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domingo, 14 de setembro de 2008

P.Abrunhosa.


Frio o mar
por entre o corpo
fraco de lutar
Quente o chão
Onde te estendo e te levo à razão
E pede-me a paz dou-te o mundo
louco livre assim sou eu
Um pouco mais
grita-me mostra-me a cor do céu
Sangue ardente
Fermenta e torna os dedos de papel
Luz dormente
Suavemente pinta o teu rosto a pincel

Nus...


"A beleza de um corpo nu só o sentem as raças vestidas"

O Prazer da Conversação.


O tipo de bem-estar proporcionado por uma conversação animada não consiste propriamente no assunto da conversação; nem as idéias nem os conhecimentos que ali podem ser desenvolvidos são o seu principal interesse. Importa uma certa maneira de agir uns sobre os outros, de ter um prazer recíproco e rápido, de falar tão logo se pense, de comprazer-se imediatamente consigo mesmo, de ser aplaudido sem esforço, de manifestar o seu espírito em todas as nuances pela entoação, pelo gesto, pelo olhar, enfim, de produzir à vontade como que uma espécie de electricidade que solta faíscas, aliviando uns do próprio excesso da sua vivacidade e despertando outros de uma apatia dolorosa. (...) Bacon disse que "a conversação não era um caminho que conduzia à casa, mas uma vereda por onde se passeava prazerosamente ao acaso".

Madame de Stael, in 'Do Espírito de Conversação'

Paralímpicos portugueses.




Prata para Luís Gonçalves.

Sexta medalha portuguesa em Pequim.

Luís Gonçalves passou de medalha de bronze a medalha de prata na prova dos 400 metros T12 (amblíopes) dos Jogos Paralímpicos, após a desqualificação do atleta chinês Li Yansong. Aumenta para seis o número de medalhas conquistadas por atletas portugueses em Pequim

sábado, 13 de setembro de 2008

Djavan - Pétala



A todas as rosas do mundo.

Exato...


“Por ser exato,
o amor não cabe em si,
Por ser encantado,
o amor revela-se,
Por ser amor,
invade e fim.”

Acasalamentos.



Nazinha conheceu um militar no bonde

—era bonito e altivo

e ostentava bigodes de bolero—

e casou com véu e grinalda.

Ela falava umas coisas,

ele ouvia outras.

Arrumava a sala todos os dias

e passava cera e escovão no assoalho.



Neusa nunca desceu da nuvem

em que pairava sobre a terra.

A face redonda como lua prateada,

falava direto às estrelas.

Adorava sonetos de Fagundes Varela e Olavo Bilac.

Sempre arrumadinha, coque e coquete

esperando algum confete.

Casou com um português

que se dizia fidalgo

e lidava com secos e molhados.



Inês era tão recatada

e foi às núpcias com um francês

que era professor da Universidade do Brasil

—ela dedicou-se aos cuidados da casa,

ele às discussões sociológicas e ideológicas de dia

e às farras e fanfarras de noite

nos inferninhos da zona sul.



Neves, desaparecida

desde a fuga da lua de fel

de um casamento forçado.

Livre, e entregue à própria sorte.


Poema de Antonio Miranda


Ilustração de Zenilton de Jesus Gayoso Miranda

O encanto de ter um (a) amante...



Para a generalidade das mulheres, - ter um amante significa - ter uma quantidade de ocupações, de factos, de circunstâncias a que, pelo seu organismo e pela sua educação, acham um encanto inefável. Ter um amante - não é para elas abrir de noite a porta do seu jardim. Ter um amante é ter a feliz, a doce ocasião destes pequeninos afazeres - escrever cartas às escondidas, tremer e ter susto: fechar-se a sós para pensar, estendida no sofá; ter o orgulho de possuir um segredo; ter aquela ideia dele e do seu amor, acompanhando com uma melodia em surdina todos os seus movimentos, a toilette, o banho, o bordado, o penteado: é estar numa sala cheia de gente, e vê-lo a ele, sério e indiferente, e só eles dois estarem no encanto do mistério; é procurar uma certa flor que se combinou pôr no cabelo; é estar triste por ideias amorosas, nos dias de chuva, ao canto de um fogão; é a felicidade de andar melancólica no fundo de um cupé; é fazer toilette com intenção, o maior dos encantos femininos! Etc.
Estas pequeninas coisas, que enchem a sua existência, que a complicam em cor-de-rosa, que a idealizam - são a sua grande atracção. É o que amam. O homem amam-no pela quantidade do mistério, de interesse, de ocupação romanesca que ele dá à sua existência. De resto, amam o amor. Havia muito deste sentimento nas místicas e nas antigas noivas de Jesus. Amavam a Deus porque ele era o pretexto do culto.

