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domingo, 13 de dezembro de 2009

Espírito de Natal.


Oxalá pudéssemos meter o espírito de natal em caixas e abrir uma caixa em cada mês do ano.

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Mulher Nua


Tela (Les demoiselles D'Avignon, Pablo Picasso.)




Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?

(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)

Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

Juan Ramón Jiménez, in "La Mujer Desnuda"

Ave Maria.

Enfeites de Natal.


Talvez o melhor enfeite de natal seja apenas um sorriso.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Je t'aime.

Natal...




Já não bastam as luzes, os enfeites,
para apagar a tristeza dos olhos de quem as vê...

Carta ao menino Jesus.


Dezembro frio
com ventos gélidos do Norte
crianças que se aconchegam há lareira
outros queixando-se da sua má sorte.
Cidade de muita gente
repleto de almas penadas
vejo em cada esquina das tuas ruas
miséria
dor
vidas acabadas.
Por andas tu menino Jesus
nestas horas de tristeza
em que meninos sem pão
amor
carinho e compreensão
vivem na maior pobreza.
Não têm de comer
nem tão pouco onde dormir
são crianças abandonadas
doentes
maltratadas
que apenas sentem dor
e já não sabem sorrir.
Precisam de uma escola
muitos livros para ler
de quem lhes preste atenção
amor,carinho e ternura
para que possam aprender.
Menino Jesus
tira os meninos da rua
dá-lhes um lar com presépio
para que sinta a felicidade
amor e fraternidade
em pé de igualdade
como as outras crianças da cidade.

Antwerpen, 11 de Dezembro de 2009

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Presente Inexistente.




Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar.
Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.

Blaise Pascal, in "Pensamentos"

Sou homem...


Sou homem e, por conseguinte, trago todos os demónios no meu coração .

Casulo humano...


Tu que nasceste para amar
não te resguardes no teu casulo
tece a vida com fios de amor
abre o teu peito
liberta-te dessa dor.
Abre o coração de par em par
abraça outro ser
sente que és gente
ama,
deixa de sofrer
liberta essa dor...

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tolerância às Opiniões.




Para que os homens possam sentir-se felizes com a minha companhia, é necessário antes de tudo que eu tenha a grande força de ver como prováveis as opiniões a que aderiram, desde que as não venham contradizer os factos que posso observar; não devo supor-me infalível; não devo considerar-me a inteligência superior e única entre o bando de pobres seres incapazes de pensar; cumpre-me abafar todo o ímpeto que possa haver dentro de mim para lhes restringir o direito de pensarem e de exprimirem, como souberem e quiserem, os resultados a que puderam chegar; de outro modo, nada mais faria de que contribuir para matar o universo: porque ele só vive da vida que lhe insufla o pensamento poderoso e livre.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes '

Ilusões.


Saber não ter ilusões é absolutamente necessário para se poder ter sonhos...

Fernando Pessoa.

Horizontes.


Na linha do horizonte
o sol se esconde
num pôr de Sol,
de fogo e fantasia
aí, onde o céu começa e a terra acaba
ainda não é noite e já não é dia.
Para lá desse horizonte,
outros sonhos começam
clareiam novos amores
com raios de sol,
em perfeita harmonia.
Bola encandescente
gira no teu caminho,
ilumina outras paragens
outra gente,
deixa que deste lado
o amor viva na impureza,
que corpos se enlacem
se amem ,se afaguem,
em delícias celestes
até que a noite amanheça...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

A Verdade é um Modo de Estarmos a Bem Connosco.




