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quinta-feira, 21 de maio de 2009

Vontade.


É vulgar confundir-mos o desejar com o querer. O desejo mede os obstáculos; a vontade vence-os .

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Cidade do Sonho




Sofres e choras? Vem comigo! Vou mostrar-te
O caminho que leva à Cidade do Sonho...
De tão alta que está, vê-se de toda a parte,
Mas o íngreme trajecto é florido e risonho.

Vai por entre rosais, sinuoso e macio,
Como o caminho chão duma aldeia ao luar,
Todo branco a luzir numa noite de Estio,
Sob o intenso clamor dos ralos a cantar.

Se o teu ânimo sofre amarguras na vida,
Deves empreender essa jornada louca;
O Sonho é para nós a Terra Prometida:
Em beijos o maná chove na nossa boca...

Vistos dessa eminência, o mundo e as suas
[sombras,
Tingem-se no esplendor dum perpétuo arrebol;
O mais estéril chão tapeta-se de alfombras,
Não há nuvens no céu, nunca se põe o Sol.

Nela mora encantada a Ventura perfeita
Que no mundo jamais nos é dado sentir...
E a um beijo só colhido em seus lábios de Eleita,
A própria Dor começa a cantar e a sorrir!

Que importa o despertar? Esse instante divino
Como recordação indelével persiste;
E neste amargo exílio, através do destino,
Ventura sem pesar só na memória existe...

António Feijó, in 'Sol de Inverno'

Engano da Bondade.



Endureçamos a bondade, amigos. Ela também é bondosa, a cutilada que faz saltar a roedura e os bichos: também é bondosa a chama nas selvas incendiadas para que os arados bondosos fendam a terra.
Endureçamos a nossa bondade, amigos. Já não há pusilânime de olhos aguados e palavras brandas, já não há cretino de intenção subterrânea e gesto condescendente que não leve a bondade, por vós outorgada, como uma porta fechada a toda a penetração do nosso exame. Reparai que necessitamos que se chamem bons aos de coração recto, e aos não flexíveis e submissos.
Reparai que a palavra se vai tornando acolhedora das mais vis cumplicidades, e confessai que a bondade das vossas palavras foi sempre - ou quase sempre - mentirosa. Alguma vez temos de deixar de mentir, porque, no fim de contas, só de nós dependemos, e mortificamo-nos constantemente a sós com a nossa falsidade, vivendo assim encerrados em nós próprios entre as paredes da nossa estuta estupidez.
Os bons serão os que mais depressa se libertarem desta mentira pavorosa e souberem dizer a sua bondade endurecida contra todo aquele que a merecer. Bondade que se move, não com alguém, mas contra alguém. Bondade que não agride nem lambe, mas que desentranha e luta porque é a própria arma da vida.
E, assim, só se chamarão bons os de coração recto, os não flexíveis, os insubmissos, os melhores. Reinvindicarão a bondade apodrecida por tanta baixeza, serão o braço da vida e os ricos de espírito. E deles, só deles, será o reino da terra.

Pablo Neruda, in "Nasci para Nascer"

LIXOTECA® Itinerante .







Crianças de Constância participam nas viagens futuristas à Lixoteca
• 28 e 29 de Maio A LIXOTECA® Itinerante está de regresso ao concelho de Constância, numa acção promovida pelo Município e pelo Grupo SUMA.



Nos próximos dias 28 e 29 de Maio os alunos dos Estabelecimentos de Ensino do 1.º CEB, bem como a população em geral, poderão participar na 5.ª fase deste projecto de Educação Ambiental - “VIAGENS FUTURISTAS À LIXOTECA®” - desenvolvido pelo Grupo SUMA.



Nesta fase do projecto encontramos novamente uma viatura de grandes dimensões decorada e transformada num veículo futurista, com o interior repleto de suportes multimédia e actividades de exploração sensorial, onde a fantasia e as práticas ambientais dão as mãos para sensibilizar e educar miúdos e graúdos para a preservação do Meio Ambiente.



A ligação entre as temáticas dos resíduos sólidos urbanos e da limpeza urbana com os conteúdos curriculares e os saberes cívicos proporciona momentos de verdadeira “realidade virtual”. Transmitindo a ideia base do projecto: ser um “bom produtor” de lixo é apenas uma das vertentes de praticar a cidadania activa.



