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quinta-feira, 26 de março de 2009

Quando Voltei ,


Encontrei os Meus Passos

Quando voltei encontrei os meus passos
Ainda frescos sobre a úmida areia.
A fugitiva hora, reevoquei-a,
_ Tão rediviva! nos meus olhos baços...
Olhos turvos de lágrimas contidas.
_ Mesquinhos passos, porque doidejastes
Assim transviados, e depois tornastes

Ao ponto das primeiras despedidas?
Onde fostes sem tino, ao vento vário,
Em redor, como as aves num aviário,
Até que a asita fofa lhes faleça...
Toda essa extensa pista _ para quê?
Se há de vir apagar-vos a maré,
Com as do novo rasto que começa...

Camilo Pessanha, in 'Clepsidra'

Canoagem.


24ª Descida dos 3 Castelos em Canoagem
integra Festas do Concelho de Constância 2009
A Descida dos 3 Castelos é uma das mais antigas provas de canoagem do País e uma daquelas onde mais turistas náuticos participam, sendo por isso, um excelente meio e promoção dos rios Tejo e Zêzere e das terras por onde passa.

Integrada no programa desportivo das Festas do Concelho de Constância, a Descida dos 3 Castelos que decorrerá nos próximos dias 10 e 11 de Abril, é um evento turístico – desportivo que percorre 3 concelhos, 2 Rios e envolve muitas entidades da zona do Médio Ribatejo.

Foram já alguns milhares de pessoas que ao longo dos 23 anos deste evento descobriram esta vasta zona ribeirinha devido à participação desta prova de convívio, turismo e desporto.

Este ano a Descida dos 3 Castelos tem como grande desafio a preparação das comemorações das bodas de prata do evento, as quais de realizarão em 2010.
Por CMC

Entardecer.


A tarde é a velhice do dia. Cada dia é uma pequena vida, e cada pôr do Sol uma pequena morte !

quarta-feira, 25 de março de 2009

Pensamentos Nocturnos




Lastimo-vos, ó estrelas infelizes,
Que sois belas e brilhais tão radiosas,
Guiando de bom grado o marinheiro aflito,
Sem recompensa dos deuses ou dos homens:
Pois não amais, nunca conhecestes o amor!
Continuamente horas eternas levam
As vossas rondas pelo vasto céu.
Que viagem levastes já a cabo!,
Enquanto eu, entre os braços da amada,
De vós me esqueço e da meia-noite.

Johann Wolfgang von Goethe, in "Canções"

Beijos.


O beijo fulmina-nos como o relâmpago, o amor passa como um temporal, depois a vida, novamente, acalma-se como o céu, e tudo volta a ser como dantes. Quem se lembra de uma nuvem ?

Eu conto carneirinhos.




Gosto de sonhar. Penso que os sonhos são passeios da alma. Sabe,quando queremos espairecer. Sair por aí. Distrair.

Só que os sonhos fazem viagens bem mais empolgantes. Viajam pelas lembranças, exploram o desconhecido, visitam até o que tememos e nos assustam com terríveis pesadelos. Mas são só pesadelos.

Revemos amigos, outros bem mais queridos e encontramos até gente nova. Sim!!! Acredito nisso. Sabe quando vemos alguém pela primeira vez e dizemos: "Eu não te conheço de algum lugar?" Sei lá, mas eu acho que é lá das voltinhas dos sonhos, que já o vimos antes.

Por isso é que gosto quando a noite chega. E espero ansiosa a hora de dormir, só pra saber a surpresa que terei. Que passeio farei, embalada em canções antigas de ninar. Quem sabe hajam caminhos de jujubas e rios de refrigerantes, laguinhos de chocolate com patinhos de bombom. Sei lá... As vezes a grande viajem é refugiar-se apenas no inimaginável.

Adriana Santos

terça-feira, 24 de março de 2009

A Evidência.



Ainda que pasmem os leitores, ainda que não acreditem e passem, doravante, a chamar este escritor de mentiroso e fátuo, a verdade é que, certo dia que não adianta precisar, entraram num restaurante de luxo, que não me interessa dizer qual seja, um ratinho gordo e catita e um enorme tigre de olhar estriado e grandes bigodes ferozes. Entraram e, como sucede nas histórias deste tipo, ninguém se espantou, muito menos o garçon do restaurante. Era apenas mais um par de fregueses. Entrados os dois, ratinho e tigre, escolheram uma mesa e se sentaram. O garçon andou de lá prá cá e de cá prá lá, como fazem todos os garçons durante meia hora, na preliminar de atender fregueses mas, afinal, atendeu-os, já que não lhe restava outra possibilidade, pois, por mais que faça um garçon, acaba mesmo tendo que atender seus fregueses. Chegou pois o garçon e perguntou ao ratinho o que desejava comer. Disse o ratinho, numa segurança de conhecedor - "Primeiro você me traga Roquefort au Blinnis. Depois Couer de Baratta filet roti à la broche pommes dauphine. Em seguida Medaillon Lagartiche Foie Gras de Strasbourg. E, como sobremesa, me traga um Parfait de biscuit Estraguèe avec Cerises Jubilée. Café. Beberei, durante o jantar, um Laffite Porcherrie Rotschild 1934.


