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terça-feira, 11 de maio de 2010

Vazio de alma...


Sinto um vazio na alma
o vento empurra-me
despe-me de sentidos
lágrimas nos meus olhos
profundos e tristes
inexpressivos...
Meu corpo
desocupado,ausente
vazio de sentimentos
vão
fútil
frívolo
carente...
Minha alma insensível
vagueia sem destino
ociosamente
sem rumo certo
deambulando na incerteza
indiferente...
Irresoluto no amor
hesito
a luz treme
ao fundo do túnel
vacilo na incerteza
sonho
desconexo
confuso
sem clareza...

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Verde do meu coração.


Verde és a cor da natureza
da armonia e crescimento
exuberante ,fértil
fresco
sempre presente...




Verde
verdejante
inexperiente
Vinho novo
carne fresca
virente que verdejas em florescente...



Verde também és vigor
juventude
esperança e alma
és o masculino
lembras o mar
em dias de calma.



Verde "langeri"
cor da minha perdição
imoral
devassa
fantasias quem não as tem ?
Libertina sedução...



Sporting clube de Portugal
teu lema:
Esforço dedicação
devoção e glória
és VERDE
clube do meu coração
és alma
és poesia...

domingo, 9 de maio de 2010

Imperdível.


Lisboa não tem estes defeitos da luz : é serena,
imperturbável, silenciosa. Quer a sua inviolabilidade,
evita as feridas terríveis. Tem a sensatez,
a prudência, a economia, o medo. Não
quer alumiar, para não lutar; não quer pensar,
para não sofrer. Não quer criar, pensar, apostolar,
criticar. Escuta e aplaude toda a voz, ou
sejam as imprecações de Danton, ou os versos do
poeta Nero. As ondas que solucem, as florestas
que se lamentem! Ela tem o riso radioso e
sereno.
Sente-se abundante, gorda, coberta de luz.
Sente-se protegida, livre, caiada e fresca. Não
tem de catar as suas misérias, nem de amparar
o pau das forcas: por isso, comenta Sancho
Pança. Não tem de construir a catedral das
ideias, nem de compor a sinfonia da alma: por
isso, escuta os melros nas várzeas, e reza as Ave-
-Marias. Paris, Londres, Nova Iorque, Berlim,
suam e trabalham, em espírito. Ela não tem que
semear: por isso, ressona ao sol.

Âs vezes, porém, comete o mal, enterrando
ideias. Onde? Na escuridão, no silêncio, no desprezo.
Lisboa é um pouco coveira de almas!
Como Roma, ela tem as sete colinas; como
Atenas, tem um céu tão transparente que poderia
viver nele o povo dos deuses; como Tiro,
é aventureira do mar; €omo Jerusalém, crucifica
os que lhe querem dar uma alma. Todavia,
Lisboa o que faz? Come.
Come, ao cair da tarde, sem testemunhas
impiedosas, quando sabe que os astros vêm longe,
que as asas sonham com o vento, que os olhos
das flores se fecham de sono. Deus não vê, da
sua varanda de sol, que, para esta velha cidade,
heróica e legendária, que nos seus velhos dias
tomou o pecado da gula, o abdómen é uma realidade
livrei Até ali, durante o dia, os seus cabelos
caíam como ramos de salgueiros, as suas faces
estavam amareladas, dos seus olhos chovia dor;
ainda não tinha comido! Depois, à noite, quando
sai do alimento como duma vitória, os olhares
são gritos de luz, os cabelos plumas gloriosas, o
peito arca de ideais: comeu!


Eça de Queiroz in Prosas bárbaras.

sábado, 8 de maio de 2010

A Lealdade é um Amor que Esquece o Mundo.




Só se é realmente leal quando se está sujeito a alguém ou a algo. Aí, onde mesmo um sonho pode ser senhor. Na sujeição de quem serve uma causa, na sujeição de quem se submete a um chefe, na sujeição à pessoa amada, na sujeição do sentimento e na sujeição do dever, no sacrifício da liberdade, da razão e do interesse. No desperdício e no desprezo do que está à vista e do que está à mão, é nesta desagradável situação que se acha ou não acha a lealdade. É por ser selvagem e servil, mas só a um senhor, que a lealdade tem valor. É muito difícil ser-se leal, mas só porque é muito difícil seguirmos o coração. A lealdade é um amor que esquece o mundo.

