Nunca encontrei uma pessoa oca. Nunca encontrei uma vida sem significado quando se procura realmente o seu significado. É esse o perigo de dizer que não procuramos, porque foi assim que chegámos ao ponto em que sentimos que a vida não tinha qualquer significado. Bem vê, nós repudiámos tantas formas de terapia. Quer dizer, tantos de nós repudiam actualmente a filosofia, a religião ou qualquer outro padrão que nos mantinha coesos anteriormente. Repudiámos tudo. Até repudiámos a terapia da arte. Por isso não nos restou realmente mais que olhar para dentro, e os que o fazem descobrem que toda a vida tem significado porque a vida tem significado. Fomos seriamente prejudicados por pessoas que disseram que a vida era irracional e de qualquer modo não significava nada. Mas assim que começamos a olhar, descobrimos o padrão e descobrimos a pessoa. Nunca encontrei aquilo a que se poderia chamar uma pessoa totalmente oca.
O mundo gira neste momento há momentos mágicos vividos intensamente cheios de magia a dois momentos lembrados em lugares marcados. Momentos próprios inertes momentos para esquecer confusos de dor de sofrimento. Momentos são espaços do tempo pertença do meu ser no passado no futuro no presente... Momentos em que o mundo gira me envolvem numa roda viva de prazer.
Como é bom contemplar o céu interrogar uma estrela e pensar que lá longe bem longe um outro alguém contempla este mesmo céu essa mesma estrela e murmura baixinho: "Saudade!"
Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele. Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.
Vejo que as tempestades vêm aí pelas árvores que, à medida que os dias se tomam mornos, batem nas minhas janelas assustadas e ouço as distâncias dizerem coisas que não sei suportar sem um amigo, que não posso amar sem uma irmã.
E a tempestade rodopia, e transforma tudo, atravessa a floresta e o tempo e tudo parece sem idade: a paisagem, como um verso do saltério, é pujança, ardor, eternidade.
Que pequeno é aquilo contra que lutamos, como é imenso, o que contra nós luta; se nos deixássemos, como fazem as coisas, assaltar assim pela grande tempestade, — chegaríamos longe e seríamos anónimos.
Triunfamos sobre o que é Pequeno e o próprio êxito torna-nos pequenos. Nem o Eterno nem o Extraordinário serão derrotados por nós. Este é o anjo que aparecia aos lutadores do Antigo Testamento: quando os nervos dos seus adversários na luta ficavam tensos e como metal, sentia-os ele debaixo dos seus dedos como cordas tocando profundas melodias.
Aquele que venceu este anjo que tantas vezes renunciou à luta. esse caminha erecto, justificado, e sai grande daquela dura mão que, como se o esculpisse, se estreitou à sua volta. Os triunfos já não o tentam. O seu crescimento é: ser o profundamente vencido por algo cada vez maior.
Depois do enorme êxito de Os Pilares da Terra, Ken Follett regressa à cidade de Kingsbridge, mas desta vez cerca de dois séculos após os acontecimentos do primeiro livro. No dia 1 de Novembro de 1327, quatro crianças presenciam a morte de dois homens por um cavaleiro. O sucedido irá para sempre assombrar as suas vidas, mas Merthin, Ralph, Caris e Gwenda ficarão também marcados pelo próprio tempo em que vivem, e em particular pela maior tragédia que assolou a Europa no século XIV, a Peste Negra.
Cada objecto costuma transformar-se, em nós, segundo as imagens que evoca e reúne, por assim dizer, em seu redor. É claro que um objecto também pode agradar por si mesmo, pela diversidade das sensações agradáveis que suscita em nós numa percepção harmoniosa; mas bem mais frequentemente, o prazer que um objecto nos dá não se encontra no objecto em si mesmo. A fantasia embeleza-o, cingindo-o e quase projectando nele imagens que nos são queridas. Nem nós o percepcionamos já tal qual como ele é, mas quase animado pelas imagens que suscita em nós ou que os nossos hábitos lhe associam. No objecto, em suma, nós amamos aquilo que nele projectamos de nosso, o acordo, a harmonia que estabelecemos entre nós e ele, a alma que ele adquire só para nós e que é formada pelas nossas recordações.
Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, Pelas aves que voam no olhar de uma criança, Pela limpeza do vento, pelos actos de pureza, Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, Pela branda melodia do rumor dos regatos,
Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos, Pela exactidão das rosas, pela Sabedoria, Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, Pelos aromas maduros de suaves outonos, Pela futura manhã dos grandes transparentes, Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, Abre as portas da História, deixa passar a Vida!
Ausente olho o universo nada vejo. Sinto um vazio fecho os olhos,imagino teu corpo esbelto envolto numa áurea luminosa. Flutuas no espaço que me limita circunda e controla. Grito a tua ausência... Não te vejo não te sinto espaço sideral universo vazio num vácuo total.
Somos um objecto, na paixão, totalmente submissos, sem poder prever os golpes que sofremos; aí reside a grandeza, a loucura, o assombro da paixão. Para mim, o desejo só pode ter lugar entre o masculino e o feminino, entre sexos diferentes. O outro desejo é um autodesejo, é, para mim, como que o prolongamento da prática masturbatória do homem ou da mulher. O esplendor da paixão, a sua imensidade, o seu sofrimento, o seu inferno, reside no facto de só poder verificar-se entre géneros irreconciliáveis, o masculino e o feminino. Tanto a paixão como o desejo.
Os casais homossexuais são muito mais estáveis do que os casais heterossexuais, porque na homosexualidade há uma prática simples e cómoda do desejo. A prática heterossexual é ainda selvagem, é ainda a floresta do desejo. Na prática homossexual não creio que exista esse fenómeno de posse que existe na heterossexual. Na prática homossexual existe uma espécie de intermutabilidade do prazer, as pessoas nunca pertencem na homossexualidade como pertencem na heterossexualidade. É um inferno não se poder escapar ao desejo de uma pessoa, é a isso que eu chamo, quando a mim, o esplendor da heterossexualidade.
Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher vago e belo e voluptuoso, num bailado erótico, com o cenário dos astros, mudos [e quedos. Estrelas que as suas mãos afagam e a boca repele, deixai que os caminhos da noite, cegos e rectos como o destino, suspensos como uma nuvem, sejam os caminhos dos poetas que lhes decoraram o nome. Ó noite, coalhada nas formas de um corpo de mulher! Esconde a vida no seio de uma estrela e fá-la pairar, assim mágica e irreal, para que a olhemos como uma lua sonâmbula.
Cada um só vê do universo aquilo que a sua sensibilidade ou a sua maneira de ser lhe permite. O universo pode ser muito mais vasto e muito mais diferente do que aquilo que é apenas o nosso mundo .
Quando já nada se espera particularmente exaltante mas palpitamos e seguimos aquém da consciência, ferramenta existindo, cegamente afirmando, como um pulso que golpeia as trevas, quando miramos de frente os vertiginosos olhos claros da morte, dizemos as verdades; as bárbaras, terríveis, amorosas crueldades Dizemos os poemas que enchem os pulmões dos que, asfixiados, pedem ser, pedem ritmo, pedem lei para aquilo que sentem em excesso, com a velocidade do instinto, com o raio do prodígio, como mágica evidência, o real que se transforma no idêntico a si mesmo. Poesia para o pobre, poesia necessária como o pão de cada dia, como o ar que exigimos treze vezes por minuto, para ser e enquanto somos dar o sim que glorifica. Porque vivemos aos tropeços, porque apenas nos deixam dizer que somos quem somos, os cânticos não podem ser, sem pecado, um adorno. Estamos chegando ao fundo. Maldita a poesia concebida como um luxo cultural para os neutros que, lavando-se as mãos, se desentendem e evadem. Maldigo a poesia de quem não toma partido até manchar-se. Faço minhas as faltas. Sinto em mim os que sofrem e canto respirando. Canto, e canto e cantando para lá de minhas penas, me amplio. Quisera dar-lhes vida, provocar novos actos, e calculo por isso com a técnica que posso. Me sinto um engenheiro do verso e um operário que forja com outros a Espanha em seus alicerces. Assim é minha poesia: poesia-ferramenta ao mesmo tempo pulsar do unânime e cego. Assim é, arma carregada de futuro expansivo com que aponto o teu peito. Não é uma poesia gota a gota pensada. Não é um belo produto. Não é um fruto perfeito. É algo como o ar que todos respiramos e é o canto que expande o que dentro levamos. São palavras que repetimos sentindo como nossas, e voam. São mais que o pensado. São gritos no céu, e, na terra, são actos.