— Muito bem - disse o garçon. E, dirigindo-se ao tigre — E o senhor, que vai querer?

— Ele não quer nada — disse o ratinho.

— Nada? — tornou o garçon — Não tem apetite?

— Apetite? Que apetite? — rosnou o ratinho enraivecido — Deixa de ser idiota, seu idiota! Então você acha que se ele estivesse com fome eu ia andar ao lado dele?

MORAL: É NECESSÁRIO MANTER A LÓGICA MESMO NA FANTASIA.

(Millor Fernandes)

Ouvir.


Hoje, não se sabe falar porque já não se sabe ouvir !

Delores Pires .





CREPÚSCULO

Luz de fim do dia.
E a tua imagem flutua...
Vaga nostalgia!

MUDANÇA

Cheia de neblina
a cidade, em verdade,
foge da rotina.

ACENTUAÇÃO

Em torno de si
o guarda-chuva coloca
o pingo nos ii.

SIMPLICIDADE

Singela e formosa
Num torvelinho de espinho
Desabrocha a rosa.

SOLITUDE

Silente, à tardinha,
desliza ao sabor da brisa
gaivota sozinha.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Afectos.


Os afectos podem às vezes somar-se; subtrair-se, nunca !

Soneto



Nessa manhã as garças não voaram

E dos confins da luz um deus chamou.

Docemente teus cílios se fecharam

Sobre o olhar onde tudo começou.



A terra uivou. Todas as cores mudaram

O mar emudeceu. O ar parou.

Escuros véus de pranto o sol taparam

De azáleas lívidas a ilha se cercou.



A que pélago o esquife te levava?

Não ao termo. A não chorar os mortos.

Teu sumo espiritual florido ensina.



E se o mundo em ti principiava,

No teu mistério entre astros absortos,

Suavemente, ó mãe, tudo termina.



Natália Correia.

in Mãe Ilha,Sonetos Românticos

Literatura.



No limiar da cor.

Judith Stone.

Quando Sandra Laing nasceu, em 1955, filha de um casal africânder a favor do apartheid, no coração de uma África do Sul conservadora, foi oficialmente registada como uma criança branca. Mas, desde o seu primeiro dia num internato para brancos, um grupo de alunos e professores começaram a importuná-la impiedosamente por causa da sua cor de pele acastanhada e do seu cabelo encarapinhado. Sannie e Abraham Laing justificavam a aparência de Sandra com uma união inter-racial bem antiga na sua história familiar e juraram que Sandra era sua filha. No entanto os vizinhos pensavam que a Sra. Laing tinha cometido adultério com um negro. A família foi ostracizada. Quando Sandra tinha dez anos, foi retirada da escola pela polícia e reclassificada como "mestiça" – de raça mista.

No Limiar da Cor é uma exploração da natureza da memória, a construção social da raça, crueldade, insanidade e arbitrariedade do apartheid. É, também, um drama pessoal emocionante que confirma a resistência do espírito humano apesar das formas horríveis que o ser humano usa para se magoar.

domingo, 22 de março de 2009

Romeu e Julieta.



Uma óptima semana para todo o mundo.

Convivência.


Quando houver desacertos nas suas relações, faça do diálogo uma ponte para transpor os descaminhos. Entenda que ceder não é fraquejar; e agredir não é fortalecer-se. A tolerância mútua é o princípio que norteia a boa convivência .

De noite: não te grito.






Não te grito, nem te cheiro

Quando as águas correm desabadas

Do alto do teu corpo

Feito cimento cru, feito osso.



Se fosse real teu inimigo

Haveria de pendurar laranjas

No limoeiro do quintal em frente



Poderia dizer-te as estrelas todas do caminho feito regresso

Morte



Não, nesta noite

Ainda haverá olhos atentos e poços deitados onde a água

Não se cansa dos buracos

Palavras rente ao silêncio dizer-te



Não, não te grito, nem te cheiro

E, quando caíres do alto dos nossos beijos

Como as beatas acesas dos dedos amarelos

E defronte o precipício ouvires gritar o meu nome

que não tarda:


já será dia nas luzes das candeias


(Sandro William Junqueira)

sábado, 21 de março de 2009

Amar o mar.


Homem livre, tu sempre gostarás do mar ...

Pastelaria.




Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

(Cesariny)

Primavera.