O projecto LIXOTECA®, conta já com cinco anos de actividade, visitou mais de 50 Municípios e cativou mais de 200 mil passageiros para as boas práticas ambientais.



Registe-se que o projecto LIXOTECA,® é desenvolvido pelo Grupo SUMA, o qual integra a empresa responsável pela recolha de resíduos sólidos urbanos no concelho de Constância.
Por CMC

terça-feira, 19 de maio de 2009

Dança ma mi criola.

Quem Sonha Mais?




Quem sonha mais, vais-me dizer —
Aquele que vê o mundo acertado
Ou o que em sonhos se foi perder?

O que é verdadeiro? O que mais será —
A mentira que há na realidade
Ou a mentira que em sonhos está?

Quem está da verdade mais distanciado —
Aquele que em sombra vê a verdade
Ou o que vê o sonho iluminado?

A pessoa que é um bom conviva, ou esta?
A que se sente um estranho na festa?

Alexander Search, in "Poesia"

Grito.


Defronte dos muros da cidade, uma noite de inverno , um homem que tinha sofrido muito, gritou desesperado: Qual é o sentido da vida? E o eco respondeu-lhe :
- A vida!

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Confusões!

Tentação




Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes

Mundo.


Dizem uns que perderam o mundo, outros que nele se perderam, como se alguém alguma vez tivesse agarrado o fio desta meada .

domingo, 17 de maio de 2009

Sou homem.


Sou homem e, por conseguinte, trago todos os demónios no meu coração .

Um poema para o domingo.




“Não estejas longe de mim um só dia,

Porque, não sei dizê-lo, é comprido o dia,

e te estarei esperando como nas estações

quando em alguma parte dormitaram os trens.

Não te vás por uma hora porque então

nessa hora se juntam as gotas do desvelo

e talvez toda a fumaça que anda buscando a casa

venha matar ainda meu coração perdido.

Ai que não se quebrante tua silhueta na areia

Ai que não voem tuas pálpebras na ausência

Não te vás por um minuto, bem-amada,

Porque nesse momento terás ido tão longe

que eu cruzarei toda a terra perguntando

se voltarás ou se me deixarás morrendo.”

Pablo Neruda

De Antwerpen.


A vida não é feita só de lembranças. Ela continua emocionante nas promessas diárias, nos pequenos gestos que fazem a alegria dos que caminham sempre juntos.

sábado, 16 de maio de 2009

[I' important c'est la rose...]

Imaginação!


Imaginação: um armazém de factos gerido em parceria pelo poeta e pelo mentiroso !

Esta Gente , essa Gente !




O que é preciso é gente
gente com dente
gente que tenha dente
que mostre o dente

Gente que não seja decente
nem docente
nem docemente
nem delicodocemente

Gente com mente
com sã mente
que sinta que não mente
que sinta o dente são e a mente

Gente que enterre o dente
que fira de unha e dente
e mostre o dente potente
ao prepotente

O que é preciso é gente
que atire fora com essa gente

Essa gente dominada por essa gente
não sente como a gente
não quer
ser dominada por gente

NENHUMA!

A gente
só é dominada por essa gente
quando não sabe que é gente

Ana Hatherly

sexta-feira, 15 de maio de 2009

On my own.

(Les miserables.)

Tempo!


O Homem não tem porto, o tempo não tem margem; ele corre e nós passamos!

Conserto a Palavra .




Conserto a palavra com todos os sentidos em silêncio
Restauro-a
Dou-lhe um som para que ela fale por dentro
Ilumino-a

Ela é um candeeiro sobre a minha mesa
Reunida numa forma comparada à lâmpada
A um zumbido calado momentaneamente em exame

Ela não se come como as palavras inteiras
Mas devora-se a si mesma e restauro-a
A partir do vómito
Volto devagar a colocá-la na fome

Perco-a e recupero-a como o tempo da tristeza
Como um homem nadando para trás
E sou uma energia para ela

E ilumino-a

Daniel Faria

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Verdades.


"Existem verdades que nós só as podemos dizer, depois de ter-mos conquistado o direito a dizê-las.

