, é para mim o mesmo que gostar sem língua, ou cantar sem voz. Vivo a natureza integrado nela. De tal modo, que chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno. Bem sei que há gente que encontra o mesmo universo no jogo dum músculo ou na linha dum perfil. Lá está o exemplo de Miguel Angelo a demonstrá-lo. Mas eu, não. Eu declaro aqui a estas fundas e agrestes rugas de Portugal que nunca vi nada mais puro, mais gracioso, mais belo, do que um tufo de relva que fui encontrar um dia no alto das penedias da Calcedónia, no Gerez. Roma, Paris, Florença, Beethoven, Cervantes, Shakespeare... Palavra, que não troco por tudo isso o rasgão mais humilde da tua estamenha, Mãe!

Miguel Torga, in "Diário (1942)"

100%


"Errar é humano, colocar a culpa no computador é mais humano ainda."

Hehehehehehe.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

LAPTOPspirose

é um vírus transmitido pela urina do MOUSE





A medicina cria pessoas doentes, a matemática, pessoas tristes, teologia, pecadores e os imformáticos quando o computador apresenta irregularidades, dizem que o problema é do BIOS(Bicho Ignorante Operando Sistema).


Obs:fechado por alguns dias.

terça-feira, 8 de junho de 2010

O teu silêncio...


Na vastidão do silêncio
o teu respirar
entra em mim
como um vendaval
inconstante
de uma tempestade
sem fim...
Ondas gigantes
levam-me sem dó
envolvem-me na encruzilhada
da vida
deixando-me triste
só...
Silêncio
não é só a tua ausência
tristeza
não é apenas saudades de ti
é este vazio que me envolve
sentimento angustiante
de não te sentir em mim...

O Acto Poético.




O acto poético é o empenho total do ser para a sua revelação. Este fogo do conhecimento, que é também fogo de amor, em que o poeta se exalta e consome, é a sua moral. E não há outra. Nesse mergulho do homem nas suas águas mais silenciadas, o que vem à tona é tanto uma singularidade como uma pluralidade. Mas, curiosamente, o espírito humano atenta mais facilmente nas diferenças do que nas semelhanças, esquecendo-se, e é Goethe quem o lembra, que o particular e o universal coincidem, e assim a palavra do poeta, tão fiel ao homem, acaba por ser palavra de escândalo no seio do próprio homem. Na verdade, ele nega onde outros afirmam, desoculta o que outros escondem, ousa amar o que outros nem sequer são capazes de imaginar. Palavra de aflição mesmo quando luminosa, de desejo apesar de serena, rumorosa até quando nos diz o silêncio, pois esse ser sedento de ser, que é o poeta, tem a nostalgia da unidade, e o que procura é uma reconciliação, uma suprema harmonia entre luz e sombra, presença e ausência, plenitude e carência.

Eugénio de Andrade, in 'Rosto Precário'

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Devo-te .




Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo à lavada
planície do céu.

Devo-te a forma
novíssima de olhar
teu corpo onde às vezes
desce o pudor o silêncio
de uma pálpebra mais nada.

Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesíaca, doce
violência dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silêncio
das coisas - estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pólen
levíssimo do dia;
estas formigas na sombra
da própria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisível, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta - ó meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mãos!

Vítor Matos e Sá, in 'O Silêncio e o Tempo'

Escrevendo ou lendo...



nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós. Leia .

Agostinho da Silva.

A Maravilha da Vida é Tudo Nela Ter Justificação .




Desabafo dum amigo, que não encontra justificação para o seu pecado mortal, que é viver. Viver ao sol, gratuitamente, como um lagarto. Respondi-lhe que a maravilha da vida é tudo nela ter justificação. É, da mais rasteira erva ao mais nojento bicho, não haver presença no mundo que não seja necessária e insubstituível. Que, do contrário, era faltar na terra esta admirável plurivalência, que faz de uma tarde de sol, de trigo e de cigarras o mais assombroso espectáculo que se pode ver. O medir depois a distância que vai da formiga ao leão, da urtiga ao castanheiro, de Nero a S. Francisco de Assis, é uma casuística que não tem nada que ver com a torrente de seiva que inunda o mundo de pólo a pólo.
Foi-se, e à tarde apareceu-me com um belo poema.

Miguel Torga, in "Diário (1938)"

domingo, 6 de junho de 2010

Corpos.