Vivaldi.

sexta-feira, 20 de março de 2009

A rose in winter.



Bom fim de semana para todos.

Primavera.


""Primavera não é uma simples estação de flores, é muito mais, é um colorido da alma."

Constância;


Presidente da República visita Constância e inaugura o maior telescópio público do país

Nesta sexta-feira, dia 20 de Março, o Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, visitou o concelho de Constância, para inaugurar o maior telescópio público do país, no Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCVC).

A visita teve início às 11.30h, no Centro Ciência Viva, uma infra-estrutura que se localiza no Alto de Santa Bárbara, em Constância.

Recorde-se que o Telescópio Ritchey-Chrétien de 510mm foi instalado no CCVC, no âmbito do Protocolo de Apoio Mecenático assinado com a Fundação EDP.

Além da inauguração do telescópio a cerimónia integrou também uma visita aos diversos equipamentos que compõem este parque científico e a observação do meio-dia solar na esfera armilar.

A visita do Presidente da República terminou no Centro Náutico de Constância, com a inauguração da exposição Centro Ciência Viva de Constância – 5 Anos a Divulgar Ciência, uma iniciativa comemorativa do 5º aniversário do CCVC.
Por CMC

Hoje, apetecia-me falar de amor...



Há dias assim... procuram-se histórias no interior...
Buscar as palavras mais belas...
Pintar a loucura, a paixão, colorir negras telas...
Hoje, como ontem... apetecia-me conversar...
Dizer por dizer... coisas sem ninguém escutar...
Ontem como amanhã... o silêncio que invade o coração...
Persistirá... presente... na ausência dessa invasão.
De tempos a tempos... escuto... sinto...
Este vazio... que reanima, depois de extinto...
Que me preenche... com inúmeros nadas...
Que me deixa, livremente de mãos atadas.
(Luz ao fundo...) ávido por um olhar...
Entro em túnel com vista para... amar...
Às paredes... meus sonhos vão segredando...
Os medos... os pesadelos... que vou guardando...
Ontem, como hoje... nasci de novo...
Hoje... como amanhã... morro...
Reencarno agora, novamente em mim...
E parto... para futuro com idêntico fim...
De mãos livremente atadas...
Repito-me...
De mãos livremente atadas...
Há sempre uma liberdade...
Há sempre uma verdade...
Há sempre... uma eterna saudade...
Para dizer... (o que disse na intimidade)

Filipe M.

quinta-feira, 19 de março de 2009

As Coisas Secretas da Alma .




Em todas as almas há coisas secretas cujo segredo é guardado até à morte delas. E são guardadas, mesmo nos momentos mais sinceros, quando nos abismos nos expomos, todos doloridos, num lance de angústia, em face dos amigos mais queridos - porque as palavras que as poderiam traduzir seriam ridículas, mesquinhas, incompreensíveis ao mais perspicaz. Estas coisas são materialmente impossíveis de serem ditas. A própria Natureza as encerrou - não permitindo que a garganta humana pudesse arranjar sons para as exprimir - apenas sons para as caricaturar. E como essas ideias-entranha são as coisas que mais estimamos, falta-nos sempre a coragem de as caricaturar. Daqui os «isolados» que todos nós, os homens, somos. Duas almas que se compreendam inteiramente, que se conheçam, que saibam mutuamente tudo quanto nelas vive - não existem. Nem poderiam existir. No dia em que se compreendessem totalmente - ó ideal dos amorosos! - eu tenho a certeza que se fundiriam numa só. E os corpos morreriam.

Mário de Sá-Carneiro, in 'Cartas a Fernando Pessoa'

O Jardim .




Consideremos o jardim, mundo de pequenas coisas,
calhaus, pétalas, folhas, dedos, línguas, sementes.
Sequências de convergências e divergências,
ordem e dispersões, transparência de estruturas,
pausas de areia e de água, fábulas minúsculas.

Geometria que respira errante e ritmada,
varandas verdes, direcções de primavera,
ramos em que se regressa ao espaço azul,
curvas vagarosas, pulsações de uma ordem
composta pelo vento em sinuosas palmas.

Um murmúrio de omissões, um cântico do ócio.
Eu vou contigo, voz silenciosa, voz serena.
Sou uma pequena folha na felicidade do ar.
Durmo desperto, sigo estes meandros volúveis.
É aqui, é aqui que se renova a luz.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"

Dia Mundial da Árvore .



No Parque Ambiental de Santa Margarida
No próximo sábado, 21 de Março, o Município de Constância, através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill e do Parque Ambiental de Santa Margarida vai comemorar o Dia Mundial da Árvore, com uma acção de sensibilização ambiental, que terá lugar no Parque Ambiental de Santa Margarida.

