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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Acaso ou Coincidência




Podemos muito bem, se for esse o nosso desejo, vaguear sem destino pelo vasto mundo do acaso. Que é como quem diz, sem raízes, exactamente da mesma maneira que a semente alada de certas plantas esvoaça ao sabor da brisa primaveril.
E, contudo, não faltará ao mesmo tempo quem negue a existência daquilo a que se convencionou chamar o destino. O que está feito, feito está, o que tem se ser tem muita força e por aí fora. Por outras palavras, quer queiramos quer não, a nossa existência resume-se a uma sucessão de instantes passageiros aprisionados entre o «tudo» que ficou para trás e o «nada» que temos pela frente. Decididamente, neste mundo não há lugar para as coincidências nem para as probabilidades.
Na verdade, porém, não se pode dizer que entre esses dois pontos de vista exista uma grande diferença. O que se passa - como, de resto, em qualquer confronto de opiniões - é o mesmo que sucede com certos pratos culinários: são conhecidos por nomes diferentes mas, na prática, o resultado não varia.

Haruki Murakami, in 'Em Busca do Carneiro Selvagem'

domingo, 10 de janeiro de 2010

Destino...


Destino que me atrais
me atraiçoas
numa imprudência demais.
Fatalidade
desnorte irracional
contrário á razão
desatino intelectual.
Sorte
fado mal fadado
infelicidade persistente
num fracasso predestinado.

Sentimento profundo.


O amor não é uma futilidade ou um divertimento; é um sentimento profundo, que decide de uma vida. Não há o direito de o falsificar

(Júlio Dantas.)

Andre Rieu-Poliushko Poli.

Pergunta




Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?

Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?

Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?

Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?

Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?

Fernando Namora, in "Mar de Sargaços"

sábado, 9 de janeiro de 2010

Incrível...

Estação central Antwerpen (Bélgica.)

A Ambição Superada .




Certo dia uma rica senhora viu, num antiquário, uma cadeira que era uma beleza. Negra, feita de mogno e cedro, custava uma fortuna. Era, porém, tão bela, que a mulher não titubeou - entrou, pagou, levou para casa.
A cadeira era tão bonita que os outros móveis, antes tão lindos, começaram a parecer insuportáveis à simpática senhora. (Era simpática).
Ela então resolveu vender todos os móveis e comprar outros que pudessem se equiparar à maravilhosa cadeira. E vendeu-os e comprou outros.
Mas, então a casa que antes parecia tão bonita, ficou tão bem mobilada que se estabeleceu uma desarmonia flagrante entre casa e móveis. E a senhora começou a achar a casa horrível.
E vendeu a casa e comprou uma outra maravilhosa.
Mas dentro daquela casa magnífica, mobilada de maneira esplendorosa, a mulher começou, pouco a pouco, a achar seu marido mesquinho. E trocou de marido.
Mas mesmo assim não conseguia ser feliz. Pois naquela casa magnífica, com aqueles móveis admiráveis e aquele marido fabuloso, todo mundo começou a achá-la extremamente vulgar.

Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Reminiscências...


Lembranças vagas , fazem sentir-me deliciosamente maduro e triste ...

Amar é Raro




Amar é dar, derramar-me num vaso que nada retém e sou um fio de cana por onde circulam ventos e marés. Amar é aspirar as forças generosas que me rodeiam, o sol e os lumes, as fontes ubérrimas que vêm do fundo e do alto, água e ar, e derramá-las no corpo irmão, no cadinho que tudo guarda e transforma para que nada se perca e haja um equilíbrio perfeito entre o mesmo e o outro que tu iluminas. Dar tudo ao outro, dar-lhe tanta verdade quanta ele possa suportar, e mais e mais; obrigar o outro a elevar-se a um grau superior de eminência, fulguração, mas não tanto que o fira ou destrua em overdose que o leve a romper o contrato — o difícil equilíbrio dos amantes! Amar é raro porque poucos somos capazes de respirar as vastas planícies com a metade do seu pulmão; e amar é raro porque poucos aceitam a presença do seu gémeo, a boca insaciável de um irmão que todos os dias o vento esculpe e destrói.

Casimiro de Brito, in 'Arte da Respiração'

Imaginar...



Imagino
que o vento
trespassa meu corpo
dilacerando minha alma
como setas que ferem
corações apaixonados.
O meu interior não pensa
sente!
Meu coração não bate
treme!
Imaginar
não é pensar
é querer...

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Cantar os Reis.


Crianças de Constância cantaram os Reis na autarquia


Foi com muito agrado que o Município de Constância recebeu no dia 6 de Janeiro – Dia de Reis, no edifício dos Paços do Concelho dois grupos de crianças, jovens, professores e pessoal não docente que presentearam os autarcas e os trabalhadores da autarquia cantando os Reis.

No período da manhã foram os alunos e os professores da Escola EB 2,3/S Luís de Camões que entoaram as tradicionais Janeiras. Durante a tarde alguns trabalhadores do município e os autarcas receberam de novo os votos de um Bom Ano através dos alunos, professores e auxiliares do Jardins de Infância e do Primeiro Ciclo do Ensino Básico de Constância.
Por CMC

Não se nasce Leitor:


literatura para a infância e juventude

Acção de Formação em Constância
22 e 23 de Janeiro Nos próximos dias 22 e 23 de Janeiro de 2010 vai decorrer em Constância a acção de formação Não se nasce leitor: literatura para a infância e juventude, organizada pela Câmara Municipal, através da Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill, com o apoio da Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas.

