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quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Á vezes.


Às vezes sentava-se na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo.
Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.


Clarice Lispector

Sonhar.


Quem és tu que me fazes sonhar?
Um feitiço que alguém me lançou!

Laço triangular,não quis apartar
Nos braços alguém me elevou!

Espera!-Que eu acorde de manhã...
Dá-me tempo e espaço,o que alterou?

Preciso de esconder o infame traço...
Corrompida esta alma!-Que amou!

Quiseste dar-me o céu,peguei numa estrela,
Ofereceste-me o mar,uma gota me levou!

Num olhar,indicaste um lindo bosque,
Em pegadas que alguém já desflorou!

Vai!-E procura os nómadas do deserto...
Impetuosa,esquecerá quem as deixou!

Quem és tu que me fazes sonhar?
Um feitiço que alguém me lançou!


(Poema de Maria Valadas in Palavras.ao.vento)

De tudo ficam três coisas:



1. A certeza de que estamos sempre começando,
2. A certeza de que precisamos continuar,
3. A certeza de que seremos interrompidos antes de terminar.
Portanto, façamos:
- Da interrupção, um novo caminho.
- Da queda, um passo de dança.
- Do sonho, uma ponte.
- Da procura, um encontro...


Fernando Pessoa.

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Transparências de Constância





No Posto de Turismo até 19 de Outubro .

O Posto de Turismo de Constância tem patente ao público uma Exposição de Pintura da autoria de Massimo Exposito, denominada Transparências de Constância, uma mostra que é possível visitar até ao próximo dia 19 de Outubro.



Aberta ao público nos dias úteis das 9.30 às 13 horas e das 14 às 18 horas, e nos sábados, domingos e feriados das 14.30 às 18.00 horas, a exposição apresenta os trabalhos Transparências de Constância e também a colecção de litografias resultantes dos mesmos, a qual está disponível para venda no próprio Posto de Turismo





Transparências de Constância



A Ideia



Todos os desenhos foram concebidos de fotografias do próprio autor e desenhos ao vivo no final de Novembro de 2007.

A técnica usada é ponta de aparo com tinta sépia (técnica pessoal do autor) sobre conqueror contour 300 gr.

As mulheres que aparecem nos desenhos são Ana Rita e Miroslava, modelos do autor desenhadas ao vivo.

Os desenhos são assim garantidos como obras únicas e originais do autor Massimo Esposito.





O Autor



O pintor Massimo Espósito, é residente em Portugal desde 1986 e dirige várias escolas de desenho e pintura com ensino personalizado, onde cria workshops, concursos de arte e outros eventos.

Já fez exposições com as suas obras, na Europa, Ásia e Brasil. Dedica-se principalmente à pintura a óleo, azulejaria artística e reproduções em lito e serigrafia. Colabora com várias autarquias e instituições públicas e privadas.



Massimo (pittore.italiano@iol.pt)







Explicação técnico/artística





1 A Matriz

No ponto alto da Vila repousa a Matriz que observa os homens e o rio.

A fachada, simples e imponente, despertou-me logo a atenção, e, ao observá-la, alguns ramos de uma árvore ali plantada interpuseram-se.

Folhas e galhos voaram e apareceu uma jovem pensativa.

São coisas que me acontecem.



2 Os telhados

Tive o privilégio de subir a torre campanária e poder observar Constância de um ângulo, amplo e solarengo, que alcança o rio e o horizonte. O jogo dos telhados a interagir com a natureza foi uma coisa agradável de descrever e, pouco depois, apercebi-me que uma mulher estava deitada lá no fundo. Bonito



3 O Arco

O arco é o ex-libris de Constância, simples modesto. Como uma moldura, resume toda a amplitude da Vila. Escadas, telhados, plantas e roupas estendidas falam claramente da gente que a vive, humilde e trabalhadora; e no fundo a artéria principal, o Tejo, que lento e majestoso se une ao Zêzere e junto começam, mesmo aí, a corrida em conjunto para o mar. Depois, reparei nma mulher a cuidar e a proteger o arco.