A iniciativa será apresentada pelo Prof. Manuel Lima, autor do livro O Tejo da Nascente... à foz, o qual retrata o rio Tejo ao longo de todo o seu percurso, desde que nasce até que desagua no Oceano Atlântico. O autor desvendará o seu trabalho na elaboração da obra e as condições que foi encontrando durante o percurso de produção literária.

Como não podia deixar de ser, a vila de Constância, dada a sua localização na confluência de dois dos principais rios portugueses, o Tejo e o Zêzere, é retratada nesta obra de Manuel Lima.

Aberta à comunidade em geral, a actividade decorrerá a partir das 15.00h, no Parque Ambiental de Santa Margarida.

Para mais informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.

Por CMC

quarta-feira, 18 de março de 2009

Reencontro.


Prefiro acreditar que não nos dissemos adeus, mas que nos separamos para que o destino nos dê um reencontro feliz...

Gozo Sonhado é Gozo, ainda que em Sonho .




Gozo sonhado é gozo, ainda que em sonho.
Nós o que nos supomos nos fazemos,
Se com atenta mente
Resistirmos em crê-lo.
Não, pois, meu modo de pensar nas coisas,
Nos seres e no fado me consumo.
Para mim crio tanto
Quanto para mim crio.
Fora de mim, alheio ao em que penso,
O Fado cumpre-se. Porém eu me cumpro
Segundo o âmbito breve
Do que de meu me é dado.

Ricardo Reis, in "Odes"

Saber Desfrutar Todos os Tempos.



Nós mostramo-nos ingratos em relação ao que nos foi dado por esperarmos sempre no futuro, como se o futuro (na hipótese de lá chegarmos) não se transformasse rapidamente em passado. Quem goza apenas do presente não sabe dar o correcto valor aos benefícios da existência; quer o futuro quer o passado nos podem proporcionar satisfação, o primeiro pela expectativa, o segundo pela recordação; só que enquanto um é incerto e pode não se realizar, o outro nunca pode deixar de ter acontecido. Que loucura é esta que nos faz não dar importância ao que temos de mais certo? Mostremo-nos satisfeitos por tudo o que nos foi dado gozar, a não ser que o nosso espírito seja um cesto roto onde o que entra por um lado vai logo sair pelo outro!

Séneca, in 'Cartas a Lucílio'

terça-feira, 17 de março de 2009

Sugestão.




As companheiras que não tive,
Sinto-as chorar por mim, veladas,
Ao pôr do sol, pelos jardins...
Na sua mágoa azul revive
A minha dôr de mãos finadas
Sobre setins...

Mário de Sá-Carneiro, in 'Indícios de Oiro'

Anti-stress.



Goze este momento,pois ele é único

O meu eu!


[...] e nas noites solitárias do meu eu, saio p'ra dançar salsa com a minha confusão...

segunda-feira, 16 de março de 2009

Os uivos da lua.


"Existem noites em que os lobos ficam em silêncio, e apenas a lua uiva."

Anda vem...




Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha --- rosa de lume?

Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.

Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!

E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
--- Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!

Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!

António Botto

Dia Mundial da Poesia em Constância .


Universidade de Coimbra
assinala Dia Mundial da Poesia em Constância
Quinta-feira - 19 de Março
Na próxima quinta-feira, 19 de Março, o Município de Constância através da Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill vai assinalar o Dia Mundial da Poesia, que se comemora a 21 de Março, com o projecto Oficina de Poesia.

O projecto Oficina de Poesia é uma iniciativa de alunos da Universidade de Coimbra/Centro de Estudos Sociais que procuram participar no Plano Nacional de Leitura divulgando a Poesia, através da produção de um workshop de escrita criativa e de uma sessão de leitura de poemas.

Aberta à comunidade em geral a iniciativa inicia-se pelas 10.30H, com a realização do workshop de escrita criativa que se destina a todos os que pretendam melhorar a relação com a escrita, procurar técnicas desbloqueadoras e adquirir ferramentas de tratamento de textos.

Durante a tarde, pelas 15.00H decorrerá uma sessão de leitura de poemas, como um incentivo e estímulo à função social e cultural do livro e da leitura, como requisito necessário e indispensável a uma cidadania que se pretende crítica e participativa.

Para informações ou esclarecimentos adicionais deverão os interessados contactar a Biblioteca Municipal Alexandre O´Neill através do número de telefone 249 739 367 ou via correio electrónico para biblioteca@cm-constancia.pt.


Leia mais. Viva mais.

Por CMC

domingo, 15 de março de 2009

Ansiedade.




Quero compor um poema
onde fremente
cante a vida
das florestas das águas e dos ventos.

Que o meu canto seja
no meio do temporal
uma chicotada de vento
que estremeça as estrelas
desfaça mitos
e rasgue nevoeiros — escancarando sóis!

