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sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Recordando...




Bom fim de semana para todo o mundo.

O espantalho.





Ao meu redor cresce verde a lavoura
e eu sou de seca palha

Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste

Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo

Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço

Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos

Vivo abismado e só
Escancarado sob a luz dos astros

(Irema Macedo)

Cinema.


O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho .

As Pessoas são Como os envelopes.



As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? Será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro. As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista...

Vasco Pinto de Magalhães, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Transforma-se o amador na cousa amada.




Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


Luís de Camões

Ser ou não ser...


Quem não quer ser urso, não lhe veste a pele!

Ausência.


Em amor, a ausência, quando não é o maior dos males, é o melhor dos remédios.

Tempo.




Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco



A XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco, organizada pela Câmara Municipal de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O'Neill, decorrerá de 23 a 30 de Novembro, no Cine-Teatro Municipal de Constância, constituindo-se como um momento anual de promoção do Livro e da Leitura.

No domingo, dia 23, a inauguração da Feira do Livro e do Disco decorrerá às 15.00H, ao que se seguirá o espectáculo de teatro Felizmente há luar de Luís Sttau Monteiro, representado pelo Teatro Meia Via - Associação Cultural de Torres Novas.

Na segunda-feira, dia 24, às 10.00H, 11.00H, 14.00H e 15.30H ocorrerá a actividade Constância à Escrita, tendo como interveniente o ilustrador Pedro Leitão.

Na terça-feira, dia 25, às 10.00H, decorrerá a actividade de animação e promoção da leitura O Cantinho das Histórias, dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Pelas 14.00H o espectáculo Livro que ladra não morde, apresentado pela Associação Cultural e Pesquisa Teatral A Gaveta.

Na quarta-feira, dia 26, às 10.00H e 11.00H a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Fortes da Cunha. Pelas 14.30H terá lugar o 4º Encontro Confluências, organizado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Constância.

Na quinta-feira, dia 27, às 10.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 14.00H e 15.00H, a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Ducla Soares.

Na sexta-feira, dia 28, às 10.00H e 14.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 21.00H o espectáculo Vieira, a voz visível pelo grupo de Teatro Há Cultura.

Durante o fim-de-semana, dias 29 e 30, a partir das 14.00H, terá continuidade a actividade de animação O Cantinho das Histórias, terminando a XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco no domingo, às 19.00H.

O certame estará aberto ao público no domingo, dia 23, das 15.00H às 21.00H, de segunda a quinta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 19.00H, na sexta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 21.00H, sábado das 14.00H às 21.30H e no domingo, (dia 30) das 14.00H às 19.00H.

Por CMC

Caminhos.


O caminho com menos obstáculos é o caminho do perdedor .

Conserto a palavra.




Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em exame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a

Daniel Faria, in "Homens que São como Lugares Mal Situados

Relendo Eça de Queiroz.


A Cidade e as Serras é uma deliciosa sátira dos progressos ainda canhestros dos tempos modernos e reencontro do romancista com a paisagem de sua meninice. Vê-se também aí, no jogo dos contrastes, o apego nostálgico à essencialidade honesta da vida ainda natural e limpa do interior.

terça-feira, 11 de novembro de 2008


O Mirante - diário online - Política - António Mendes faz balanço do mandato com Governo como “bombo da festa”

Conselhos de economia.


O Governo fez deduções e devoluções do IRS. Se gastarmos esses montantes na Zara, o dinheiro vai todo para a China. Se o gastarmos em combustível, ele vai direitinho para os árabes. Se comprarmos um computador, o dinheirito irá para a Índia, China e Taiwan ou Formosa.
Se comprarmos produtos hortícolas, o dinheiro vai para Espanha, França ou Holanda, pela certa. Se comprarmos um bom carro, o destino do dinheiro será a Alemanha. Se comprarmos inutilidades, ele vai para a Formosa. Nenhum desse dinheiro ajudará a economia nacional.
A única maneira de manter esse dinheiro dentro de portas é gastá-lo em p**tas e vinho verde, que são os únicos produtos ainda produzidos em Portugal.

Verdes são os campos.




Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasteis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

Quentes e boas.


Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono,à esquina do Inverno,
o homem das castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.

A mágoa que transporta a miséria ambulante,
passeia na cidade o dia inteiro.
É como se empurrasse o Outono diante;
é como se empurrasse o nevoeiro.
Quem sabe a desventura do seu fado?
Quem olha para o homem das castanhas?
Nunca ninguém pensou que ali ao lado
ardem no fogareiro dores tamanhas.

Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais amor p'ra casa.

Ary dos Santos

Armistício.




O Armistício de Compiègne foi um tratado assinado em 11 de novembro de 1918 entre os Aliados e a Alemanha, dentro de um vagão de trem na floresta de Compiègne, com o objetivo de encerrar as hostilidades no front ocidental da Primeira Guerra Mundial. Os principais signatários foram o Marechal Ferdinand Foch, comandante-em-chefe aliado, e Matthias Erzberger, representante alemão.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Descalça vai para a fonte.




Descalça vai para a fonte
Leonor pela verdura;
Vai formosa, e não segura.

Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai formosa e não segura.

Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à formosura.
Vai formosa e não segura.

Luís de Camões

Velhos são os trapos.III

Fantasias.


Só a fantasia permanece sempre jovem; o que nunca aconteceu nunca envelhece .