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quinta-feira, 8 de outubro de 2009
Amor Platônico.
É dolorido amar sem o amor
amado, difícil té-lo perto mais
longe dos seus braços, amar
na mais absoluta solidão de
um olhar tão calado, olhos que
no fascínio está também minha
alma.
"...Porque te amar será sempre
meu castigo."
( syssy)
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Timidez .
Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve. . .
— mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes..
— palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei.
Cecília Meireles, in 'Viagem'
Fontes...que segredos guardais?
Uma exposição do CRIA em Constância.
De 10 a 25 de Outubro a sala de exposições do Posto de Turismo de Constância vai ter patente ao público a exposição Fontes… que segredos guardais?, da autoria do CRIA – Centro de Recuperação e Integração de Abrantes, uma mostra que será inaugurada às 14.30H, na próxima segunda-feira, dia 12 de Outubro.
O CRIA é uma Instituição Particular de Solidariedade Social, sem fins lucrativos, há 32 anos ao serviço das crianças, jovens e adultos com deficiência. Tem por missão proporcionar aos seus utentes com Necessidades Educativas Especiais condições de educação, reabilitação, formação e integração na família e na sociedade. E foi a pensar nisso que o grupo de expressão plástica do CAO – Centro de Actividades Ocupacionais, do Centro de Recuperação e Integração de Abrantes criou a exposição Fontes…que segredos guardais?.
Durante um ano, estes utentes criaram as Fontes através de esboços desenhados à vista, à ampliação de uma imagem, nas suas diferentes formas.
No caso de Constância, estes artistas deslocaram-se à vila e, ao jeito de cada, deram largas à sua criatividade, e na tela retrataram a imagem da Fonte. Cada obra representa a imagem de si própria, em comum têm apenas as cores, o amor e a dedicação que nelas depositaram.
As obras que integram esta exposição são da autoria de Cristina Ambrósio, Marta Pinto, Nuno Heitor, Ricardo Pedro, Zé Tó e Vera. Trata-se de uma exposição muito especial, porque são telas que retratam algum do património dos concelhos de Constância e Sardoal, verdadeiros “tesouros de pedra e cal”.
A exposição Fontes… que segredos guardais? poderá ser visitada nos dias úteis das 9.30H às 13.00h e das 14.30h às 17.30h e nos sábados e domingos das 14.30h às 18.00h.
Por CMC
Sorriso.
terça-feira, 6 de outubro de 2009
Ternura .
Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!
David Mourão-Ferreira, in "Infinito Pessoal"
A beleza de todas as coisas
A beleza de todas as coisas
Reparava mais uma vez na grande beleza de todas as coisas; porém assaltava-o claramente, nesse desejo em ebulição, o doloroso pressentimento de um cativeiro; inquietante sensação de que todo quanto julgamos atingir nos atinge a nós; a tenebrosa suspeita de que as afirmações falsas, feitas no ar, sem qualquer espécie de importância pessoal, acordarão sempre neste mundo um eco mais poderoso do que as mais verdadeiras e as mais singulares. Esta beleza (dizia então consigo), perfeita! Mas tratar-se-á realmente da minha beleza? E a verdade que me ensinam será a minha verdade? Os objectos, as vozes, a realidade, todas essas coisas sedutoras que nos atoem e nos guiam, que perseguimos e sobre as quais nos precipitamos... será isso no entanto a realidade autêntica, ou apenas se tratará de um sopro imponderável pairando acima da realidade proposta? O que mais excita a desconfiança) são as divisões e as formas convencionais da vida: a história, sempre a mesma, as coisas, já prefiguradas pelas gerações precedentes, a linguagem convencional, não apenas os nossos lábios, mas também as nossas sensações e sentimentos. Ulrich detivera-se diante de uma igreja. Meu Deus! se acaso uma gigantesca matrona ali estivesse sentada à sombra, com uma enorme barriga cheia de refegos, encostada às paredes das casas e muito lá em cima, o pôr do Sol lhe iluminasse o rosto cheio de rugas, de borbulhas e de verrugas... não teria ele exclamado na mesma? Meu Deus! que belo! Ninguém se quer furtar ao facto de que viemos ao mundo com o dever de admirar isto; mas, como acabámos de dizer, não seria impossível igualmente acharmos belas, numa respeitável matrona, as formas amplas, suavemente descaídas, e a filigrana das soas rugas; só que é muito mais simples dizer-se que ela é velha. Esta transição do momento em que achamos as coisas do mundo envelhecidas para aquele em que as consideramos belas é mais ou menos semelhante à que nos conduz desde as concepções dos jovens até à moral mais elevada do adulto, a qual continua a ser um ridículo bê-á-bá até ao dia em que, bruscamente, a fazemos nossa.