Manuel da Fonseca, in "Poemas Dispersos"

Sofrimento...

Nunca Nos Separamos do Primeiro Amor.



Já o disse em Hiroshima Mon Amour: o que conta não é a manifestação do desejo, da tentativa amorosa. O que conta é o inferno da história única. Nada a substitui, nem uma segunda história. Nem a mentira. Nada. Quanto mais a provocamos, mais ela foge. Amar é amar alguém. Não há um múltiplo da vida que possa ser vivido. Todas as primeiras histórias de amor se quebram e depois é essa história que transportamos para as outras histórias. Quando se viveu um amor com alguém, fica-se marcado para sempre e depois transporta-se essa história de pessoa a pessoa. Nunca nos separamos dele.
Não podemos evitar a unicidade, a fidelidade, como se fôssemos, só nós, o nosso próprio cosmo. Amar toda a gente, como proclamam algumas pessoas e os cristãos, é embuste. Essas coisas não passam de mentiras. Só se ama uma pessoa de cada vez. Nunca duas ao mesmo tempo.

Marguerite Duras, in "Mundo Exterior "

sábado, 14 de março de 2009

Lindo.



Sonhos cor de rosa.

Centro Ciência Viva de Constância


Presidente da República visita Constância e inaugura o maior telescópio público do país

Sexta-feira – 20 de Março No próximo dia 20 de Março, sexta-feira, o Presidente da República, Prof. Doutor Aníbal Cavaco Silva, visitará o concelho de Constância, para inaugurar o maior telescópio público do país, no Centro Ciência Viva de Constância – Parque de Astronomia (CCVC).

A visita terá início às 11.30h, no Centro Ciência Viva, uma infra-estrutura que se localiza no Alto de Santa Bárbara, em Constância.

Recorde-se que o Telescópio Ritchey-Chrétien de 510mm foi instalado no CCVC, no âmbito do Protocolo de Apoio Mecenático assinado com a Fundação EDP.

Além da inauguração do telescópio a cerimónia integrará também uma visita aos diversos equipamentos que compõem este parque científico e a observação do meio-dia solar na esfera armilar.

A visita do Presidente da República terminará no Centro Náutico de Constância, com a inauguração da exposição Centro Ciência Viva de Constância – 5 Anos a Divulgar Ciência, uma iniciativa comemorativa do 5º aniversário do CCVC.
Por CMC

Retrato Quase Apagado em que se Pode Ver Perfeitamente Nada.



De "O Guardador de Águas"



Não tenho bens de acontecimentos.
O que não sei fazer desconto nas palavras.
Entesouro frases. Por exemplo:
- Imagens são palavras que nos faltaram.
- Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem.
- Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.
Ai frases de pensar!
Pensar é uma pedreira. Estou sendo.
Me acho em petição de lata (frase encontrada no lixo)
Concluindo: há pessoas que se compõem de atos, ruídos, retratos.
Outras de palavras.
Poetas e tontos se compõem com palavras.

Todos os caminhos - nenhum caminho
Muitos caminhos - nenhum caminho
Nenhum caminho - a maldição dos poetas.

Chove torto no vão das árvores.
Chove nos pássaros e nas pedras.
O rio ficou de pé e me olha pelos vidros.
Alcanço com as mãos o cheiro dos telhados.
Crianças fugindo das águas
Se esconderam na casa.

Baratas passeiam nas formas de bolo...

A casa tem um dono em letras.

Agora ele está pensando -

no silêncio Iíquido
com que as águas escurecem as pedras...

Um tordo avisou que é março.

Alfama é uma palavra escura e de olhos baixos.
Ela pode ser o germe de uma apagada existência.
Só trolhas e andarilhos poderão achá-la.
Palavras têm espessuras várias: vou-lhes ao nu, ao
fóssil, ao ouro que trazem da boca do chão.
Andei nas pedras negras de Alfama.
Errante e preso por uma fonte recôndita.
Sob aqueles sobrados sujos vi os arcanos com flor!

Escrever nem uma coisa Nem outra -
A fim de dizer todas
Ou, pelo menos, nenhumas.
Assim,
Ao poeta faz bem
Desexplicar -
Tanto quanto escurecer acende os vaga-lumes.


No que o homem se torne coisal,
corrompem-se nele os veios comuns do entendimento.
Um subtexto se aloja.
Instala-se uma agramaticalidade quase insana,
que empoema o sentido das palavras.
Aflora uma linguagem de defloramentos, um inauguramento de falas
Coisa tão velha como andar a pé
Esses vareios do dizer.


O sentido normal das palavras não faz bem ao poema.
Há que se dar um gosto incasto aos termos.
Haver com eles um relacionamento voluptuoso.
Talvez corrompê-los até a quimera.
Escurecer as relações entre os termos em vez de aclará-los.
Não existir mais rei nem regências.
Uma certa luxúria com a liberdade convém.


