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domingo, 31 de janeiro de 2010

Nua .




Nua
como Eva.
A cabeleira
beija-lhe o rosto oval e flutua;
o corpo
é água de torrente...
Eva adolescente,
com reflexos de lua
e tons de aurora...!
Roseira que enflora...!
Desflorada por tanta gente...
Teu corpo,
mal o toquei...
Só te abracei
de leve...
Foi todo neve
o sonho que alonguei...
Asas em voo,
quem, um dia, as teve?
Os sonhos que eu sonhei!
Jeito de ave
e criança,
suave
como a dança
do ramo de árvore
que o vento beija e balança!
Nave
de sonho
no temporal medonho
silvando agoiro!
Quem destrançou os teus cabelos de oiro?
Corpo fino,
delicado,
sereno, sem desejos...
Tão macio,
tão modelado...
Beijos... Beijos... Beijos...
No meu sono
ela flutua
a cada passo...
Nua,
riscando o espaço
numa névoa de outono...
Apenas nos cabelos
um azulado laço...
E assim enlaço
a imagem sua...

Saúl Dias, in "Sangue"

Ser Feliz é um Dever .



É difícil ser feliz; requer espírito, energia, atenção, renúncia e uma espécie de cortesia que é bem próxima do amor. Às vezes é uma graça ser feliz. Mas pode ser, sem a graça, um dever. Um homem digno desse nome agarra-se à felicidade, como se amarra ao mastro em mau tempo, para se conservar a si mesmo e aos que ama. Ser feliz é um dever. É uma generosidade.

Louis Pauwels, in "Carta Aberta às Pessoas Felizes"

sábado, 30 de janeiro de 2010

Não Pode Existir Amor Sem Verdadeira Troca .




Não te lembras de ter encontrado na vida aquela que se considera um ídolo? Que havia ela de receber do amor? Tudo, até a tua alegria de a encontrares, se torna homenagem para ela. Mas, quanto mais a homenagem custa, mais vale: ela saborearia melhor o teu desespero.
Ela devora sem se alimentar. Ela apodera-se de ti para te queimar à sua honra. Ela é semelhante a um forno crematório. Ela, na sua avareza, enriquece-se de várias capturas, julgando encontrar a alegria nessa acumulação. E não acumula mais do que cinzas. Porque o verdadeiro uso dos teus dons era caminho de um para o outro, e não captura.
Ela verá penhores nos teus dons e abster-se-á de tos conceder em paga. Na falta de arrebatamentos que te satisfariam, a falsa reserva dela far-te-á ver que a comunhão dispensa sinais. É marca da impotência para amar, não elevação do amor. Se o escultor despreza a argila, terá de modelar o vento. Se o teu amor despreza os sinais do amor a pretexto de atingir a essência, o teu amor não passa de um palavreado. Não descuides as felicitações, nem os presentes, nem os testemunhos.Serias capaz de amar a propriedade, se fosses excluindo dela, um por um, como supérfluos, porque particulares demais, o moinho, o rebanho, a casa? Como construir o amor, que é rosto lido através da urdidura, se não há urdidura sobre a qual escrever?

Sem cerimonial de pedras, não haveria catedral.
Nem haverá amor sem cerimonial em vistas do amor. Eu só atinjo a essência da árvore se ela modelou lentamente a terra segundo o cerimonial das raízes, do tronco e dos ramos. Nessa altura, ela é una. Tal árvore e não uma outra.
Mas aquela acolá desdenha as trocas, que a haviam de fazer nascer. Ela procura no amor um objecto capturável. E esse amor não tem significado algum.
Ela julga que o amor é presente que ela pode fechar nela. Se tu a amas, é porque ela te conquistou. Ela fecha-te nela, convencida de enriquecer. Ora o amor não e tesouro a conquistar, mas obrigação de parte a parte, fruto de um cerimonial aceite, rosto dos caminhos da troca.
Jamais essa mulher nascerá. Só de uma rede de laços se pode nascer. Ela continuará a ser semente abortada, poder por empregar, alma e coração secos. Ela há-de envelhecer funebremente, entregue à vaidade das suas capturas.
Tu não podes atribuir nada a ti próprio. Não és cofre nenhum. És o nó da diversidade. O templo, também é sentido das pedras.