4 A Praça do Pelourinho

Quando vi esta praça, há vinte anos atrás, vi-a como uma sala de estar de uma casa: acolhedora, calma, sossegada. Ao ter de desenhá-la, tive o cuidado de transmitir esta ideia, com o cão à porta e o homem a ler o jornal.

A luz que vem do Tejo ilumina o pelourinho (que tive de forçar a prospectiva para enquadra-lo), e a arquitectura das casas se divide em luz e sombra.

No céu, as nuvens adquiram, num instante, a imagem duma mulher que admira este paisagem.
Por CMC

Passado.



Passado:É o futuro usado...

Constância Passo a Passo


Percurso Pedestre vai decorrer a 12 de Outubro

Constância Passo a Passo assim se denomina o Percurso Pedestre de Observação e Interpretação da Natureza, que vai decorrer no próximo dia 12 de Outubro, uma iniciativa promovida pela autarquia, através do Parque Ambiental de Santa Margarida (PASM).

Constância Passo a Passo é um percurso de um dia onde os participantes terão oportunidade de conhecer a paisagem e a cultura do concelho, assim como a natureza extraterrestre…

Constância Passo a Passo inclui: almoço, travessia do Tejo num barco tradicional, visita ao Museu dos Rios e das Artes Marítimas e uma sessão de Astronomia no Centro Ciência Viva de Constância.

A participação na actividade implica inscrição obrigatória, pelo que os interessados devem contactar o PASM através do telefone 249 736 929 ou do e-mail parqueambiental@cm-constancia.pt.




Por CMC

Palavras Sábias.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Dia Internacional do Idoso e Dia Mundial da Música



1 de Outubro Na próxima quarta-feira, 1 de Outubro, assinala-se o Dia Internacional do Idoso e o Dia Mundial da Música, iniciativas que vão ser comemoradas pelo Município de Constância com uma actividade que pretende promover e valorizar os actos ancestrais de cantar ou contar um conto.

Esta iniciativa cultural, dinamizada pela Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, promove a aproximação das pessoas num acto lúdico e a recolha de um valioso património oral, através da leitura de contos, dramatizações várias e algumas cantigas. A actividade que será realizada pelos mais novos vai permitir valorizar a experiência e sabedoria dos menos novos e promover uma troca de experiências entre gerações. No final da actividade haverá um lanche convívio e a entrega de diplomas a todos os participantes.

Aberta à comunidade em geral, a actividade está agendada para a próxima quarta-feira, 1 de Outubro, a partir das 14:30h, na sala Polivalente da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill.

Para informações ou esclarecimentos adicionais contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.
Por CMC

Olhares.


Como a nossa fragilidade o concebe e o pratica, o amor é um sentimento essencialmente incómodo. Mal dois olhares se trocam e duas mãos se enlaçam, vem logo a tragédia das suspeitas, dos ciúmes, das zangas, das recriminações, estragar momentos que deviam ser os mais belos, os mais alegres, os mais despreocupados da vida .

Júlio Dantas.

O pudor é um sentimento masculino.



O pudor é um sentimento masculino. Quando uma mulher conhece outra, ao fim de dez minutos está já a explicar-lhe como é que o marido trabalha na cama. Ao fim de dez anos ou de uma vida, um homem não explica a outro como trabalha a mulher. É que o homem não é um novo-rico do sexo. Ou respeita a mulher por simples machismo?
Porque é por machismo, por exemplo, que muitas vezes admira uma mulher que se distinguiu nas artes ou nas ciências. Implicitamente tem-se a ideia de que o normal seria não se distinguir. Se portanto se distingue, é isso tão extraordinário como um trapezista de circo ou coisa assim. Admirando-se então a mulher, simultaneamente se humilha. Dessa humilhação se fazem muitas admirações.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Chuva oblíqua.


