Seguidores

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Livro do Amor.




O mais singular livro dos livros
É o Livro do Amor;
Li-o com toda a atenção:
Poucas folhas de alegrias,
De dores cadernos inteiros.
Apartamento faz uma secção.
Reencontro! um breve capítulo,
Fragmentário. Volumes de mágoas
Alongados de comentários,
Infinitos, sem medida.
Ó Nisami! — mas no fim
Achaste o justo caminho;
O insolúvel, quem o resolve?
Os amantes que tornam a encontrar-se.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Divã Ocidental-Oriental"

Uma carta para ninguém!

A palavra




... Sim Senhor, tudo o que queira, mas são as palavras as que cantam, as que sobem e baixam ... Prosterno-me diante delas... Amo-as, uno-me a elas, persigo-as, mordo-as, derreto-as ... Amo tanto as palavras ... As inesperadas ... As que avidamente a gente espera, espreita até que de repente caem ... Vocábulos amados ... Brilham como pedras coloridas, saltam como peixes de prata, são espuma, fio, metal, orvalho ... Persigo algumas palavras ... São tão belas que quero colocá-las todas em meu poema ... Agarro-as no vôo, quando vão zumbindo, e capturo-as, limpo-as, aparo-as, preparo-me diante do prato, sinto-as cristalinas, vibrantes, ebúrneas, vegetais, oleosas, como frutas, como algas, como ágatas, como azeitonas ... E então as revolvo, agito-as, bebo-as, sugo-as, trituro-as, adorno-as, liberto-as ... Deixo-as como estalactites em meu poema; como pedacinhos de madeira polida, como carvão, como restos de naufrágio, presentes da onda ... Tudo está na palavra ... Uma idéia inteira muda porque uma palavra mudou de lugar ou porque outra se sentou como uma rainha dentro de uma frase que não a esperava e que a obedeceu ... Têm sombra, transparência, peso, plumas, pêlos, têm tudo o que ,se lhes foi agregando de tanto vagar pelo rio, de tanto transmigrar de pátria, de tanto ser raízes ... São antiqüíssimas e recentíssimas. Vivem no féretro escondido e na flor apenas desabrochada ... Que bom idioma o meu, que boa língua herdamos dos conquistadores torvos ... Estes andavam a passos largos pelas tremendas cordilheiras, pelas .Américas encrespadas, buscando batatas, butifarras*, feijõezinhos, tabaco negro, ouro, milho, ovos fritos, com aquele apetite voraz que nunca. mais,se viu no mundo ... Tragavam tudo: religiões, pirâmides, tribos, idolatrias iguais às que eles traziam em suas grandes bolsas... Por onde passavam a terra ficava arrasada... Mas caíam das botas dos bárbaros, das barbas, dos elmos, das ferraduras. Como pedrinhas, as palavras luminosas que permaneceram aqui resplandecentes... o idioma. Saímos perdendo... Saímos ganhando... Levaram o ouro e nos deixaram o ouro... Levaram tudo e nos deixaram tudo... Deixaram-nos as palavras.

Pablo Neruda

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Um menino perguntou a uma menina...

No Fim




No fim de tudo dormir.
No fim de quê?
No fim do que tudo parece ser...,
Este pequeno universo provinciano entre os astros,
Esta aldeola do espaço,
E não só do espaço visível, mas até do espaço total.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Partir!


Em todas as separações tem mais amargo quinhão de dores o que fica, que o que vai partir ...

Política.

António Mendes não se recandidata em Constância




O actual presidente da Câmara Municipal de Constância, António Mendes (CDU), garantiu esta tarde a O MIRANTE que não se vai recandidatar a novo mandato. "Depois de uma profunda reflexão decidi não avançar por razões pessoais e políticas", disse o presidente que já foi eleito seis vezes com sucessivas maiorias absolutas.


António Mendes alega que se impõe uma "necessidade de renovação" no seio da CDU e que "o concelho precisa que seja dada oportunidade à afirmação de novos protagonistas que dêem continuidade e aprofundem este projecto e estas estratégias".


"O novo Plano Estratégico Constância 2015/2020 tem um horizonte temporal muito para lá do que, mesmo com todo o entusiasmo e empenhamento, eu poderia concretizar", justifica António Mendes.


Na declaração pública onde anuncia a sua decisão, o autarca convoca ainda "uma forte razão política" para não se recandidatar: a sua decisão "antecipa-se aos efeitos de uma lei discriminatória que impõe, apenas para as autarquias, a limitação de mandatos".


Tudo aponta para que o cabeça de lista da CDU seja o astrónomo Máximo Ferreira, oriundo de Montalvo, e um dos prinicipais dinamizadores do projecto Ciência Viva de Constância.

Fonte:O Mirante onlin.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Mundo!


Tudo se destrói, tudo perece, tudo passa; só o mundo é que fica. Só o tempo é que dura .

Ternura





Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar
extático da hora.

Vinicius de Moraes

Soneto.




Soneto


Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
Sem falta lhe terá bem merecido
Que lhe seja cruel ou rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso;
Quem o contrário diz não seja crido:
Seja por cego e apaixonado tido,
E aos homens e inda aos deuses odioso.

Se males faz Amor, em mi se vêem;
Em mim mostrando todo o seu rigor,
Ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
Todos estes seus males são um bem,
Que eu por todo outro bem não trocaria.

Luis de Camões.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Poesia.


A poesia é um fogo cuja chama faz arder o espírito de quem ama .

Amar Teus Olhos .




Podia com teus olhos
escrever a palavra mar.
Podia com teus olhos
escrever a palavra amar
não fossem amor já teus olhos.