"Gaivota, do álbum Amália Hoje"

Contos pequeníssimos.






esta grandeza de não a ter
é mais pequena que a de não desejar tê-la

e se o preço de participar é grandeza
não contem comigo
não participo
não participo nem contra grandeza

nasci ar
em forma de gente

nasci luz
em forma de gente

não me compreendo
e respiro-me
e vejo-me textual

a forma de gente faz-me agir fora do que nasci ar
fora do que nasci luz

e nasci ar para forma de gente
e nasci luz para forma de gente

nasci antes de mim
antes de forma de gente

era génio antes de nascer
em forma de gente
a forma de gente não me deixa ser o génio que nasci.

José de Almada Negreiros

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Bilhete.



Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...

Mário Quintana

Dia Internacional dos Museus.


Constância assinala o Dia Internacional dos Museus
De 18 a 22 de Maio
O Dia Internacional dos Museus é comemorado em todo o mundo, a 18 deMaio, sendo que todos os anos o Conselho Internacional de Museus (ICOM -International Council of Museums) estipula um tema para este dia. Museus e Turismo é o lema proposto pelo ICOM para o ano de 2009.

Este lema tem como principal objectivo a disseminação da ideia de que o turismo deve desenvolver-se no respeito pelas culturas de todo o mundo, tanto noque se relaciona com o património material, como com o património cultural imaterial.

Deste modo, o Município de Constância associa-se às comemoraçõesinternacionais, promovendo à semelhança dos anos anteriores, visitas gratuitas ao Museu dos Rios e das Artes Marítimas, no dia 18 de Maio, entre as 9.00h - 12.30h eas 14.00h - 17.30.

A iniciativa prolonga-se até ao dia 22 de Maio dirigindo-se especialmente aopúblico infantil e juvenil, que após a visita guiada ao Museu dos Rios, participaránum ateliê sobre as antigas actividades fluviais. Esta actividade realiza-se no Museu dos Rios e das Artes Marítimas, das 14.00h às 17.30h, pretendendo sensibilizar oseu público para a importância dos Museus na recolha, estudo, exposição edivulgação do património cultural.

Para informações ou esclarecimentos adicionais devem os interessadoscontactar o Museu dos Rios e das Artes Marítimas, através dos números de telefone249 730 053 / 249 736 234 ou via correio electrónico para museu.rios@cmconstancia.pt.
Por CMC

8ª Quinzena do Desporto em Constância



19 a 31 de Maio
De 19 a 31 de Maio, a Câmara Municipal de Constância, através do Sector de Desporto, organiza a 8ª Quinzena do Desporto, um evento que terá lugar nos seguintes equipamentos municipais: Pavilhão, Ginásio, Piscina, Campo de Ténis, Campo de Volei de Praia e na área dos Percursos de Observação e Interpretação da Natureza.

Badminton, Basquetebol, Futebol, Ginástica, Karaté, Ténis de Mesa, Hidroginástica, Natação, Triatlo Jovem, Cardiofitness, Musculação, Volei de Praia e Percursos de Observação e Interpretação da Natureza são as várias modalidades que constituem a iniciativa.

As actividades estão abertas à participação da população em geral, aos alunos da Escola Municipal de Natação, aos utilizadores das instalações desportivas municipais e às crianças do concelho.

Para obter mais informações sobre o evento e o respectivo programa deverão ser contactos os seguintes serviços: Pavilhão Desportivo Municipal (249 730 059) ou a Piscina Municipal (249 739 627).

Com a organização da 8ª Quinzena do Desporto, a Câmara Municipal de Constância pretende potenciar as valências do Pavilhão Desportivo Municipal, da Piscina Municipal, do Ginásio Municipal, do Campo de Ténis, do Campo de Volei de Praia e a própria natureza, sensibilizando a população para a prática desportiva, proporcionando simultaneamente a realização de eventos, numa vertente de espectáculo lúdico-desportivo.

Mais desporto, melhor vida!
Por CMC

Pequenas coisas.


As pequenas coisas parecem insignificantes, mas dão-nos a paz ...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Nas florestas incendiadas.



