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quarta-feira, 22 de julho de 2009
terça-feira, 21 de julho de 2009
A de Sempre, Toda Ela .

Se eu vos disser: «tudo abandonei»
É porque ela não é a do meu corpo,
Eu nunca me gabei,
Não é verdade
E a bruma de fundo em que me movo
Não sabe nunca se eu passei.
O leque da sua boca, o reflexo dos seus olhos
Sou eu o único a falar deles,
O único a ser cingido
Por esse espelho tão nulo em que o ar circula
[através de mim
E o ar tem um rosto, um rosto amado,
Um rosto amante, o teu rosto,
A ti que não tens nome e que os outros ignoram,
O mar diz-te: sobre mim, o céu diz-te: sobre mim,
Os astros adivinham-te, as nuvens imaginam-te
E o sangue espalhado nos melhores momentos,
O sangue da generosidade
Transporta-te com delícias.
Canto a grande alegria de te cantar,
A grande alegria de te ter ou te não ter,
A candura de te esperar, a inocência de te
[conhecer,
Ó tu que suprimes o esquecimento, a esperança e
[a ignorância,
Que suprimes a ausência e que me pões no mundo,
Eu canto por cantar, amo-te para cantar
O mistério em que o amor me cria e se liberta.
Tu és pura, tu és ainda mais pura do que eu
[próprio.
Paul Eluard, in "Algumas das Palavras
Abrangência Literária .

Lembremo-nos que a literatura, porque se dirige ao coração, à inteligência, à imaginação e até aos sentidos, toma o homem por todos os lados; toca por isso em todos os interesses, todas as ideias, todos os sentimentos; influi no indivíduo como na sociedade, na família como na praça pública; dispõe os espíritos; determina certas correntes de opinião; combate ou abre caminho a certas tendências; e não é muito dizer que é ela quem prepara o berço aonde se há-de receber esse misterioso filho do tempo - o futuro.
Antero de Quental, in 'Prosas da Época de Coimbra'
segunda-feira, 20 de julho de 2009
O Amor e o Tempo .

Pela montanha alcantilada
Todos quatro em alegre companhia,
O Amor, o Tempo, a minha Amada
E eu subíamos um dia.
Da minha Amada no gentil semblante
Já se viam indícios de cansaço;
O Amor passava-nos adiante
E o Tempo acelerava o passo.
— «Amor! Amor! mais devagar!
Não corras tanto assim, que tão ligeira
Não pode com certeza caminhar
A minha doce companheira!»
Súbito, o Amor e o Tempo, combinados,
Abrem as asas trémulas ao vento...
— «Porque voais assim tão apressados?
Onde vos dirigis?» — Nesse momento,
Volta-se o Amor e diz com azedume:
— «Tende paciência, amigos meus!
Eu sempre tive este costume
De fugir com o Tempo... Adeus! Adeus!
António Feijó, in 'Sol de Inverno' O Amor e o Tempo
Rosto.
domingo, 19 de julho de 2009
Procurar!
Poesia

é a visita do tempo nos teus olhos,
é o beijo do mundo nas palavras
por onde passa o rio do teu nome;
é a secreta distância em que tocas
o princípio leve dos meus versos;
é o amor debruçado no silêncio
que te cerca e que te esconde:
como num bosque, lento, ouvimos
o coração de uma fonte não sei onde...
Vítor Matos e Sá, in 'Esparsos'
sábado, 18 de julho de 2009
Subjectividades

Pintura de Luís de Sá no Posto de Turismo de Constância - Subjectividades
De 18 de Julho a 2 de Agosto a sala de exposições do Posto de Turismo de Constância tem patente ao público uma exposição de pintura denominada Subjectividades, da autoria de Luís de Sá.
A mostra tem a sua inauguração marcada para o próximo sábado, dia 18 de Julho, pelas 16.00H.
Subjectividades é uma mostra de pintura em que a pincelada subjectiva predomina nos quadros, não dando quase importância aos pormenores nem ao mundo objectivo, mas sim ao conjunto e ao pensamento.
Utilizando como ferramenta a interpretação, onde se pode ampliar, diminuir e suprimir tanto na cor como no desenho, é uma pintura que está entre o impressionismo e o expressionismo. Impressionismo porque alguns destes quadros foram realizados directamente em contacto com o motivo dando relevância aos efeitos cambiantes da luz e apoiando-se na teoria da cor. Expressionismo porque é uma pintura, instintiva, dramática e subjectiva utilizando por vezes cores irreais com dinamismo, improvisado, abrupto e inesperado.
Nesta exposição onde se encontram paisagens, desenhos marítimos e retratos é possível apreciar várias técnicas como pintura a óleo, pintura em acrílico, aguarela e desenhos a carvão.
Subjectividades tem as suas portas abertas nos dias úteis das 9.30H às 13.00H e das 14.30H às 17.30H, e nos sábados e domingos das 14.30H às 18.00H.
Por CMC
Janela do Sonho .

Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.
Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.
Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.
Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.
Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.
Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"
sexta-feira, 17 de julho de 2009
O Erotismo .

Os homens mais novos não entendem o... como é que vocês dizem?... o erotismo. Até aos quarenta, caímos sempre no mesmo erro, não sabemos libertar-nos do amor: um homem que, em vez de pensar numa mulher como complemento de um sexo, pensa no sexo como complemento de uma mulher, está pronto para o amor: tanto pior para ele.
André Malraux, in 'A Estrada Real'
Homem Inacabado

Todas as árvores com todos os ramos com todas
[as folhas
A erva na base dos rochedos e as casas
[amontoadas
Ao longe o mar que os teus olhos banham
Estas imagens de um dia e outro dia
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A transparência dos transeuntes nas ruas do acaso
E as mulheres exaladas pelas tuas pesquisas
[obstinadas
As tuas ideias fixas no coração de chumbo nos
[lábios virgens
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
A semelhança dos olhares consentidos com os
[olhares conquistados
A confusão dos corpos das fadigas dos ardores
A imitação das palavras das atitudes das ideias
Os vícios as virtudes tão imperfeitos
O amor é o homem inacabado.
Paul Eluard, in "Algumas das Palavras"
quinta-feira, 16 de julho de 2009

Tentação .
Eu não resistirei à tentação,
não quero que de mim possas perder-te,
que só na fonte fria da razão
renasça a minha sede de beber-te.
Eu não resistirei à tentação
de quanto adivinhei nesta amargura:
um sim que só assalta quem diz não,
um corpo que entrevi na selva escura.
Resistirei a te chamar paixão,
a te perder nos versos, nas palavras:
mas não resistirei à tentação
de te dizer que o céu é o que rasa
a luz que nos teus olhos eu perdi
e que na terra toda não mais vi.
Luis Filipe Castro Mendes, in "Os Amantes Obscuros"
Ser Diferente.

A única salvação do que é diferente é ser diferente até o fim, com todo o valor, todo o vigor e toda a rija impassibilidade; tomar as atitudes que ninguém toma e usar os meios de que ninguém usa; não ceder a pressões, nem aos afagos, nem às ternuras, nem aos rancores; ser ele; não quebrar as leis eternas, as não-escritas, ante a lei passageira ou os caprichos do momento; no fim de todas as batalhas — batalhas para os outros, não para ele, que as percebe — há-de provocar o respeito e dominar as lembranças; teve a coragem de ser cão entre as ovelhas; nunca baliu; e elas um dia hão-de reconhecer que foi ele o mais forte e as soube em qualquer tempo defender dos ataques dos lobos.
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'
quarta-feira, 15 de julho de 2009
A Idade não nos Torna mais Sábios

As pessoas imaginam que precisamos de chegar a velhos para ficarmos sábios, mas, na verdade, à medida que os anos avançam, é difícil mantermo-nos tão sábios como éramos. De facto, o homem torna-se um ser distinto em diferentes etapas da vida. Mas ele não pode dizer que se tornou melhor, e, em alguns aspectos, é igualmente provável que ele esteja certo aos vinte ou aos sessenta. Vemos o mundo de um modo a partir da planície, de outro a partir do topo de uma escarpa, e de outro ainda dos flancos de uma cordilheira. De alguns desses pontos podemos ver uma porção maior do mundo que de outros, mas isso é tudo. Não se pode dizer que vemos de modo mais verdadeiro de um desses pontos que dos restantes.
Johann Wolfgang von Goethe,
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