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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Colombo.


Casa museu Cristovão Colombo-Porto Santo.

Os Portosantenses (e não só)estão em festa, comemorando a chegada do Cristóvão á ilha.






Toda a noite, toda,

Cristóvão Colombo ouve passar os pássaros.

Vindos do abismo, sem fim, a rajadas,

milhares e milhares de pássaros. Sobre os mastros,

atravessando, perfurando as trevas, lá,

o ruído das asas dos pássaros.

Vindo do vazio, do abismo,

o ruído, o trino da vida sendo,

a orquestra inteira dos pássaros.

Pálida como a chama do farol, imóvel,­

Cristóvão Colombo ouve trinar a vida,

passar os pássaros.







Cristóvão Colombo viu uma luz onde não há nada.

(O Almirante, não o adventício de Triana.)

Essa luz arde em algum lugar seco.

Tão seco, sem dúvida, como o lugar em que pousou a pomba.

Essa luz de algum fogo aceso pela mão de um homem.

Porque o fogo o que é senão a inteligência do homem!

Cristóvão Colombo buscou-o a vida toda, está certo.

A vida toda de pobreza, a vida toda.

Fogo de cozinhar peixe, ótimo fogo de abrigo.

Fogo para a mais terrível das cerimônias.

De tão pequeno que é não pode ser outra coisa,como é que vai ser.

Porque Cristóvão Colombo o buscou a vida toda, toda.

Por isso agora soluça só no convés

enquanto o último dos pássaros se funde vibrando na memória.

Sim, o último dos pássaros

—uno com a primeira

luz da aurora.






Cristóvão Colombo abre seu grosso diário.

Toma sua pena de ganso e equilibrando-a entre os dedos:

sangue, vida de besta feito coisa para o serviço do homem.

Molha a ponta no tinteiro de chifre, o Almirante, e vê

a brancura terrível da página. Sabe

o que está a sua espera desde o princípio de tudo. Virgem,

a sua espera desde que se assentaram as rocas e foi fixado

um limite para o capricho das ondas.

Cristóvão Colombo sente a vertigem com que lhe chama o abismo

da página,

mas, prudente, resiste e só com a ponta dos dedos

toca o alvo mágico.

Escrever a primeira palavra, será como começar a não ser, como

gerar ou como morrer, os dois extremos

que são uma e a mesma embriaguez, pavorosos princípios,

triunfos, catástrofes, glórias.

Toda a inacabável riqueza da urdidura - ouro de Aldebarão,

prata de Gêmeos, arquétipos do cervo e do leão,

do ébano, e do ônix,

toda a inesgotável riqueza lhe urge, soprando-lhe.

Vergado como uma cana,

vibrante de terror e de júbilo, por fim Cristóvão Colombo funde

sua pluma na página.

Começa então a invenção da América.



(De: Los días de tu vida, 1977)

5 comentários:

r disse...

Caro Manuel Marques, onde é que já ouvi esta conversa?


Boa lembrança, mas:

1. Está chuvoso, veremos se desmbarca.

2. O Festival Colombo que decorre (está a decorrer) de 11 a 13 de Setembro, na ilha de Porto Santo, não é da responsabilidade organizativa da CASA COLOMBO - MUSEU DE PORTO SANTO. O evento está ligado à C.M. de Porto Santo.

r disse...

tenho esse postalinho em papel cartão. tão velhinho. depois, ofereço-lhe um

r disse...

se vier à ilha...

http://www.museucolombo-portosanto.com/intro.html


se estiver disponível, faço-lhe a visita guiada com actividades lúdico-pedagógicas
eh eh eh

Unknown disse...

Á pouco olhando para a rtp no programa "Portugal em directo" vi uma reportagem sobre o assunto.Ouvi que o gajo desembarcava ás 00.00 h.
Ps: Não se esqueça do meu abraço ao filho da escola.

Em ir á ilha vou pensar nisso.

r disse...

às 00:00H?
às 20:30 (é o que está no Programa) se faz favor e estou atrassadíssima com o jantar
xau xau

não esqueço.