Robert Musil, in O Homem sem Qualidades
segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Ontem à Tarde um Homem das Cidades.
Ontem à tarde um homem das cidades
Falava à porta da estalagem.
Falava comigo também.
Falava da justiça e da luta para haver justiça
E dos operários que sofrem,
E do trabalho constante, e dos que têm fome,
E dos ricos, que só têm costas para isso.
E, olhando para mim, viu-me lágrimas nos olhos
E sorriu com agrado, julgando que eu sentia
O ódio que ele sentia, e a compaixão
Que ele dizia que sentia.
(Mas eu mal o estava ouvindo.
Que me importam a mim os homens
E o que sofrem ou supõem que sofrem?
Sejam como eu — não sofrerão.
Todo o mal do mundo vem de nos importarmos uns com os
outros,
Quer para fazer bem, quer para fazer mal.
A nossa alma e o céu e a terra bastam-nos.
Querer mais é perder isto, e ser infeliz.)
Eu no que estava pensando
Quando o amigo de gente falava
(E isso me comoveu até às lágrimas),
Era em como o murmúrio longínquo dos chocalhos
A esse entardecer
Não parecia os sinos duma capela pequenina
A que fossem à missa as flores e os regatos
E as almas simples como a minha.
(Louvado seja Deus que não sou bom,
E tenho o egoísmo natural das flores
E dos rios que seguem o seu caminho
Preocupados sem o saber
Só com florir e ir correndo.
É essa a única missão no Mundo,
Essa — existir claramente,
E saber faze-lo sem pensar nisso.
E o homem calara-se, olhando o poente.
Mas que tem com o poente quem odeia e ama?
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema XXXII"
Heterónimo de Fernando Pessoa
5 de Outubro.
domingo, 4 de outubro de 2009
O Teu Olhar nos Meus Olhos .
Sempre onde tu estás
Naquilo que faço
Viras-te agarras os braços
Toco-te onde te viras
O teu olhar nos meus olhos
Viro-me para tocar nos teus braços
Agarras o meu tocar em ti
Toco-te para te ter de ti
A única forma do teu olhar
Viro o teu rosto para mim
Sempre onde tu estás
Toco-te para te amar olho para os teus olhos.
Harold Pinter, in "Várias Vozes"
sábado, 3 de outubro de 2009
Sítio Exacto .
O Carácter do Destino .
Não só as coisas acontecem com as pessoas, (...) cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter.
Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'
sexta-feira, 2 de outubro de 2009
Pintura .
Ser Feliz ...
É difícil ser feliz; requer espírito, energia, atenção, renúncia e uma espécie de cortesia que é bem próxima do amor. Às vezes é uma graça ser feliz. Mas pode ser, sem a graça, um dever. Um homem digno desse nome agarra-se à felicidade, como se amarra ao mastro em mau tempo, para se conservar a si mesmo e aos que ama. Ser feliz é um dever. É uma generosidade.
Louis Pauwels, in 'Carta Aberta às Pessoas Felizes'
Luz.
quinta-feira, 1 de outubro de 2009
Ler ou Copiar um Texto .
O efeito de uma estrada campestre não é o mesmo quando se caminha por ela ou quando a sobrevoamos de avião. De igual modo, o efeito de um texto não é o mesmo quando ele é lido ou copiado. O passageiro do avião vê apenas como a estrada abre caminho pela paisagem, como ela se desenrola de acordo com o padrão do terreno adjacente. Somente aquele que percorre a estrada a pé se dá conta dos efeitos que ela produz e de como daquela mesma paisagem, que aos olhos de quem a sobrevoa não passa de um terreno indiferenciado, afloram distâncias, belvederes, clareiras, perspectivas a cada nova curva [...]. Apenas o texto copiado produz esse poderoso efeito na alma daquele que dele se ocupa, ao passo que o mero leitor jamais descobre os novos aspectos do seu ser profundo que são abertos pelo texto como uma estrada talhada na sua floresta interior, sempre a fechar-se atrás de si. Pois o leitor segue os movimentos de sua mente no vôo livre do devaneio, ao passo que o copiador os submete ao seu comando. A prática chinesa de copiar livros era assim uma incomparável garantia de cultura literária, e a arte de fazer transcrições, uma chave para os enigmas da China.
Walter Benjamin, in 'Rua de Sentido Único'
Já gastámos as palavras...
