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segunda-feira, 29 de junho de 2009

Leia .


Escrevendo ou lendo nos unimos para além do tempo e do espaço, e os limitados braços se põem a abraçar o mundo; a riqueza de outros nos enriquece a nós.
Leia

Agostinho da Silva.

A Sofreguidão de um Instante .




Tudo renegarei menos o afecto,
e trago um ceptro e uma coroa,
o primeiro de ferro, a segunda de urze,
para ser o rei efémero
desse amor único e breve
que se dilui em partidas
e se fragmenta em perguntas
iguais às das amantes
que a claridade atordoa e converte.
Deixa-me reinar em ti
o tempo apenas de um relâmpago
a incendiar a erva seca dos cumes.
E se tiver que montar guarda,
que seja em redor do teu sono,
num êxtase de lábios sobre a relva,
num delírio de beijos sobre o ventre,
num assombro de dedos sob a roupa.
Eu estava morto e não sabia, sabes,
que há um tempo dentro deste tempo
para renascermos com os corais
e sermos eternos na sofreguidão de um instante.

José Jorge Letria, in "Variantes do Oiro"

A Desgraça do Sonhador !

E vocês sabem o que é um sonhador ? É um pecado personificado, uma tragédia misteriosa, escura e selvagem, com todos os seus horrores frenéticos, catástrofes, devaneios e fins infelizes... um sonhador é sempre um tipo difícil de pessoa porque ele é enormemente imprevisível: umas vezes muito alegre, às vezes muito triste, às vezes rude, noutras muito compreensivo e enternecedor, num momento um egoísta e noutro capaz dos mais honoráveis sentimentos... não é uma vida assim uma tragédia? Não é isto um pecado, um horror? Não é uma caricatura? E não somos todos mais ou menos sonhadores?

Fiodor Dostoievski, in "Escritos Ocasionais"

domingo, 28 de junho de 2009

Epica-sensorium.

Envelhecer




É bom envelhecer!

Sentir cair o tempo,
magro fio de areia,
numa ampulheta inexistente!

Passam casais jovens
abraçados!...

As árvores
balançam novos ramos!...

E o fio de areia
a cair, a cair, a cair...

Saúl Dias, in "Essência"

Dizer Não.



Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.

Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.

Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.

Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.

Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.

Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.

Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.

Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.

Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.

Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.

E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.

Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

sábado, 27 de junho de 2009

O Homem e a Mulher.


O homem é a mais elevada das criaturas.
A mulher, o mais sublime dos ideais.
Deus fez para o homem um trono; para a mulher fez um altar.
O trono exalta e o altar santifica.
O homem é o cérebro; a mulher, o coração. O cérebro produz a luz; o coração produz amor. A luz fecunda; o amor ressuscita.
O homem é o génio; a mulher é o anjo. O génio é imensurável; o anjo é indefenível;
A aspiração do homem é a suprema glória; a aspiração da mulher é a virtude extrema; A glória promove a grandeza e a virtude, a divindade.
O homem tem a supremacia; a mulher, a preferência. A supremacia significa a força; a preferência representa o direito.
O homem é forte pela razão; a mulher, invencível pelas lágrimas.
A razão convence e as lágrimas comovem.
O homem é capaz de todos os heroísmos; a mulher, de todos os martírios. O heroísmo enobrece e o martírio purifica.
O homem pensa e a mulher sonha. Pensar é ter uma larva no cérebro; sonhar é ter na fronte uma auréola.
O homem é a águia que voa; a mulher, o rouxinol que canta. Voar é dominar o espaço e cantar é conquistar a alma.
Enfim, o homem está colocado onde termina a terra; a mulher, onde começa o céu.

Victor Hugo

De Intensidade e Calma...




Um ofício que fosse de intensidade e calma
e de um fulgor feliz E que durasse
com a densidade ardente e contemporâneo
de quem está no elemento aceso e é a estatura
da água num corpo de alegria E que fosse fundo
o fervor de ser a metamorfose da matéria
que já não se separa da incessante busca
que se identifica com a concavidade originária
que nos faz andar e estar de pé
expostos sempre à única face do mundo
Que a palavra fosse sempre a travessia
de um espaço em que ela própria fosse aérea
do outro lado de nós e do outro lado de cá
tão idêntica a si que unisse o dizer e o ser
e já sem distância e não-distância nada a separasse
desse rosto que na travessia é o rosto do ar e de nós próprios

António Ramos Rosa, in "Poemas Inéditos"

Viver !


Viver consiste em construir recordações futuras .

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Amizade.


Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós ...

Ausência .




Fala

Ouvir-te-ei
Ainda que os segredos
As amoras me chamem

Diz-me
Que existirão lágrimas para chorar
Na velhice
Na solidão

Ainda que acordes os olhos dos deuses

Fala

Ouvir-te-ei
A coragem

Alguém de nós que já não está

Daniel Faria,

Contentor Cheio.


Desta coisa absurda e magnífica, entre o muito mau e o bem supremo, que se chama com ligeireza amor !

quinta-feira, 25 de junho de 2009

De Esquecer




Demorei-me muito tempo ao pé de ti.
As portas fechadas por dentro, como se encerrasses
o amor e a lei. Demorei-me demais. Ao fim da tarde,
nesse mesmo dia que já morreu,
olhámo-nos devagar, mas distraídos. Diria até que anoiteceu.

Nunca falámos do amor que chega tarde.
Nem o interpelámos (como se já não pudesse
ter nome). Fingia ter esquecido o teu corpo
nas muralhas. Nas areias.

Vês aqui alguma figura? Ninguém vê.
Repara no ponto preto que alastra na margem do quadro,
nas minhas lágrimas desse tempo.
Relê.