Ao escolher um amigo, e ao ser-se amigo dele, rejeitam-se as outras pessoas. Quando estamos apaixonados, é através dessa pessoa que amamos a humanidade. O amor ocupa-nos muito. E para os outros, não fica quase nada.
Não se consegue ser leal ao ponto de calar o coração. Mas sofremos com as nossas deslealdades. Sabemos perfeitamente o que estamos a fazer, quem sacrificámos, e porquê. É por causa da consciência da nossa imperfeição que o ideal da verdadeira lealdade não pode ser abandonado ou alterado. O facto de ser incumprível não obriga a que se arranje uma versão softcore, mais cómoda e realista. É preciso aguentar. A lealdade é uma coisa tão cega e simples de determinar quanto é difícil de determinar quanto é difícil de seguir.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

Cântico ao Amor.




Somos na obra do Mundo
um corpo em carne e desejo
que alimenta de alquimia
o tumulto do vento
que o tempo do teu corpo espalha
ao passar.

És mar,
és rainha
és o sol da tarde confidente
és acácia perfumada
companheira coroada
voz de inquietação
és insónia de seda
nas paredes do meu corpo.
Sulcas a lembrança
batalhas a meu lado
vives comigo às escondidas
mesmo no dia
do meu suicídio.

Recordas-me a tarde
nos Champs Elysées
mas também em Roma, Veneza ou Madrid
minha companheira coroada
minha acácia perfumada
trazes a tarde incendiada trazes
a tarde no teu olhar
lembras a praia
onde nas ondas mergulhámos,
vem contigo a madrugada
beijada de carícias,
meus olhos não se cansam
são fruto do teu reino
oh sempre bela
oh sempre rainha,
tua palavra determinante
tuas mãos determinadas
tua alma vibrante
tua boca de eternidade
minha acácia perfumada
minha coluna rainha
falas comigo baixinho
dás-me tua vontade em surdina.

Se tens trinta, quarenta ou cinquenta,
os anos que importam
vem esta tarde comigo
dádiva natural
minha rainha da noite
rainha coroada
vem sem eu saber
se Deus existe ou morreu
minha acácia perfumada
traz teus olhos de luar
traz tuas mãos abençoadas
traz teu andar sufocante
dá-me a tua última palavra
deixa-me beijar teu rosto
vem repartir nosso fado
vem rosa branca de amor
vem minha acácia florida,
vem!
Antes que o céu se levante.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Bom fim de semana.


Uma boa palavra reanima ...

Filosofias de Vida




A cada etapa da vida do homem corresponde uma certa Filosofia. A criança apresenta-se como um realista, já que está tão convicta da existência da peras e das maçãs como da sua. O adolescente, perturbado por paixões interiores, tem que dar maior atenção a si mesmo, tem que se experimentar antes de experimentar as coisas, e transforma-se protanto num idealista. O homem adulto, pelo contrário, tem todos os motivos para ser um céptico, já que é sempre útil pôr em dúvida os meios que se escolhem para atingir os objectivos. Dito de outro modo, o adulto tem toda a vantagem em manter a flexibilidade do entendimento, antes da acção e no decurso da acção, para não ter que se arrepender posteriormente dos erros de escolha. Quanto ao ancião, converter-se-á necessariamente ao misticismo, porque olha à sua volta e as mais das coisas lhe parecem depender apenas do acaso: o irracional triunfa, o racional fracassa, a felicidade e a infelicidade andam a par sem se perceber porquê. É assim e assim foi sempre, dirá ele, e esta última etapa da vida encontra a acalmia na contemplação do que existe, do que existiu e do que virá a existir.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões"

No cair da noite...


Vi nos olhos teus
quando olhavas os meus
um olhar profundo
uma alma amargurada
um adeus...
Será transfiguração da alma
evaporação do amor
ou um simples olhar triste
saudoso
de um amanhecer
no florir de uma flor ?...
Talvez
de um pôr de sol
que lá longe
na linha do horizonte
nos divide
nos separa
no cair da noite
que tudo apaga...

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Momentos.


Se nos lembrarmos melhor dos bons momentos, para que servem os maus?

Janela do Sonho




Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.

Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.

Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.

Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.

Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

Hino à Tolerância.