Já gastámos as palavras pela rua, meu amor,
e o que nos ficou não chega
para afastar o frio de quatro paredes.
Gastámos tudo menos o silêncio.
Gastámos os olhos com o sal das lágrimas,
gastámos as mãos à força de as apertarmos,
gastámos o relógio e as pedras das esquinas
em esperas inúteis.
Meto as mãos nas algibeiras e não encontro nada.
Antigamente tínhamos tanto para dar um ao outro;
era como se todas as coisas fossem minhas:
quanto mais te dava mais tinha para te dar.
Às vezes tu dizias: os teus olhos são peixes verdes.
E eu acreditava.
Acreditava,
porque ao teu lado
todas as coisas eram possíveis.
Mas isso era no tempo dos segredos,
era no tempo em que o teu corpo era um aquário,
era no tempo em que os meus olhos
eram realmente peixes verdes.
Hoje são apenas os meus olhos.
É pouco mas é verdade,
uns olhos como todos os outros.
Já gastámos as palavras.
Quando agora digo: meu amor,
já não se passa absolutamente nada.
E no entanto, antes das palavras gastas,
tenho a certeza
de que todas as coisas estremeciam
só de murmurar o teu nome
no silêncio do meu coração.
Não temos já nada para dar.
Dentro de ti
não há nada que me peça água.
O passado é inútil como um trapo.
E já te disse: as palavras estão gastas.
Adeus.
Eugénio de Andrade
quarta-feira, 30 de setembro de 2009
Ai, Jesus!
Ai, Jesus! Não vês que gemo,
Que desmaio de paixão
Pelos teus olhos azuis?
Que empalideço, que tremo,
Que me expira o coração?
Ai, Jesus!
Que por um olhar, donzela,
Eu poderia morrer
Dos teus olhos pela luz?
Que morte! Que morte bela!
Antes seria viver!
Ai, Jesus!
Que por um beijo perdido
Eu de gozo morreria
Em teus níveos seios nus?
Que no oceano dum gemido
Minh'alma se afogaria?
Ai, Jesus!
Manuel Antônio Álvares de Azevedo
terça-feira, 29 de setembro de 2009
Constância comemora Dia Internacional do Idoso
Quinta-feira, 1 de Outubro - 14h30
O Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill vai comemorar o Dia Internacional do Idoso na próxima quinta-feira, 1 de Outubro, com a dinamização da actividade Recordar é Viver!
Recordar é Viver é uma iniciativa que consiste na dinamização de um jogo do loto, ilustrado com motivos alegres, que irão estimular as capacidades cognitivas dos idosos e em simultâneo promover a interacção com os outros, reforçando o convívio e os laços sociais, especialmente entre gerações.
No final da actividade haverá um lanche convívio e a entrega de uma lembrança a todos os participantes.
Aberta à comunidade em geral, a actividade está agendada para o dia 1 de Outubro a partir das 14:30h, na sala polivalente da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill.
Para mais informações ou esclarecimentos adicionais devem os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill, através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.
Leia mais. Viva mais.
Por CMC
Os Malefícios da Rivalidade na Escola .
Poucas serão as escolas em que o mestre não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar.
A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam.
Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar, nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta.
Urge quanto antes alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas sulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles também o sentido social, o hábito da cooperação, a tolerância e o amor que gera a convivência em vez de um isolamento de caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra.
Agostinho da Silva, in 'Considerações'
Boa-Noite
, Maria! Eu vou-me embora.
A lua nas janelas bate em cheio.
Boa-noite, Maria! É tarde... é tarde...
Não me apertes assim contra teu seio.
Boa-noite!... E tu dizes — Boa-noite.
Mas não digas assim por entre beijos...
Mas não mo digas descobrindo o peito,
— Mar de amor onde vagam meus desejos.
Julieta do céu! Ouve... a calhandra
Já rumoreja o canto da matina.
Tu dizes que eu menti?... pois foi mentira...
...Quem cantou foi teu hálito, divina!
Se a estrela-d'alva os derradeiros raios
Derrama nos jardins do Capuleto,
Eu direi, me esquecendo d'alvorada:
"É noite ainda em teu cabelo preto..."
É noite ainda! Brilha na cambraia
— Desmanchado o roupão, a espádua nua —
O globo de teu peito entre os arminhos
Como entre as névoas se balouça a lua...
É noite, pois! Durmamos, Julieta!
Recende a alcova ao trescalar das flores,
Fechemos sobre nós estas cortinas...
