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segunda-feira, 17 de novembro de 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

Pudor.


O pudor inventou a roupa para que se tenha mais prazer com a nudez ...

A mulher nua.




Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?

(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)

Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

(Juan Ramón Jiménez.)

Se tanta pena tenho merecida




Se tanta pena tenho merecida
Em pago de sofrer tantas durezas,
Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
Que aqui tendes u~a alma oferecida.

Nela experimentai, se sois servida,
Desprezos, desfavores e asperezas,
Que mores sofrimentos e firmezas
Sustentarei na guerra desta vida.

Mas contra vosso olhos quais serão?
Forçado é que tudo se lhe renda,
Mas porei por escudo o coração.

Porque, em tão dura e áspera contenda,
Fé bem que, pois não acho defensão,
Com me meter nas lanças me defenda.

Luís de Camões

Constância.


O Mirante - diário online - Sociedade - Obras na margem direita do rio Zêzere reparam danos das cheias em Constância

sábado, 15 de novembro de 2008

Crianças.


Nunca ameace uma criança: castigue-a ou perdoe-a .

Caminharemos de Olhos Deslumbrados.




Caminharemos de olhos deslumbrados
E braços estendidos
E nos lábios incertos levaremos
O gosto a sol e a sangue dos sentidos.

Onde estivermos, há-de estar o vento
Cortado de perfumes e gemidos.
Onde vivermos, há-de ser o templo
Dos nossos jovens dentes devorando
Os frutos proibidos.

No ritual do verão descobriremos
O segredo dos deuses interditos
E marcados na testa exaltaremos
Estátuas de heróis castrados e malditos.

Ó deus do sangue! deus de misericórdia!
Ó deus das virgens loucas
Dos amantes com cio,
Impõe-nos sobre o ventre as tuas mãos de rosas,
Unge os nossos cabelos com o teu desvario!

Desce-nos sobre o corpo como um falus irado,
Fustiga-nos os membros como um látego doido,
Numa chuva de fogo torna-nos sagrados,
Imola-nos os sexos a um arcanjo loiro.

Persegue-nos, estonteia-nos, degola-nos, castiga-nos,
Arranca-nos os olhos, violenta-nos as bocas,
Atapeta de flores a estrada que seguimos
E carrega de aromas a brisa que nos toca.

Nus e ensanguentados dançaremos a glória
Dos nossos esponsais eternos com o estio
E coroados de apupos teremos a vitória
De nos rirmos do mundo num leito vazio.


Ary dos Santos, in 'Liturgia do Sangue'

Á flor da pele.



Acende o cigarro, rapariga. E olha para a
rua onde passam transeuntes desconhecidos.
A tarde vai avançando e nós morrendo nela
ou morrendo nela as nossas esperanças,
a ilusão de eternidade. A beleza o que é?
Braços nus, o ventre liso nu, os cabelos caídos
nos ombros. A desconhecida concentra em si
a atenção do homem desocupado. Para
distrair-se, ele olha para ela e recorda-se
da história antiga do amor, reconstrói
ficções que sabe serem apenas ficções. Assim
passa o tempo, depois irá para casa. Quem
sabe o segredo mais secreto da existência
de cada um? Todos nós temos uma
história. Uns calam-na, outros murmuram
entre dentes os episódios essenciais, outros
encontram palavras com que construir o
poema hermético. Que diferença é que faz?
De tudo se constrói a existência, se alimenta
o sentido. Camisa branca à flor da pele, a
rapariga levantou-se e foi lá dentro do café
comprar qualquer coisa. Palavras, deixai-me
celebrar o vão movimento dos ponteiros do
relógio, os episódios vãos, a nossa morte.

(João Camilo)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Recordando...




Bom fim de semana para todo o mundo.

O espantalho.





Ao meu redor cresce verde a lavoura
e eu sou de seca palha

Ao meu redor homens se movem e trabalham
e eu resisto imóvel ao meu ofício triste

Estou cercado de arame por toda parte
por toda parte assusto pássaros que amo

Meus braços estão abertos para o espanto
não para o trabalho ou o abraço

Meu corpo de palha seca
nunca sentiu a volúpia dos bichos

Vivo abismado e só
Escancarado sob a luz dos astros

(Irema Macedo)

Cinema.


O cinema não tem fronteiras nem limites. É um fluxo constante de sonho .