Nas florestas incendiadas da paixão ardente
se iluminam os espíritos se acendem os corpos
dos entregues ao amor inteiramente

Alimentados nos fossos amaldiçoados do ódio
território único experienciado pela mente
se aniquilam no âmago os mordazes
em invisível estertor agoniante

Os viciados em inerte mansidão
lúgbre vazia sub-reptícia
se arrastam no seu lamacento existir
em patética adulação dos deuses
oficialmente instituídos
tendo por ídolos nos seus altares
estatutos protocolos medalhas imerecidas

As oferendas imoladas em rituais de vingança e cobiça
são os audaciosos da entrega a um amor
sem contrapartida vivido com galhardia
autores de emoções na pátria de um eu genuíno

Os cegos do sentir órfãos do gostar
têm por missão apagar as luzes da alegria
secar as fontes mágicas do revigorar em a outrem se doar

Odeiam os provocadores das marés
os incapazes de enfrentar

................. o mar

Lurdes Mendes da Costa

Tolices (minhas).


Há tolices bem embaladas, assim como há tolos bem-vestidos .

Literatura.


Último Acto em Lisboa – Robert Wilson



1941. Klaus Felsen, o proprietário de uma fábrica em Berlim, é forçado a alistar-se nas SS e a dirigir-se a Lisboa, cidade de luz, onde ao ritmo dos dias convergem nazis e aliados, refugiados e especuladores, todos dançando ao compasso do oportunismo e do desespero. A sua missão é infiltrar-se nas geladas montanhas do Norte de Portugal, onde se trava uma luta traiçoeira pelo volfrâmio, elemento essencial à blitzkrieg de Hitler. Aí encontra Manuel Abrantes, o homem que põe em movimento a roda de ambição e vingança que irá girar até ao final do século.

Final dos anos 1990. O inspector Zé Coelho, da Polícia Judiciária, investiga o crime sexual cometido contra uma jovem adolescente em Lisboa. Esta pesquisa conduzirá Coelho por terrenos lodosos da História a um crime mais antigo – enterrado com os ossos de um passado de fascismo – e a um pavoroso motivo enterrado ainda mais fundo. E, uma vez à superfície, o passado e o presente irão convergir com implicações arrepiantes e consequências insondáveis

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Juventude.


A juventude passa e o crepúsculo espalha-se no seu sorriso. A vida, exilada do seu sonho é uma viagem sombria

D.Pedro.



Quando um homem, vencendo o costume vigente,
Fiel ao seu amor se mostra e, coerente,
Quando ama para além da morte e, dum passado
P' ra ele intemporal e portanto presente,
Constrói a eternidade
O mundo não entende a raridade:
Vem a nação chamar-lhe tresloucado
E a História rotulá-lo de demente.

Júlia Lello

O elétrico.



