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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Amar é Raro




Amar é dar, derramar-me num vaso que nada retém e sou um fio de cana por onde circulam ventos e marés. Amar é aspirar as forças generosas que me rodeiam, o sol e os lumes, as fontes ubérrimas que vêm do fundo e do alto, água e ar, e derramá-las no corpo irmão, no cadinho que tudo guarda e transforma para que nada se perca e haja um equilíbrio perfeito entre o mesmo e o outro que tu iluminas. Dar tudo ao outro, dar-lhe tanta verdade quanta ele possa suportar, e mais e mais; obrigar o outro a elevar-se a um grau superior de eminência, fulguração, mas não tanto que o fira ou destrua em overdose que o leve a romper o contrato — o difícil equilíbrio dos amantes! Amar é raro porque poucos somos capazes de respirar as vastas planícies com a metade do seu pulmão; e amar é raro porque poucos aceitam a presença do seu gémeo, a boca insaciável de um irmão que todos os dias o vento esculpe e destrói.

Casimiro de Brito, in 'Arte da Respiração'

6 comentários:

Anónimo disse...

Amar requer Coragem
Amar alguém profundamente requer muita coragem. A coragem de amar e de partilhar momentos é a coragem de se desnudar não só física mas emocionalmente.
Quando duas pessoas estão nuas, pele contra pele, vivenciam uma intimidade e uma vulnerabilidade únicas. Quando os dois têm coragem de se desnudar emocionalmente, tocando a alma um do outro, tiram as roupas, despem-se juntos em todos os sentidos.
Não há maior equívoco do que imaginar que o amor é uma força exterior que se abate magicamente sobre nós e nos enche de paixão e ardor.
No início, quando a gente se apaixona, tem de fato essa impressão. O coração se abre repentinamente para alguém que derrama nele toda espécie de emoções deliciosas… Por um tempo, o relacionamento se alimenta desse “barato” inicial.
Com o tempo, porém, o amor perde essa força e você fica esperando que a pessoa amada faça alguma coisa para que os dois se unam mais e mais. Esperar que ele a preencha com muito amor é um erro. Você precisa aprender a se apaixonar por ele uma vez após a outra, sem cessar.
O amor sempre começa com você. É uma escolha que faz, a cada momento, de olhar para aquilo que é digno de amor nele. Quando fica esperando que ele diga algo para reacender a chama do amor, está apenas preparando o terreno para desapontamentos. Não cabe a ele ser digno de carinho. Cabe a você ser carinhosa com ele – conhecer seus desejos e tentar satisfazê-los, dar-lhe atenção, afeto e admiração e deixar que ele perceba, por meio de atitudes, de consideração e de palavras, que o valoriza.
Esse tipo de desapego exige muitos momentos de “nudez”, nos quais você deixa seu ego para trás e se move em direção ao universo, à mente e ao coração de seu homem. Você o sente por inteiro, de dentro para fora, e pergunta a si mesma de que ele precisa. Chamo essa prática de opção pelo amor. Como qualquer outra coisa, o amor precisa de equilíbrio. Você tem de preencher suas necessidades e certificar-se de que uma paixão nunca vai comprometer sua integridade.
Quando os dois param de esperar pela iniciativa um do outro, quando decidem tomar a dianteira, o relacionamento flui e cresce. É assim que deveria ser a dança do amor.

Bjs.

r disse...

Caríssimo, este texto [cheguei a pensar quee já o tinha postado] é muito belo
em especial:

«Dar tudo ao outro, dar-lhe tanta verdade quanta ele possa suportar, e mais e mais; obrigar o outro a elevar-se a um grau superior de eminência, fulguração, mas não tanto que o fira ou destrua em overdose que o leve a romper o contrato — o difícil equilíbrio dos amantes!»

O equilíbrio...

(Até me esqueci do frio que está fazendo)

angela disse...

Nossa Manuel! que texto mais perfeito...até perdi um pouco o ar.
beijo

Anónimo disse...

Lindo....a sério, amei...descreve a fundo a verdade de quem sabe o que é amar e já amou..
Kiss Kiss

Glorinha L de Lion disse...

Amar dói...quando amamos alguém, ou se ama mais que o outro ou o outro nos ama mais do que nós a ele...Há sempre um desequilíbrio, um espaço vazio...e é nele que entra a amargura, a desilusão, ou um amante....
Beijos amigo!

r disse...

Desculpai!
'tá um frio de rachar neste pequeno país lamechas e de assuntos cócó, mas tenho mesmo, mesmo, mesmo... que saber.

DESCULPAI, sim?!
Explicai-me, por favor, como é que «amar dói», como é que amar instala um vazio?
Sempre pensei que o vazio, a dor, o desequílibrio é que são frutas amargas do desamor.
Amar é uma «condição» relacional, o único espaço que pode existir entre Eu e Tu/ Tu e Eu, é o espaço da própria existência, a idiossincrasia, o centro da existência individual, a partir do qual se ama (se É amando/se É no amor).

O mundo é mesmo diversificado...