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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Eu abjeto confesso:



Eu, abjeto, confesso:

o conhecimento não pressupõe

a superação de problemas.

Eu, incestuoso

nivelo: construir é destruir

é mudar, tanto faz.

Eu, narcisista, como Whitman

concebo o homem

em estado puro.

Eu, anarquista

como o Barbudo democrata

panteísta

que só via o Todo

e ainda assim

desprezando regras morais.

Eu, imoral

diante da Morte celebrando a vida

— aquela vida que se reproduz e

perpetua-se

e rejuvenesce em outros corpos

feitos de pólen ou de

esperma

no ciclo infinito do universo.

Conhecimento da vida

da rua, do padecimento

— corpos possuídos, devorados

para a ressurreição

ou sucessão.


Formas que nascem e fenecem

que renascem

que não partam antes

que nelas deposite

o quanto trago acumulado.


Sêmen/te

o caminho do Oriente

o olho da serpente.


O sexo contém tudo, corpos, almas...

Sentidos, provas, pureza, leveza...


Eu, pedaço de Tudo

sofro a amputação

e protesto:

quero minha parte impura

confesso minha covardia

proclamo minhas limitações!!!


E teço o canto do mal

e comemoro essa parte de mim


Oh varar noites, vendavais, fome e desejo

recusas e atropelos, feito

árvores e animais.


É inscrever um poema

no coração da América

e na consciência do mundo

um poema-sujo

(que é o mais limpo de todos

como Gullar já demonstrou)

o anti-poema de Nicanor Parra

um hieróglifo, um código secreto

para os iniciados

e promover a leitura do Ser

em nossas entranhas e

entrelinhas.


Perverter os sentidos

em busca dos sentidos.


Velho amoral! Bruxo ianque!

Poema de António Miranda.