Com a mão de fora, o velhinho apanhava as folhas das árvores. Via nas faixas de rodagem camufladas com as folhas das árvores e dava grandes gargalhadas, como se o outono fosse dele. Sentados no mesmo banco, o rapaz e o velhinho eram os únicos passageiros do carro elétrico. Todos os outros bancos, incluindo os laterais, e ambas as plataformas, estavam ocupados por hirtos e silenciosos ramos de flores.
— O senhor tem sorte — disse o rapaz ao velhinho. — Conseguiu o melhor lugar. Um dia, quando casar, como afirmou Saroyan, nunca mais apanhará o lugar da janela.
O velhinho piscou um olho malicioso, de bom vidro alemão de antes do III Reich.
— Hei de manter-me solteiro para aproveitar e gozar uma senilidade tranqüila. Não me quero privar nem das janelas, nem do amor.
— Viaja há muito tempo neste carro?
— Oh, sim. Desde o tempo em que os "elétricos" falavam.
As ruas solitárias e envolvidas por um rastro de fumo azulado tinham amanhecido cobertas da minúscula flor do miosótis. Trepadeiras gigantes revestiam os prédios. Bisbilhoteiros cachos de buganvílias debruçavam-se das varandas. Nas paragens, nervosos girassóis e rosas petulantes aguardavam em bicha o seu transporte popular. E as folhas iam caindo com tal precisão que formavam grandes livros alinhados pelas avenidas. Às vezes, um sopro de vento vindo das montanhas virava-lhes as páginas vegetais até aos capítulos mais empolgantes. O mês de novembro escorria como azeite com um grau de acidez. O sol, aquecido em lume brando, empapava a cidade.
— E que fazia o senhor antigamente, antes de viajar de carro elétrico? — perguntou o rapaz.
Tinham chegado à praça da Tulipa Negra. A estátua da tulipa erguia-se majestosa e isolada no centro da rotunda. Nas esplanadas, aproveitando o verão de São Martinho, os goivos e os gerânios que faziam parte da tripulação de um barco surto no rio, os malvaíscos da Alfândega, os cóleos da estiva e as margaridas dos escritórios das redondezas, aproveitando a hora do almoço, bebiam grandes copos de água. Dois amores-perfeitos beijavam-se junto à estátua, enquanto pequenos narcisos, de uma escola primária, ouviam atentamente as explicações de uma jovem papoila aberta em vermelho à sua erudição.
— Antes de viajar de carro elétrico — respondeu, por fim, o velhinho — era industrial. Fabricava bolas de sabão. Uma ciência que vinha então de pais para filhos. Aparentemente fácil, como transformar o ouro em cobre. Mergulha-se um canudo na água do sabão e depois soprava-se. Assim... — o velhinho encheu as bochechas. — Da minha fábrica saíam por dia, para os cincos cantos do mundo, as mais vistosas bolas de sabão produzidas no país. O céu da cidade era um deslumbramento de balões coloridos, transparentes, diáfanos. Enquanto espetavam o nariz no ar, os homens não metiam o nariz nos problemas dos outros. E as mulheres tinham uns olhos mais belos por os abrirem desmedidamente à fantasia policrômica do espaço. Durante à noite havia milhares de luas que se precipitavam com suaves estampidos pelas chaminés das casas e vinhas aureolar nos jardins a cabeça dos notívagos, dos vagabundos e dos namorados.
— E ganhava muito dinheiro com isso, senhor?
— Oh, não — suspirou o velhinho. — Os poetas não ganham dinheiro. Um dia tive que fechar a fábrica. Os poetas não ganham dinheiro. Já nem me fiavam o sabão. Tentei ainda, numa água furtada, produzir bolas mais econômicas. Mas não há ersatz (1) para a beleza. As bolas saiam defeituosas; bicudas, quadradas, pálidas, efêmeras. Subiam apenas à altura da cabeça dos homens, excessivamente baixo. As bolas já não tinham vida, nem transportavam no colorido a mensagem de uma cidade de meninos. Nem saltitavam nos telhados, nem entravam pelas janelas, nem rebolavam nas camas, nos tapetes de relva, no empedrado, nos caracóis dos petizes. E a multidão ria das minhas bolas. E eu pensei que a cidade já não merecia as minhas bolas de sabão. Os poetas não ganham dinheiro.
O "elétrico" deteve-se subitamente. Cóleos, begônias e lobélias tombaram para diante.
— Mas ainda tenho uma das primeiras, das autênticas.
O rapaz viu o velhinho tirar do bolso um frasco e um tubo de plástico, e soprar através do tubo.
Uma rutilante bola de sabão ficou momentaneamente suspensa no ar. Mais pequena, uma lágrima do velhinho tombou do olho de vidro alemão de antes do III Reich.
Então o rapaz disse, em voz baixa:
— Bem, avô, é altura de acabarmos com esta farsa.
E com um movimento, rebentou a bola de sabão. Como se tivesse rebentado um enorme caleidoscópio. A campainha tocou, puxada energicamente pelo condutor.
O velhinho sorriu a sua tristeza murcha e fechou a janela, enregelado. O "elétrico" pôs-se em marcha, as flores desapareceram, e os passageiros, empurrando-se, começaram todos a falar ao mesmo tempo.

Santos Fernando

domingo, 10 de maio de 2009

I dreamed a dream



...Mas agora a vida matou o sonho,
que eu sonhei!

Como Nasrudin criou a verdade.



— As leis não fazem com que as pessoas fiquem melhores — disse Nasrudin ao Rei. — Elas precisam, antes, praticar certas coisas de maneira a entrar em sintonia com a verdade interior, que se assemelha apenas levemente à verdade aparente.

O Rei, no entanto, decidiu que ele poderia, sim, fazer com que as pessoas observassem a verdade, que poderia fazê-las observar a autenticidade — e assim o faria.

O acesso a sua cidade dava-se através de uma ponte. Sobre ela, o Rei ordenou que fosse construída uma forca.

