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terça-feira, 21 de julho de 2009

Abrangência Literária .



Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influi no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo - o futuro.

Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'

Caminhos.


O amor é uma luz que não deixa escurecer a vida ...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

O Amor e o Tempo .




Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.

Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.

— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»

Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,

Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!

António Feijó, in 'Sol de Inverno' O Amor e o Tempo

Para o outro lado do Altântico.

Rosto.


Por vezes à noite há um rosto . Que nos olha do fundo de um espelho . E a arte deve ser como esse espelho . Que nos mostra o nosso próprio rosto .

domingo, 19 de julho de 2009

Partir

Procurar!


O maior paradoxo do desejo não está em procurar-se sempre outra coisa: está em se procurar a mesma, depois de se ter encontrado...

Poesia




é a visita do tempo nos teus olhos,
é o beijo do mundo nas palavras
por onde passa o rio do teu nome;
é a secreta distância em que tocas
o princípio leve dos meus versos;
é o amor debruçado no silêncio
que te cerca e que te esconde:
como num bosque, lento, ouvimos
o coração de uma fonte não sei onde...

Vítor Matos e Sá, in 'Esparsos'

sábado, 18 de julho de 2009

Subjectividades


Pintura de Luís de Sá no Posto de Turismo de Constância - Subjectividades
De 18 de Julho a 2 de Agosto a sala de exposições do Posto de Turismo de Constância tem patente ao público uma exposição de pintura denominada Subjectividades, da autoria de Luís de Sá.

A mostra tem a sua inauguração marcada para o próximo sábado, dia 18 de Julho, pelas 16.00H.

Subjectividades é uma mostra de pintura em que a pincelada subjectiva predomina nos quadros, não dando quase importância aos pormenores nem ao mundo objectivo, mas sim ao conjunto e ao pensamento.

Utilizando como ferramenta a interpretação, onde se pode ampliar, diminuir e suprimir tanto na cor como no desenho, é uma pintura que está entre o impressionismo e o expressionismo. Impressionismo porque alguns destes quadros foram realizados directamente em contacto com o motivo dando relevância aos efeitos cambiantes da luz e apoiando-se na teoria da cor. Expressionismo porque é uma pintura, instintiva, dramática e subjectiva utilizando por vezes cores irreais com dinamismo, improvisado, abrupto e inesperado.

Nesta exposição onde se encontram paisagens, desenhos marítimos e retratos é possível apreciar várias técnicas como pintura a óleo, pintura em acrílico, aguarela e desenhos a carvão.

Subjectividades tem as suas portas abertas nos dias úteis das 9.30H às 13.00H e das 14.30H às 17.30H, e nos sábados e domingos das 14.30H às 18.00H.

Por CMC

Desejo!

Janela do Sonho .




Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.

Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.

Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.

Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.

Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O Erotismo .






Os homens mais novos não entendem o... como é que vocês dizem?... o erotismo. Até aos quarenta, caímos sempre no mesmo erro, não sabemos libertar-nos do amor: um homem que, em vez de pensar numa mulher como complemento de um sexo, pensa no sexo como complemento de uma mulher, está pronto para o amor: tanto pior para ele.

André Malraux, in 'A Estrada Real'

Homem Inacabado




Todas as árvores com todos os ramos com todas
[as folhas
A erva na base dos rochedos e as casas
[amontoadas
Ao longe o mar que os teus olhos banham
Estas imagens de um dia e outro dia
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso
E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas
[obstinadas
As tuas ideias fixas no coração de chumbo nos
[lábios virgens
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A semelhança dos olhares consentidos com os
[olhares conquistados
A confusão dos corpos das fadigas dos ardores
A imitação das palavras das atitudes das ideias
Os vícios as virtudes tão imperfeitos

O amor é o homem inacabado.

Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"

Partir.


Quantas vezes descobri onde deveria ir, apenas por partir para um outro lugar ...

quinta-feira, 16 de julho de 2009


Tentação .



Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.

Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.

Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa

a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.

Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"

Ser Diferente.



A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.

Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

Jardins Proibidos



[Em especial para a minha querida amiga Fátima.]

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A Idade não nos Torna mais Sábios



As pessoas imaginam que precisamos de chegar a velhos para ficarmos sábios, mas, na verdade, à medida que os anos avançam, é difícil mantermo-nos tão sábios como éramos. De facto, o homem torna-se um ser distinto em diferentes etapas da vida. Mas ele não pode dizer que se tornou melhor, e, em alguns aspectos, é igualmente provável que ele esteja certo aos vinte ou aos sessenta. Vemos o mundo de um modo a partir da planície, de outro a partir do topo de uma escarpa, e de outro ainda dos flancos de uma cordilheira. De alguns desses pontos podemos ver uma porção maior do mundo que de outros, mas isso é tudo. Não se pode dizer que vemos de modo mais verdadeiro de um desses pontos que dos restantes.

Johann Wolfgang von Goethe,

Desejo Indomável




Como corre a gazela
pela sombra dos bosques,
enlouquecida pelo próprio perfume,
assim corro eu, enlouquecido,
nesta noite do coração de maio
aquecida pela brisa do Sul.

Perdi o caminho
e erro ao acaso.
Quero o que não tenho,
e tenho o que não quero.

A imagem do meu próprio desejo
sai do meu coração
e, dançando diante de mim,
cintila uma e outra vez,
subitamente.

Quero agarrá-la, mas escapa-se.
E, já longe, chama-me outra vez
do atalho ...
Quero o que não tenho
e tenho o que não quero.

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"

Juntos.


Para estar junto não é preciso estar perto, mas sim do lado de dentro.