Antoine de Saint-Exupéry, in "Cidadela"

Cartas de amor


Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel.

Rubem Alves

Fantasia




Há uma mulher em toda a minha vida,
Que não se chega bem a precisar.
Uma mulher que eu trago em mim perdida,
Sem a poder beijar.

Há uma mulher na minha vida inquieta.
Uma mulher? Há duas, muitas mais,
Que não são vagos sonhos de poeta,
Nem formas irreais.

Mulheres que existem, corpos, realidade,
Têm passado por mim, humanamente,
Deixando, quando partem, a saudade
Que deixa toda a gente.

Mas coisa singular, essa que eu não beijei,
É quem me ilude, é quem me prende e quer.
Com ela sonho e sofro... Só não sei
Quem é essa mulher.

Alfredo Brochado, in "Bosque Sagrado"

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Dificuldade de Governar




1.
Todos os dias os ministros dizem ao povo
Como é difícil governar. Sem os ministros
O trigo cresceria para baixo em vez de crescer para cima.
Nem um pedaço de carvão sairia das minas
Se o chanceler não fosse tão inteligente. Sem o ministro da Propaganda
Mais nenhuma mulher poderia ficar grávida. Sem o ministro da Guerra
Nunca mais haveria guerra. E atrever-se ia a nascer o sol
Sem a autorização do Führer?
Não é nada provável e se o fosse
Ele nasceria por certo fora do lugar.

2.
E também difícil, ao que nos é dito,
Dirigir uma fábrica. Sem o patrão
As paredes cairiam e as máquinas encher-se-iam de ferrugem.
Se algures fizessem um arado
Ele nunca chegaria ao campo sem
As palavras avisadas do industrial aos camponeses: quem,
De outro modo, poderia falar-lhes na existência de arados? E que
Seria da propriedade rural sem o proprietário rural?
Não há dúvida nenhuma que se semearia centeio onde já havia batatas.

3.
Se governar fosse fácil
Não havia necessidade de espíritos tão esclarecidos como o do Führer.
Se o operário soubesse usar a sua máquina
E se o camponês soubesse distinguir um campo de uma forma para tortas
Não haveria necessidade de patrões nem de proprietários.
E só porque toda a gente é tão estúpida
Que há necessidade de alguns tão inteligentes.

4.
Ou será que
Governar só é assim tão difícil porque a exploração e a mentira
São coisas que custam a aprender?

Bertolt Brecht

Pachelbel Canon



Bom fim de semana para o mundo.

Espelho...


Olho o espelho
identifico-me
mas não me vejo.
Tua imagem
no baço reflexo
desperta em mim
imagens passadas
sem nexo!
Nada é real
tudo me transcende
neste amor platónico
anormal...
Entre nós
apenas uma fina película de vidro
nos separa
demasiado resistente
para que o quebre
e te abrace.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Beleza.


A beleza é apenas a promessa da felicidade ...

Roda de Livros



Concurso Concelhio / Nacional de Leitura
O Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, e do Agrupamento de Escolas de Constância, representado pela Biblioteca Escolar Carlos Cécio, estão a organizar um Concurso Concelhio e um Concurso Nacional de Leitura, denominado Roda de Livros, que decorrerá nas Escolas do Agrupamento, contando com a participação de todos os alunos.

Tendo como objectivo promover o livro e a leitura, o concurso consiste no estudo de obras obrigatórias para cada escalão, sendo necessário para a participação, a inscrição em formulário próprio, disponibilizado pelas Bibliotecas Escolar e Municipal.

