Seguidores

segunda-feira, 23 de março de 2009

Afectos.


Os afectos podem às vezes somar-se; subtrair-se, nunca !

Soneto



Nessa manhã as garças não voaram

E dos confins da luz um deus chamou.

Docemente teus cílios se fecharam

Sobre o olhar onde tudo começou.



A terra uivou. Todas as cores mudaram

O mar emudeceu. O ar parou.

Escuros véus de pranto o sol taparam

De azáleas lívidas a ilha se cercou.



A que pélago o esquife te levava?

Não ao termo. A não chorar os mortos.

Teu sumo espiritual florido ensina.



E se o mundo em ti principiava,

No teu mistério entre astros absortos,

Suavemente, ó mãe, tudo termina.



Natália Correia.

in Mãe Ilha,Sonetos Românticos

Literatura.



No limiar da cor.

Judith Stone.

Quando Sandra Laing nasceu, em 1955, filha de um casal africânder a favor do apartheid, no coração de uma África do Sul conservadora, foi oficialmente registada como uma criança branca. Mas, desde o seu primeiro dia num internato para brancos, um grupo de alunos e professores começaram a importuná-la impiedosamente por causa da sua cor de pele acastanhada e do seu cabelo encarapinhado. Sannie e Abraham Laing justificavam a aparência de Sandra com uma união inter-racial bem antiga na sua história familiar e juraram que Sandra era sua filha. No entanto os vizinhos pensavam que a Sra. Laing tinha cometido adultério com um negro. A família foi ostracizada. Quando Sandra tinha dez anos, foi retirada da escola pela polícia e reclassificada como "mestiça" – de raça mista.

No Limiar da Cor é uma exploração da natureza da memória, a construção social da raça, crueldade, insanidade e arbitrariedade do apartheid. É, também, um drama pessoal emocionante que confirma a resistência do espírito humano apesar das formas horríveis que o ser humano usa para se magoar.

domingo, 22 de março de 2009

Romeu e Julieta.



Uma óptima semana para todo o mundo.

Convivência.


Quando houver desacertos nas suas relações, faça do diálogo uma ponte para transpor os descaminhos. Entenda que ceder não é fraquejar; e agredir não é fortalecer-se. A tolerância mútua é o princípio que norteia a boa convivência .

De noite: não te grito.






Não te grito, nem te cheiro

Quando as águas correm desabadas

Do alto do teu corpo

Feito cimento cru, feito osso.



Se fosse real teu inimigo

Haveria de pendurar laranjas

No limoeiro do quintal em frente



Poderia dizer-te as estrelas todas do caminho feito regresso

Morte



Não, nesta noite

Ainda haverá olhos atentos e poços deitados onde a água

Não se cansa dos buracos

Palavras rente ao silêncio dizer-te



Não, não te grito, nem te cheiro

E, quando caíres do alto dos nossos beijos

Como as beatas acesas dos dedos amarelos

E defronte o precipício ouvires gritar o meu nome

que não tarda:


já será dia nas luzes das candeias


(Sandro William Junqueira)

sábado, 21 de março de 2009

Amar o mar.


Homem livre, tu sempre gostarás do mar ...

Pastelaria.




Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

(Cesariny)

Primavera.



Vivaldi.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A rose in winter.



Bom fim de semana para todos.

Primavera.


""Primavera não é uma simples estação de flores, é muito mais, é um colorido da alma."

Constância;


Presidente da República visita Constância e inaugura o maior telescópio público do país

Nesta sexta-feira, dia 20 de Março, o Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, visitou o concelho de Constância, para inaugurar o maior telescópio público do país, no Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCVC).

A visita teve início às 11.30h, no Centro Ciência Viva, uma infra-estrutura que se localiza no Alto de Santa Bárbara, em Constância.

Recorde-se que o Telescópio Ritchey-Chrétien de 510mm foi instalado no CCVC, no âmbito do Protocolo de Apoio Mecenático assinado com a Fundação EDP.

Além da inauguração do telescópio a cerimónia integrou também uma visita aos diversos equipamentos que compõem este parque científico e a observação do meio-dia solar na esfera armilar.