Chuva Oblíqua

Atravessa esta paisagem o meu sonho dum porto infinito
E a cor das flores é transparente de as velas de grandes navios
Que largam do cais arrastando nas águas por sombra
Os vultos ao sol daquelas árvores antigas...
O porto que sonho é sombrio e pálido
E esta paisagem é cheia de sol deste lado...
Mas no meu espírito o sol deste dia é porto sombrio
E os navios que saem do porto são estas árvores ao sol...
Liberto em duplo, abandonei-me da paisagem abaixo...
O vulto do cais é a estrada nítida e calma
Que se levanta e se ergue como um muro,
E os navios passam por dentro dos troncos das árvores
Com uma horizontalidade vertical,
E deixam cair amarras na água pelas folhas uma a uma dentro...
Não sei quem me sonho...
Súbito toda a água do mar do porto é transparente
e vejo no fundo, como uma estampa enorme que lá estivesse desdobrada,
Esta paisagem toda, renque de árvore, estrada a arder em aquele porto,
E a sombra duma nau mais antiga que o porto que passa
Entre o meu sonho do porto e o meu ver esta paisagem
E chega ao pé de mim, e entra por mim dentro,
E passa para o outro lado da minha alma...



II



Ilumina-se a igreja por dentro da chuva deste dia,
E cada vela que se acende é mais chuva a bater na vidraça...
Alegra-me ouvir a chuva porque ela é o templo estar aceso,
E as vidraças da igreja vistas de fora são o som da chuva ouvido por dentro...
O esplendor do altar-mor é o eu não poder quase ver os montes
Através da chuva que é ouro tão solene na toalha do altar...
Soa o canto do coro, latino e vento a sacudir-me a vidraça
E sente-se chiar a água no fato de haver coro...
A missa é um automóvel que passa
Através dos fiéis que se ajoelham em hoje ser um dia triste...
Súbito vento sacode em esplendor maior
A festa da catedral e o ruído da chuva absorve tudo
Até só se ouvir a voz do padre água perder-se ao longe
Com o som de rodas de automóvel...
E apagam-se as luzes da igreja
Na chuva que cessa...



III



A Grande Esfinge do Egito sonha pôr este papel dentro...
Escrevo - e ela aparece-me através da minha mão transparente
E ao canto do papel erguem-se as pirâmides...
Escrevo - perturbo-me de ver o bico da minha pena
Ser o perfil do rei Quéops...
De repente paro...
Escureceu tudo... Caio por um abismo feito de tempo...
Estou soterrado sob as pirâmides a escrever versos à luz clara deste candeeiro
E todo o Egito me esmaga de alto através dos traços que faço com a pena...
Ouço a Esfinge rir por dentro
O som da minha pena a correr no papel...
Atravessa o eu não poder vê-la uma mão enorme,
Varre tudo para o canto do teto que fica por detrás de mim,
E sobre o papel onde escrevo, entre ele e a pena que escreve
Jaz o cadáver do rei Queóps, olhando-me com olhos muito abertos,
E entre os nossos olhares que se cruzam corre o Nilo
E uma alegria de barcos embandeirados erra
Numa diagonal difusa
Entre mim e o que eu penso...
Funerais do rei Queóps em ouro velho e Mim!...



IV



Que pandeiretas o silêncio deste quarto!...
As paredes estão na Andaluzia...
Há danças sensuais no brilho fixo da luz...
De repente todo o espaço pára...,
Pára, escorrega, desembrulha-se...,
E num canto do teto, muito mais longe do que ele está,
Abrem mãos brancas janelas secretas
E há ramos de violetas caindo
De haver uma noite de Primavera lá fora
Sobre o eu estar de olhos fechados...



V



Lá fora vai um redemoinho de sol os cavalos do carroussel...
Árvores, pedras, montes, bailam parados dentro de mim...
Noite absoluta na feira iluminada, luar no dia de sol lá fora,
E as luzes todas da feira fazem ruídos dos muros do quintal...
Ranchos de raparigas de bilha à cabeça
Que passam lá fora, cheias de estar sob o sol,
Cruzam-se com grandes grupos peganhentos de gente que anda na feira,
Gente toda misturada com as luzes das barracas, com a noite e com o luar,
E os dois grupos encontram-se e penetram-se
Até formarem só um que é os dois...
A feira e as luzes das feiras e a gente que anda na feira,
E a noite que pega na feira e a levanta no ar,
Andam por cima das copas das árvores cheias de sol,
Andam visivelmente por baixo dos penedos que luzem ao sol,
Aparecem do outro lado das bilhas que as raparigas levam à cabeça,
E toda esta paisagem de primavera é a lua sobre a feira,
E toda a feira com ruídos e luzes é o chão deste dia de sol...
De repente alguém sacode esta hora dupla como numa peneira
E, misturado, o pó das duas realidades cai
Sobre as minhas mãos cheias de desenhos de portos
Com grandes naus que se vão e não pensam em voltar...
Pó de oiro branco e negro sobre os meus dedos...
As minhas mãos são os passos daquela rapariga que abandona a feira,
Sozinha e contente como o dia de hoje..