Já será grande a tua obra se tiveres conseguido levar a tolerância ao espírito dos que vivem em volta; tolerância que não seja feita de indiferença, da cinzenta igualdade que o mundo apresenta aos olhos que não vêem e às mãos que não agem; tolerância que, afirmando o que pensa, ainda nas horas mais perigosas, se coíba de eliminar o adversário e tenha sempre presente a diferença das almas e dos hábitos; dar-lhe-ão, se quiserem, o tom da ironia, para si próprios, para os outros; mas não hão-de cair no cepticismo e no cómodo sorriso superior; quando chegar o proceder, saberão o gosto da energia e das firmes atitudes. Mais a hão-de ter como vencedores do que como vencidos; a tolerância em face do que esmaga não anda longe do temor; então, antes os quero violentos que cobardes.
Mas tu mesmo, Marcos, com que direito és tolerante? Acaso te julgas possuidor da verdade? Em que trono te sentaram para que assim olhes de cima o resto dos humanos e todo o mundo em redor? Por que tão cedo te separas de compreender e de amar? Tens a pena do rico para o pobre, dás-lhe a esmola de lhe não fazer mal; baixaste a suportar o que é divino como tu; e queres que te vejamos superior porque já te não deixas irritar por gestos ou palavras dos irmãos. Mais alto te pretendo e mais humilde; à tolerância que envergonha substitui o cálido interesse pedagógico, o gosto fraternal de aprender e de guiar; não levantes barreiras, mas abate-as; se consideras pior o caminho dos outros vai junto deles, aconselha-os e guia-os; não os deixes errar só porque os dominarias, se quisesses; transforma em forte, viva chama o que a pouco e pouco se dirige a não ser mais que um gelado desdém.

Agostinho da Silva, in 'Considerações'

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Alma


Quero desnudar a minha alma. Não quero uma alma vestida de ceroulas ...

O Interior da Alma.




O olho do espírito em parte nenhuma pode encontrar mais deslumbramentos, nem mais trevas, do que no homem, nem fixar-se em coisa nenhuma, que seja mais temível, complicada, misteriosa e infinita. Há um espectáculo mais solene do que o mar, é o céu; e há outro mais solene do que o céu, é o interior da alma.

Fazer o poema da consciência humana, mas que não fosse senão a respeito de um só homem, e ainda nos homens o mais ínfimo, seria fundir todas as epopeias numa epopeia superior e definitiva. A consciência é o caos das quimeras, das ambições e das tentativas, o cadinho dos sonhos, o antro das ideias vergonhosas: é o pandemónio dos sofismas, é o campo de batalha das paixões. Penetrai, a certas horas, através da face lívida de um ser humano, e olhai por trás dela, olhai nessa alma, olhai nessa obscuridade. Há ali, sob a superfície límpida do silêncio exterior, combates de gigante como em Homero, brigas de dragões e hidras, e nuvens de fantasmas, como em Milton, espirais visionárias como em Dante. Sombria coisa esse infinito que todo o homem em si abarca, e pelo qual ele regula desesperado as vontades do seu cérebro e as acções da sua vida!

Victor Hugo, in 'Os Miseráveis'

Carta ...





Amor :
a manhã é uma densa juventude
e um caminho de esperança, recolhido.

Com brisas que antecedem os desejos
magoa as ténues águas dos nenúferes
onde os peixes gravitam suas cores.

As crianças brincam já a esta hora.
As suas vozes trocam de harmonia
e sobem, no meu peito iluminado.

O dia acorda o dia e, lentamente,
nos preparamos para envelhecer.

E assim, amor, eu mando-te notícias
sem vontade de ter outra morada
que não seja sorrir e estar contigo.

Passou, agora mesmo, ao rés da rua,
um esquife, vazio de pessoas,
queimando a dor em duas ou três rosas
- quase bonitas de tão pobrezinhas!

Além, um gato, expira nos esgotos
seu gesto melancólico de fome
e um homem - já cansado de ser homem,
encosta-se ao portão dum prédio novo.

É manhã. Um ar lavado e fresco
entorna-se nos rostos apressados
como se a dor não existisse mais.
Que sons, os da cidade, meu amor !


Vasco de Lima Couto
In " BOM DIA, MEU AMOR "

terça-feira, 4 de maio de 2010

Paixão


Estamos muito longe de conhecer tudo o que as nossas paixões nos levam a fazer ...

O Ideal da Amizade.