Quando os portões foram abertos, na alvorada do dia seguinte, o Chefe da Guarda estava a postos em frente de um pelotão para testar todos os que por ali passassem. Um edital fora imediatamente publicado: "Todos serão interrogados. Aquele que falar a verdade terá seu ingresso na cidade permitido. Caso mentir, será enforcado."

Nasrudin, na ponte entre alguns populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.

— Onde o senhor pensa que vai? — perguntou o Chefe da Guarda.

— Estou a caminho da forca — respondeu Nasradin, calmamente.

— Não acredito no que está dizendo!

— Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.

— Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!

— Isso mesmo - respondeu Nasrudin, sentindo-se vitorioso. — Agora vocês já sabem o que é a verdade: é apenas a sua verdade.

Nasrudin
(Khawajah Nasr Al-Din)

Eterna partida.




Longe na bruma dum tempo que passa
e não se percebe se é ou já foi
eu vejo-te aos poucos voar para fora
dum sonho secreto que amámos os dois...

Mas voa, avezinha, levanta-te agora,
desdobra os teus sonhos como asas de vento!
Bebe o ar alto, faz-te condor
sem um lamento, sem um momento
em que olhes de volta e me vejas a dor
de te ver partir além-fantasia
que chega ao seu fim...
de te ver fugir da vida vazia
que fica comigo
p' ra justo castigo
de te amar assim...

Foste musa, poesia, aurora e fragrância
Deusa pagã, virgem, irmã,
altar ritual de transes de amor...
e dor... também dor,
qual luz de mil sóis de infinito calor
que vivi e sofri, que te dei e me deste
em mergulhos perdidos no fundo de nós.
Foste o meu Norte, o meu Sul, o meu Leste,
a droga que encheu o meu sangue de vida
segredada a sós,
sussurrada a dois
e que eu sempre soube dever aprender
a ter de perder...
um dia... depois...
e sempre depois,
na bruma dum sonho que eu queria sem fim
mas que só podia
exIstir sem mIm!...

Foram dias e noites e meses e anos
contigo em segredo a encher-me o vazio
do saco fechado deste viver!

...mas nada mudou,
anda cá, anda ver:
os olhos cansados que embalam futuros
de incerto horizonte do vácuo que sou
mantêm fiéis a promessa perene
que fiz em silêncio,
de te serem puros,
de te amarem sempre!

Nada mudou!
Nem em mim nem em nós.
só mudaste tu, como tinha de ser,
e mesmo sem querer, ficámos mais sós...

Vou partir p'ra bem longe da dor que há em mim
e saber acordar de novo sozinho.
Vou fazer assim em defesa do ninho
a que tu tens direito com alguém que o mereça...
...mas antes que esqueça, porque isso não posso,
vou guardar tudo aquilo que um dia foi nosso
num canto secreto do meu coração
que, queiras ou não, será sempre teu!

Aí, por mais voltas que o destino invente,
Vives tu, meu amor, eternamente!

Pedro Laranjeira

sábado, 9 de maio de 2009

Queremos Homens Completos ou Meros Cidadãos?



A educação actual e as actuais conveniências sociais premeiam o cidadão e imolam o homem. Nas condições modernas, os seres humanos vêm a ser identificados com as suas capacidades socialmente valiosas. A existência do resto da personalidade ou é ignorada ou, se admitida, é admitida somente para ser deplorada, reprimida ou, se a repressão falhar, sub-repticiamente rebuscada. Sobre todas as tendências humanas que não conduzem à boa cidadania, a moralidade e a tradição social pronunciam uma sentença de banimento. Três quartas partes do Homem são proscritas. O proscrito vive revoltado e comete vinganças estranhas. Quando os homens são criados para serem cidadãos e nada mais, tornam-se, primeiro, em homens imperfeitos e depois em homens indesejáveis.

(Huxley, Aldous )

"Poder."


Há pessoas que AMAM o PODER..
E há pessoas que tem o PODER de AMAR...