• Escalão A (1º Ciclo - 3º e 4ª anos)
Há fogo na floresta – Ana Maria Magalhães, Isabel Alçada (1ª fase)
A menina que roubava gargalhadas – Inês Pedrosa (2ª fase)

• Escalão B (2º Ciclo - 5º e 6º anos)
Três História do futuro – Luísa Ducla Soares (1ª fase)
Uma aventura na Quinta das Lágrimas – Ana M. Magalhães, Isabel Alçada (2ª fase)

• Escalão C (3º Ciclo - 7º, 8º e 9º anos)
A lua de Joana – Maria Teresa Maia Gonzalez (1ª fase)
Casting – Jordi Sierra I Febra

• Escalão D (Secundário - 10º, 11º e 12º anos)
O bosque dos Pigmeus – Isabel Allende
O estranho caso do cão morto – Mark Haddon

O concurso decorrerá em duas fases distintas: numa primeira fase far-se-á o apuramento dos participantes dos quatro escalões, que terá lugar nas Escolas do Agrupamento e na segunda fase, que corresponde ao 3º Ciclo e Secundário, será numa Biblioteca a designar pela Direcção-Geral do Livro e das Bibliotecas; no caso do 1º e 2º Ciclo haverá uma prova final que terá lugar no Cine-Teatro Municipal de Constância, a 23 de Abril de 2010.

Para informações ou esclarecimentos adicionais devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, através do telefone 249 739 367 ou do e-mail biblioteca@cm-constancia.pt, ou ainda a Biblioteca Escolar Carlos Cécio, através do telefone 249730290 ou do e-mail biblioteca.carloscecio@gmail.com.


Leia mais. Viva mais.

Por CMC

Sorrisos.


De sorriso em sorriso
vou ser gentil com toda a gente
sorrir é preciso
é sentir-me feliz
é ver o mundo contente.
Sorrir,sorrir
vai ser o meu lema
é com oferecer uma flor
imaginar que abraço o mundo
ou beijar o meu amor...
Sorrir é urgente
mas,com sorrisos originais
vamos acabar com os risos contrafeitos
com o desespero e a tristeza
e outras coisas mais...

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Parte de tudo...


Eu sou uma parte de tudo, tal como a hora é uma parte do dia ...

Chorar e Rir .




E enquanto uma chora, outra ri; é a lei do mundo, meu rico senhor; é a perfeição universal. Tudo chorando seria monótono, tudo rindo, cansativo; mas uma boa distribuição de lágrimas e polcas, soluços e sarabandas, acaba por trazer à alma do mundo a variedade necessária, e faz-se o equilíbrio da vida.

Machado de Assis, in "Quincas Borba"

O Mar é Longe, mas Somos Nós o Vento .




O mar é longe, mas somos nós o vento;
e a lembrança que tira, até ser ele,
é doutro e mesmo, é ar da tua boca
onde o silêncio pasce e a noite aceita.
Donde estás, que névoa me perturba
mais que não ver os olhos da manhã
com que tu mesma a vês e te convém?
Cabelos, dedos, sal e a longa pele,
onde se escondem a tua vida os dá;
e é com mãos solenes, fugitivas,
que te recolho viva e me concedo
a hora em que as ondas se confundem
e nada é necessário ao pé do mar.

Pedro Tamen, in "Daniel na Cova dos Leões"

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Liberdade condicional.


Homem livre, tu sempre gostarás do mar ...

O Papel do Sonho na Vida.




Por vezes, o homem é mais sincero e rico na desordem dos sonhos que na consciência unitária do raciocinador acordado, mas nós vivemos enquanto negamos o sonho e o tornamos inútil. O génio é a extradição do sonho, porque enriquece a consciência com as reservas e as pessoas do inconsciente. Expulsa o selvagem e o delinquente, destila a sagacidade do louco, adopta a criança e escuta o poeta. Não é autocrata surdo, como o homem vulgar, mas pai de iguais. A concórdia de se terem almas subterrâneas faz a grandeza do génio, e a sua obra é a sublimação do sonho, desenrolado na vida verdadeira, liberdade concedida aos pensamentos inocentes dos reclusos.