Podia em teus olhos navegar
conjugar os verbos dar e receber.
Podia com teus olhos
escrever o verbo semear
e ser tua pele
a terra de nascer poema.

Podia com teus olhos escrever
a palavra além ou aqui
ou a palavra luar,
recolher-me em teus olhos de lua
só teus olhos amar.

Podia em teus olhos perder-me
não fossem, amor, teus olhos,
o tempo de achar-me.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

Nem a rosa, nem o cravo...


Nem a rosa, nem o cravo...

As frases perdem seu sentido, as palavras perdem sua significação costumeira, como dizer das árvores e das flores, dos teus olhos e do mar, das canoas e do cais, das borboletas nas árvores, quando as crianças são assassinadas friamente pelos nazistas? Como falar da gratuita beleza dos campos e das cidades, quando as bestas soltas no mundo ainda destroem os campos e as cidades?

Já viste um loiro trigal balançando ao vento? É das coisas mais belas do mundo, mas os hitleristas e seus cães danados destruíram os trigais e os povos morrem de fome. Como falar, então, da beleza, dessa beleza simples e pura da farinha e do pão, da água da fonte, do céu azul, do teu rosto na tarde? Não posso falar dessas coisas de todos os dias, dessas alegrias de todos os instantes. Porque elas estão perigando, todas elas, os trigais e o pão, a farinha e a água, o céu, o mar e teu rosto. Contra tudo que é a beleza cotidiana do homem, o nazifascismo se levantou, monstro medieval de torpe visão, de ávido apetite assassino. Outros que falem, se quiserem, das árvores nas tardes agrestes, das rosas em coloridos variados, das flores simples e dos versos mais belos e mais tristes. Outros que falem as grandes palavras de amor para a bem-amada, outros que digam dos crepúsculos e das noites de estrelas. Não tenho palavras, não tenho frases, vejo as árvores, os pássaros e a tarde, vejo teus olhos, vejo o crepúsculo bordando a cidade. Mas sobre todos esses quadros bóiam cadáveres de crianças que os nazis mataram, ao canto dos pássaros se mesclam os gritos dos velhos torturados nos campos de concentração, nos crepúsculos se fundem madrugadas de reféns fuzilados. E, quando a paisagem lembra o campo, o que eu vejo são os trigais destruídos ao passo das bestas hitleristas, os trigais que alimentavam antes as populações livres. Sobre toda a beleza paira a sombra da escravidão. É como u'a nuvem inesperada num céu azul e límpido. Como então encontrar palavras inocentes, doces palavras cariciosas, versos suaves e tristes? Perdi o sentido destas palavras, destas frases, elas me soam como uma traição neste momento.

Mas sei todas as palavras de ódio, do ódio mais profundo e mais mortal. Eles matam crianças e essa é a sua maneira de brincar o mais inocente dos brinquedos. Eles desonram a beleza das mulheres nos leitos imundos e essa é a sua maneira mais romântica de amar. Eles torturam os homens nos campos de concentração e essa é a sua maneira mais simples de construir o mundo. Eles invadiram as pátrias, escravizaram os povos, e esse é o ideal que levam no coração de lama. Como então ficar de olhos fechados para tudo isto e falar, com as palavras de sempre, com as frases de ontem, sobre a paisagem e os pássaros, a tarde e os teus olhos? É impossível porque os monstros estão sobre o mundo soltos e vorazes, a boca escorrendo sangue, os olhos amarelos, na ambição de escravizar. Os monstros pardos, os monstros negros e os monstros verdes.

Mas eu sei todas as palavras de ódio e essas, sim, têm um significado neste momento. Houve um dia em que eu falei do amor e encontrei para ele os mais doces vocábulos, as frases mais trabalhadas. Hoje só 0 ódio pode fazer com que o amor perdure sobre o mundo. Só 0 ódio ao fascismo, mas um ódio mortal, um ódio sem perdão, um ódio que venha do coração e que nos tome todo, que se faça dono de todas as nossas palavras, que nos impeça de ver qualquer espetáculo - desde o crepúsculo aos olhos da amada - sem que junto a ele vejamos o perigo que os cerca.

Jamais as tardes seriam doces e jamais as madrugadas seriam de esperança. Jamais os livros diriam coisas belas, nunca mais seria escrito um verso de amor. Sobre toda a beleza do mundo, sobre a farinha e o pão, sobre a pura água da fonte e sobre o mar, sobre teus olhos também, se debruçaria a desonra que é o nazifascismo, se eles tivessem conseguido dominar o mundo. Não restaria nenhuma parcela de beleza, a mais mínima. Amanhã saberei de novo palavras doces e frases cariciosas. Hoje só sei palavras de ódio, palavras de morte. Não encontrarás um cravo ou uma rosa, uma flor na minha literatura. Mas encontrarás um punhal ou um fuzil, encontrarás uma arma contra os inimigos da beleza, contra aqueles que amam as trevas e a desgraça, a lama e os esgotos, contra esses restos de podridão que sonharam esmagar a poesia, o amor e a liberdade!


Jorge Amado

Obs:O texto acima foi publicado no jornal "Folha da Manhã", edição de 22/04/1945.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Never more.




Ah, lembrança, lembrança, que me queres? O Outono
Fazia voar os tordos plo ar desmaiado

E o sol dardejava um monótono raio
No bosque amarelado onde a nortada ecoa.

A sonhar caminhávamos os dois, a sós,
Ela e eu, pensamento e cabelos ao vento.
De repente, fitou-me em olhar comovente:
«Qual foi o teu mais belo dia?» disse a voz

De oiro vivo, sonora, em fresco timbre angélico.
Um sorriso discreto deu-lhe a minha réplica
E então, como um devoto, beijei-lhe a mão branca.