A camaradagem, o companheirismo, às vezes, parecem amizade. Os interesses comuns por vezes criam situações humanas que são semelhantes à amizade. E as pessoas também fogem da solidão, entrando em todo o tipo de intimidades de que, a maior parte das vezes, se arrependem, mas durante algum tempo podem estar convencidas de que essa intimidade é uma espécie de amizade. Naturalmente, nesses casos não se trata de verdadeira amizade. Uma pessoa imagina que a amizade é um serviço. O amigo, assim como o namorado, não espera recompensa pelos seus sentimentos. Não quer contrapartidas, não considera a pessoa que escolheu para ser seu amigo como uma criatura irreal, conhece os seus defeitos e assim o aceita, com todas as suas consequências. Isso seria o ideal. E na verdade, vale a pena viver, ser homem, sem esse ideal?

E se um amigo falha, porque não é um verdadeiro amigo, podemos acusá-lo, culpando o seu carácter, a sua fraqueza? Quanto vale aquela amizade, em que só amamos o outro pela sua virtude, fidelidade e perseverança? Quanto vale qualquer afecto que espera recompensa? Não seria nosso dever aceitar o amigo infiel da mesma maneira que o amigo abnegado e fiel? Não seria isso o verdadeiro conteúdo de todas as relações humanas, esse altruísmo que não quer nada e não espera nada, absolutamente nada do outro? E quanto mais dá, menos espera em troca? E se entrega ao outro toda a confiança de uma juventude, toda a abnegação da idade viril e finalmente oferece a coisa mais preciosa que um ser humano pode proporcionar a outro ser humano, a sua confiança absoluta, cega e apaixonada, e depois se vê confrontado com o facto de o outro ser infiel e vil, tem direito de se ofender, de exigir vingança? E se se ofende e grita por vingança, era realmente amigo, o traído e abandonado?

Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'

Primavera triste...


chove copiosamente
dia triste
primaveril
de águas mil...
Primavera
sentida
sem ti
sem flores
o que será de mim ?
Brilha Primavera
desabrocha os teus amores
alegra-te
brilha
reparte as tuas flores...

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Pôr de sol alaranjado




Cor de laranja
mística
cor de mel silvestre
eufórica
divina
espiritual
ultra-terrestre...

Laranja
cor expansiva e afirmativa
de coragem
animação
construtiva
entusiasta
fonte de comunicação...

Laranja
amarga e doce
aprazível com sabor a mel
suco,essência
azeda
com sabor a fel...

Pôr de sol alaranjado
irradias calor
dilatas a minha alma
transformas o meu ser
em energia e amor...

domingo, 2 de maio de 2010

Prémio dardos.



Oferecido pela maria a quem muito agradeço.

do blog.
http://algarve-saibamais.blogspot.com

Janela do Sonho .






Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.

Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.

Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.

Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.

Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

Literatura.


Relendo, Eça de Queiroz.

Prosas Bárbaras

Os temas mais frequentes nesta colectânea de contos, são o macabro, o sinistro, a morte, o satanismo, a dualidade imortalidade da matéria/mortalidade da alma, a crença na metempsicose dos corpos, a crença que a matéria guarda saudade e recordação das vidas anteriormente vividas, temas de natureza religiosa vagamente panteísta e, por fim, alguns indícios de critica social.

Para todas as Mães do mundo.

sábado, 1 de maio de 2010

1º de Maio.


A nova cultura começa quando o trabalhador e o trabalho são tratados com respeito ...

Os ses...

Um Ofício que Fosse de Intensidade e Calma .




Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Anda, Vem.




Anda, vem... por que te négas,
Carne morêna, toda perfume?
Por que te cálas,
Por que esmoreces
Boca vermêlha, - rosa de lume!

Se a luz do dia
Te cóbre de pêjo,
Esperemos a noite presos n'um beijo.

Dá-me o infinito goso
De contigo adormecer,
Devagarinho, sentindo
O arôma e o calôr
Da tua carne, - meu amôr!

E ouve, mancebo aládo,
Não entristeças, não penses,
- Sê contente,
Porque nem todo o prazer
Tem peccado...

Anda, vem... dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos;

Tenho Saudades da vida!

Tenho sêde dos teus beijos!


António Botto, in 'Canções'

O Rápido Passar do Tempo é Sinal de Inactividade.



