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segunda-feira, 7 de junho de 2010
Devo-te .
Devo-te tanto como um pássaro
deve o seu voo à lavada
planície do céu.
Devo-te a forma
novíssima de olhar
teu corpo onde às vezes
desce o pudor o silêncio
de uma pálpebra mais nada.
Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesíaca, doce
violência dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silêncio
das coisas - estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pólen
levíssimo do dia;
estas formigas na sombra
da própria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frágil
nas antenas, um recado invisível, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta - ó meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mãos!
Vítor Matos e Sá, in 'O Silêncio e o Tempo'
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9 comentários:
Amigo Manuel:
Na verdade não conhecia o poema e gostei imenso, pela leveza que não lhe tira a intensidade.
Então... devo-te este bom momento de poesia.
Amo-te sempre
com um pouco de barco e de vento
com uma humildade de mar à tua volta
dentro do meu corpo; com o desespero
de ser tempo;
com um pouco de sol e uma fonte
adormecida na ternura.
Merecer este minuto de palavras habitando
o que há sem fim no teu retrato;
Este mesmo minuto em que chegam e partem navios
- nesta mesma cidade, deste
minuto, desta língua, deste
romance diário dos teus olhos -
(e chegarão com armas? refugiados? trigo?
partirão com noivas? missionários? guerras? discursos?)
Merecer a densa beleza do teu corpo
que tem água e ternura, células, penumbra,
que dormiu no berço, dormiu na memória,
que teve soluços, febre, e absurdos desejos
maiores que os braços,
merecer os dias subindo das florestas – e vêm
banhar-se, lentos, nos teus olhos…
Merecer a Igreja, o ajoelhar das palavras,
entre estes cinemas visitando, em duas horas, a alma,
estes elétricos parando atrás do infinito
para subirem os namorados, a viúva, o cobrador da luz, a
costureira
entre estes homens que ganham dinheiro, sangue frio, ou vícios,
ou medalhas
e estes telefones roubando a lealdade dos olhos…
Teus cabelos cheirarão ainda a infância
e a vento, depois de passarem por esta fome pública,
estes olhos com regras de trânsito, estes dias sujos,
estes lábios que já não ensinam o pomar
ou a fonte, nem têm gosto de leite e de aurora,
depois destes olhos cheios da pergunta de estarem vivos
em vão?
Merecer honradamente este poema, todos os poemas,
como quem parte, entre os dedos a brancura
quente de um pão!
Vítor Matos e Sá
Gosto muito deste moço e de vc tb!
Bjs.
Gostoso esse dever, que nos enche de alegria.
DEvo-te a alegria de vir aqui e encontrar poemas tão belos!
Beijos!
Querido amigo,
Como sempre, nos encanta com esses textos belíssimos.
Já eu, devo-te agradecimentos por fazer parte desse seu mundo virtual.
Beijos
Muito bonito o poema.
beijos
Devo-te esse momento de paz... amei a poesia e a fotografia.
grande abraço querido Manuel
Poema admirável!
É o tempo que passamos com as pessoas, os animais e as coisas que as tornam importantes.
Abraço.
J
Que belo poema, me fez suspirar!
Um abraço
Léia
Gosto muito desse Poema.
Lindo!
beejo e boa terça, Manuel
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