Luis Filipe Castro Mendes, in "Modos de Música"

Centro Escolar de Santa Margarida


já está em Construção - dois milhões de euros em prol da educação

Actualmente está a decorrer a empreitada para construção do Centro Escolar de Santa Margarida da Coutada.

O novo Centro Escolar, cujo prazo de construção é de aproximadamente um ano, será edificado na zona onde hoje existe a actual Escola do Primeiro Ciclo Ensino Básico, na Aldeia de Santa Margarida.

Cumprindo as directrizes da Carta Educativa e as orientações do Quadro de Referência Estratégico Nacional – QREN, a nova infra-estrutura cujo Parque Escolar terá uma área de 7.765.00 m2, com áreas de construção de 3.565.00 m2 e de implantação de 2.636.00 m2, aglutinará no mesmo espaço os alunos do Pré-Escolar e do Primeiro Ciclo, ficando devidamente equipado para responder às necessidades destes dois níveis de ensino.

O novo Centro Escolar de Santa Margarida será um pólo aglutinador de várias actividades ligadas à educação, no qual, cumulativamente, a sala polivalente poderá também ser utilizada pela comunidade local.

Deste modo, salas de estudo, cozinha, refeitório, instalações sanitárias, sala polivalente, zonas de recreio, recinto desportivo, equipamento infantil, zonas verdes, hall, salas de actividades, arrumos, alpendre, varandas, sala de repouso, entre muitas outras, são as diversas áreas que integrarão o novo Centro Escolar de Santa da Coutada.

Registe-se que a fim de enaltecer a memória do actual estabelecimento de ensino e de todos aqueles que passaram pelo local, a Câmara Municipal de Constância vai construir o novo Centro Escolar, partindo da ampliação do actual edifício, devidamente adaptado às normas legais em vigor.

A construção do Centro Escolar de Santa Margarida tem uma previsão orçamental de aproximadamente dois milhões e duzentos mil euros, a qual terá um apoio financeiro de cerca de um milhão e cem mil euros, através do FEDER, apresentada ao Regulamento Específico Requalificação da Rede Escolar do 1º Ciclo do Ensino Básico e da Educação Pré-Escolar, no âmbito do Programa Operacional Regional do Centro 2007-2013 QREN – Quadro de Referência Estratégico Nacional.
Por CMC

A virgem

Autor:Luís Miguel Rocha

A virgem dá-nos conta do Portugal moribundo no tempo do Estado Novo, mais precisamente na década de trinta. Um país suspenso no tempo, deslumbrado com o estrangeiro, pobre em recursos e ideias. Centrado numa família privilegiada, outras famílias se lhe juntam. Assistimos aos seus ódios, amores, perdas e cumplicidades num enredo em que o trágico e o absurdo se cruzam. Numa intriga cheia de humor, através do olhar lúcido do narrador, são desmascaradas situações gritantes de injustiça e de exploração em que o abuso de poder de alguns grupos privilegiados se passeia livremente por um país sonâmbulo e decadente com a cumplicidade silenciosa da Igreja.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Timidez.




Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .

— mas só esse eu não farei.

Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..

— palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,

— que amargamente inventei.

E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...

— e um dia me acabarei.

Cecília Meireles, in 'Viagem'

A Promiscuidade Tira a Vontade!


O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado.
Desengane-se de vez a rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem «experiente». O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O pudor que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente ideia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se tigres quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é «sexy». Nos homens como nas mulheres. A promiscuidade tira a vontade.

Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ainda nenhuma conseguiu tocar. O que é erótico é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a «liberdade», a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser «livre», que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens querem das mulheres? Ser conquistador é ser conquistado. Ninguém gosta de um ser conquistado. O que é preciso conquistar é a castidade.

Miguel Esteves Cardoso, in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

Animaçao de Verão




Anfiteatro dos Rios / Jardim do Museu dos Rios


Verão é sinónimo de férias, de lazer e de descanso. No entanto, a cultura, o saber e o conhecimento não têm fronteiras de espaço e de tempo.

Neste sentido, e sabendo que, para além dos próprios habitantes do nosso concelho e daqueles que regularmente nos visitam de concelhos vizinhos, Constância é escolhida por muitas e muitas pessoas como destino de férias, seja em estadia mais longa, seja num simples e curto fim-de-semana, a Câmara Municipal programou uma série de espectáculos de ar livre, integrados na Animação de Verão, fazendo do nosso concelho, também nesta época do ano, um pólo de convergências entre a cultura e o lazer, o espectáculo e a animação.

Desde a música filarmónica ao fado, dos contos ao luar à música ligeira, passando pela música popular, dixie ou cubana, o Jardim do Museu dos Rios e das Artes Marítimas e o Anfiteatro dos Rios, na confluência do Tejo e do Zêzere, serão dois pontos de encontro obrigatórios.

PROGRAMAÇÃO

04 julho | 22h00
Encontro de Bandas de Música do Tejo música

11 julho | 10h00 às 02h00
Festa Jovem
organização | Junta de Freguesia de Constância

24 julho | 22h00
Orquestra Ligeira do Exército música

25 julho | 22h00
Cottas Club Jazz Band música dixie

01 agosto | 22h00
Ana Laíns fado

08 agosto | 22h00
Grupo de Cantares da Casa do Povo de Montalvo música popular

22 agosto | 21h30
Há Noite no Museu contos ao luar
local | Museu dos Rios e das Artes Marítimas

29 agosto | 22h00
Los Cubanitos música cubana

terça-feira, 23 de junho de 2009

Tentação .




Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"

Noite de São João


A folia vai começar
Com rosmaninho e balão
Toda a gente vai dançar
Nesta noite de São João .

Divirtam-se.