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terça-feira, 7 de abril de 2009

Fragilidades!


Como a nossa fragilidade o concebe e o pratica, o amor é um sentimento essencialmente incómodo. Mal dois olhares se trocam e duas mãos se enlaçam, vem logo a tragédia das suspeitas, dos ciúmes, das zangas, das recriminações, estragar momentos que deviam ser os mais belos, os mais alegres, os mais despreocupados da vida

Canto dos Espíritos sobre as Águas




A alma do homem
É como a água:
Do céu vem,
Ao céu sobe,
E de novo tem
Que descer à terra,
Em mudança eterna.

Corre do alto
Rochedo a pino
O veio puro,
Então em belo
Pó de ondas de névoa
Desce à rocha liza,
E acolhido de manso
Vai, tudo velando,
Em baixo murmúrio,
Lá para as profundas.

Erguem-se penhascos
De encontro à queda,
— Vai, 'spúmando em raiva,
Degrau em degrau
Para o abismo.

No leito baixo
Desliza ao longo do vale relvado,
E no lago manso
Pascem seu rosto
Os astros todos.

Vento é da vaga
O belo amante;
Vento mistura do fundo ao cimo
Ondas 'spumantes.

Alma do Homem,
És bem como a água!
Destino do homem,
És bem como o vento!

Johann Wolfgang von Goethe, in "Poemas"
Tradução de Paulo Quintela

Pergunte à mamãe!




Esta é uma conversa de mãe para filha, do tempo em que as moças que iam casar perguntavam às mães sobre a noite de núpcias. Ela explica talvez um pouco porque deixaram de perguntar.

— É assim, minha filha. O importante é não ficar nervosa. Na hora ele bota uma valsinha na vitrola, pede pra você pegar a sombrinha e ir andando na corda bamba. Você já deve estar preparada, de saiote, e sem nada por baixo. Isso é importante. Ele senta numa cadeira e fica olhando pra cima e assobiando como se não fosse com ele. Você se concentra na música, vai botando um pezinho na frente do outro, sempre sorrindo e mandando beijinhos como se tivesse gente assistindo. Assim ele fica mais excitado. Quando você estiver bem distraída, ele faz "u!", você se assusta, perde o equilíbrio e cai escanchada no colo dele. Ele faz "ú!" de novo mas aí com outra entonação. É assim, minha filha.

— Ah — fez a moça e foi se preparar não muito convencida, pois a mulher do engolidor de fogo tinha lhe ensinado diferente.

Por Fortuna.


Texto extraído do livro "Acho tudo muito estranho ."

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Cultura e Lazer .

O Mirante - diário online - Cultura & Lazer - O escritor dos “homens que nunca foram meninos” chegou a Alhandra guiado por um grande amor

Viver a Páscoa .




É ser capaz de mudar,
É partilhar a vida na esperança,
É lutar para vencer toda sorte de sofrimento
É dizer sim ao amor e à vida,
É investir na fraternidade,
É lutar por um mundo melhor...

Artesanato em Constância.


XXII Mostra Nacional de abre as suas portas sexta-feira, dia 10 de Abril, pelas 15.00H
Região Autónoma dos Açores em destaque na Mostra de Artesanato
A Mostra Nacional de Artesanato abre as suas portas ao público, em Constância, na próxima sexta-feira, dia 10 de Abril pelas 15.00H, um evento que integra a Festas do Concelho de Constância 2009, as quais decorrem nesta vila ribatejana nos dias 11, 12 e 13 de Abril.

À semelhança dos anos anteriores haverá uma região do País em destaque na Mostra Nacional de Artesanato, um lugar que este ano será ocupado por um pavilhão da Região Autónoma dos Açores.

A Mostra Nacional de Artesanato, que já vai na sua XXII edição, conferindo a cada produto um bocadinho da nossa identidade, pretende valorizar as artes e os ofícios tradicionais, contribuindo para a preservação dos usos e costumes da cultura portuguesa.