Escolher é próprio do homem, mas escolhe-se com a rejeição e mais com o acolhimento. Vencer não significa apenas destruir, mas incorporar. A razão será tanto mais razoável quanto maior a loucura que assumir em si; o herói será mais forte se transferir para si a energia do pecador, e a fantasia do poeta tornará mais profundos os cálculos do político.
Quando o chefe da alma é o poeta, verdadeiramente poeta, não encarcera a razão, mas condu-la consigo para cima, ao céu em que até o silogismo se torna fogo. Quando o vitorioso é o santo, até o ladrão, sob a forma de arrependimento, é elevado ao paraíso. E os espectos, tornados participantes da luz, não têm motivo para recorrer às fantasias nocturnas para se iludirem de que vivem. A vida não é sonho, mas a urdidura dos sonhos pode iluminar e embelezar a trama da vida.

Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'

O sentido da vida.


Sonhei que a vida
não fazia sentido
mas que o sentido fazia a vida.
Afastei-me da vida e do sentido
fiquei vazio
com saudades da vida.
Acordei e nada fazia sentido
porque a vida sem sentido
não é vida...
Então pensei:
Se a vida é um sentido
e o sentido faz parte da vida
a vida é para ser vivida.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Alegria.


A alegria é a vida vista atrás de um raio de sol ...

A Tempestade do Destino.




Por vezes o destino é como uma pequena tempestade de areia que não pára de mudar de direcção. Tu mudas de rumo, mas a tempestade de areia vai atrás de ti. Voltas a mudar de direcção, mas a tempestade persegue-te, seguindo no teu encalço. Isto acontece uma vez e outra e outra, como uma espécie de dança maldita com a morte ao amanhecer. Porquê? Porque esta tempestade não é uma coisa que tenha surgido do nada, sem nada que ver contigo. Esta tempestade és tu. Algo que está dentro de ti. Por isso, só te resta deixares-te levar, mergulhar na tempestade, fechando os olhos e tapando os ouvidos para não deixar entrar a areia e, passo a passo, atravessá-la de uma ponta a outra. Aqui não há lugar para o sol nem para a lua; a orientação e a noção de tempo são coisas que não fazem sentido. Existe apenas areia branca e fina, como ossos pulverizados, a rodopiar em direcção ao céu. É uma tempestade de areia assim que deves imaginar.

(...) E não há maneira de escapar à violência da tempestade, a essa tempestade metafísica, simbólica. Não te iludas: por mais metafísica e simbólica que seja, rasgar-te-á a carne como mil navalhas de barba. O sangue de muita gente correrá, e o teu juntamente com ele. Um sangue vermelho, quente. Ficarás com as mãos cheias de sangue, do teu sangue e do sangue dos outros.
E quando a tempestade tiver passado, mal te lembrarás de ter conseguido atravessá-la, de ter conseguido sobreviver. Nem sequer terás a certeza de a tormenta ter realmente chegado ao fim. Mas uma coisa é certa. Quando saíres da tempestade já não serás a mesma pessoa. Só assim as tempestades fazem sentido.

Haruki Murakami, in 'Kafka à Beira-Mar'

Tempo que passas por mim.


Tempo que passas por mim
retarda o teu futuro
dá-me um pouco de ti
porque o passado já o esqueci
e o presente não o quero assim.
Viver na dúvida
é ser enganado pelo tempo
pois só com o passado
posso viver o presente
sonhando com um amanhã sorridente.
Pedi um tempo ao tempo
o tempo não parou
segui em frente
fugindo ao passado
procurando o futuro
num presente não realizado...