Dois corpos
consistentes
formando apenas um
conformes
coerentes
harmonizados em si
num amor fervente...
Braços
corpo trémulo
perfumado
transpira amor
lactente
suado...
Corpos ardentes
transpirados
odor que transtorna
perturba
alma quente
de felicidade ...

A Humildade na Escrita.




Nós, os que escrevemos, temos na palavra humana, escrita ou falada, grande mistério que não quero desvendar com o meu raciocínio que é frio. Tenho que não indagar do mistério para não trair o milagre. Quem escreve ou pinta ou ensina ou dança ou faz cálculos em termos de matemática, faz milagre todos os dias. É uma grande aventura e exige muita coragem e devoção e muita humildade. Meu forte não é a humildade em viver. Mas ao escrever sou fatalmente humilde. Embora com limites. Pois do dia em que eu perder dentro de mim a minha própria importância - tudo estará perdido.

Clarice Lispector, in 'Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (discurso do personagem Ulisses)'

Humor.
















enviado por email pela minha querida amiga Rosani Gomes do blog:
Fragmentos de Uma Alma Perfumada
http://rosani22.blogspot.com

sábado, 5 de junho de 2010

Adoro colinho...

Mimo que recebi da minha querida amiga:Regina Rozenbaum
http://toforatodentro.blogspot.com/





Querida amiga,

"A mulher deve ser lentamente decifrada, como o enigma que é: encanto a encanto."

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Pensamento queiroziano...

XII Encontros do Cantar Diferente


Pedro Barroso, Silvestre Fonseca e Carlos Guilherme nos XII Encontros do Cantar Diferente
Constância - 10 de Junho - 22 Horas
No próximo dia 10 de Junho, Pedro Barroso, o grande trovador da música portuguesa, é o anfitrião da iniciativa Encontros do Cantar Diferente, um evento que já vai na sua XII edição e que decorrerá no âmbito das XV Pomonas Camonianas, uma actividade que terá lugar em Constância, nos próximos dias 10, 11 e 12 de Junho.

O espectáculo terá início às 22 horas, no Anfiteatro dos Rios, e conta este ano com a presença de dois grandes nomes da música portuguesa: Silvestre Fonseca e Carlos Guilherme.

Os Encontros do Cantar Diferente são uma ideia original de Pedro Barroso que, além de músico, autor e compositor, assina também a produção deste espectáculo, que já data de 1997.

Por um dia, o palco do Anfiteatro dos Rios, em Constância, transforma-se numa verdadeira sala de estar, onde, entre músicas e conversas, o anfitrião Pedro Barroso recebe amigos, grandes nomes do panorama musical português. Por este palco já passaram Manuel Freire, José Mário Branco, José Fanha, João Afonso, Vitor Silva, Carlos Mendes, Francisco Fanhais, Fernando Tordo, Samuel, o Maestro Vitorino d’ Almeida, Janita Salomé, Carlos Alberto Moniz, Zeca Medeiros, José Cid, Afonso Dias, Paulo de Carvalho, Francisco Naia, Ricardo Parreira, Fernando Alvim, Paco Bandeira, Francisco Seia e Luisa Bastos

Para além dos Encontros do Cantar Diferente, o programa das XV Pomonas Camonianas integra vários espectáculos musicais, o Declamões (poesia), Ópera, animação de rua, malabaristas, a feira de antiguidades e velharias, uma prova de orientação nocturna, actividades pedagógicas, a deposição de coroas de flores no Monumento a Camões, várias exposições e tabernas quinhentistas.
Por CMC

O Pensamento não Domina a Acção .




(...) hoje reconheço, naquilo que então aconteceu, o esquema por meio do qual o pensamento e a acção se conjugaram ou divergiram durante toda a minha vida. Penso, chego a um resultado, fixo-o numa conclusão e apercebo-me de que a acção é algo independente, algo que pode seguir a conclusão, mas não necessariamente. Durante a minha vida, fiz muitas coisas que não tinha decidido fazer, e não fiz outras que tinha firmemente decidido fazer. Algo que existe em mim, seja lá o que for, age; algo que me faz ir ter com uma mulher que já não quero voltar a ver, que faz ao superior um reparo que me pode custar o emprego, que continua a fumar embora eu tenha decidido deixae de fumar, e que deixa de fumar quando me resignei a ser um fumador para o resto dos meus dias.
Não quero dizer que o pensamento e a decisão não tenham alguma influência na acção. Mas a acção não decorre só do que foi pensado e decidido antes. Surge de uma fonte própria, e é tão independente como o meu pensamento e as minhas decisões.