— São as asas de arcanjo dos amores.
A frouxa luz da alabastrina lâmpada
Lambe voluptuosa os teus contornos...
Oh! Deixa-me aquecer teus pés divinos
Ao doudo afago de meus lábios mornos.
Mulher do meu amor! Quando aos meus beijos
Treme tua alma, como a lira ao vento,
Das teclas de teu seio que harmonias,
Que escalas de suspiros, bebo atento!
Ai! Canta a cavatina do delírio,
Ri, suspira, soluça, anseia e chora...
Marion! Marion!... É noite ainda.
Que importa os raios de uma nova aurora?!...
Como um negro e sombrio firmamento,
Sobre mim desenrola teu cabelo...
E deixa-me dormir balbuciando:
— Boa-noite! —, formosa Consuelo!...
Autor: Antônio Frederico de Castro Alves
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
Exposição "Hans Christian Andersen"
Cine-Teatro Municipal
1 a 31 de Outubro
Constância recebe de 1 a 31 de Outubro a Exposição "Hans Christian Andersen", na qual o seu autor e designer, o dinamarquês Niels Fischer, revela a sua enorme paixão andersenista, ao mesmo tempo que se propõe (inter)ligar a obra literária do escritor em todos os seus domínios e complementariedade: as artes plásticas, o teatro, o movimento, a culinária, a música...
Radicado em Portugal há vários anos, Niels Fischer encetou a missão constante de divulgar a vida e obra de Hans Christian Andersen e, através de quadros, peças de cerâmica, esculturas, peças de joalharia, bem como muitos outros trabalhos de artistas portugueses, levar a todos os cantos do País a riqueza deste inesquecível autor.
Hans Christian Andersen, nascido a 2 de Abril de 1805, foi um escritor dinamarquês cuja obra literária, traduzida para centena e meia de línguas, levou a que metade da população da terra a considerasse parte da sua cultura. Foi ainda poeta, romancista, dramaturgo, jornalista, tradutor e narrador.
É autor de uma centena e meia de contos para crianças e adultos, escritos para serem lidos em voz alta e, também, ilustrados, cantados, dançados, musicados, recriados...
Quem não se lembra de "O Patinho Feio", "O Firme Soldado de Chumbo", "A Polegadazinha", entre tantos outros?
Horário
2.ª a 6.ª feira das 14h00 às 18h30
sábados e domingos das 15h00 às 18h00
PROGRAMA
Inauguração 1 OUT, 18h30,
e Conversas com Hans Christian Andersen - com Niels Fischer
Concurso Artístico Hans Christian Andersen
para todas as pessoas de todas as idades - 1 OUT a 30 NOV
Espectáculo de Teatro - 2 OUT, 21h30
Conversas com Hans Christian Andersen - 15, 22 e 30 OUT - com Niels Fischer
As Escolas descobrem Hans Christian Andersen - 19 a 23 OUT - Visita à Exposição, Fantoches e Pinturas faciais
Atelier de Expressão Plástica e Oficina de Escrita Criativa - 7, 9, 14, 16, 21, 23, 28 e 30 OUT
Hora do Conto - 7, 14, 21 e 28 OUT
Oficina de Fantoches e Escrita Criativa para Adultos - 10 e 24 OUT
Comer com Hans Christian Andersen e Oficina de Quirigami - 3 e 17 OUT
Encerramento 31 OUT, 21h00
Música, Dança e Exposição dos trabalhos das Crianças, Jovens e Adultos
Por CMC
Bilhete.
domingo, 27 de setembro de 2009
idades.
A Mulher Mais Bonita do Mundo...
estás tão bonita hoje. quando digo que nasceram
flores novas na terra do jardim, quero dizer
que estás bonita.
entro na casa, entro no quarto, abro o armário,
abro uma gaveta, abro uma caixa onde está o teu fio
de ouro.
entre os dedos, seguro o teu fino fio de ouro, como
se tocasse a pele do teu pescoço.
há o céu, a casa, o quarto, e tu estás dentro de mim.
estás tão bonita hoje.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
estás dentro de algo que está dentro de todas as
coisas, a minha voz nomeia-te para descrever
a beleza.
os teus cabelos, a testa, os olhos, o nariz, os lábios.
de encontro ao silêncio, dentro do mundo,
estás tão bonita é aquilo que quero dizer.
José Luís Peixoto, in "A Casa, a Escuridão"
Vida Incipiente .