Nas Metamorfoses, em 240 fábulas,
Ovídio mostra seres humanos transformados
em pedras vegetais bichos coisas
Um novo estágio seria que os entes já transformados
falassem um dialeto coisal, larval,
pedral, etc.
Nasceria uma linguagem madruguenta, adâmica, edênica, inaugural

- Que os poetas aprenderiam -
desde que voltassem às crianças que foram
às rãs que foram
às pedras que foram.
Para voltar à infância, os poetas precisariam também de reaprender a errar
a língua.
Mas esse é um convite à ignorância? A enfiar o idioma nos mosquitos?
Seria uma demência peregrina.


Eu sou o medo da lucidez
Choveu na palavra onde eu estava.
Eu via a natureza como quem a veste.
Eu me fechava com espumas.
Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.
Peguei umas idéias com as mãos - como a peixes.
Nem era muito que eu me arrumasse por versos.
Aquele arame do horizonte
Que separava o morro do céu estava rubro.
Um rengo estacionou entre duas frases.
Uma descor
Quase uma ilação do branco.
Tinha um palor atormentado a hora.
O pato dejetava liquidamente ali.

Manoel De Barros.

Literatura.


O Último Conjurado, romance de capa e espada,
é considerado no género de «Os Três Mosqueteiros» de Alexandre Dumas.

«Numa época em que grande parte dos portugueses caminham para o analfabetismo de facto, devido ao abuso da televisão, esta obra histórico-romanceada tem o maior mérito possível. A excelente qualidade do texto, em estilo dos antigos folhetins e a maneira como esta época histórica é abordada certamente garantirão um merecido sucesso a esta obra.»
D. DUARTE DE BRAGANÇA

«Em “O Último Conjurado”, Isabel Ricardo convida-nos a revisitar a História numa atitude de pureza original. O rigor com que procura os factos convive com um encantamento, quase ingénuo, que nos devolve ao tempo em que a História era um fascínio e a aventura um desejo. E isso já bastava para ter valido a pena!»
Dr. LABORINHO LÚCIO

«Falar de “O Último Conjurado” é invocar um dos feitos mais notáveis da História de Portugal. Mas é, sobretudo, um hino de louvor a todos aqueles que, de coragem e bravura armados, reabilitaram o orgulho nacional, e devolveram às lusas gentes o direito à sua identidade própria, como Povo, como Nação, e como Pátria.

«Em “O Último Conjurado”, Isabel Ricardo convida-nos a revisitar a História numa atitude de pureza original. O rigor com que procura os factos convive com um encantamento, quase ingénuo, que nos devolve ao tempo em que a História era um fascínio e a aventura um desejo.
“O Último Conjurado” é um romance histórico onde nada foi deixado ao acaso. É uma verdadeira ode ao corrupio político que marcou a Revolta da Independência. Saibam os leitores descobrir em cada linha o inebriante som das espadas, dos canhões, ou do zunido das baionetas. Por detrás de cada palavra esconde-se o mais rigoroso sentido histórico dos grandes feitos.»

Dr. Manuel Pinto Teixeira

sexta-feira, 13 de março de 2009

Lágrimas.

A Sexta-feira 13 - Sorte ou Azar?




"Superstição" vem do latim superstitio, que significa "o excesso", ou também "o que resta e sobrevive de épocas passadas". Em qualquer acepção, designa "o que é alheio à atualidade, o que é velho". Transposto para a linguagem religiosa dos romanos, o vocábulo "superstitio" veio a designar a observância de cultos arcaicos, populares, não mais condizentes com as normas da religião oficial.

O número 13 é tido ora como sinal de infortúnio, ora de bom agouro.


O número 13

Símbolo de desgraça, já que 13 eram os convivas da última ceia de Cristo, e dentre eles, Jesus que morreu na sexta-feira foi, conseqüentemente, ligada ao horror que o número 13 provocava nas gerações cristãs. Por isso, muitas pessoas evitam viajar em sexta-feira 13; a numeração dos camarotes de teatro omite, por vezes, o 13; em alguns hotéis não há o quarto de número 13 - este é substituído pelo 12-a. Muitos prédio pulam do 12º para o 14º andar temendo que o 13º traga azar. Há pessoas que pensam que participar de um jantar com 13 pessoas traz má sorte porque uma delas morrerá no período de um ano. A sexta-feira 13 é considerada como um dia de azar, e toma-se muito cuidado quanto às atividades planejadas para este dia.

Coisas da vida.

quinta-feira, 12 de março de 2009

O Homem Deveria ser a Medida de Tudo.