Bernhard Schlink, in 'O Leitor'

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Atchimmmmmmmm.


Se sentir a minha "ausência..." Já sabe porquê

Campos de Férias 2010



Inscrições já estão abertas De 21 de Junho a 16 de Julho, decorrem no concelho de Constância os Campos de Férias 2010, uma iniciativa destinada a crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 16 anos, organizada pela Associação Os Quatro Cantos do Cisne, pelo Agrupamento de Escolas de Constância e pela Câmara Municipal.

As inscrições já estão abertas desde o dia 17 de Maio, e os interessados deverão efectuar as mesmas na Escola EB 2,3 Luis de Camões, nos Centro de Tempos Livres ou na Associação Os Quatro Cantos do Cisne.

De acordo com a sua faixa etária, cada grupo - infantis, iniciados e juvenis - têm oportunidade de participar em diversas iniciativas, tais como BTT, workshops e ateliês, peças de teatro, actividades na natureza, dança, acampamentos, percursos pedestres, mini-challange, inter-aldeias, dia militar, actividades na praia entre muitas outras iniciativas.

Deste modo, trabalhando em parceria com diversas entidades, é possível implementar espaços de jogo, entretenimento, diversão, socialização e encontro com os outros e com o meio, ocupando os tempos livres das crianças.

As iniciativas dinamizadas no âmbito dos Campos de Férias 2010 têm como principais objectivos possibilitar a ocupação saudável dos tempos livres dos participantes, sensibilizando-os para a frequência de actividades culturais e pedagógicas e para a prática desportiva generalizada e equilibrada, numa perspectiva lúdica.
Por CMC

Adormecer .




Vai vida na madrugada fria.

O teu amante fica,
na posse deste momento que foi teu,
amorfo e sem limites como um anjo;
a cabeça cheia de estrelas...
Fica abraçado a esta poeira que teu pé levantou.
Fica inútil e hirto como um deus,
desfalecendo na raiva de não poder seguir-te!

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

quarta-feira, 2 de junho de 2010

O Mistério da Estrelinha Curiosa .



Um livro apresentado em Constância no próximo sábado, dia 5 de Junho No próximo sábado, 5 de Junho, pelas 16h00, o Centro Ciência Viva de Constância vai receber a apresentação do livro O Mistério da Estrelinha Curiosa, da autoria de Leonor Lourenço, uma iniciativa aberta à população em geral.

O Mistério da Estrelinha Curiosa conta-nos o desejo da estrela Sírio em conhecer o Sol e as dificuldades que tem de ultrapassar para conseguir realizar este objectivo.

As crianças que participarem na actividade serão convidadas a assistir a uma sessão de planetário no qual serão mostrados os astros mencionados no livro e, em seguida, a ouvir a estrela cadente contar a história da sua amiguinha Sírio.

A sessão de apresentação do livro O Mistério da Estrelinha Curiosa, terminará com uma breve conversa com a autora da publicação.
Por CMC

A Tristeza dos Portugueses...




Porque é que os portugueses são tristes? Porque estão perto da verdade. Quem tiver lido alguns livros, deixados por pessoas inteligentes desde o princípio da escrita, sabe que a vida é sempre triste. O homem vive muito sujeito. Está sujeito ao seu tempo, à sua condição e ao seu meio de uma maneira tal que quase nada fica para ele poder fazer como quer. Para se afirmar, como agora se diz, tão mal.
Sobre nós mandam tanto a saúde e o dinheiro que temos, o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos; mandam tanto em nós estas coisas que nos dão que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se tudo pudéssemos. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase nada.

Aí está a razão da nossa tristeza permanente. Cada homem tem o corpo de um homem e o coração de um deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que pede o coração e não pode a vida, que muito cedo encontramos o hábito da tristeza. Habituamo-nos a amar sem nos sentirmos amados e a esse sentimento, cortado por surpresas curtas, passamos a chamar amor. E com verdade. No mundo das ausências, onde a tristeza vem de sabermos muito bem o que nos falta, a nós e àqueles que nos rodeiam, a bondade, que nos torna vulneráveis aos sofrimentos daqueles que nos acompanham e nos faz sofrer duas vezes mais do que se estivéssemos sozinhos, é o preço que pagamos por não sermos amargos. É graças à bondade que estamos tristes acompanhados. Há uma última doçura em sermos tristes num mundo triste. Igual a nós.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'