Eça de Queirós, in 'Uma Campanha Alegre'

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Boccia.


Portugal conquistou esta sexta-feira uma medalha de bronze na competição em pares BC3 do torneiro de Boccia nos Jogos Paralímpicos Pequim’2008 .

Paralímpicos portugueses.


Os atletas portugueses honraram de novo as cores nacionais ao conquistarem, esta sexta-feira, mais uma medalha de prata na competição de pares BC4 .

E de te amar assim...


“E de te amar assim, muito a amiúde,
é que um dia de repente hei de morrer
de amar mais do que pude.”

Eu abjeto confesso:



Eu, abjeto, confesso:

o conhecimento não pressupõe

a superação de problemas.

Eu, incestuoso

nivelo: construir é destruir

é mudar, tanto faz.

Eu, narcisista, como Whitman

concebo o homem

em estado puro.

Eu, anarquista

como o Barbudo democrata

panteísta

que só via o Todo

e ainda assim

desprezando regras morais.

Eu, imoral

diante da Morte celebrando a vida

— aquela vida que se reproduz e

perpetua-se

e rejuvenesce em outros corpos

feitos de pólen ou de

esperma

no ciclo infinito do universo.

Conhecimento da vida

da rua, do padecimento

— corpos possuídos, devorados

para a ressurreição

ou sucessão.


Formas que nascem e fenecem

que renascem

que não partam antes

que nelas deposite

o quanto trago acumulado.


Sêmen/te

o caminho do Oriente

o olho da serpente.


O sexo contém tudo, corpos, almas...

Sentidos, provas, pureza, leveza...


Eu, pedaço de Tudo

sofro a amputação

e protesto:

quero minha parte impura

confesso minha covardia

proclamo minhas limitações!!!


E teço o canto do mal

e comemoro essa parte de mim


Oh varar noites, vendavais, fome e desejo

recusas e atropelos, feito

árvores e animais.


É inscrever um poema

no coração da América

e na consciência do mundo

um poema-sujo

(que é o mais limpo de todos

como Gullar já demonstrou)

o anti-poema de Nicanor Parra

um hieróglifo, um código secreto

para os iniciados

e promover a leitura do Ser

em nossas entranhas e

entrelinhas.


Perverter os sentidos

em busca dos sentidos.


Velho amoral! Bruxo ianque!

Poema de António Miranda.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Em que direcção se vai.


Aqui é dor, aqui é amor, aqui é amor e dor:
onde um homem projeta seu perfil e pergunta atônito:
em que direcção se vai?”

. Adélia Prado

A lucidez da velhice


A Lucidez da Velhice

A mocidade é noivado, como a velhice é viuvez. Um jovem, por mais marido que seja, é noivo ainda; e um velho, embora casado, é já viúvo... um solitário guardando as cinzas duma flor. Mas dessas cinzas o seu espírito se alimenta. Alimenta-se de pureza, pois a cinza é o que resta dum incêndio, essa purificação suprema. Por isso, a consciência é um atributo da velhice, e também a ciência. A consciência é a ciência connosco, a ciência identificada ao nosso ser, que entra no pleno conhecimento de si mesmo, e do seu poder representativo do Universo. A velhice é uma noite maravilhosa em que brilham as nossas ideias, uma atmosfera límpida ou varrida pelo zéfiro da morte, a única Deusa verdadeira.