— Ah! as primeiras flores, como são perfumadas!
E como em nós ressoa o murmúrio vibrante
Desse primeiro sim dos lábios bem-amados!

Paul Verlaine, in "Melancolia"

Juventude.


A rapaziada nova desejam: amor, dinheiro e saúde. Um dia, dirão antes: saúde, dinheiro e amor .

Um pouco de ternura.



Nos olhos dela habitava a bondade. Um doce sorriso embalava-lhe os lábios, e a face transparecia a tranquilidade interior de quem não fora punida pelo despeito nem agredida pelo ressentimento. Era ainda nova: vivia na linha de sombra que tenuemente divide a idade das pessoas, entre maduras e velhas. De onde viera? Que idade tinha? Ninguém sabia. Por vezes, pintava os lábios murchos. Por vezes, exibia largos decotes e mangas cavadas, eis o traço lascivo dos seios, eis os braços roliços, opulentos e sensuais. Era alta, quase imponente; porém, quando subia a rua íngreme, parecia alada, os pés quase não tocavam no chão.

Aparecera no bairro e logo se organizara uma aura de mistério em sua volta. Apesar da estatura, mantinha-se discreta e reservada, pouco falava com os vizinhos. Havia dias em que cantava; cantava alto velhas canções de amor. Nas tardes de sábado, os homens reuniam-se no clube, jogavam ao loto e à sueca e, ocasionalmente, embebedavam-se.

Ela residia num pequeno apartamento, mesmo por cima do clube. Gostava de se colocar à varanda, e os homens fitavam-na, gulosos, ávidos e sôfregos. Fingia não os ver. As mulheres remoíam raivas e amuos. Ela observava o horizonte, lá, onde o Tejo forma uma laçada, e permanecia assim: abstracta, atenta e exposta. Mas gostava que a apreciassem, e divertia-se com o ciúme das outras. Às vezes dançava ao som de uma pequena telefonia. Dançava como se estivesse a dançar com o mundo, ou, quem sabe?, a pensar em alguém que amara.

As geografias sentimentais são mais ou menos favoráveis: o bairro era bom e valia tudo o que de ele se dissesse; o resto era mau, e tudo o que de pior se dissesse nunca seria excessivo. Começaram as intrigas, as suposições pérfidas, as calúnias evasivas. Não lhe perdoavam a beleza, a dignidade da postura, a pequena viração de altivez que dela se desprendia.

Suspeitaram de tudo: que era prostituta, que vivia às custas de um proprietário de imóveis, que fazia números de nu em cabarés rascas. Chegou-lhe aos ouvidos a natureza insidiosa desses boatos. Não lhes atribuiu a menor importância, o que ainda mais arreliou as outras.

Saía de casa logo pela manhã, regressava tarde, ocasionalmente ausentava-se pela noite. Acumulavam-se as suspeições. Até que, certo dia, deixou de aparecer. O falatório aumentou. Coisas medonhas foram ditas, como se de verdades se tratassem. Correu o tempo; uma semana passou, outra, e outra ainda. Para onde fora? Que seria feito dela? E se ele não regressasse, não pudesse regressar ou não quisesse regressar?

Depois, houve quem a visse. Era numa tarde em que a chuva, lamentosa, caía forte. Desapareceu no cotovelo da rua, quem a viu acelerou o passo para descortinar aonde ela ia. Entrou num prédio alto e antigo, de azulejos, e ao perseguidor assaltou a ideia de que a vizinha misteriosa talvez fosse mulher-a-dias. Este indivíduo tivera, em tempos, a veleidade de se relacionar com ela; porém, fora rejeitado com uma frase breve e ríspida. Era o ressentimento que o incitara àquela infausta perseguição.

Horas e horas decorreram. A chuva deixara de cair, o homem encostara-se a uma árvore, sem abandonar a vigilância ao prédio. Até que, finalmente, ela reapareceu. Olhou em derredor e, rapidamente, aproximou-se da árvore onde o outro se ocultava. Atrapalhou-se, o homem. E ela disse:

— Quer saber o que eu faço, não é?

— Bom…bom — Não sabia o que responder.

— Olhe: vendo ternura.

E desandou. Agora, uma brisa mansa, um vento acariciador, um pio de ave, e o silêncio. Era assim: todos os dias, ou quase, ela visitava casas de gente idosa, e recebia escassos euros para lhes ler jornais, revistas ou livros de histórias cordatas com finais felizes. Simplesmente um pouco de ternura.

Voltou à rua para se despedir da rua e ignorar as pessoas. As pessoas juntaram-se, viram-na subir o calçadão, puxar pelas pernas para escalar a escadaria enorme. Durante algum tempo pensaram nela. Nunca ninguém soube o seu nome, nem se foi feliz na vida.

Baptista-Bastos.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Lágrimas.


Se choras porque perdeste o sol, as lágrimas não te deixarão ver as estrelas.

Primeiro amor...

Raios!


Raios não Peço ao Criador do Mundo

Raios não peço ao Criador do mundo,
Tormentas não suplico ao rei dos mares,
Vulcões à terra, furacões aos ares,
Negros monstros ao báratro profundo:

Não rogo ao deus do Amor, que furibundo
Te arremesse do pé de seus altares;
Ou que a peste mortal voe a teus lares,
E murche o teu semblante rubicundo:

Nada imploroem teu dano, ainda que os laços
Urdidos pela fé, com vil mudança
Fizeste, ingrata Nise, em mil pedaços:

Não quero outro despique, outra vingança,
Mais que ver-te em poder de indignos braços,
E dizer quem te perde, e quem te alcança.

