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quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Que Devemos Sentir




Todas as pessoas devem ter experimentado a sensação desagradável que se tem nas estações de caminho de ferro. Vamos despedir-nos de alguém. A pessoa já entrou no comboio, mas ele demora a partir. Ali ficam as duas pessoas, uma na plataforma e a outra à janela, esforçando-se por conversar, mas de repente não têm nada para dizer.
Isto, evidentemente, resulta de não podermos sentir o que queremos. A situação impõe-nos um determinado sentimento. E quem não experimentou aquele tremendo alívio quando o comboio finalmente parte?

Ou nos funerais. Quando alguém morre ou adoece, quando surgem as desilusões, espera-se sempre que sintamos determinadas coisas.
Em todas as situações, excepto as mais quotidianas, as mais neutras, há uma pressão que se exerce sobre nós, que nos dita a forma como devemos conduzir-nos, aquilo que devemos sentir, E se examinarmos bem o fenómeno, verificamos, não raras vezes, que esses papéis nos são atribuídos por romances, filmes ou peças de teatro que vimos há muito tempo.
Quando somos realmente confrontados com situações invulgares (por exemplo, rivalidades que prevíamos e não se verificam, e em vez disso se transformam num amor que nos deixa sós), a primeira coisa a que nos agarramos são esses padrões sentimentais livrescos.
Não nos ajudam muito. Deixam-nos mais sós do que antes - e caímos, desamparados, na realidade.

Lars Gustafsson, in 'A Morte de um Apicultor'

2 comentários:

Denise disse...

Há a natural imprecisão sobre qual sentimento vai aparecer diante das adversidades, e isso por si só nos tira do "controle", razão pela qual "caímos desamparados" na realidade que se impõe. Não podemos comandar esse show chamado "sentir". Ele tem vida independente, e nos prega peças nesse espetáculo que é viver!!

Falar de despedidas é sempre difícil...não se esgotam as emoções que provocam.

Beijos

Quando a vida dentro de mim se tornou possivel disse...

"caímos, desamparados, na realidade"
na maioria das vêzes me sinto assim...mais faço sempre opção por
" viver a asfixia da realidade do que viver na órbita do inconsciente"


Amei seu comentário no meu post "não sou blogueira"
Muuiiuto obrigada!!
Abraço!!