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segunda-feira, 6 de abril de 2009

Versos.



Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Escrever, por exemplo: “a noite está estrelada

e tiritam, azuis, os astros, na distância”.

O vento da noite gira no céu e canta.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Eu a quis, e ela, às vezes, também a mim.

Em noites como esta a tive entre meus braços.

A beijei tantas vezes debaixo do céu infinito.

Ela me quis, como algumas vezes eu também a ela.

Como não ter amado seus grandes olhos fixos.

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.

Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.

E o verso cai na alma como o sereno no pasto.

Que importa que meu amor não pôde mantê-la comigo.

A noite está estrelada e ela não está comigo.

Isso é tudo. Alguém canta lá longe. Muito longe.

Minha alma não se conforma por tê-la perdido.

Como para aproximá-la, meu olhar busca por ela.

Meu coração busca por ela, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.

Nós, os daquela época, não somos mais os mesmos.

Já não a amo, é certo, mas quanto a quis.

Minha voz buscava o vento para tocar seu ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes dos meus beijos.

Sua voz, seu corpo claro. Seus olhos infinitos.

Já não a amo, é certo, mas talvez ainda a ame.

É tão curto o amor, e tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta a tive em meus braços, minha alma não se conforma por tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa. E estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.)

Pablo Neruda.

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