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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Um menino chamado Jesus.


Um pequeno conto de Natal.

Numa fria noite de Natal saí para dar um passeio pela cidade. Transeuntes apressados, embuçados nos seus abafos, dirigiam-se para casa ou para as igrejas para assistirem à Missa do Galo. As suas expressões eram felizes e alegres. Os grupos tagarelavam com vivacidade.

Naquela noite um suave milagre tornava toda a gente boa. Todos deviam ter a sua festa de Natal, todos os homens pareciam de facto de boa vontade.

Num portal de um cinema uma mulher tinha montado uma venda de jornais e revistas. Num caixote forrado de jornais, uma criança de tenra idade dormia serenamente. Aquela família não devia ter Natal.

Àquela hora já não havia fregueses para os jornais e a pobre mulher certamente aguardava que a sessão de cinema acabasse, na esperança de, à saída, alguns espectadores ainda lhe comprassem qualquer jornal da noite ou uma revista.

De longe observei aquela mãe transida de frio que não se resolvia a regressar a casa naquela noite dedicada à família. Mas teria ela verdadeiramente uma casa ou mesmo uma família? Pelo menos alguma família tinha, pois a criança que dormia no caixote forrado de jornais devia ser sua filha, a avaliar pelos cuidados com que ela a protegia do frio com uns farrapos e lhe afagava os cabelos.

Observei também a criança que era robusta e perfeita, de faces coradas e feições muito correctas.

Devia ter menos de um ano, dez ou onze meses, e já a tinha visto noutras ocasiões, de dia, acordada, pôr-se de pé, apoiada nos bordos do caixote, lambuzando-se com as gulodices que lhe davam.

A criança era com efeito linda e eu pensava quantos casais abastados ou mesmo remediados, gostariam de ter um bébé assim.

Havia, na verdade, coisas extraordinárias - quantos casais que podiam proporcionar todas as comodidades, tratamentos e boa alimentação aos filhos, os tinham franzinos e doentes e aquela criança criada sem cuidados, sem higiene, no meio do pó das ruas e tendo como agasalho jornais velhos, era de uma perfeição invulgar e respirava saúde.

De súbito, um casal passou e reparou no bébé. A senhora, comovida com a cena, baixou-se, disse qualquer coisa à mãe que sorria desvanecida e afagou a cabecita da criança. Esta abriu os olhos, uns grandes olhos, de mansinho, e o rosto abriu-se-lhe num luminoso sorriso. Depois a senhora pegou na criança ao colo, acariciou-a mais e voltou a pousá-la no improvisado berço. Trocou breves palavras com o marido e entregou à mãe, discretamente, algumas notas enroladas na mão.

Entretanto o cinema tinha acabado, os espectadores começaram a sair e alguns compravam àquela pobre mulher jornais ou revistas. Misturei-me com eles e quando passei perto dela parei, fiz uma pequena festa na cabecita linda do petiz, comprei também um jornal e deixei esquecida uma nota nas mãos daquela mãe, perguntando-lhe curioso:

- Como se chama o menino?

Respondeu-me a pobre mulher, parecendo admirada com a pergunta:

- Como se chama o menino?...

E depois de uma hesitação:

- Ora, como havia de se chamar?! O menino chama-se Jesus!

Troquei um último sorriso com o menino, apressei-me para a consoada que esperava por mim e continuei a sorrir-me sozinho, satisfeito por pensar que aquela mãe e aquele menino chamado Jesus iam ter certamente um dia de Natal muito feliz.

Cícero Galvão.

Publicada por Livro de Contos

1 comentário:

Deusa Odoyá disse...

Olá meu doce e estimado amigo!
Obrigado por suas mensagens em meu blog.
Estou voltando aos poucos, por recomendação médica, não posso ficar muito tempo sentada.
Mas venho lhe desejar um natal com muita paz, luz, amor e fé.
Mesmo atrazado, é de coração.
beijos doce da sua amiga do lado de cá.

Regina Coeli.