O facto real da vida é que estamos de novo todos juntos sem se saber como nem porquê, é o imponderável que liga os seres e os deixa andar á deriva como pedaço de cortiça em praia batida pelo norte - o resto, se se quiser analisar, é uma babugem de relações sem eira nem beira ao deslizar da corrente que tanto vem dos outros lados do Atlântico como da disposição em cada um de nós. Os dias foram andando dentro de cada um de nós e na marcha de pormenores domésticos gastámos horas preciosas de nós mesmos. Acerca de comédias fizemos considerações pessoais e quando se tratava de analisar uma tragédia usufruíamos um gozo espiritual de dever cumprido sexualmente.
Passaram-se anos, também não sei quantos. Houve uns que casaram, outros que ficaram para ornamento ímpar de jantares familiares e ainda outros que se ambulanteiam pelas esquinas do vício à procura de óleo para uma máquina donde se desprendeu já a mola real do entendimento.
Afinal também não importa que o ritmo das coisas tenha sido o mesmo, se todas as coisas existem para um ritmo que lhes é íntimo à sua própria expressão de coisas. Houve sábados e domingos sextas e quintas segundas e terças e sempre uma quarta-feira a comandar no equilíbrio do princípio e do fim. Com os dedos mataram-se formigas que estavam fáceis ao alcance de um piparote e através das mãos fizemos a construção de novos dias. Cada um de nós teve uma história mais ou menos grande e mais ou menos importante para contar no seu íntimo. Às vezes eu lá encontrava um de nós para logo ter a impressão que se apoderava de todos uma moléstia sentimental de visão acabrunhada e de história em história ou de pieguice para pieguice caminhávamos inúteis no amorfo de abatjours contemplativos.
Ruben A., in 'Caranguejo'
sábado, 26 de setembro de 2009
Caminhos.
Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida - ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Onde leva? Não perguntes, segue-o!
Nietzsche
O Sexo
Neste corpo, a densa neblina, quase um hábito,
lentamente descida, sedimento e sede,
subtilmente o acalma. Ancora que se desloca,
movediça e infirme. Só no olhar, além
da luz e da cal, se distinguem os desejos
e a mestria das palavras. E não há remos
nem astros. Convido a neblina a esta
mesa de chumbo, onde nada levanta o fogo
solar ou os signos se alteiam. É a hora
em que o corpo treme e a sombra lavra as frouxas
manhãs. O que serão as tardes, sob a névoa,
quando o vigor agoniza e o vão das águas abre
o caos e os ecos? Estaremos em paz,
usando a palavra, última herdeira das areias.
Orlando Neves, in "Decomposição - o Corpo"
sexta-feira, 25 de setembro de 2009
Eu Nunca Guardei Rebanhos.
Eu nunca guardei rebanhos,
Mas é como se os guardasse.
Minha alma é como um pastor,
Conhece o vento e o sol
E anda pela mão das Estações
A seguir e a olhar.
Toda a paz da Natureza sem gente
Vem sentar-se a meu lado.
Mas eu fico triste como um pôr de sol
Para a nossa imaginação,
Quando esfria no fundo da planície
E se sente a noite entrada
Como uma borboleta pela janela.
Mas a minha tristeza é sossego
Porque é natural e justa
E é o que deve estar na alma
Quando já pensa que existe
E as mãos colhem flores sem ela dar por isso.
Como um ruído de chocalhos
Para além da curva da estrada,
Os meus pensamentos são contentes.
Só tenho pena de saber que eles são contentes,
Porque, se o não soubesse,
Em vez de serem contentes e tristes,
Seriam alegres e contentes.
Pensar incomoda como andar à chuva
Quando o vento cresce e parece que chove mais.
Não tenho ambições nem desejos
Ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho.
E se desejo às vezes
Por imaginar, ser cordeirinho
(Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita cousa feliz ao mesmo tempo),
É só porque sinto o que escrevo ao pôr do sol,
Ou quando uma nuvem passa a mão por cima da luz
E corre um silêncio pela erva fora.
Quando me sento a escrever versos
Ou, passeando pelos caminhos ou pelos atalhos,
Escrevo versos num papel que está no meu pensamento,
Sinto um cajado nas mãos
E vejo um recorte de mim
No cimo dum outeiro,
Olhando para o meu rebanho e vendo as minhas idéias,
Ou olhando para as minhas idéias e vendo o meu rebanho,
E sorrindo vagamente como quem não compreende o que
se diz
E quer fingir que compreende.
Saúdo todos os que me lerem,
Tirando-lhes o chapéu largo
Quando me vêem à minha porta
Mal a diligência levanta no cimo do outeiro.