Teixeira de Pascoaes, in 'A Saudade e o Saudosismo'

Colombo.


Casa museu Cristovão Colombo-Porto Santo.

Os Portosantenses (e não só)estão em festa, comemorando a chegada do Cristóvão á ilha.






Toda a noite, toda,

Cristóvão Colombo ouve passar os pássaros.

Vindos do abismo, sem fim, a rajadas,

milhares e milhares de pássaros. Sobre os mastros,

atravessando, perfurando as trevas, lá,

o ruído das asas dos pássaros.

Vindo do vazio, do abismo,

o ruído, o trino da vida sendo,

a orquestra inteira dos pássaros.

Pálida como a chama do farol, imóvel,­

Cristóvão Colombo ouve trinar a vida,

passar os pássaros.







Cristóvão Colombo viu uma luz onde não há nada.

(O Almirante, não o adventício de Triana.)

Essa luz arde em algum lugar seco.

Tão seco, sem dúvida, como o lugar em que pousou a pomba.

Essa luz de algum fogo aceso pela mão de um homem.

Porque o fogo o que é senão a inteligência do homem!

Cristóvão Colombo buscou-o a vida toda, está certo.

A vida toda de pobreza, a vida toda.

Fogo de cozinhar peixe, ótimo fogo de abrigo.

Fogo para a mais terrível das cerimônias.

De tão pequeno que é não pode ser outra coisa,como é que vai ser.

Porque Cristóvão Colombo o buscou a vida toda, toda.

Por isso agora soluça só no convés

enquanto o último dos pássaros se funde vibrando na memória.

Sim, o último dos pássaros

—uno com a primeira

luz da aurora.






Cristóvão Colombo abre seu grosso diário.

Toma sua pena de ganso e equilibrando-a entre os dedos:

sangue, vida de besta feito coisa para o serviço do homem.

Molha a ponta no tinteiro de chifre, o Almirante, e vê

a brancura terrível da página. Sabe

o que está a sua espera desde o princípio de tudo. Virgem,

a sua espera desde que se assentaram as rocas e foi fixado

um limite para o capricho das ondas.

Cristóvão Colombo sente a vertigem com que lhe chama o abismo

da página,

mas, prudente, resiste e só com a ponta dos dedos

toca o alvo mágico.

Escrever a primeira palavra, será como começar a não ser, como

gerar ou como morrer, os dois extremos

que são uma e a mesma embriaguez, pavorosos princípios,

triunfos, catástrofes, glórias.

Toda a inacabável riqueza da urdidura - ouro de Aldebarão,

prata de Gêmeos, arquétipos do cervo e do leão,

do ébano, e do ônix,

toda a inesgotável riqueza lhe urge, soprando-lhe.

Vergado como uma cana,

vibrante de terror e de júbilo, por fim Cristóvão Colombo funde

sua pluma na página.

Começa então a invenção da América.



(De: Los días de tu vida, 1977)

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Gostar...


“Gosto e preciso de ti,
mas quero logo explicar,
não gosto porque preciso.
Preciso sim, por gostar.”

Stranger in paradise.



A vida são dois dias.Um é para...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Jogos Paralímpicos.


DESTAQUE: Portugal conquistou esta terça-feira as duas primeiras medalhas nos Jogos Paralímpicos de Pequim. No torneio de Boccia BC1, João Paulo Fernandes (à dir.) alcançou uma medalha de ouro e António Marques arrecadou a de prata. (Estela Silva, Lusa)

Chamo-te.


Chamo-Te porque tudo está ainda no princípio

E suportar é o tempo mais comprido.



Peço-Te que venhas e me dês a liberdade,

Que um só de Teus olhares me purifique e acabe.



Há muitas coisas que não quero ver.



Peço-Te que sejas o presente.

Peço-Te que inundes tudo.

E que o Teu reino antes do tempo venha

E se derrame sobre a Terra

Em Primavera feroz precipitado.





Sophia de Mello Breyner Andresen