Bocage, in 'Rimas'

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Ana Laíns.



Nasceu em Tomar em 1979 e é aos 6 anos que pela primeira de muitas vezes pisa o palco. Porém, é um pouco mais tarde que se consciencializa da importância que tem a música na sua vida. Vive toda a infância e adolescência em Montalvo ,aldeia do concelho de Constância, mas aos 18 anos toma a decisão de rumar a Lisboa para tentar a sua sorte, e as primeiras conquistas não tardam em acontecer. No entanto, é em 1999 que confirma e revigora o sonho de construir uma carreira, quando se vê galardoada com o primeiro prémio da Grande Noite do Fado de Lisboa.

Velhinha.



Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
"Já ela é velha! Como o tempo passa"!..."

Não sei rir e cantar por mais que faça!
Ó minhas mãos talhadas em marfim,
Deixem esse fio de oiro que esvoaça!
Deixem correr a vida até ao fim!

Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente...
Já murmuro orações... falo sozinha...

E o bando cor-de-rosa dos carinhos
Que tu me fazes, olho-os indulgente,
Como se fosse um bando de netinhos...


Florbela Espanca

A multa municipal para o lirismo sentimental.



No folhetim do Diário Popular de 24 de Junho lêem-se notáveis considerações de ordem moral. São em verso. O poeta dirige-se, na sua declamação solitária, a uma mulher.

Numa prosa anterior (prelúdio) escreve que a missão da arte é ensinar a amar (!) — e que na arte não entra realidade, justiça ou moral pública porque (acrescenta) a arte nada tem com os direitos civis. Colocado assim à larga, na anarquia da voluptuosidade e do lirismo, aí está o que o poeta expõe e ensina num jornal popular, com uma tiragem de 20.000 exemplares, que anda por cima das mesas e nos cestos de costura!

Começa por dizer:

— Que é bom amar no campo, à tarde e a sós!

Depois continua:

— Que prefere o campo, porque nas salas do mundo não lhe é dado beijar a mão dela às largas! Que o campo é livre e as sombras dão refúgio!....

Por fim acrescenta:

— Que queria que os raios cintilantes os cingissem a ele só com ela, erguidos em êxtase, longe de quanto é vil...

(Quanto é vil, na gíria da poesia lírica, é o mundo real, a família, o trabalho, as ocupações domésticas, etc.).

Dispensamo-nos de citar mais estrofes lascivas.

Aquelas bastam para legitimar as seguintes observações:

Nenhum jornal publicaria semelhantes teorias em prosa;

Nenhum homem que as escrevesse ousaria lê-las a sua filha, sem gaguejar, e sem comer palavras;

Nenhuma senhora que por acaso as tivesse lido ousaria citá-las.

Como se consente então a sua publicação em verso? A higiene não é só a regularização salutar das condições da vida física; nela devem também entrar os factos da moralidade. Se é proibido que um monturo imundo ou um cão morto corrompam o ar respirável das ruas — porque há-de ser permitido que um poeta, com as suas endechas podres, perturbe o pudor e a tranqüilidade virgem?

Há uma postura da Câmara que impõe uma multa a quem pronuncia palavras desonestas: porque não há-de ser igualmente proibido publicar idéias desonestas?

Um ébrio, um pobre homem a quem se não deu educação, a quem se não pode dar leitura, a quem quase se não dá trabalho, diz uma praga numa rua, ouvida apenas de três ou quatro pessoas, e vai para a cadeia ou paga uma multa de 3$000 réis. Um poeta lírico, esclarecido, aprovado nos seus exames, empregado nas secretarias, publica num jornal de cinqüenta mil leitores em letra impressa, permanente e indelével, uma série de desonestidades, e é apreciado, cumprimentado no Martinho, indigitado para uma candidatura!

Pedimos pois:

Ou que seja permitido livremente dizer na rua e no jornal pragas e desonestidades;

Ou que a multa da Câmara Municipal seja aplicada a todos — e que tanto o ébrio que não sabe o que diz à esquina de uma rua, como o poeta lírico que escreve, com reflexão e rascunho duma semana, ao canto dum jornal, paguem os 3$000 réis à Câmara, um pela sua praga, outro pela sua endecha.

Julho 1871


"E assim desses tempos ardentes me ficara a idéia duma campanha muito alegre, muito elevada, em que a ironia se punha rapidamente ao serviço da justiça. Todo êste livro é um riso que peleja."

Eça de Queiroz

Sem espinhas!

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Paco Ibañez.



Um grande homem.
Uma grande voz.
Um grande poeta.

Para a minha querida amiga Brujita.

Literatura.

O jogo do anjo de:Carlos Ruiz Zafón.


Na Barcelona turbulenta dos anos 20, um jovem escritor obcecado com um amor impossível recebe de um misterioso editor a proposta para escrever um livro como nunca existiu a troco de uma fortuna e, talvez, muito mais.

Com deslumbrante estilo e impecável precisão narrativa, o autor de A Sombra do Vento transporta-nos de novo para a Barcelona do Cemitério dos Livros Esquecidos, para nos oferecer uma aventura de intriga, romance e tragédia, através de um labirinto de segredos onde o fascínio pelos livros, a paixão e a amizade se conjugam num relato magistral.

