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quarta-feira, 31 de março de 2010
Li Hoje Quase Duas Páginas.
Li hoje quase duas páginas
Do livro dum poeta místico,
E ri como quem tem chorado muito.
Os poetas místicos são filósofos doentes,
E os filósofos são homens doidos.
Porque os poetas místicos dizem que as flores sentem
E dizem que as pedras têm alma
E que os rios têm êxtases ao luar.
Mas flores, se sentissem, não eram flores,
Eram gente;
E se as pedras tivessem alma, eram cousas vivas, não
eram pedras;
E se os rios tivessem êxtases ao luar,
Os rios seriam homens doentes.
É preciso não saber o que são flores e pedras e rios
Para falar dos sentimentos deles.
Falar da alma das pedras, das flores, dos rios,
É falar de si próprio e dos seus falsos pensamentos.
Graças a Deus que as pedras são só pedras,
E que os rios não são senão rios,
E que as flores são apenas flores.
Por mim, escrevo a prosa dos meus versos
E fico contente,
Porque sei que compreendo a Natureza por fora;
E não a compreendo por dentro
Porque a Natureza não tem dentro;
Senão não era a Natureza.
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXVIII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
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3 comentários:
Maravilhoso! Simplesmente belo!
beeejão...
Caríssimo
que a Santa Margarida ou outra santinha qualquer o abençoe
fazia-me preciso um Caeiro...
é que hoje, 'tou fartinha de escrever páginas e páginas e páginas (exagero feminino)a parafrasear o mestre e só me saem doenteiras.
Abençoado seja o Mestre, o único, tal e qual as pedras são só pedras.
Até deixo
Beijinho (por extenso)
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