O homem deveria ser a medida de tudo. De facto, ele é um estranho no mundo que criou. Não soube organizar este mundo para ele, porque não possuía um conhecimento positivo da sua própria natureza. O enorme avanço das ciências das coisas inanimadas em relação às dos seres vivos é, portanto, um dos acontecimentos mais trágicos da história da humanidade. O meio construído pela nossa inteligência e pelas nossas intenções não se ajusta às nossas dimensões nem à nossa forma. Não nos serve. Sentimo-nos infelizes. Degeneramos moralmente e mentalmente.

São precisamente os grupos e as nações em que a civilização industrial atingiu o apogeu que mais enfraquecem. Neles, o retorno à barbárie é mais rápido. Permanecem sem defesa perante o meio adverso que a ciência lhes forneceu. Na verdade, a nossa civilização, tal como as que a antecederam, cirou condições em que, por razões que não conhecemos exactamente, a própria vida se torna impossível. A inquietação e a infelicidade dos habitantes da nova cidade têm origem nas instituições políticas, económicas e sociais, mas sobretudo na sua própria degradação. São vítimas do atraso das ciências da vida em relação às da matéria.

Alexis Carrel, in 'O Homem esse Desconhecido'

Lágrimas.


Penso, muitas vezes, que não são os pensamentos que são demasiado profundos para as lágrimas, mas as lágrimas que são demasiado profundas para o pensamento

Fernando Pessoa.

Poesia visual.


reconheça
essa adorável pessoa é você

sem o grande chapéu de palha

olho
nariz
boca

aqui o oval do seu rosto

seu lindo pescoço

um pouco
mais abaixo
é seu coração
que bate

aqui enfim
a imperfeita imagem
de seu busto adorado
visto como
se através de uma nuvem

Guillaume Apollinaire.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Se um Dia a Juventude Voltasse .




se um dia a juventude voltasse
na pele das serpentes atravessaria toda a memória
com a língua em teus cabelos dormiria no sossego
da noite transformada em pássaro de lume cortante
como a navalha de vidro que nos sinaliza a vida

sulcaria com as unhas o medo de te perder... eu
veleiro sem madrugadas nem promessas nem riqueza
apenas um vazio sem dimensão nas algibeiras
porque só aquele que nada possui e tudo partilhou
pode devassar a noite doutros corpos inocentes
sem se ferir no esplendor breve do amor

depois... mudaria de nome de casa de cidade de rio
de noite visitaria amigos que pouco dormem e têm gatos
mas aconteça o que tem de acontecer
não estou triste não tenho projectos nem ambições
guardo a fera que segrega a insónia e solta os ventos
espalho a saliva das visões pela demorada noite
onde deambula a melancolia lunar do corpo

mas se a juventude viesse novamente do fundo de mim
com suas raízes de escamas em forma de coração
e me chegasse à boca a sombra do rosto esquecido
pegaria sem hesitações no leme do frágil barco... eu
humilde e cansado piloto
que só de te sonhar me morro de aflição

Al Berto, in 'Rumor dos Fogos'

Na ilha por vezes habitada.




Na ilha por vezes habitada do que somos, há noites,
manhãs e madrugadas em que não precisamos de
morrer.
Então sabemos tudo do que foi e será.
O mundo aparece explicado definitivamente e entra
em nós uma grande serenidade, e dizem-se as
palavras que a significam.
Levantamos um punhado de terra e apertamo-la nas
mãos.
Com doçura.
Aí se contém toda a verdade suportável: o contorno, a
vontade e os limites.
Podemos então dizer que somos livres, com a paz e o
sorriso de quem se reconhece e viajou à roda do
mundo infatigável, porque mordeu a alma até aos
ossos dela.
Libertemos devagar a terra onde acontecem milagres
como a água, a pedra e a raiz.
Cada um de nós é por enquanto a vida.
Isso nos baste.

José Saramago

Cinco dedos tem a mão que folheia o papel.


Página 161,quinta frase:

a dama logo que fechou a porta atrás de si exibindo a mensagem como um precioso troféu.

Rosa brava,José Manuel Saraiva.

terça-feira, 10 de março de 2009

Noites.


" Há quem diga que todas as noites são sonhos.
Mas há também quem diga nem todas, só as de verão
Mas no fundo isso nao tem muita importância.
O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos"

William Shakespeare.

O açougueiro






Era dia de faxina na casa de Zulmira quando o toque insistente do telefone a fez descer do alto da escada onde limpava uma prateleira.

— Desculpe-me a ousadia... — foi o que logo ouviu de uma voz galante. — Há tempos venho ensaiando para te ligar...

O coração começa a bater descompassado. Quem diria? Alguém a notara por aí! E pensar que o marido nem chegou a perceber que pintara o cabelo de vermelho...

— Eu quero marcar um encontro com você...

Ao ouvir a proposta, Zulmira enrubesceu. O coração parecia querer pular fora de seu peito. E agora? O que dizer?