Usos Deste Mundo

Nas praças uns perguntam novidades;
Outros dão volta às ruas, ao namoro;
Este usuras cobrar, esse as demandas
Lembrar corre ao Juiz que se diverte.
Ir de Jano aprender a ser bifronte,
De Mercúrio, no trato, a ser bilingue,
Franco no prometer, no dar escasso.
C'os olhos fitos no ávido interesse
Ser consigo leal, com todos falso
É ser homem capaz, home' entendido.
Assim, que vemos nós por este esconso
Mundo? Vemos logrões, vemos logrados;
Ninguém vês ir com cândido desejo
Aos Sénecas, aos Sócrates de agora
Perguntar as lições tão necessárias
De ser honrado, ser com todos justo.
Tão sobejos se crêem de honra e virtude,
Que cuida cada um poder de sobra
Mostrar na Ocasião virtude a rodo,
E chega a Ocasião, falha a virtude.

Filinto Elísio, in "Miscelânia"

Certezas.


O homem que só tinha certezas quase nunca usava ponto de interrogação, e em seu vocabulário não constavam as expressões: talvez, quiçá, quem sabe, porventura.

Parece que foi de nascença. Ele já teria vindo ao mundo assim, com todas as certezas junto, pulou a fase dos por quês e nunca soube o que era curiosidade na vida. Na escola, era uma sensação. Mas não ligava muito pra isso não. E cresceu achando muito natural viver derramando afirmações pela boca. Tinha resposta pra tudo, o homem que só tinha certezas, mas o maior orgulho do homem eram as certezas mais duvidosas que ele tinha. A certeza de que o mais fraco ia vencer, de que as coisas iam melhorar, de que o desenganado ainda teria muitos anos pela frente.

A notícia espalhou-se rapidamente. Como ele vivia no meio de pessoas, e pessoas vivem cheias de dúvidas, logo começaram a pedir sua opinião para os mais diversos assuntos, os triviais e os de grande importância, e ele, certo de que podia viver muito bem de suas certezas, virou um consultor. Pendurou em sua porta uma placa onde estava escrito "Consultor de tudo" e o negócio foi crescendo aos pouquinhos. Devido ao boca-a-boca favorável de clientes e a um único anúncio no rádio, passou a atender, sem nenhum exagero, milhares de pessoas por dia, até que limitou o número de consultas diárias para quatrocentos e oitenta, um minuto e meio por pessoa, o que era mais do que suficiente para uma resposta certa desde que a pergunta não fosse muito longa.

Chegava gente do país inteiro e depois de outros continentes, pessoas comuns, pessoas ilustres, todas elas indecisas, mas cada pessoa só tinha direito a uma pergunta por consulta, o que as deixava mais indecisas ainda. Certa vez uma moça chegou na dúvida se devia perguntar primeiro sobre o amor ou o trabalho, no que o homem respondeu, sobre o amor, é claro, senão você não vai conseguir trabalhar direito, e deu por encerrada a consulta. O homem que só tinha certezas aconselhou um garoto tímido a tomar quatro cervejas, encorajou um político receoso a aprovar um projeto esquisitíssimo que se destinava a melhorar a vida dos homens, avisou a uma senhora preocupada com os anos que no caso dela nada melhor do que beijos na boca, desentorpeceu um rapaz doente de amor por uma mulher que gostava de outro, convenceu o ministro da fazenda de que ou o dinheiro era pouco, ou eram muitos os homens, ou ele estava louco, ou alguém tinha se enganado nas contas.

Não demorou muito para se tornar capa de todas as revistas e personagem assíduo dos programas de TV. Para cada pergunta havia uma só resposta certa e era essa que ele dava, invariavelmente, exterminando aos pouquinhos todas as dúvidas que existiam, até que só restou uma dúvida no mundo: será que ele não vai errar nunca? Mas ele nunca errava, e já nem havia mais o que errar, uma vez que não havia mais dúvidas.

Num mundo que só tinha certezas, o homem que só tinha certezas virou apenas mais um homem no mundo. Melhor assim, ele pensava, ou melhor, tinha certeza.

Um dia aconteceu um imprevisto, e o homem que só tinha certezas, quem diria, acordou apaixonado. Para se assegurar de que aquela era a mulher certa para ele, formulou cento e vinte perguntas, que ela respondeu sem vacilar, mandou fazer mapas do céu, exames de sangue, contagem de triglicerídeos, planilhas complicadíssimas e finalmente apresentou a moça à sua mãe e ao seu cachorro. Os dois se amaram noites adentro, foram a Barcelona, tiraram fotos juntos, compraram álbuns, porta-retratos, garfos, facas, um escorredor de pratos, tiveram filhos e tal, e, desde então, por alguma razão desconhecida, o homem que só tinha certezas foi perdendo todas elas, uma por uma. No início ainda tentou disfarçar, por via das dúvidas, quem sabe era um mal passageiro? Mas as dúvidas multiplicavam-se como praga (dúvidas se multiplicam?), espalharam-se pelo mundo, e agora, meu Deus? Deus existe? Existe sim. Ou será que não? Ele não estava bem certo.


Adriana Falcão.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Calma.


A calma impede que se cometam graves erros ...

Dizer adeus...


Soprei,apagou-se a chama.
Disse-te adeus em seguida.
Quem diz adeus a quem ama.
Diz adeus á própria vida.

Pensamentos que reúnem um tema.