O ócio torna lentas as horas e velozes os anos. A actividade torna rápida as horas e lentos os anos. A infância é a actividade máxima, porque ocupada em descobrir o mundo na sua diversidade.
Os anos tornam-se longos na recordação se, ao repensá-los, encontramos numerosos factos a desenvolver pela fantasia. Por isso, a infância parece longuíssima. Provavelmente, cada época da vida é multiplicada pelas sucessivas reflexões das que se lhe seguem: a mais curta é a velhice, porque nunca será repensada.
Cada coisa que nos aconteceu é uma riqueza inesgotável: todo o regresso a ela a aumenta e acresce, dota de relações e aprofunda. A infãncia não é apenas a infância vivida, mas a ideia que fazemos dela na juventude, na maturidade, etc. Por isso, parece a época mais importante, visto ser a mais enriquecida por considerações sucessivas.
Os anos são uma unidade da recordação; as horas e os dias, uma unidade da experiência.

Cesare Pavese, in 'O Ofício de Viver'

Literatura


A problemática do desenvolvimento local remete-nos para a evidência de que vivemos sempre num qualquer sítio.Mas desafia-nos,mais do que isso,a viver o sitio que habitamos.

Por isso mesmo,a viabilidade do nosso mundo rural passa por (muitas) linhas de acção que tornem esse mundo habitável e que nos devolvam a possibilidade de viver o sítio de forma positiva,humanamente criadora.

Recuperar a memória encantada dos lugares de que é feito esse nosso mundo,trazer á superfície esse imaginário que,de muitos modos,ainda se encontra activo,embora recalcado,refazer a densidade simbólica dos sítios,oferecer à criactividade algumas das raízes de que se pode alimentar,apresentar alguns traços do homem rural que nos procedeu e que de algum modo ainda coabita connosco,enfim,pesquisar e disponibilizar uma parte significativa da tradição oral do nosso mundo rural,foi o trabalho que assumiu para si,durante anos,a professora Isilda Jana.Tanto mais importante quanto é uma biblioteca que arde cada vez que as pessoas,ao morrerem,levam consigo o seu testemunho insubstituível.

(José Alves Jana.)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dia internacional da dança.


A DANÇA

Não te amo como se fosse rosa de sal, topázio
ou flecha de cravos que propagam o fogo:
te amo secretamente, entre a sombra e a alma.
.
Te amo como a planta que não floresce e leva
dentro de si, oculta, a luz daquelas flores,
e graças a teu amor vive escuro em meu corpo
o apertado aroma que ascender da terra.
.
Te amo sem saber como, nem quando, nem onde,
te amo directamente sem problemas nem orgulho:
assim te amo porque não sei amar de outra maneira,
.
Se não assim deste modo em que não sou nem és
tão perto que a tua mão sobre meu peito é minha
tão perto que se fecham teus olhos com meu sonho.

Pablo Neruda

A Melancolia




A melancolia é sorna e estéril. Camões escreveu a sua epopeia nos dias da esperança. Quando a tristeza desanimadora o entrou, já não pôde escrever para o fidalgo, que lha pedia, uma paráfrase dos salmos.
Uma inteligência em quietismo não danifica os interesses materiais dum país, e até certo ponto pode considerar-se providencial o pousio; mas um cidadão analfabeto, embrutecido pela melancolia, se a sua qualidade civil é importante como deve ser, pode prejudicar gravemente os interesses da cidade.
Ainda bem que a melancolia raro se atreve a perturbar o funcionalismo intelectivo de certas cabeças, cuja organização é maravilha. Daí provém a traça metódica e auspiciosa com que o homem supinamente ignorante regula os seus negócios. Há nessa cabeça a perene claridade dum fundo de garrafa de cristal. As ideias impedem-lhe congeladas da abóbada craniana como as estalactites duma caverna. Dessa imobilidade imperturbável de cérebro resulta a fixidez da mira posta num alvo, a pertinácia das empresas e o conseguimento dos bons efeitos.
Ainda não vi tão cabal e logicamente explicado o fortunoso êxito de algumas riquezas granjeadas pela inépcia.
Não obstante, o número dos bastardos da fortuna é muito maior. O leitor é de certo um dos que tem em cada dia uma hora de enojo, de quebranto, de melancolia, de concentração dolorosa, de desapego à vida, de misantropia e de diálogo terrível com o fantasma da aniquilação.

Camilo Castelo Branco, in 'Coração, Cabeça e Estômago'

Saudade que dói...