— E então? — insistiu a voz.

— Eu... eu... não posso... — gaguejou. Quem seria este homem? Aquele vizinho novo que vivia às voltas com um poodle? Não! Ele parecia ter um jeito meio afetado. Deus meu!, seria o Odorico? O açougueiro? Bem que percebera que ultimamente ele sempre lhe escolhia a melhor peça...

— Eu sei que você é uma mulher casada... eu entendo... mas é apenas um encontro...

— Não, eu não posso! — repetiu com firmeza. Afinal de contas tinha lá os seus princípios, e ainda por cima dois filhos adolescentes. E se fosse mesmo o Odorico? Ah! O Odorico sim valia a pena. Um homem que mexia com a carne daquele jeito, o que é que não faria com uma mulher?

— Ninguém ficará sabendo... eu prometo! — continuou ele, persuasivo. – E tenho certeza que será uma noite inesquecível... Começaremos com um jantar à beira-mar... Depois iremos navegar durante a madrugada...

Zulmira deixava-se levar pela imaginação quando foi surpreendida por uma pergunta:

— Você gosta de ostras?

— Ostras? — repetiu, sem saber o que responder. Nunca comera ostras em toda sua vida, mas lera numa revista da cabeleireira que ostras eram afrodisíacas.

— Se você não gosta eu...

— Não! Imagine... gosto sim! — exclamou.

— Eu posso esperá-la amanhã à noite? — perguntou–lhe o homem. — Estou bastante ansioso para encontrá-la.

E agora? Deixaria a vida passar sem lutar por algumas boas lembranças? Este pensamento fora suficiente para convencê-la.

— Sim! — respondeu decidida. — Onde podemos nos encontrar?

— Faz o seguinte Telma: às 8:30 você me liga...

— Ei! Peraí! Meu nome não é Telma!

— Não?!! — exclamou o homem, aturdido.

— Não! — confirmou Zulmira, com a voz zangada.

— Mil perdões! — disse ele e desligou envergonhado num baque rápido.

E sem mais nada por esperar daquela tarde, Zulmira continuou a espanar a prateleira, pensando, de quando em quando, num longo suspiro, que a vida é assim mesmo.

Adriana Costalunga.

Presságio.





O AMOR, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala: parece esquecer...

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P'ra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Medo da Própria Alma.



Se Deus não existe... O pior de tudo é que eu digo e afirmo - Deus não existe! - mas na realidade não sei se Deus existe ou não. Não há nada que o prove - ou que prove o contrário. O pior de tudo é que eu sinto uma sombra por trás de mim e não sei por que nome lhe hei-de chamar. O pior que podia acontecer no mundo foi alguém pôr esta ideia a caminho.
Mas mesmo que Deus não exista, tenho medo de mim mesmo, tenho medo da minha alma, tenho medo de me encontrar sós a sós com a minha alma, que é nada, o fim e o princípio da vida e a razão do meu ser. Mesmo que Deus não exista e a consciência seja uma palavra, há ainda outra coisa indefinida e imensa diante de mim, ao pé de mim, perto de mim.

Raul Brandão, in "Húmus"

Desejos Vãos .




Eu queria ser o Mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a Pedra que não pensa,
A pedra do caminho, rude e forte!

Eu queria ser o Sol, a luz imensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e densa
Que ri do mundo vão e até a morte!

Mas o Mar também chora de tristeza ...
As árvores também, como quem reza,
Abrem, aos Céus, os braços, como um crente!

E o Sol altivo e forte, ao fim de um dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as Pedras ... essas ... pisa-as toda a gente! ...

Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

Literatura


Sinopse
Em 1368, D. Leonor Teles de Menezes, a mulher mais desejada do Reino, casa com o morgado de Pombeiro, D. João Lourenço da Cunha. O matrimónio é imposto por seu tio, D. João Afonso Telo, conde de Barcelos. Mulher fora do tempo, aceita contrariada o casamento, que a melancolia da vida do campo não ajuda a ultrapassar. Por isso, decide abandonar o marido e parte para Lisboa, para gozar a vida de riqueza e luxúria que a Corte proporciona. Perversa e ambiciosa, não tem dificuldade em seduzir o jovem monarca, D. Fernando, alcançando, desse modo, o poder que sempre desejou. Mas a nobreza, o clero e o povo não veêm com bons olhos esta aliança de adultério com o Rei. E menos ainda quando a formosa Leonor Teles se envolve com o conde Andeiro... "Rosa Brava" é um romance baseado na investigação histórica que, por entre intrigas palacianas, traições, assassínios e guerras com Castela, reinventa, numa linguagem cativante, uma das personagens mais fascinantes da História de Portugal.


Rosa Brava de José Manuel Saraiva