Saúdo-os e desejo-lhes sol,
E chuva, quando a chuva é precisa,
E que as suas casas tenham
Ao pé duma janela aberta
Uma cadeira predileta
Onde se sentem, lendo os meus versos.
E ao lerem os meus versos pensem
Que sou qualquer cousa natural —
Por exemplo, a árvore antiga
À sombra da qual quando crianças
Se sentavam com um baque, cansados de brincar,
E limpavam o suor da testa quente
Com a manga do bibe riscado.
Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema I"
Heterónimo de Fernando Pessoa
quinta-feira, 24 de setembro de 2009
A Luta pela Recordação
Os meus pensamentos foram-se afastando de mim, mas, chegado a um caminho acolhedor, repilo os tumultuosos pesares e detenho-me, de olhos fechados, enervado num aroma de afastamento que eu próprio fui conservando, na minha pequena luta contra a vida. Só vivi ontem. Ele tem agora essa nudez à espera do que deseja, selo provisório que nos vai envelhecendo sem amor.
Ontem é uma árvore de longas ramagens, e estou estendido à sua sombra, recordando.
De súbito, contemplo, surpreendido, longas caravanas de caminhantes que, chegados como eu a este caminho, com os olhos adormecidos na recordação, entoam canções e recordam. E algo me diz que mudaram para se deter, que falaram para se calar, que abriram os olhos atónitos ante a festa das estrelas para os fechar e recordar...
Estendido neste novo caminho, com os olhos ávidos florescidos de afastamento, procuro em vão interceptar o rio do tempo que tremula sobre as minhas atitudes. Mas a água que consigo recolher fica aprisionada nos tanques ocultos do meu coração em que amanhã terão de se submergir as minhas velhas mãos solitárias...
Pablo Neruda
Como eu não possuo .
Olho em volta de mim. Todos possuem -
Um afecto, um sorriso ou um abraço.
Só para mim as ânsias se diluem
E não possuo mesmo quando enlaço.
Roça por mim, em longe, a teoria
Dos espasmos golfados ruivamente;
São êxtases da côr que eu fremiria,
Mas a minh'alma pára e não os sente!
Quero sentir. Não sei... perco-me todo...
Não posso afeiçoar-me nem ser eu:
Falta-me egoísmo pra ascender ao céu,
Falta-me unção pra me afundar no lôdo.
Não sou amigo de ninguém. Pra o ser
Forçoso me era antes possuir
Quem eu estimasse - ou homem ou mulher,
E eu não logro nunca possuir!...
Castrado de alma e sem saber fixar-me,
Tarde a tarde na minha dor me afundo...
Serei um emigrado doutro mundo
Que nem na minha dor posso encontrar-me?...
* * * * *
Como eu desejo a que ali vai na rua,
Tão ágil, tão agreste, tão de amor...
Como eu quisera emmaranhá-la nua,
Bebê-la em espasmos d'harmonia e côr!...
Desejo errado... Se a tivera um dia,
Toda sem véus, a carne estilizada
Sob o meu corpo arfando transbordada,
Nem mesmo assim - ó ânsia! - eu a teria...
Eu vibraria só agonizante
Sobre o seu corpo de êxtases dourados,
Se fôsse aquêles seios transtornados,
Se fôsse aquêle sexo aglutinante...
De embate ao meu amor todo me ruo,
E vejo-me em destrôço até vencendo:
É que eu teria só, sentindo e sendo
Aquilo que estrebucho e não possuo.
Mário de Sá-Carneiro,
quarta-feira, 23 de setembro de 2009
Dia Mundial do Coração .
Dia Mundial do Coração em Constância - 27 de Setembro
Trabalhe com o coração.
No próximo domingo, 27 de Setembro, Constância vai promover várias caminhadas comemorativas do Dia Mundial do Coração, as quais decorrerão entre as 10 e 12 horas, e terão início na Casa do Povo de Montalvo, no Museu dos Rios e das Artes Marítimas em Constância e no Parque Ambiental de Santa Margarida.
A caminhada em Constância é uma iniciativa conjunta comemorativa das Jornadas Europeias do Património e do Dia Mundial do Coração, que pretendem reforçar a importância da realização de actividades físicas e desportivas para uma vida mais activa e saudável podendo ao mesmo tempo conhecer o património natural e histórico da vila de Constância, através de um passeio pelas ruas e rio Tejo.