A visita do Presidente da República terminou no Centro Náutico de Constância, com a inauguração da exposição Centro Ciência Viva de Constância – 5 Anos a Divulgar Ciência, uma iniciativa comemorativa do 5º aniversário do CCVC.
Por CMC

Hoje, apetecia-me falar de amor...



Há dias assim... procuram-se histórias no interior...
Buscar as palavras mais belas...
Pintar a loucura, a paixão, colorir negras telas...
Hoje, como ontem... apetecia-me conversar...
Dizer por dizer... coisas sem ninguém escutar...
Ontem como amanhã... o silêncio que invade o coração...
Persistirá... presente... na ausência dessa invasão.
De tempos a tempos... escuto... sinto...
Este vazio... que reanima, depois de extinto...
Que me preenche... com inúmeros nadas...
Que me deixa, livremente de mãos atadas.
(Luz ao fundo...) ávido por um olhar...
Entro em túnel com vista para... amar...
Às paredes... meus sonhos vão segredando...
Os medos... os pesadelos... que vou guardando...
Ontem, como hoje... nasci de novo...
Hoje... como amanhã... morro...
Reencarno agora, novamente em mim...
E parto... para futuro com idêntico fim...
De mãos livremente atadas...
Repito-me...
De mãos livremente atadas...
Há sempre uma liberdade...
Há sempre uma verdade...
Há sempre... uma eterna saudade...
Para dizer... (o que disse na intimidade)

Filipe M.

quinta-feira, 19 de março de 2009

As Coisas Secretas da Alma .




Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.

Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa'

O Jardim .




Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

Dia Mundial da Árvore .



No Parque Ambiental de Santa Margarida
No próximo sábado, 21 de Março, o Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill e do Parque Ambiental de Santa Margarida vai comemorar o Dia Mundial da Árvore, com uma acção de sensibilização ambiental, que terá lugar no Parque Ambiental de Santa Margarida.

A iniciativa será apresentada pelo Prof. Manuel Lima, autor do livro O Tejo da Nascente... à foz, o qual retrata o rio Tejo ao longo de todo o seu percurso, desde que nasce até que desagua no Oceano Atlântico. O autor desvendará o seu trabalho na elaboração da obra e as condições que foi encontrando durante o percurso de produção literária.

Como não podia deixar de ser, a vila de Constância, dada a sua localização na confluência de dois dos principais rios portugueses, o Tejo e o Zêzere, é retratada nesta obra de Manuel Lima.

Aberta à comunidade em geral, a actividade decorrerá a partir das 15.00h, no Parque Ambiental de Santa Margarida.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.

Por CMC

quarta-feira, 18 de março de 2009

Reencontro.


Prefiro acreditar que não nos dissemos adeus, mas que nos separamos para que o destino nos dê um reencontro feliz...

Gozo Sonhado é Gozo, ainda que em Sonho .




Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente
Resistirmos em crê-lo.
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.

Ricardo Reis, in "Odes"

Saber Desfrutar Todos os Tempos.



Nós mostramo-nos ingratos em relação ao que nos foi dado por esperarmos sempre no futuro, como se o futuro (na hipótese de lá chegarmos) não se transformasse rapidamente em passado. Quem goza apenas do presente não sabe dar o correcto valor aos benefícios da existência; quer o futuro quer o passado nos podem proporcionar satisfação, o primeiro pela expectativa, o segundo pela recordação; só que enquanto um é incerto e pode não se realizar, o outro nunca pode deixar de ter acontecido. Que loucura é esta que nos faz não dar importância ao que temos de mais certo? Mostremo-nos satisfeitos por tudo o que nos foi dado gozar, a não ser que o nosso espírito seja um cesto roto onde o que entra por um lado vai logo sair pelo outro!

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

terça-feira, 17 de março de 2009

Sugestão.




As companheiras que não tive,
Sinto-as chorar por mim, veladas,
Ao pôr do sol, pelos jardins...
Na sua mágoa azul revive
A minha dôr de mãos finadas
Sobre setins...

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'