Saudade
é estar distante
viver separado
chorar
viver amargurado...
Saudade
é nostalgia
tempos corroídos
desgastados
dia a dia...
Saudade
é viver do outro lado
á distância
lágrimas do passado...
Saudade
é um estado de alma
fragmentos de uma ruptura
tristeza profunda
amargura...
Saudade
é dor que dói
entranha-se
desgasta
corrói...

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Lei do amor...


Só existe uma lei no amor; tornar feliz a quem se ama.

Stendhal

Kitaro

Os Dois Horizontes




Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? – Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.

Dois horizontes fecham nossa vida.

Machado de Assis, in 'Crisálidas'

terça-feira, 27 de abril de 2010

Brincadeiras...

A Primitiva Infâmia




Desde que se cumpram certas cerimónias ou se respeitem certas fórmulas, consegue-se ser ladrão e escrupulosamente honesto - tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religião, a ganância e o escrúpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques. Agora é a vez da honra - agora é a vez do dinheiro - agora é a vez da religião. Tudo se acomoda, outras coisas heterogéneas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas.

Raul Brandão, in "Húmus"

Penso,logo quero...


Penso
combino idéias
reflito
formo opinião
medito...
Planejo
imagino
coagito
cismo
logo existo...
Penso demoradamente
com insistência
examino
aprecio
em consciência...
Penso
logo considero
tenho em conta
dou atenção
examino
provo
logo quero...

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Roxo de Lilás.




Lilás
cor da alquimia
energia cósmica
inspiração espiritual
magia...

Lilás
arbusto de delicado perfume
teus odores
libertam paixão
amores
ciúme.

mundo lilás
força e vida
roxo de paixão
vida colorida...

Lilás
influente nas emoções
intituitivo
roxo de tristeza
prosperidade
nobreza...

domingo, 25 de abril de 2010

Paz e serenidade em todos os corações!



Quem estiver de acordo com a idéia ,leve e passse adiante.

"Esquecidos da história..."


Um bem haja para a guarnição do NRP Gago Coutinho (25 de Abril de 1974)


Integrada numa força NATO, a fragata rumava à saída da barra quando foi mandada retroceder, abandonando a formatura e colocando-se em frente ao Terreiro do Paço. Esta ordem veio do Estado-Maior da Armada;
O Imediato na asa da ponte de EB informa o Com.te do navio que a posição da Marinha para com o movimento é de neutralidade activa;
O Almirante Jaime Lopes dá ordem ao Com.te do navio para abrir fogo sobre os tanques do Exército posicionados no Terreiro do Paço;
O Com.te do navio não cumpre a ordem, alegando que estava muita gente no Terreiro do Paço e, também, que vários cacilheiros se encontravam nas proximidades;
O Com.te do navio recebe ordens para fazer fogo de salva;
O Com. .te do navio dá ordem ao Chefe do Serviço de Artilharia para fazer fogo de salva;
O C.S Artilharia recusa-se, chamando a atenção do Com.te do navio para o Imediato que tinha algo a dizer;
O Imediato reafirma a intenção dos oficiais se recusarem a abrir fogo mesmo de salva;
O Com.te do navio em crescente histeria, exonera do seu cargo o Imediato. Os oficiais a seguir convidados a assumirem o cargo recusaram;
Os oficiais mantêm-se disciplinadamente, a cumprir ordens do Com.te, excepto a de abrir fogo;
Pelas 13H20 o Com.te reúne-se com os oficiais na câmara. Em cima da mesa coloca uma pasta de arquivo verde, onde se pôde ver inscrita a palavra “Revolução”.
Após ter inquirido, um a um, todos os oficiais, começando pelo mais moderno, sobre se mantinham a sua posição de recusa de abrir fogo, o Com.te do navio considerou todos os oficiais insubordinados;
No final da reunião, que terminou antes da rendição do Presidente do Conselho de Ministros, Marcelo Caetano, no Quartel do Carmo, o Com.te do navio realçou explicitamente a necessidade de cada um de nós não se esquecer da posição que tinha assumido, pois ele não se esqueceria.”
Quanto a mim, a coragem e determinação destes Homens que mesmo sabendo que correriam riscos, se recusaram a cumprir uma ordem que teria consequências imprevisíveis para o resultado do 25 de Abril, merece ser lembrada.

Fonte: Anais do Clube Militar Naval .

Anonimato


Como é bom viver no anonimato,sem gente conhecida,viver fora da verdade,mentirmos a nós próprios,enfim viver mascarado.