Estou pensando nos que possuem a paz de não pensar,
Na tranqüilidade dos que esqueceram a memória
E nos que fortaleceram o espírito com um motivo de odiar.
Estou pensando nos que vivem a vida
Na previsão do impossível
E nos que esperam o céu
Quando suas almas habitam exiladas o vale intransponível.
Estou pensando nos pintores que já realizaram para as multidões
E nos poetas que correm indefinidamente
Em busca da lucidez dos que possam atingir
A festa dos sentidos nas simples emoções.
Estou pensando num olhar profundo
Que me revelou uma doce e estranha presença,
Estou pensando no pensamento das pedras das estradas sem fim
Pela qual pés de todas as raças, com todas as dores e alegrias
Não sentiram o seu mistério impenetrável,
Meu pensamento está nos corpos apodrecidos durante as batalhas
Sem a companhia de um silêncio e de uma oração,
Nas crianças abandonadas e cegas para a alegria de brincar,
Nas mulheres que correm mundo
Distribuindo o sexo desligadas do pensamento de amor,
Nos homens cujo sentimento de adeus
Se repete em todos os segundos de suas existências,
Nos que a velhice fez brotar em seus sentidos
A impiedade do raciocínio ou a inutilidade dos gestos.
Estou pensando um pensamento constante e doloroso
E uma lágrima de fogo desce pela minha face:
De que nada sou para o que fui criada
E como um número ficarei
Até que minha vida passe.


Adalgisa Nery

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Preocupações.

Poema de Carnaval .



Por trás do sorriso que há na avenida existe
Lágrimas de um trabalhador
Que sofre para sustentar os filhos e insiste
Em ir à avenida ocultar sua dor.





Ria enquanto dura esta noite, homem!
Serás depois da meia-noite (de novo) um lobisomem
Melancólico e condenado à vida real,
Ria, portanto, enquanto dura o carnaval.





Fascina-me o brilho das tuas vestimentas,
Também o tecido, o modelo, a cor...
Vestindo-a esqueces o que te atormenta,
Mas não esqueça a tua camisa de vereador.





Existe por trás do sorriso talvez
Um vagabundo, um marginal ou um burguês,
Que foge da realidade indo à avenida,
Querendo esquecer os sofrimentos da vida.





Aproveite, homem, que o caminho é curto.
Seja você pai de família, burguês ou marginal,
Em breve acabará teu surto.
Ria, que acabará o carnaval.






Lalo Oliveira.

Margaridas 2009


500 escuteiros passam o Carnaval em Constância integrados nas Margaridas 2009

Organizado pelo Agrupamento 707 (sedeado em Constância), do Corpo Nacional de Escutas, o Acampamento Margaridas 2009 vai decorrer em Constância nos próximos dias 21, 22 e 23 de Fevereiro.

Tendo como tema Escutismo Global – «Sonho de um Homem» – Cinco Continentes as Margaridas 2009 contam com a participação de cerca de 500 Escuteiros vindos um pouco de todo o país.

Contribuir para a formação integral dos jovens através de ideias novas para uma nova geração, proporcionar uma actividade onde a técnica e o escutismo no seu espírito de regresso às origens está sempre actual, e iniciar um novo século de movimento Escuta sempre fiel aos princípios do seu fundador, são os principais objectivos das Margaridas 2009, um evento que cumpre este ano a sua 19ª edição.

Recorde-se que o Acampamento Margaridas decorre no concelho de Constância de forma ininterrupta desde 1990. Até ao ano de 2004 esta iniciativa escutista decorreu no Campo Militar de Santa Margarida, este ano, e pelo quinto ano consecutivo, as Margaridas 2009 vão ter lugar no parque junto ao Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia contando para o efeito com o apoio da Câmara Municipal de Constância.
Por CMC

Carnaval em Montalvo .



22 e 24 de Fevereiro Organizado pela JICA – Juventude Inovadora Com Atitude, de Montalvo, o Corso Carnavalesco vai voltar às ruas de Montalvo, freguesia do concelho de Constância, nos próximos dias 22 e 24 de Fevereiro.

Com início marcado junto ao Sobreiro de Montalvo, após as 15 horas de domingo e terça-feira de Carnaval, o Corso trará à rua muita cor, alegria e animação.

Por isso, aqui fica o convite, venha até Montalvo e divirta-se neste Carnaval 2009!


Para obter mais informações clique em Blogue da JICA.
Por CMC

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Educação.


A educação é um processo social, é desenvolvimento. Não é a preparação para a vida, é a própria vida .

Ausência.



A tua ausência
Não é apenas o teu corpo ausente
É minha alma sem mim;
Nada fazendo significado,
Navio perdido a bravo mar,
Sensação de tempestade,
Terremoto,
Fim de vida, enfim,
Se não encontro tua vida
Dentro de mim.

(Vicente Martins)

Policia de costumes 1953.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Esquecer!


Se não soubermos esquecer, nunca estaremos livres de tristeza .

O Sexo .




Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito,
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além

da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo

solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,

quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.

Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"

Literatura.


O Diário Secreto que Salazar não Leu


Baseado no diário secreto do responsável da contra-espionagem do MI5 durante a Segunda Guerra Mundial, o jornalista Rui Araújo conta a história oculta da espionagem em Portugal durante o conflito.

Para os historiadores, ou até para os meros curiosos da História, não é novidade que Lisboa foi um dos grandes centros de espionagem durante a Segunda Grande Guerra.

A capital portuguesa foi palco de conspirações, contactos, missões clandestinas, campanhas de contra-informação, contratação de espiões, rapto e trânsito de agentes, intrigas e subversão.

Lisboa era uma grande dor de cabeça para os serviços secretos britânicos e foram muitos os portugueses que participaram nessa guerra secreta, sobretudo ao lado das forças do Eixo (Alemanha-Itália-Japão), com a ajuda da “neutralidade” colaborante do regime de Salazar.

É da história desses homens e dessas mulheres que trata o livro de Rui Araújo. O jornalista baseou-se nos 12 volumes do diário secreto (de Agosto de 1939 a Junho de 1945) de Guy Liddell, responsável da contra-espionagem britânica para escrever um documento considerado essencial para a compreensão do conflito e do país que fomos.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Parque infantil de Montalvo.