Perdoa este amor





perdoa-me este vento no rosto
só por dizer o teu nome
esta forma imoderada de pousar-te no corpo
e íbis nidificar em teus seios
redondos e suaves como mundos imaginados

perdoa a riqueza deste amor
sem sedas nem brocados
a fragilidade deste mundo sem orientes
nem senhas nem tratados
e esta resma de escritos imperfeitos
em que invariavelmente falo de ti
mesmo quando não é de ti que falo
quando disfarço o teu nome sob a capa do mar
quando desfolho o teu corpo crisálida
em momentos só meus
e vejo emergir mariposas de toucados ancestrais
quando digo de «a» a «z» o que me vem escrito na alma
e grito que é vazio
(só vazio)
o alfabeto das coisas
que em teu nome não digo
e nego que tu existes
que te sonho sequer
perdoa tudo isto amor
porque homem e mulher que sejamos
somos só destinos anónimos
.............................distantes
de chegada

........... e de partida.

(Jorge Casimiro)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Construir em Vez de Combater.


Creio que uma das atitudes fundamentais do homem humano deve ser a de reconhecer em si, numa falta de compreensão ou numa falta de acção, a origem das deficiências que nota no ambiente em que vive; só começamos, na verdade, a melhorar quando deixamos de nos queixar dos outros para nos queixarmos de nós, quando nos resolvemos a fornecer nós mesmos ao mundo o que nos parece faltar-lhe; numa palavra, quando passamos de uma atitude de pessimista censura a uma atitude de criação optimista, optimista não quanto ao estado presente, mas quanto aos resultados futuros. O mesmo terá já dado um grande passo para impedir os ataques, quando aceitar que só puderam existir porque a sua acção não foi o que deveria ter sido; quando se lembrar ainda de que toda a sua coragem se não deve empregar a combater, mas a construir.

Agostinho da Silva

Tempo emaranhado.




O tempo é uma corda esticada
Onde, lúgubres, se tangem os gemidos da minha alma.

O tempo é uma grande pedra a ser empurrada
Até ao cume do dia, mas o curto descanso do sono
Fá-Ia rolar de novo até à base da dormência.

O tempo é um ralo, onde se sorvem os sonhos desfeitos,
Onde se escoam os laivos da minha demência.

A breve trégua do sono é onde a dor recupera o fôlego,
E volta retemperada, voraz, com a sua bocarra hiante.

O tempo... o tempo é cada vez mais cinzento.

Pedro Mota

Antiga Cadeia.


Antiga Cadeia Municipal de Constância vai transformar-se em espaço cultural
Estão já a decorrer as obras de recuperação do edifício da antiga Cadeia Municipal, um imóvel localizado em pleno Centro Histórico de Constância.

Com um orçamento de cerca de 80 mil euros, um custo que será inteiramente suportado pelo orçamento municipal, esta empreitada terá um prazo de duração de aproximadamente quatro meses.

Pretendendo-se tornar o imóvel num espaço de índole cultural, a intervenção que agora decorre engloba a recuperação do imóvel mantendo a configuração, materiais e cores existentes, nomeadamente: reforço estrutural em betão armado ao nível da cobertura; picagens; rebocos; pinturas; substituição de cobertura e pavimentos; recuperação de madeiras, cantarias e serralharias; instalação de iluminação, climatização, segurança e rede estruturada (informática, telefones, som e projecção de vídeo).

Recorde-se que a antiga Cadeia do Concelho, situada na Rua Luís de Camões, é um edifício da grande relevância histórico-cultural que, após quase 100 anos na posse de particulares (o edifício foi arrematado em praça em 1914), retornou à propriedade e posse municipal na sequência de Despacho de 17-09-2007 do Tribunal Judicial de Abrantes sobre o processo de expropriação que foi desenvolvido pela Câmara.

Atendendo à localização privilegiada do imóvel e ao facto de provavelmente ser já o único edifício de arquitectura de matriz municipal que resta no nosso Concelho, o que lhe confere uma importância assaz singular do ponto de vista urbanístico no contexto do conjunto edificado do Núcleo Histórico de Constância, propõe-se o seu regresso à vida pública da vila, agora com uma utilização bem mais acolhedora, que abra as portas aos mais variados acontecimentos de índole cultural e lúdica – exposições, eventos, audições, colóquios e outras actividades –, dignificando o imóvel e constituindo-o, em simultâneo, como mais um pólo de interesse em Constância.
Por CMC

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Nudez .



nem ouro, nem prata.
árvore verde.
nu, esse teu corpo breve,
livre de sombras –
como no dia do baptismo.
ainda sem nome.
sem voz ainda –
e uma voz presente.
sem tempo,
propondo outro tempo
sem presente.

teu filho,
maior do que um rosto
quase escondido.
teu colo,
acolhendo o mundo inteiro –
o peso, a leveza,
a obscuridade, o brilho
da montanha.

não encontro negrume
nessa face.
somente a negra luz
do sal da terra,
no forno que aquece o coração.

fria, apenas a manhã
em que partimos –
o cume da manhã
sobre a nascente.

nem ouro. nem prata.
a cor e o calor da madeira.
os pigmentos dessa alma
hoje encobertos –

abertos neste livro
e neste lume.