O conhecimento de literacia em Portugal, o domínio das premissas que norteiam a promoção da leitura, aprofundar o saber relativo à literatura existente em Portugal e no estrangeiro para crianças e jovens e a descoberta de novas técnicas para animar uma colecção de livros ou uma pequena biblioteca são os objectivos desta iniciativa.

A acção de formação, dinamizada por Rui Marques Veloso, destina-se a animadores sócio-culturais, bibliotecários, professores, educadores e técnicos de biblioteca. A iniciativa terá a duração de 15 horas e decorrerá na Sala Polivalente da Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill.

As inscrições para esta acção de formação são limitadas, até ao número máximo de 25 participantes, e podem ser efectuadas até ao dia 19 de Janeiro, na Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill.

Para informações ou esclarecimentos adicionais, devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O’Neill através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.



Por CMC

O amor não é um desperdicio!


Certezas quem as tem
neste mundo insano
profetas desavindos
ódios e invejas
onde ningém,respeita ninguém
O egoismo grassa
e o mundo vai girando
a pobreza alastra
Ódio e amor passeiam de mãos dadas
A vida vai em frente
com gentes sorrindo e cantando.
certeza só da morte
neste mundo desgovernado
guerra dor e rancor
e muito amor desperdiçado.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Estima...


Não há metade do coração. Ou todo o amor ou toda a indiferença, quando não, é uma insustentável impostura, chamada estima...

Camilo Castelo Branco.

Fragmento do Homem .




Que tempo é o nosso? Há quem diga que é um tempo a que falta amor. Convenhamos que é, pelo menos, um tempo em que tudo o que era nobre foi degradado, convertido em mercadoria. A obsessão do lucro foi transformando o homem num objecto com preço marcado. Estrangeiro a si próprio, surdo ao apelo do sangue, asfixiando a alma por todos os meios ao seu alcance, o que vem à tona é o mais abominável dos simulacros. Toda a arte moderna nos dá conta dessa catástrofe: o desencontro do homem com o homem. A sua grandeza reside nessa denúncia; a sua dignidade, em não pactuar com a mentira; a sua coragem, em arrancar máscaras e máscaras.

E poderia ser de outro modo? Num tempo em que todo o pensamento dogmático é mais do que suspeito, em que todas as morais se esbarrondam por alheias à «sabedoria» do corpo, em que o privilégio de uns poucos é utilizado implacavelmente para transformar o indivíduo em «cadáver adiado que procria», como poderia a arte deixar de reflectir uma tal situação, se cada palavra, cada ritmo, cada cor, onde espírito e sangue ardem no mesmo fogo, estão arraigados no próprio cerne da vida?
Desamparado até à medula, afogado nas águas difíceis da sua contradição, morrendo à míngua de autenticidade - eis o homem! Eis a triste, mutilada face humana, mais nostálgica de qualquer doutrina teológica que preocupada com uma problemática moral, que não sabe como fundar e instituir, pois nenhuma fará autoridade se não tiver em conta a totalidade do ser; nenhuma, em que espírito e vida sejam concebidos como irreconciliáveis; nenhuma, enquanto reduzir o homem a um fragmento do homem. Nós aprendemos com Pascal que o erro vem da exclusão.

Eugénio de Andrade, in 'Os Afluentes do Silêncio'

Sabor a fel...


Paixão
que me levas para onde não quero ir!
Ventos que me empurram
numa tempestade de emoções
por onde não devo seguir!
Paixão...
No rebolar dos corpos
em beijos ofegantes
suores de prazer
com odores de mel
corpos melaços
com sabor a fel...

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O amor...


O amor só vive pelo sofrimento e cessa com a felicidade; porque o amor feliz é a perfeição dos mais belos sonhos, e tudo que é perfeito, ou aperfeiçoado, toca o seu fim...

Camilo Castelo Branco.

Que sejas feliz...


Por ti
serei água e fogo
descobrirei outra forma de amar
mais doce
mais terna.
Vou sentir o sol
a brisa do vento
a força das ondas.
Irei por esses montes fora
semearei ternura
irei navegar em outros mares
enfrentarei tempestades
vendavais.
subirei montanhas
chegarei perto do céu
sentar-me-ei numa estrela.
Esperarei por ti .
Que sejas feliz...

Felicidade Eterna...




Antigamente todos os contos para crianças terminavam com a mesma frase, e foram felizes para sempre, isto depois de o Príncipe casar com a Princesa e de terem muitos filhos. Na vida, é claro, nenhum enredo remata assim. As Princesas casam com os guarda-costas, casam com os trapezistas, a vida continua, e os dois são infelizes até que se separam. Anos mais tarde, como todos nós, morrem. Só somos felizes, verdadeiramente felizes, quando é para sempre, mas só as crianças habitam esse tempo no qual todas as coisas duram para sempre.

José Eduardo Agualusa, in 'O Vendedor de Passados'