Assim, nos dias 10, 11, 12 e 13 de Abril, o Parque de Campismo de Constância transforma-se numa grande montra de artesanato, acolhendo dezenas de pavilhões, que comercializam produtos de excelente qualidade, manufacturados por pessoas que detêm um saber artístico único e exclusivo.

Deste modo, convidam-se os visitantes das Festas do Concelho de Constância a efectuar uma viagem pelas nossas raízes, apreciando os produtos de artesanato expostos nos 57 pavilhões presentes na XXII Mostra Nacional de Artesanato

CMC.

Versos.



Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “a noite está estrelada

e tiritam, azuis, os astros, na distância”.

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu a quis, e ela, às vezes, também a mim.

Em noites como esta a tive entre meus braços.

A beijei tantas vezes debaixo do céu infinito.

Ela me quis, como algumas vezes eu também a ela.

Como não ter amado seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma como o sereno no pasto.

Que importa que meu amor não pôde mantê-la comigo.

A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Alguém canta lá longe. Muito longe.

Minha alma não se conforma por tê-la perdido.

Como para aproximá-la, meu olhar busca por ela.

Meu coração busca por ela, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.

Nós, os daquela época, não somos mais os mesmos.

Já não a amo, é certo, mas quanto a quis.

Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.

Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a amo, é certo, mas talvez ainda a ame.

É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive em meus braços, minha alma não se conforma por tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa. E estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.)

Pablo Neruda.

domingo, 5 de abril de 2009

Falámos Tantos Anos de Tão Pouco .




Falámos tantos anos de tão pouco
entre os campos
do corpo
a fala fende os dentes
o corpo que te ouve ampara
a tua fala

É o último dia mas que dia
poderia deter assim a boca
dizíamos ainda que viríamos
ouvir-nos um ao outro
a fala dolorosa encontra os dentes
e olho a tua boca como um corpo

Gastão Cruz, in "Teoria da Fala"

Dono de quem?







O cão, que pensava ser dono de seu dono, que o via correr ao menor ganido (e afagá-lo a qualquer momento), teve, naquela tarde, uma surpresa: constatou, da maneira mais patética que um cão poderia fazê-lo, sofrendo como o cão mais desgraçado da quadra sofreria ante àquilo, que era preterido em função de uma garota. E não adiantaram apelos chantagistas, olhares tristes ou abanar de rabos, pois o olhar que o rapaz propôs à garota que entrava em seu quarto dizia tudo. O olhar tinha cheiro de paixão, e o cão bem sabia distinguir os cheiros. E havia o aroma que brotava daquele pescoço, um pescoço liso como a pele de uma relva, interrompido por uma fina corrente que mal separava a relva do início do rosto, da tez que era bronzeada mesmo no inverno mais rude, mesmo no vento mais cortante que arrancava folhas das árvores de nossa cidade. Naquela tarde, o cão soube quem era dono de quem, e então não teve escolha: aceitou a porta fechada em sua cara, desceu as escadas pata por pata, saiu ao pátio e ao vento nos pêlos, e se pôs a roer, velho e gasto, o osso.

Cassio Grinberg.

Ginásio de Ar Livre .



Equipamento Pioneiro vai ser inaugurado em Constância
Domingo - 5 de Abril – 16.OO Horas Sob a égide do conceito Desporto para Todos, a autarquia de Constância, vai inaugurar o primeiro Ginásio de Ar Livre, no próximo domingo, 5 de Abril, pelas 16 horas, uma infra-estrutura que se localiza no Parque Ambiental de Santa Margarida, freguesia de Santa Margarida da Coutada, concelho de Constância.

Constituído por sete equipamentos, o Ginásio de Ar Livre, acompanha os modelos de pioneirismo de hábitos de prática desportiva procurando associar o modelo família e desporto, potenciando os diferentes espaços de fruição desportiva do Parque Ambiental.