Reabertura do Parque Infantil de Montalvo
é já na próxima 5ª feira, dia 19 de Fevereiro
Na próxima quinta-feira, dia 19 de Fevereiro, pelas 17.30 horas, vai ter lugar a reabertura do Parque Infantil de Montalvo (localizado junto ao Jardim de Infância), na freguesia de Montalvo, Concelho de Constância, uma infra-estrutura que esteve encerrada durante cinco meses para obras de remodelação.

Tendo como principal objectivo servir melhor todos aqueles que usufruem do espaço, especialmente as crianças, os melhoramentos englobaram: colocação de novos equipamentos infantis, de pavimento e de iluminação; drenagem de águas pluviais; substituição de conduta de águas, do bebedouro e da vedação; arranjo da zona ajardinada e plantação de árvores.

A obra teve um custo de aproximadamente 70 mil euros, suportados integralmente pelo orçamento da autarquia.

A intervenção agora realizada insere-se nas estratégias de remodelação de espaços promovidas pela autarquia, as quais, neste caso específico, têm como principais objectivos dotar o Parque Infantil de Montalvo de óptimas condições para o lazer e para o bem-estar das pessoas, especialmente para quem vive na freguesia de Montalvo.
Por CMC

A não perder.



Constância-Vila poema.

Impaciência do Desejo.


A Paz Causa as Impaciências do Desejo
Jantar alegremente numa horta, debaixo das parreiras, vendo correr a água das regas - chorar com os melodramas que rugiam entre os bastidores do Salitre, alumiados a cera, eram contentamentos que bastavam à burguesia cautelosa. Além disso, os tempos eram confusos e revolucionários: e nada torna o homem recolhido, aconchegado à lareira, simples e facilmente feliz - como a guerra. É a paz que, dando os vagares da imaginação - causa as impaciências do desejo.

Eça de Queirós, in 'Contos'

Frustração .




Foi bonito
O meu sonho de amor.
Floriram em redor
Todos os campos em pousio.
Um sol de Abril brilhou em pleno estio,
Lavado e promissor.
Só que não houve frutos
Dessa primavera.
A vida disse que era
Tarde demais.
E que as paixões tardias
São ironias
Dos deuses desleais.

Miguel Torga, in 'Diário XV'

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lanterna dos afogados.



Luís Represas e Gal Costa.

insinceridade .



Quis-nos aos dois enlaçados
meu amor ao lusco-fusco
mas sem saber o que busco:
há poentes desolados
e o vento às vezes é brusco

Nem o cheiro a maresia
a rebate nas marés
na costa de lés a lés
mais tempo nos duraria
do que a espuma a nossos pés

A vida no sol-poente
fica assim num triste enleio
entre melindre e receio
de que a sombra se acrescente
e nós perdidos no meio

Sem perdão e sem disfarce,
sem deixar uma pegada
por sobre a areia molhada,
a ver o dia apagar-se
e a noite feita de nada

Por isso afinal não quero
ir contigo ao lusco-fusco,
meu amor, nem é sincero
fingir eu que assim te espero,
sem saber bem o que busco.

Vasco Graça Moura, in "Antologia dos Sessenta Anos"

Reflecção após o dia dos namorados.


Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo...
Isso é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não voltam...
Isso é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que se impõe, para realinhar os pensamentos...
Isso é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsivamente...
Isso é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isso é circunstância!
Solidão é muito mais do que isso...
SOLIDÃO é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma...

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Mulheres com disfunções sexuais procuram soluções nas Sex Shops

O Mirante - diário online - Sociedade - Mulheres com disfunções sexuais procuram soluções nas Sex Shops

Beijo Subaquático + Longo


Ana Margarida Farinha e Luís Miguel Lopes foi o casal vencedor do Beijo Subaquático + Longo
... uma iniciativa comemorativa do Dia dos Namorados em Constância Ana Margarida Farinha e José Luís Lopes, Fernanda e António Rosa e Maria e Eduardo Conceição foram os casais vencedores do Beijo Subaquático + longo, os quais se classificaram em primeiro, segundo e terceiro lugar respectivamente.

Em quarto lugar classificou-se Bruna Morais e Diogo Oliveira.

O Beijo Subaquático + longo, decorreu na noite de sexta-feira, dia 13 de Fevereiro, na Piscina Municipal de Constância, uma iniciativa organizada pela autarquia, através dos Serviços de Desporto, a qual teve como principal objectivo comemorar de forma original o Dia de S. Valentim – Dia dos Namorados.

A iniciativa contou também com uma exibição da turma de Hidroginástica da Escola Municipal de Natação de Constância

Além do prazer na participação no Beijo Subaquático + longo os premiados serão contemplados com românticos prémios, nomeadamente: 1º Prémio – Passeio de Barco no Tejo; Jantar Romântico para duas pessoas; 2 Bilhetes de Cinema; Estadia de uma noite para duas pessoas na região; 2º Prémio – Passeio de Barco no Tejo; Jantar Romântico para duas pessoas; 2 Bilhetes de Cinema; 3º Prémio – Jantar Romântico para duas pessoas e 2 Bilhetes de Cinema.
Por CMC

Literatura.


Se bem que a principal função da PIDE fosse preservar a (paz social), durante os quase cinquenta anos de ditadura em Portugal a polícia política nunca deixou de estar atenta às empresas, aos empresários e ao mundo dos negócios, na Metrópole ou em África.
Este livro revela, pela primeira vez, os segredos das relações entre as empresas e a PIDE, a vigilância que a polícia política exerceu sobre alguns empresários quando estes divergiam do regime, e as represálias que outros sentiram quando se recusavam a ceder a chantagens e a contribuir para os cofres daquela organização.