O Dia Mundial do Coração que este ano tem como tema Trabalhe com o Coração é uma iniciativa promovida pela World Heart Federation, sob coordenação em Portugal da Fundação Portuguesa de Cardiologia e tem como principal objectivo reforçar a importância da realização de actividades físicas e desportivas e de um estilo de vida activo para um melhor coração e uma vida mais saudável.
No Dia Mundial do Coração, a Fundação Portuguesa de Cardiologia, em parceria com o Instituto do Desporto de Portugal, e com a colaboração da Direcção Geral da Saúde, do Instituto Português da Juventude, da Direcção Geral de Inovação e Desenvolvimento Curricular, da Federação de Ginástica de Portugal, do Instituto Nacional para Aproveitamento dos Tempos Livres dos Trabalhadores e da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, pretende mobilizar a população portuguesa para a participação em actividades físicas e desportivas, promovidas pelas Câmaras Municipais e por outras entidades locais.
Neste evento a nota dominante será a realização de actividades desportivas abertas à participação de todos os cidadãos, dirigidas a ambos os sexos e a todas as idades desejando-se que as acções decorram o mais próximo possível das pessoas.
Para mais informações, esclarecimentos e inscrições devem os interessados em participar contactar a Piscina Municipal através do número telefone 249 730 627 ou o Pavilhão Desportivo Municipal pelo 249 730 059.
Por CMC
Literatura.
O romance essencial para compreender
as raízes profundas do declínio da monarquia portuguesa.
"Carlos I é a tragédia de toda uma família, uma tragédia que vem do fim do século XVIII e se prolonga até aos nossos arrabaldes. A história do nosso último rei a sério – já que Manuel II não passou duma criança que fez de conta que reinou durante dois anos – foi afinal um caso que demorou bem mais de cem anos a germinar e a desenvolver. Que desmedido ventre o trouxe ao mundo! Em vez de nove meses, noventa anos de gestação. É caso muito sério. E é por ser tão horrível e tão imensa, que uma tal tragédia nos parece tão estupenda.
Sem conhecermos os avós, nunca perceberemos o neto. Carlos em si é um enigma, uma bola opaca e pesada de carne ou de sebo, avessa ao mais penetrante olhar, mas visto à luz dos hábitos e das histórias dos seus antepassados faz-se claro, fácil, transparente. Este ser que viveu quarenta e quatro anos pode ter sido reservado como um tímido, fechado como um oráculo e desconhecido como um estrangeiro mas o seu passado faz dele um ser tão previsível e tão
esperado como um hábito repetido; na sua figura e na sua história vieram afinal cruzar-se com a máxima força e crueza todas as virtudes e todas as taras que encontramos dispersas e desencontradas nos seus antepassados mais próximos."
Onde houver...
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Se te Abaixasses, Montanha
Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a mão
daquele que não me fala
e a quem meus suspiros vão.
Se te abaixasses, montanha,
poderia ver a face
daquele que se soubesse
deste amor talvez chorasse.
Se te abaixasses, montanha,
poderia descansar.
Mas não te abaixes, que eu quero
lembrar, sofrer, esperar.
Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)
O Tempo e o Tédio
Com respeito à natureza do tédio encontram-se frequentemente conceitos erróneos. Crê-se em geral que a novidade e o carácter interessante do seu conteúdo "fazem passar" o tempo, quer dizer, abreviam-no, ao passo que a monotonia e o vazio estorvam e retardam o seu curso. Mas não é absolutamente verdade. O vazio e a monotonia alargam por vezes o instante ou a hora e tornam-nos "aborrecidos"; porém, as grandes quantidades de tempo são por elas abreviadas e aceleradas, a ponto de se tornarem um quase nada. Um conteúdo rico e interessante é, pelo contrário, capaz de abreviar uma hora ou até mesmo o dia, mas, considerado sob o ponto de vista do conjunto, confere amplitude, peso e solidez ao curso do tempo, de tal maneira que os anos ricos em acontecimentos passam muito mais devagar do que aqueles outros, pobres, vazios, leves, que são varridos pelo vento e voam. Portanto, o que se chama de tédio é, na realidade, antes uma simulação mórbida da brevidade do tempo, provocada pela monotonia: grandes lapsos de tempo quando o seu curso é de uma ininterrupta monotonia chegam a reduzir-se a tal ponto, que assustam