O novo equipamento teve um custo de aproximadamente sete mil euros, assegurado integralmente pelo orçamento da autarquia.

Registe-se que os Ginásios de Ar Livre tiveram um forte incremento na China, após os Jogos Olímpicos de 2008, caracterizando-se por equipamentos que potenciam o trabalho cardio-vascular a par de uma especificação em determinados grupos musculares, como são o caso dos ombros, pernas, costas e abdominais.

Por CMC

sábado, 4 de abril de 2009

Desporto e Pedagogia .





Diz ele que não sei ler
Isso que tem? Cá na aldeia
Não se arranjam dúzia e meia
Que saibam ler e escrever.


P'ra escolas não há bairrismo,
Não há amor nem dinheiro.
Por quê? Porque estão primeiro
O Futebol e o Ciclismo!


Desporto e pedagogia
Se os juntassem, como irmãos,
Esse conjunto daria,
Verdadeiros cidadãos!
Assim, sem darem as mãos,
O que um faz, outro atrofia.


Da educação desportiva,
Que nos prepara p'ra vida,
Fizeram luta renhida
Sem nada de educativa.


E o povo, espectador em altos gritos,
Provoca, gesticula, a direito e torto,
Crendo assim defender seus favoritos
Sem lhe importar saber o que é desporto.


Interessa é ganhar de qualquer maneira.
Enquanto em campo o dever se atropela,
Faz-se outro jogo lá na bilheiteira,
Que enche os bolsinhos aos que vivem dela.

Convém manter o Zé bem distraído
Enquanto ele se entrega à diversão,
Não pode ver por quantos é comido
E nem se importa que o comam, ou não.

E assim os ratos vão roendo o queijo
E o Zé, sem ver que é palerma, que é bruto,
De vez em quando solta o seu bocejo,
Sem ter p'ra ceia nem pão, nem conduto.

António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."

A Luta pela Recordação .




Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...

Pablo Neruda, in 'Nasci para Nascer'

Moral da história.


Dois funcionários e o gerente de uma empresa saem para almoçar e na rua encontram uma antiga lâmpada à óleo.
Eles esfregam a lâmpada e de dentro dela sai um gênio. O gênio diz:
"Eu só posso conceder três desejos, então, concederei um a cada um de vocês".
"Eu primeiro, eu primeiro !"- grita um dos funcionários.
"Eu quero estar nas Bahamas dirigindo um barco, sem ter nenhuma preocupação na vida!"
Puf! e ele se foi.
O outro funcionário se apressa a fazer o seu pedido:
"Eu quero estar no Havaí, com o amor da minha vida e um provimento interminável de pinas coladas!"
Puf! e ele se foi.
"Agora você" diz o gênio para o Gerente.
" Eu quero aqueles dois de volta ao escritório logo depois do almoço ! "

Moral da História: Deixe sempre o seu chefe falar primeiro.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Inconstância.



Florbela Espanca.

O beijo.


Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....

Olavo Bilac

Lenda.


Conta uma lenda dos índios sioux que, certa vez, Touro Bravo e Nuvem azul chegaram de mãos dadas à tenda do velho feiticeiro da tribo e pediram:

- Nós nos amamos e vamos nos casar. Mas nos amamos tanto que queremos um conselho que nos garanta ficar sempre juntos, que nos assegure estar um ao lado do outro até a morte. Há algo que possamos fazer?

E o velho, emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse:

- Há o que possa ser feito, ainda que sejam tarefas muito difíceis. Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte da aldeia apenas com uma rede, caçar o falcão mais vigoroso e trazê-lo aqui, com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia. E tu, Touro Bravo, deves escalar a montanha do trono; lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias. Somente com uma rede deverás apanhá-la, trazendo-a para mim viva!

Os jovens se abraçaram com ternura e logo partiram para cumprir a missão.
No dia estabelecido, na frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves.