VI



O maestro sacode a batuta,
E lânguida e triste a música rompe...
Lembra-me a minha infância, aquele dia
Em que eu brincava ao pé de um muro de quintal
Atirando-lhe com uma bola que tinha dum lado
O deslizar dum cão verde, e do outro lado
Um cavalo azul a correr com um jockey amarelo...
Prossegue a música, e eis na minha infância
De repente entre mim e o maestro, muro branco,
Vai e vem a bola, ora um cão verde,
Ora um cavalo azul com um jockey amarelo...
Todo o teatro é o meu quintal, a minha infância
Está em todos os lugares, e a bola vem a tocar música,
Uma música triste e vaga que passeia no meu quintal
Vestida de cão tornando-se jockey amarelo...
(Tão rápida gira a bola entre mim e os músicos...)
Atiro-a de encontro à minha infância e ela
Atravessa o teatro todo que está aos meus pés
A brincar com um jockey amarelo e um cão verde
E um cavalo azul que aparece por cima do muro
Do meu quintal... E a música atira com bolas
À minha infância... E o muro do quintal é feito de gestos
De batuta e rotações confusas de cães verdes
E cavalos azuis e jockeys amarelos...
Todo o teatro é um muro branco de música
Por onde um cão verde corre atrás de minha saudade
Da minha infância, cavalo azul com um jockey amarelo...
E dum lado para o outro, da direita para a esquerda,
Donde há arvores e entre os ramos ao pé da copa
Com orquestras a tocar música,
Para onde há filas de bolas na loja onde comprei
E o homem da loja sorri entre as memórias da minha infância...
E a música cessa como um muro que desaba,
A bola rola pelo despenhadeiro dos meus sonhos interrompidos,
E do alto dum cavalo azul, o maestro, jockey amarelo tornando-se preto,
Agradece, pousando a batuta em cima da fuga dum muro,
E curva-se, sorrindo, com uma bola branca em cima da cabeça,
Bola branca que lhe desaparece pelas costas abaixo...

Fernando Pessoa.

domingo, 28 de setembro de 2008

Lado a lado.

Literatura.


Sinopse


Após a descoberta de uma conspiração contra o seu trono, o rei Henrique VIII parte numa espectacular viagem oficial ao Norte de Inglaterra para inspirar temor nos seus súbditos revoltosos. Acompanhado por mil soldados, a fina flor da nobreza e a sua quinta mulher, Catarina Howard, o rei assiste a uma extravagante demonstração de submissão por parte da pequena nobreza de York, naquele que será o momento apoteótico da maior visita oficial do período Tudor.

(Actual leitura.)

Liga Sagres.

Há palavras que nos beijam.





Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte

Alexandre O'Neill.

sábado, 27 de setembro de 2008

Antepasto.



Tudo o que o Poeta escreve
está resumido
numa única palavra: Solidão.



Escrever é distanciar-se do mundo

para poder entendê-lo

é uma forma de morrer.



Viver é outra coisa

ainda que alienada.



Eu trocaria mil rimas

por uma noite de amor.



E trocaria um belo poema

sobre a fome

por um singelo prato de comida.


Poema de Antonio Miranda

Ilus. José Campos Biscardi

Cama de rosas.

Mulher.


A mulher está muito perto da Natureza; há nela os mesmos encantos e os mesmos perigos .

(Agostinho da Silva.)

Acordar.


A vida é como um sonho; é o acordar que nos mata .

sexta-feira, 26 de setembro de 2008