As Pessoas são Como os envelopes.



As pessoas e os encontros, por vezes, são como os envelopes bem endereçados que recebemos. Sabe-se o nome e a morada, mas não se sabe o que vem lá dentro. Será uma conta a pagar, um convite, um folheto de publicidade? Será uma cunha, umas boas festas? É que o envelope rasga-se e depois vê-se o que vem lá dentro. As intenções do coração vêm sempre ao de cima, não há máscara que lhes resista...

Vasco Pinto de Magalhães, in 'Não Há Soluções, Há Caminhos'

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Transforma-se o amador na cousa amada.




Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.


Luís de Camões

Ser ou não ser...


Quem não quer ser urso, não lhe veste a pele!

Ausência.


Em amor, a ausência, quando não é o maior dos males, é o melhor dos remédios.

Tempo.




Tempo — definição da angústia.
Pudesse ao menos eu agrilhoar-te
Ao coração pulsátil dum poema!
Era o devir eterno em harmonia.
Mas foges das vogais, como a frescura
Da tinta com que escrevo.
Fica apenas a tua negra sombra:
— O passado,
Amargura maior, fotografada.

Tempo...
E não haver nada,
Ninguém,
Uma alma penada
Que estrangule a ampulheta duma vez!

Que realize o crime e a perfeição
De cortar aquele fio movediço
De areia
Que nenhum tecelão
É capaz de tecer na sua teia!

Miguel Torga, in 'Cântico do Homem'

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco



A XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco, organizada pela Câmara Municipal de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O'Neill, decorrerá de 23 a 30 de Novembro, no Cine-Teatro Municipal de Constância, constituindo-se como um momento anual de promoção do Livro e da Leitura.

No domingo, dia 23, a inauguração da Feira do Livro e do Disco decorrerá às 15.00H, ao que se seguirá o espectáculo de teatro Felizmente há luar de Luís Sttau Monteiro, representado pelo Teatro Meia Via - Associação Cultural de Torres Novas.

Na segunda-feira, dia 24, às 10.00H, 11.00H, 14.00H e 15.30H ocorrerá a actividade Constância à Escrita, tendo como interveniente o ilustrador Pedro Leitão.

Na terça-feira, dia 25, às 10.00H, decorrerá a actividade de animação e promoção da leitura O Cantinho das Histórias, dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Pelas 14.00H o espectáculo Livro que ladra não morde, apresentado pela Associação Cultural e Pesquisa Teatral A Gaveta.

Na quarta-feira, dia 26, às 10.00H e 11.00H a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Fortes da Cunha. Pelas 14.30H terá lugar o 4º Encontro Confluências, organizado pela Comissão de Protecção de Crianças e Jovens de Constância.

Na quinta-feira, dia 27, às 10.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 14.00H e 15.00H, a iniciativa Constância à Escrita, terá como convidada a escritora Luísa Ducla Soares.

Na sexta-feira, dia 28, às 10.00H e 14.00H a actividade de animação O Cantinho das Histórias dinamizado pelo Curso de Apoio à Criança da Escola Básica e Secundária Luís de Camões. Às 21.00H o espectáculo Vieira, a voz visível pelo grupo de Teatro Há Cultura.

Durante o fim-de-semana, dias 29 e 30, a partir das 14.00H, terá continuidade a actividade de animação O Cantinho das Histórias, terminando a XXII Feira do Livro e XIII Feira do Disco no domingo, às 19.00H.

O certame estará aberto ao público no domingo, dia 23, das 15.00H às 21.00H, de segunda a quinta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 19.00H, na sexta-feira, das 10.00H às 12.30H e das 14.00H às 21.00H, sábado das 14.00H às 21.30H e no domingo, (dia 30) das 14.00H às 19.00H.

Por CMC

Caminhos.


O caminho com menos obstáculos é o caminho do perdedor .

Conserto a palavra.




Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em exame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a

Daniel Faria, in "Homens que São como Lugares Mal Situados

Relendo Eça de Queiroz.


A Cidade e as Serras é uma deliciosa sátira dos progressos ainda canhestros dos tempos modernos e reencontro do romancista com a paisagem de sua meninice. Vê-se também aí, no jogo dos contrastes, o apego nostálgico à essencialidade honesta da vida ainda natural e limpa do interior.