Em Negócios Vigiados, os autores revelam ainda como a PIDE evitava as greves, interferia abertamente na promoção dos trabalhadores politicamente adversos ou reprimia os seus protestos de forma a preservar a ?normalidade? e a estabilidade do regime, constituindo esta obra um documento único e fundamental para um maior conhecimento de um período do Portugal Contemporâneo ainda com muito por desvendar.

A Mulher Nua.




Humana fonte bela,
repuxo de delícia entre as coisas,
terna, suave água redonda,
mulher nua: um dia,
deixarei de te ver,
e terás de ficar
sem estes assombrados olhos meus,
que completavam tua beleza plena,
com a insaciável plenitude do seu olhar?

(Estios; verdes frondas,
águas entre as flores,
luas alegres sobre o corpo,
calor e amor, mulher nua!)

Limite exacto da vida,
perfeito continente,
harmonia formada, único fim,
definição real da beleza,
mulher nua: um dia,
quebrar-se-á a minha linha de homem,
terei que difundir-me
na natureza abstracta;
não serei nada para ti,
árvore universal de folhas perenes,
concreta eternidade!

Juan Ramón Jiménez, in "La Mujer Desnuda"

Reflecções...


"Entre namorar e amar, está o reflectir ."

Dia dos namorados.


Sabia:

O lenço dos namorados é um lenço fabricado a partir de um pano de linho fino ou de lenço de algodão, bordado com motivos variados. É uma peça de artesanato e vestuário típico do Minho, sendo usado por mulheres com idade de casar.

Era hábito a rapariga apaixonada bordar o seu lenço e entregá-lo ao seu amado quando este se fosse ausentar. Nos lenços poderiam ter bordados versos, para além de vários desenhos, alguns padronizados, tendo simbologias próprias.

Era usado como ritual de conquista. Depois de confeccionado, o lenço acabaria por chegar à posse do homem amado, que o passaria a usar em público como modo de mostrar que tinha dado início a uma relação. Se o namorado (também chamado de conversado) não usasse o lenço publicamente era sinal que tinha decidido não dar início a ligação amorosa.

É provável que a origem dos "Lenços de Namorados", também conhecidos por "Lenços de Pedidos" esteja intimamente ligada aos lenços senhoris dos séculos XVII - XVIII, que posteriormente foram adaptados pelas mulheres do povo, adquirindo os mesmos, consequentemente, um aspecto mais popular.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

O Homem que Lê .




Eu lia há muito. Desde que esta tarde
com o seu ruído de chuva chegou às janelas.
Abstraí-me do vento lá fora:
o meu livro era difícil.
Olhei as suas páginas como rostos
que se ensombram pela profunda reflexão
e em redor da minha leitura parava o tempo. —
De repente sobre as páginas lançou-se uma luz
e em vez da tímida confusão de palavras
estava: tarde, tarde... em todas elas.
Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já
as longas linhas, e as palavras rolam
dos seus fios, para onde elas querem.
Então sei: sobre os jardins
transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;
o sol deve ter surgido de novo. —
E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:
o que está disperso ordena-se em poucos grupos,
obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas
e estranhamente longe, como se significasse algo mais,
ouve-se o pouco que ainda acontece.

E quando agora levantar os olhos deste livro,
nada será estranho, tudo grande.
Aí fora existe o que vivo dentro de mim
e aqui e mais além nada tem fronteiras;
apenas me entreteço mais ainda com ele
quando o meu olhar se adapta às coisas
e à grave simplicidade das multidões, —
então a terra cresce acima de si mesma.
E parece que abarca todo o céu:
a primeira estrela é como a última casa.

Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens"

Transe



O estado de transe é um estado quase normal no ser humano; basta muito pouco para provocá-lo. Uma coisa de nada, um pouco de álcool no sangue, um pouco de droga, excesso de oxigénio, a cólera, o cansaço. Mas este estado é interessante na medida em que é orientável. Trata-se de um balanço, mas esse lança mão das regiões desconhecidas do nosso espírito. De facto, não há fundamentalmente nenhuma diferença, entre um homem intoxicado pelo álcool e um santo que se entregue ao êxtase. E no entanto há apesar de tudo uma diferença: a da interpretação. O momento de loucura é preparado por uma etapa onde o assunto é mergulhado numa espécie de vacilação da consciência, de excitação cerebral violenta. É esse momento que fabrica verdadeiramente o êxtase e lhe dá o sentido. Enquanto o êxtase em si mesmo é cego. É o vazio total, sem ascensão nem queda. A calma plana. Tanto quanto se possa dizer que o santo nunca conhecerá Deus. Aproxima-O, depois regressa. E estas duas etapas são as que são. Entre as duas, é o nada. O vazio, a amnésia completa. No momento X do êxtase, o santo e o intoxicado são semelhantes, estão no mesmo local. Habitam o mesmo paraíso vazio e terrífico.

Le Clézio, in 'A Febre'

Superstição.



sentimento religioso erróneo que induz a criar falsas obrigações e que leva à prática de deveres absurdos ou imaginários;

excessiva credulidade;

crendice;

preconceito.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Simone



Feiticeira-(Luís Represas)

Beija flor.







O beija-flor leva

o beijo da primavera

ao pousar na flor.



Silêncio na noite,

cobre-se a árvore de neve:

amor invernou.

Perguntar...


O mais grave no nosso tempo não é não termos respostas para o que perguntamos - é não termos já mesmo perguntas .