O velho tirou-as dos sacos e constatou que eram verdadeiramente formosos exemplares dos animais que ele tinha pedido.
E agora, o que faremos? Os jovens perguntaram.
-Peguem as aves e amarrem uma à outra pelos pés com essas fitas de couro. Quando estiverem amarradas, soltem-nas para que voem livres.

Eles fizeram o que lhes foi ordenado e soltaram os pássaros. A águia e o falcão tentaram voar, mas conseguiram apenas saltar pelo terreno.

Minutos depois, irritadas pela impossibilidade do vôo, as aves arremessaram-se uma contra a outra, bicando-se até se machucar.
Então o velho disse:

-Jamais esqueçam o que estão vendo, esse é o meu conselho. Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se como também, cedo ou tarde, começarão a machucar um ao outro.

Se quiserem que o amor entre vocês perdure, voem juntos, mas jamais amarrados.
Liberte a pessoa que você ama para que ela possa voar com as próprias asas.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dia Internacional do Livro Infantil.



Ler,dá saúde e faz crescer!

Sobrevivência.


Na África todas as manhãs, a mais lenta das gazelas acorda sabendo que deve conseguir correr mais depressa do que o mais rápido
dos leões se quiser se manter viva.
E todas as manhãs o mais lento dos leões acorda sabendo que deve correr mais depressa do que a mais rápida das gazelas, se ele não quiser morrer de fome.

Moral da História: Não faz diferença se você é a gazela ou o leão, quando o sol nascer " comece a correr "!

A Terra.




Também eu quero abrir-te e semear
Um grão de poesia no teu seio!
Anda tudo a lavrar,
Tudo a enterrar centeio,
E são horas de eu pôr a germinar
A semente dos versos que granjeio.

Na seara madura de amanhã
Sem fronteiras nem dono,
Há de existir a praga da milhã,
A volúpia do sono
Da papoula vermelha e temporã,
E o alegre abandono
De uma cigarra vã.

Mas das asas que agite,
O poema que cante
Será graça e limite
Do pendão que levante
A fé que a tua força ressuscite!

Casou-nos Deus, o mito!
E cada imagem que me vem
É um gomo teu, ou um grito
Que eu apenas repito
Na melodia que o poema tem.

Terra, minha aliada
Na criação!
Seja fecunda a vessada,
Seja à tona do chão,
Nada fecundas, nada,
Que eu não fermente também de inspiração!

E por isso te rasgo de magia
E te lanço nos braços a colheita
Que hás de parir depois...
Poesia desfeita,
Fruto maduro de nós dois.

Terra, minha mulher!
Um amor é o aceno,
Outro a quentura que se quer
Dentro dum corpo nu, moreno!

A charrua das leivas não concebe
Uma bolota que não dê carvalhos;
A minha, planta orvalhos...
Água que a manhã bebe
No pudor dos atalhos.

Terra, minha canção!
Ode de pólo a pólo erguida
Pela beleza que não sabe a pão
Mas ao gosto da vida!

Miguel Torga.

Ondas de Solidão.



Se possuísse uma canoa e um papagaio, podia considerar-me realmente como um Robinson Crusoé, desamparado na sua ilha. Há, é verdade, em roda de mim uns quatro ou cinco milhões de seres humanos. Mas, que é isso? As pessoas que nos não interessam e que se não interessam por nós, são apenas uma outra forma da paisagem, um mero arvoredo um pouco mais agitado. São, verdadeiramente como as ondas do mar, que crescem e morrem, sem que se tornem diferenciáveis uma das outras, sem que nenhuma atraia mais particularmente a nossa simpatia enquanto rola, sem que nenhuma, ao desaparecer, nos deixe uma mais especial recordação. Ora estas ondas, com o seu tumulto, não faltavam decerto em torno do rochedo de Robinson - e ele continua a ser, nos colégios e conventos, o modelo lamentável e clássico da solidão.

Eça de Queirós, in 'Correspondência'