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terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Sugestões de presente para o Natal:
Para seu inimigo, perdão. Para um oponente, tolerância. Para um amigo, seu coração. Para um cliente, serviço. Para tudo, caridade. Para toda criança, um exemplo bom. Para você, respeito."
É o Fim que Confere o Significado às Palavras .
Apenas as palavras quebram o silêncio, todos os outros sons cessaram. Se eu estivesse silencioso, não ouviria nada. Mas se eu me mantivesse silencioso, os outros sons recomeçariam, aqueles a que as palavras me tornaram surdo, ou que realmente cessaram. Mas estou silencioso, por vezes acontece, não, nunca, nem um segundo. Também choro sem interrupção. É um fluxo incessante de palavras e lágrimas. Sem pausa para reflexão. Mas falo mais baixo, cada ano um pouco mais baixo. Talvez. Também mais lentamente, cada ano um pouco mais lentamente. Talvez. É-me difícil avaliar. Se assim fosse, as pausas seriam mais longas, entre as palavras, as frases, as sílabas, as lágrimas, confundo-as, palavras e lágrimas, as minhas palavras são as minhas lágrimas, os meus olhos a minha boca. E eu deveria ouvir, em cada pequena pausa, se é o silêncio que eu digo quando digo que apenas as palavras o quebram. Mas nada disso, não é assim que acontece, é sempre o mesmo murmúrio, fluindo ininterruptamente, como uma única palavra infindável e, por isso, sem significado, porque é o fim que confere o significado às palavras.
Samuel Beckett, in 'Textos para Nada'
Apenas imagino...
Ao acordar
tua pele de veludo
roça ma minha
olho a janela
vidros baços
o frio lá fora
aconchego-me no teu corpo
quente
suave
ardente.
Desejo-te
quando há desejo,não há posse
apenas imagino
ansejo-te
a meu belo prazer.
Debaixo dos lençóis de linho
macios
cheirando a rosas
teu corpo esguio
esfuma-se
para lá da janela
e me deixa sozinho
no vazio do meu quarto.
Imaginando-te
sigo-te com o meu olhar
não paras
talvez procures outro caminho...
segunda-feira, 14 de dezembro de 2009
Ninguém Gosta de Ser Considerado Vaidoso
No seu coração, os homens desejam ser estimados, mas eles cuidadosamente ocultam esse desejo porque querem passar por virtuosos e porque o desejo de receber da virtude qualquer vantagem além dela mesma não seria ser virtuoso, mas amar a estima e o elogio — ou seja, ser vaidoso. Os homens são muito vaidosos, mas não há nada que eles mais detestem do que serem considerados vaidosos.
Jean de La Bruyére, in "Os Caracteres"
Teatro.
Beijo.
Quero-te beijar
dar-te um beijo sensual
provar tua doce boca
teu paladar.
Mordiscar teus lábios
numa intensa sedução
em momentos de intimidade
expressar meus afectos
toda a minha paixão.
Sentir teu respirar ofegante
a tua boca sensual
ouvir os batimentos do teu coração
dizer-te baixinho
que beijos são segredos
que passam de boca para boca
cheios de desejo...
domingo, 13 de dezembro de 2009
Natal e não Dezembro.
Entremos, apressados, friorentos,
numa gruta, no bojo de um navio,
num presépio, num prédio, num presídio
no prédio que amanhã for demolido...
Entremos, inseguros, mas entremos.
Entremos e depressa, em qualquer sítio,
porque esta noite chama-se Dezembro,
porque sofremos, porque temos frio.
Entremos, dois a dois: somos duzentos,
duzentos mil, doze milhões de nada.
Procuremos o rastro de uma casa,
a cave, a gruta, o sulco de uma nave...
Entremos, despojados, mas entremos.
De mãos dadas talvez o fogo nasça,
talvez seja Natal e não Dezembro,
talvez universal a consoada.
