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segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
Poema da Auto-estrada .
Voando vai para a praia
Leonor na estrada preta.
Vai na brasa, de lambreta.
Leva calções de pirata,
Vermelho de alizarina,
modelando a coxa fina
de impaciente nervura.
Como guache lustroso,
amarelo de indantreno,
blusinha de terileno
desfraldada na cintura.
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.
Agarrada ao companheiro
na volúpia da escapada
pincha no banco traseiro
em cada volta da estrada.
Grita de medo fingido,
que o receio não é com ela,
mas por amor e cautela
abraça-o pela cintura.
Vai ditosa, e bem segura.
Como um rasgão na paisagem
corta a lambreta afiada,
engole as bermas da estrada
e a rumorosa folhagem.
Urrando, estremece a terra,
bramir de rinoceronte,
enfia pelo horizonte
como um punhal que se enterra.
Tudo foge à sua volta,
o céu, as nuvens, as casas,
e com os bramidos que solta
lembra um demónio com asas.
Na confusão dos sentidos
já nem percebe, Leonor,
se o que lhe chega aos ouvidos
são ecos de amor perdidos
se os rugidos do motor.
Fuge, fuge, Leonoreta.
Vai na brasa, de lambreta.
António Gedeão, in 'Máquina de Fogo'
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2 comentários:
QUERIDO MANUEL, MARAVILHOSO POEMA... ALGUMAS PALAVRAS FAZEM-ME LEMBRAR DE ALGO QUE NÃO SEI PRECISAR O QUE É... MAS GOSTEI!!!
UM ABRAÇO DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA
Uma vez mais, bem escolhido. Tenho uma sobrinha que se chama Leonor, a quem um tio já lhe dedicou este poema.
Viva António Gedeão!
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