Cada época, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizível e injustificável sentido de equilíbrio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridículo. E isto não é só visível no que é produto da emotividade. É visível mesmo na manifestação mais neutral como uma notícia ou um anúncio de jornal. Donde nasce esse equilíbrio? Que é que o constitui? O destrói? Porque é que se não rebentava a rir com os anúncios de há cento e tal anos? (Rebentámos nós, aqui há uns meses, em casa dos Paixões, ao ler um jornal de 186...). Mas a razão deve ser a mesma por que se não rebentou a rir com a moda que há anos usámos, os livros ridículos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devíamos apenas rir. O homem é, no corpo como no espírito, um equilíbrio de tensões. Só que as do espírito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequência. Equilibrado o espírito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se não é expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade é isso: a inclusão de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas. Ou: a coerência de seja o que for com o nosso equilíbrio espiritual. A verdade é um modo de estarmos a bem connosco. Mas é um mistério saber o que nos põe a bem ou a mal. Os anúncios de há cem anos eram ridículos porque sim. Nos meus escritos de há anos, mesmo nos ensaios, aquilo de que me separo não são muitas vezes as ideias, a argumentação, mas um certo modo de se olhar para os argumentos, os problemas, um certo nível humano de encarar as coisas. Leio um ensaio de há vinte anos e sinto que eu tinha menos vinte anos. Há um nível etário para a mesma verdade nos existir. A verdade de que falei há vinte anos é-me exactamente a de hoje; e todavia há um desfasamento no modo como corri para ela e me entusiasmei com ela e me comovi com ela. Tudo agora me acontece ainda mas num registo diferente. Não é em si que as verdades envelhecem: é com as rugas que temos no rosto e na alma.

Vergílio Ferreira, in "Conta-Corrente 2"

Literatura.


Sinopse
À semelhança de Os Pilares da Terra Ken Follett volta ao registo do romance histórico, numa obra dividida em duas partes graças às quase mil páginas que a compõem. A Presença publica agora o primeiro volume de Um Mundo Sem Fim, que se prevê repetir o sucesso de Os Pilares da Terra. O autor sentiu-se bastante motivado a escrever este novo livro já que desde Os Pilares da Terra, publicado em 1989, os leitores de todo o mundo clamavam insistentemente por uma sequela. Finalmente Follett inspirado e com coragem e determinação, sem esquecer uma enorme dedicação, lançou-se na escrita de Um Mundo Sem Fim, a continuação de Os Pilares da Terra, onde recorre a elementos comuns do primeiro livro e dá vida a descendentes de algumas personagens. Recuperando a mesma cidade Kingsbridge, o cenário é ambientado dois séculos mais tarde onde nos transporta até 1327. Aí iremos ao encontro de quatro crianças que presenciam a morte de dois homens por um cavaleiro. Três delas fogem com medo, ao passo que uma se mantém no local e ajuda o cavaleiro ferido a recompor-se e a esconder uma carta que contém informação secreta que não pode ser revelada enquanto ele for vivo. Estas crianças quando chegam à idade adulta viverão sempre na sombra daquelas mortes inexplicáveis que presenciaram naquele dia fatídico. Uma obra de fôlego com a marca assinalável e absolutamente incontornável de Ken Follett.

Tempestade passageira.


Num turbilhão de idéias
uma tempestade se abate em mim
será loucura de amor
num caos tempestivo
ou furacão passageiro
neste grito de dor.
Nesta avalanche temporal
procuro onde me recolher
talvez num mar calmo,
sereno
com ventos que não me façam tremer
e onde tudo o que sinto
angústia
mágoa
não passe de uma pequena tormenta
em mar raso
de um copo de água...

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Aborrecimento...


O silêncio cura todos os aborrecimentos .

A Angústia.




Nada em ti me comove, Natureza, nem
Faustos das madrugadas, nem campos fecundos,
Nem pastorais do Sul, com o seu eco tão rubro,
A solene dolência dos poentes, além.

Eu rio-me da Arte, do Homem, das canções,
Da poesia, dos templos e das espirais
Lançadas para o céu vazio plas catedrais.
Vejo com os mesmos olhos os maus e os bons.

Não creio em Deus, abjuro e renego qualquer
Pensamento, e nem posso ouvir sequer falar
Dessa velha ironia a que chamam Amor.

Já farta de existir, com medo de morrer,
Como um brigue perdido entre as ondas do mar,
A minha alma persegue um naufrágio maior.

Paul Verlaine, in "Melancolia"

ilusões.


Ilusões
são sonhos antecipados
a partir do nada
são o lusco-fusco
de tardes sonhadas...

domingo, 6 de dezembro de 2009