David Mourão-Ferreira
A Influência do Vestuário
Nada influencia mais profundamente o sentir do homem, do que a fatiota que o cobre. O mais ríspido profeta, se enverga uma casaca e ata ao pescoço um laço branco, tende logo a sentir os encantos dos decotes e da valsa; e o mais extraviado mundano, dentro de uma robe de chambre, sente apetites de serão doméstico e de carinhos ao fogão.
Maior ainda se afirma a influência do vestuário sobre o pensar. Não é possível conceber um sistema filosófico com os pés entalados em escarpins de baile, e um jaquetão de veludo preto forrado a cetim azul leva inevitavelmente a ideias conservadoras.
Eça de Queirós, in 'A Correspondência de Fradique Mendes'
sábado, 12 de dezembro de 2009
A Mulher Nua
Tela (Les demoiselles D'Avignon, Pablo Picasso.)
Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?
(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)
Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!
Juan Ramón Jiménez, in "La Mujer Desnuda"
sexta-feira, 11 de dezembro de 2009
Carta ao menino Jesus.
Dezembro frio
com ventos gélidos do Norte
crianças que se aconchegam há lareira
outros queixando-se da sua má sorte.
Cidade de muita gente
repleto de almas penadas
vejo em cada esquina das tuas ruas
miséria
dor
vidas acabadas.
Por andas tu menino Jesus
nestas horas de tristeza
em que meninos sem pão
amor
carinho e compreensão
vivem na maior pobreza.
Não têm de comer
nem tão pouco onde dormir
são crianças abandonadas
doentes
maltratadas
que apenas sentem dor
e já não sabem sorrir.
Precisam de uma escola
muitos livros para ler
de quem lhes preste atenção
amor,carinho e ternura
para que possam aprender.
Menino Jesus
tira os meninos da rua
dá-lhes um lar com presépio
para que sinta a felicidade
amor e fraternidade
em pé de igualdade
como as outras crianças da cidade.
Antwerpen, 11 de Dezembro de 2009
quinta-feira, 10 de dezembro de 2009
O Presente Inexistente.
Nunca nos detemos no momento presente. Antecipamos o futuro que nos tarda, como para lhe apressar o curso; ou evocamos o passado que nos foge, como para o deter: tão imprudentes, que andamos errando nos tempos que não são nossos, e não pensamos no único que nos pertence; e tão vãos, que pensamos naqueles que não são nada, e deixamos escapar sem reflexão o único que subsiste. É que o presente, em geral, fere-nos. Escondemo-lo à nossa vista porque nos aflige; e se nos é agradável, lamentamos vê-lo fugir. Tentamos segurá-lo pelo futuro, e pensamos em dispor as coisas que não estão na nossa mão, para um tempo a que não temos garantia alguma de chegar.
Examine cada um os seus pensamentos, e há-de encontrá-los todos ocupados no passado ou no futuro. Quase não pensamos no presente; e, se pensamos, é apenas para à luz dele dispormos o futuro. Nunca o presente é o nosso fim: o passado e o presente são meios, o fim é o futuro. Assim, nunca vivemos, mas esperamos viver; e, preparando-nos sempre para ser felizes, é inevitável que nunca o sejamos.
Blaise Pascal, in "Pensamentos"
Casulo humano...
quarta-feira, 9 de dezembro de 2009
Tolerância às Opiniões.
Para que os homens possam sentir-se felizes com a minha companhia, é necessário antes de tudo que eu tenha a grande força de ver como prováveis as opiniões a que aderiram, desde que as não venham contradizer os factos que posso observar; não devo supor-me infalível; não devo considerar-me a inteligência superior e única entre o bando de pobres seres incapazes de pensar; cumpre-me abafar todo o ímpeto que possa haver dentro de mim para lhes restringir o direito de pensarem e de exprimirem, como souberem e quiserem, os resultados a que puderam chegar; de outro modo, nada mais faria de que contribuir para matar o universo: porque ele só vive da vida que lhe insufla o pensamento poderoso e livre.
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes '
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