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segunda-feira, 1 de março de 2010
A Profundidade da Nossa Separação.
O homem está dividido dentro de si. A vida volta-se contra si própria através da agressão, do ódio e do desespero. Estamos habituados a condenar o amor-próprio; mas aquilo que pretendemos realmente condenar é o oposto do amor-próprio. É aquela mistura de egoísmo e aversão por nós próprios que permanentemente nos persegue, que nos impede de amar os outros e que nos proíbe de nos perdermos no amor com que somos eternamente amados. Aquele que é capaz de se amar a si próprio é capaz de amar os outros; aquele que aprendeu a superar o desprezo por si próprio superou o seu desprezo pelos outros.
Mas a profundidade da nossa separação reside, justamente, no facto de não sermos capazes de um grande amor, clemente e divino, por nós próprios. Pelo contrário, existe em cada um de nós um instinto de autodestruição, tão forte como o nosso instinto de autopreservação. Na nossa tendência para maltratar e destruir os outros existe uma tendência, visível ou oculta, para nos maltratarmos e nos destruirmos.
A crueldade para com os outros é sempre também crueldade para com nós próprios. Deste modo, o estado de toda a nossa vida é o distanciamento dos outros e de nós próprios, porque estamos distanciados da Razão do nosso ser, porque estamos distanciados da origem e do objectivo da nossa vida. E não sabemos de onde viemos nem para onde vamos. Estamos separados do mistério, da profundidade e da grandeza da nossa existência. Ouvimos a voz dessa profundidade, mas os nossos ouvidos estão fechados. Sentimos que algo radical, total e incondicional nos é exigido; mas rebelamo-nos contra isso, tentamos fugir à sua urgência e não aceitamos a sua promessa.
Paul Tillich, in 'És Aceite'
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8 comentários:
È. Para um grande é preciso ter talento...
Beeejo, muito reflexivo este texto!
De fato muito profunda...
beijos
Ele fala do tal "monstro interior" que todos temos dentro de nós...sobre o qual falei alguns posts atrás.
Por que causamos mal aos outros se com isso, fazemos mal a nós mesmos?...eis um mistério até hoje não solucionado...
Beijos.
Eu já tinha lido qualquer ocoisa a esse respeito. Temos ess poder.
Beijo grande.
Caríssimo, não faço ideia quem é este Paul Tillich, mas só concordaria com este texto se vivesse o desespero de não saber quem sou, donde vim e para onde desejo ir.
Estamos habituados a condenar o amor-próprio", escreve o senhor... isto não me parece nada linear... e o egoismo e a aversão por nós próprios??? eu não tenho nenhuma aversão por mim própria e estou em crer que se algum ser sente essa aversão, se dela está consciente, o melhor mesmo é
ou trratar-se
ou «viver» sózinho, apartado dos outros.
Isto é uma lenga-lenga do género autor de melodrama existencial a escrever guias de auto-ajuda, mas numa coisa, o senhor, parece, estar certo, a saber: o mau trato ao outro é, mau trato, também, a si próprio.
De resto, ninguém ouve se tem fechados os ouvidos, tal como ninguém «lê» as palavras que nao conhece.........
Manuel, amado.
Uma das "partes" que mais aprecio desse autor é quando ele define a angústia como o estado do ser em que se tem consciência de seu possível não-ser. É a angústia de finitude, quem está na angústia está em desamparo. Ele define três tipos de angústia: angústia do destino e da morte, angústia de vacuidade e insignificação e angústia de culpa e condenação. E como não posso deixar de fora (por conta da psicanálise)já viu, né? Estudamos e estudamos e estudamos rsrs
Beijuuss n.c.
Rê
www.toforatodentro.blogspot.com
OLÁ MANUEL,
GOSTEI BASTANTE DO TEXTO, MOTIVA GRANDE REFLEXÃO!...DE FACTO...SE NÃO GOSTAMOS DE NÓS, COMO PODEMOS GOSTAR DOS OUTROS E OS OUTROS GOSTAREM DE NÓS!?...
bEIJOS,
mANUELA
"Estamos separados do mistério, da profundidade e da grandeza da nossa existência"...e ainda que pareça viver na ilusão, contraditório ou utopia, essa separação nos leva pra treva que rejeita nossa parcela amorosa, e domina-nos. Triste, mas verdadeiro...linda escolha, amigo!
Beijos
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