Ruy Ventura.

III Feira de Primavera .



Parque Ambiental de Santa Margarida
16 e 17 de Maio, das 15.00H às 20.00H
Descrição sumária da actividade: Esta é uma iniciativa de carácter ambiental e cultural que tem como grandes objectivos: contribuir para a salvaguarda do património natural e cultural da região; promover alguns produtos de produção biológica, artesanal e doméstica; sensibilizar para uma relação positiva entre o Homem e a Natureza. Durante a Feira decorrerão as seguintes actividades:

Venda de produtos de produção biológica, artesanal e doméstica;
Actuação de grupos etnográficos;
Visitas guiadas sobre o tema “Etnobotânica”;
Jogos tradicionais.

Por CMC

Exposição de Pintura | Sofia Henrique .


Exposição de Pintura | Sofia Henrique
"Metamorfose"
A sala do Posto de Turismo de Constância tem patente ao público até ao dia 24 de Maio uma exposição de pintura intitulada METAMORFOSE, da pintora Sofia Henrique.

O tema dá-se com a transformação e a mutação interior e física do nosso SER e da nossa OBRA.

Esta exposição, METAMORFOSE, resulta de uma altercação interna da autora e do modo como deixa fluir as ideias sobre a tela. A pintura nasce tal como uma borboleta sai da sua crisálida, apanha sol e num bater enérgico das suas asas … expõe-se, numa transformação mais ou menos profunda.

Os interessados poderão visitar esta exposição no Posto de Turismo de Constância nos dias úteis das 09:30H às 13:00H e das 14:30H às 17:30H e aos Sábados, Domingos e Feriados das 14:30H às 18:00H.
Por CMC

Frases Mágicas.


São aquelas pequenas frases que podem transformar um dia cinzento em algo colorido, são feitas de palavras de Alento, de Amor, de Ternura, de Carinho e de Esperança, e pronunciá-las ou ouvi-las no momento certo, pode fazer toda a diferença.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Gritar !




Aqui a acção simplifica-se
Derrubei a paisagem inexplicável da mentira
Derrubei os gestos sem luz e os dias impotentes
Lancei por terra os propósitos lidos e ouvidos
Ponho-me a gritar
Todos falavam demasiado baixo falavam e
[escreviam
Demasiado baixo

Fiz retroceder os limites do grito

A acção simplifica-se

Porque eu arrebato à morte essa visão da vida
Que lhe destinava um lugar perante mim

Com um grito

Tantas coisas desapareceram
Que nunca mais voltará a desaparecer
Nada do que merece viver

Estou perfeitamente seguro agora que o Verão
Canta debaixo das portas frias
Sob armaduras opostas
Ardem no meu coração as estações
As estações dos homens os seus astros
Trémulos de tão semelhantes serem

E o meu grito nu sobe um degrau
Da escadaria imensa da alegria

E esse fogo nu que me pesa
Torna a minha força suave e dura

Eis aqui a amadurecer um fruto
Ardendo de frio orvalhado de suor
Eis aqui o lugar generoso
Onde só dormem os que sonham
O tempo está bom gritemos com mais força
Para que os sonhadores durmam melhor
Envoltos em palavras
Que põem o bom tempo nos meus olhos

Estou seguro de que a todo o momento
Filha e avó dos meus amores
Da minha esperança
A felicidade jorra do meu grito

Para a mais alta busca
Um grito de que o meu seja o eco.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"

Tabaco.

Antes.


Depois.




Fumar pode matar -
É um aviso!

Egoismo.


Há pessoas tão cheias de si, que quando estão apaixonadas, acham maneira de se ocupar da sua paixão, sem fazerem caso da pessoa a quem amam .

terça-feira, 5 de maio de 2009