mortalmente o coração; quando um dia é como todos, todos são como um só; e numa uniformidade perfeita, a mais longa vida seria sentida como brevíssima e decorreria num abrir e fechar de olhos. O hábito é uma sonolência, ou, pelo menos, um enfraquecimento do senso do tempo, e o facto dos anos de infância serem vividos vagarosamente, ao passo que a vida posterior se desenrola e foge cada vez mais depressa, esse facto também se baseia no hábito. Sabemos perfeitamente que a intercalação de mudanças de hábitos, ou de hábitos novos, constitui o único meio de manter a nossa vida, de refrescar a nossa sensação de tempo, de obter um rejuvenescimento, um reforço, um atraso da nossa experiência do tempo, e com isso, a revolução da nossa sensação da vida em geral. Tal é a finalidade da mudança de lugar e de clima, da viagem de recreio: nisso reside o que há de salutar na variação e no episódio. Os primeiros dias num ambiente novo têm um curso juvenil, quer dizer, vigoroso e amplo - seis ou oito dias. Depois, na medida em que a pessoa se "aclimata", começa a senti-los abreviarem-se: quem se apega à vida, ou melhor, quem gostaria de apegar-se à vida nota, com horror, como os dias começam a tornar-se leves e furtivos; e a última semana - de quatro, por exemplo - é de uma rapidez e fugacidade inquietante. Verdade é que a vitalização do nosso senso de tempo faz-se sentir para além do interlúdio, e desempenha o seu papel ainda quando a pessoa já voltou à rotina; os primeiros dias que passamos em casa, depois desta variação, afiguram-se-nos também novos, amplos e juvenis, mas sómente uns poucos: porque a gente acostuma-se mais rápidamente à rotina do que à sua suspensão, e quando o nosso senso do tempo está fatigado pela idade, ou nunca o possuímos desenvolvido em alto grau - o que é sinal de pouca força vital - volta a adormecer muito depressa, e ao cabo de vinte e quatro horas já é como se a pessoa jamais tivesse partido e a viagem não passasse de um sonho de uma noite.
Thomas Mann, in "A Montanha Mágica"
domingo, 20 de setembro de 2009
Pergunta .
Quem vem de longe e sabe o nome do meu lugar
e levou o caminho das conchas em mar
e dos olhos em rio
— quem vem de longe chorar por mim?
Quem sabe que eu findo de dureza
e condensa ternura em suas mãos
para a derramar em afagos
por mim?
Quem ouviu a angústia do meu brado,
sirene de um navio a vadiar no largo,
e me traz seus beijos e sua cor,
perdendo-se na bruma das madrugadas
por mim?
Quem soube das asperezas da viagem
e pediu o pão negado
e o suor ao corpo torturado,
por mim? por mim?
Quem gerou o mundo e lhe deu seu nome
e seu tamanho — imenso, imenso,
e em mim cabe?
Fernando Namora.
sábado, 19 de setembro de 2009
O Livro da Vida .
Absorto, o Sábio antigo, estranho a tudo, lia...
— Lia o «Livro da Vida» — herança inesperada,
Que ao nascer encontrou, quando os olhos abria
Ao primeiro clarão da primeira alvorada.
Perto dele caminha, em ruidoso tumulto,
Todo o humano tropel num clamor ululando,
Sem que de sobre o Livro erga o seu magro vulto,
Lentamente, e uma a uma, as suas folhas voltando.
Passa o Estio, a cantar; acumulam-se Invernos;
E ele sempre, — inclinada a dorida cabeça,—
A ler e a meditar postulados eternos,
Sem um fanal que o seu espírito esclareça!
Cada página abrange um estádio da Vida,
Cujo eterno segredo e alcance transcendente
Ele tenta arrancar da folha percorrida,
Como de mina obscura a pedra refulgente.
Mas o tempo caminha; os anos vão correndo;
Passam as gerações; tudo é pó, tudo é vão...
E ele sem descansar, sempre o seu Livro lendo!
E sempre a mesma névoa, a mesma escuridão.
Nesse eterno cismar, nada vê, nada escuta:
Nem o tempo a dobrar os seus anos mais belos,
Nem o humano sofrer, que outras almas enluta,
Nem a neve do Inverno a pratear-lhe os cabelos!
Só depois de voltada a folha derradeira,
Já próximo do fim, sobre o livro, alquebrado,
É que o Sábio entreviu, como numa clareira,
A luz que iluminou todo o caminho andado..
Juventude, manhãs de Abril, bocas floridas,
Amor, vozes do Lar, estos do Sentimento,
— Tudo viu num relance em imagens perdidas,
Muito longe, e a carpir, como em nocturno vento.
Mas então, lamentando o seu estéril zelo,
Quando viu, a essa luz que um instante brilhou,
Como o Livro era bom, como era bom relê-lo,
Sobre ele, para sempre, os seus olhos cerrou...
António Feijó,
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