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segunda-feira, 22 de março de 2010

Poema da Água



A água também nasce pequenina

- nasce gota de orvalho ou de neblina...

A água também tem a sua infância

- quando apenas riacho cantarola

brinca de roda nos redemoinhos

salta os seixos que encontra

e faz apostas de corrida - travessa -

por entre as grotas e peraus

e arranca as flores que a marginam

para engrinaldar a cabeleira solta

sobre o leito revolto das areias...

A água também tem adolescência

- sonha lagos românticos à lua

fitando os astros namorados dela

embevecida em seus olhos de ouro...

e assim sempre amorosa e sonhadora

vai tecendo e bordando - dia e noite

o seu vestido de noiva nas montanhas

e o seu véu de noivado nas cascatas...

A água também tem maturidade

- fica serena e grave em rios fundos

e num destino generoso e amigo

espalha a vida que em si mesma encerra

semeia bençãos para o grão de trigo

abre caminhos líquidos da terra

e enlaça os povos através dos mares...

A água também tem sua velhice

-e de ver-lhe os cabelos muitos brancos

onda lenta de espuma destrinçada em neve, nos ares flutuando...

A água também sofre...e quando sofre

se faz divina e vem brilhar em lágrimas

ou se reflete a dor da natureza

geme no vento trnasformada em chuva.

A água também morre...e quando seca

- e a sua morte entristece tudo :

choram-lhe, enfim na desolação,

todos os seres vivos que a rodeiam

porque ela é o seio maternal da vida

e de tal maneira ama seus filhos rudes

que muitas vezes para os salvar se deixa

ficar sem o murmúrio de uma queixa

prisioneira de poços e açudes...

Bendita seja, pois, água divina

que fecunda, consola, dessedenta, purifica,

e que, desde pequenina,

feita gota de orvalho,

mata a sede das plantas entreabertas

e prepara o festivo esplendor da primavera...

e que, nascida em píncaros da serra

vem de tão alto, procurando sempre ter

um fim de planície e de humildade

até perder, na última renúncia,

o nome de batismo de seus rios

para ficar anônima nos mares.


Raul Machado

10 comentários:

angela disse...

Linda pesia, de enternecer.
Bela homenagem pelo dia de hoje.
beijos

Glorinha L de Lion disse...

Isso parece mais uma prece, uma elegia à mãe água...onde nascem toda e qualquer forma de vida...
Lindo demais.
Bjs

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Rosa disse...

Maravilhoso poema !Bjs e boa semana

Manuela Freitas disse...

Que maravilha o Manuel encontrou de poema à água...Gostei muito, mesmo muito!...
E por pensar na água, gosto também muito da música que água transmite.
A gota a gota...
A chuva...
A queda de água...
O ribeiro a correr...
As ondas do mar...
O champinhar na água...
A água tem muita musicalidade!...
Um abraço,

Manuela

Cris França disse...

lindo como sempre! bjs

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Manuel
Que lindo poema, que ternura de palavras.
Bela escolha.

beijinhos
Sonhadora

Sandra disse...

20 DE MARÇO DIA DA aGUÁ.
lINDO POEMA PARA LEMBRAR ESTE DIA, MEU QUERIDO AMIGO..

Vim trazer o meu abraço e o meu beijo de Luz no seu coração..
http://sandraandrade7.blogspot.com/
Vou te esperar.
Tenha um lindo dia.
Beijos no seu coração luz, também
Sandra

Mari disse...

Boa tarde Manuel,
Linda poesia...
No dia de hoje uma oportunidad para a reflexão!
Beijo
Mari

Graça Pereira disse...

Este poema é uma verdadeira jóia,de palavras , de alegorias e de verdades. Francisco de Assis, chamou-lhe Irmã Água... Ela é irmã, mãe, noiva, esposa...ela é o sangue do nosso planeta, a sua e nossa vida!
Lindissimo Manuel e parabens pela escolha.
Beijo e boa semana
Graça